Do
Afreaka
“Cabelo, cabeleira, cabeludo, descabelado…”
Considerado por muitos apenas um instrumento estético, o cabelo vai muito além
disso. Uma simples opção por um corte ou penteado diz bastante sobre a
personalidade de uma pessoa. Para os negros especialmente, que desde a década
de 1950 desfilam com seus black power imponentes, ele transcende o campo da
beleza e significa um encontro com a identidade e, por quê não, uma ferramenta
de afirmação.
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Ativistas dos direitos civis dos negros nos anos 60, Angela Davis não abriu mão do Black Power. Foto: Reprodução. |
A
trajetória do black power tem início ainda nos anos 20, quando Marcus Garvey,
tido como o precursor do ativismo negro na Jamaica, insistia na necessidade de
romper com padrões de beleza eurocêntricos e a partir disso promover o encontro
dos negros com suas raízes africanas. Décadas depois, nos Estados Unidos, o
afro também começou a ganhar espaço e se tornou um dos protagonistas na luta
pelos direitos civis nos anos 60. No entanto, foram as mulheres as grandes
protagonistas dessa história. Condicionadas desde o tempo da escravidão a
alisar o cabelo, elas bateram o pé e decidiram andar pelas ruas ao natural, o
que causou espanto e resistência da comunidade branca.
Entre
muitos, o nome de Angela Davis surge como um dos principais marcos nesta luta.
Ativista desde os primeiros anos de sua juventude, a norte-americana fez parte
do Partido Comunista e também do movimento Panteras Negras. Em pouco tempo
Angela havia se tornado uma das principais referências na luta pelos direitos
dos negros e muito deste respeito vinha de seu afro, que de tão imponente, se
tornava mais uma maneira de intimidar opressores.
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Esperanza Spalding também adotou o afro como stilo. Foto: Reprodução. |
Mesmo
durante os tempos de opressão, os negros sempre estiveram presentes no campo
das artes, estilos consagrados como jazz e blues, o último precursor do rock,
são exemplos desta presença. Além de brindar o público com seu talento, estes
artistas foram responsáveis por um braço da afirmação da estética afro nos
quatro cantos do mundo. Jimi Hendrix, revolucionando com sua guitarra, criou
tendência ao deixar seus esvoaçados cabelos crespos crescerem ao natural.
Ainda
no rock, o tecladista Billy Preston, famoso por ter tocado com os Beatles,
também aderiu ao movimento e passou boa parte dos anos 70 excursionando com um
black power de dar inveja. Por fim pinçamos o nome da sul-africana Miriam
Makeba, carinhosamente chamada de Mama Africa, que durante seu exílio nos
Estados Unidos, adotou o black power. Ainda em 1970, o fenômeno da disco music
ganhou espaço e liderado pelos negros, surgiu com força total e logo caiu nas
graças do público, tendo sido o black power um dos principais ícones do
movimento, destacado na cabeça de membros de grupos como o Earth Wind and Fire.
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Billy Preston durante os anos 70. Foto: Reprodução. |
Apesar
de sair de moda nos anos 80, o afro voltou com força total no começo do século
21, mais uma vez amplamente difundido na música. A partir de 2000, Lauryn Hill
e Lenny Kravitz e um pouco antes, a cantora Erykah Badu repescaram o fluxo da
estética como mensagem de afirmação. Com o avanço dos anos, o estilou ganhou
ainda mais força, e nomes como a baixista Esperanza Spalding e a cantora
brasileira Anelis Assumpção foram exemplos da preferência aos cabelos naturais.
São
quase 70 anos na luta da afirmação de estética como identidade na diáspora, em
que o cabelo e sua naturalidade sobressaem aos padrões de beleza ocidentais
para se afirmar como instrumento de resistência e cultura. Nesse contexto, seja
na política ou nas artes, o black power foi e é um símbolo que transcende as
fronteiras da beleza e significa para o negro o resultado da luta de seus
antepassados e também a determinação em manter viva a identidade de quem lutou
pelos seus direitos. Na busca de direitos, cabelo é identidade e é também um
símbolo de respeito.
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