Memórias intensas sobre Zenilda Oliveira, por Heloisa Bitu

Zenilda Oliveira. (FOTO | Acervo pessoal de Heloísa Bitú)


A descrição é densa, visto que são memórias intensas!

Aos 18 de junho de 1929 nasceu Zenilda Gonçalves de Oliveira, à sombra de outra Zenilda (Maria Zenilda) que Deus chamou antes de completar um ano de vida. Diante do conhecimento da fatalidade da primeira, a segunda costumava dizer que Deus levou a boa e que ela, a menos boa, daria mais trabalho pra ir. Filha de Frutuoso José de Oliveira e Júlia Gonçalves de Morais, nasceu à beira da Lagoa de Santa Teresa D´Ávila e se gabava de haver saído do lugar onde enterrou o umbigo apenas para viver a maior parte do tempo de vida do outro lado da mesma Lagoa.

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Das filhas de Seu Frutuoso, a Zenilda era a mais extrovertida, a mais espalhafateira, desinibida, corajosa, determinada, opiniosa e o melhor: desobediente! Certamente seria o gênio oposto da outra irmã que não chegou a conhecer! De natureza indomável e gargalhadas únicas, esta geminiana não se submetia às ordens dos irmãos mais velhos, permitindo apenas à ela mesma as responsabilidades das escolhas sobre sua vida!

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Quando jovem, aproveitava as tardes de domingo indo ao forró no salão da rua nova, acompanhada “das amigas de pagode” Bela Agostinho, Sinhorinha, Nenem Rodrigues... Para ela as horas de imensurável alegria eram aquelas que junto com as amigas engabelava Olival Frutuoso (irmão) pra não ir pra casa mais cedo!

Era moça prendada, cozinhava bem, engomava roupa como ninguém, costurava e era da labuta da roça também. Tinha boa mão para domesticar, plantar jardins e também sabia tirar leite de cabra!

Adquiriu matrimônio à beira dos seus 25 anos (um pouco tarde para o costume da época). Sempre dizia que se casaria apenas com quem ela acreditasse que a trataria como ela realmente merecia. A altivez na dignidade lhe rendeu o adjetivo de “opiniosa”! A verdade é que a vovó sabia bem o que queria...

Ela deixou claro para o meu avô, quando ainda namoravam, que ele teria de saber bem o que queria com uma mulher feito ela... Teria de seguir à risca tudo aquilo que ela acreditava ser louvável que um homem de caráter respeitasse!

Meu avô prometeu... E cumpriu! Apenas a morte dele em 2001 os separou.

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Por volta dos 35 anos, meu avô Francisco Alves Bitú passou a desenvolver ataques epiléticos. Tiveram 5 filhos: Francineuda Bitú de Oliveira (Mumu), Francenilda Bitú de Oliveira (Didi), Francisco Bitú de Oliveira (Tico), Antônia Francilene de Oliveira (Lena) e Francelma Bitú de Oliveira. A doença neurológica de meu avô foi uma espécie de estigma social na vida dele, de minha avó e de seus descendentes mas, o fato de ser tão “opiniosa” fez jus aos cuidados que Dona Zenilda teve com ele até os seus últimos dias de vida. Por isso a vovó é pra nós o exemplo dos sacrifícios que só o amor profundo suporta e atravessa.

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A vovó transpos o deserto da dor de ver uma filha partir para a morada eterna antes dela mesma, e teve que endurecer para me acolher orfã quando eu tinha só 12 anos de idade. Com ela tive valorosos ensinamentos. A você vovó sou muito grata por tudo o que foi e pelo continuará sendo pra mim! É verdade que a vovó sempre me amou em todos os meus despropósitos e sonhos mais absurdos! O meu sonho de me tornar arqueóloga foi um deles! Ela sustentou junto comigo que eu não desistiria!

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Quando a pandemia veio, Deus, como foi difícil manter a vovó dentro de casa, sem as visitas das amigas de prosa... (Neném Barros, Socorro de Diassis, Maria Lourenço...)

Quando a voinha saía na calçada pra pegar um ar fresco na cadeira de balanço, reclamava que a rua era muito parada! Não passava um cristão, nem por reza! A gente explicava...

- Vó, estamos em pandemia! Tá todo mundo em suas casas, as pessoas não andam mais nas ruas, vovó!

- Tem notícias de Risalva? Antônio Bitú e Zelinda? Esse povo tá tudo dentro de casa?

- Tá vovó... eu tô vindo aqui de teimosa e pq a senhora já tomou a primeira dose, vó! Nem era pra eu estar vindo aqui...

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Sempre que eu aparecia por lá, a tia Francelma contava uma história nova da vovó...

- Mãe tem horas que não tá falando aprumado, não! Acredita que comadre Angelita, comadre Francisca e Titia de Mãe Gulora vieram aqui... e depois que saíram perguntei:

- Mãe sabe com quem passou a tarde conversando hoje?

- Uma muié aí... uma conversa até boa... mas não sei não... Era Maria Firmino?

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Me gabei por uns dias... Pois ela esquecia um bocado de gente mas, se eu chegasse lá a tia fazia questão:

- Agora eu quero ver!

Quando Luan tava estudando na Profissionalizante todo dia a pergunta era a mesma...

- E por onde tú andou em Nova Olinda, tú viu Heloísa?

Se eu chegasse e a tia perguntasse pra ela quem era... ela olhava, fazia cara de risinho faceiro e respondia...

- Vocês tão sendo besta? É a Heloísa.

Eu gaiteava... e me exibia!

Depois até de mim ela não lembrava o nome! Parece que reconhecia a fisionomia, porque olhava pra mim e sorria... Tinha um xodó com Maya... Nunca deixava ela sair de mãos abanando... Corria na bolsinha e tirava uma notinha pra dar pra bisneta chupar um picolé! Eu voltava pra casa de coração quentinho!

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Entretanto, os lapsos começaram a ficar mais presentes! E até os benditos da igreja que eu cantarolava com ela... vez ou outra só arranhava a melodia... letra que é bom, necas!

Foi dureza demais pra mim a cada visita diagnosticar um esquecimento diferente! Eu não conseguia mais ficar sem chorar! A conversa não fluía... nem os causos de antigamente ela sabia mais contar direito! Eu fui entrando no luto... sabendo que a minha cangaceira preferida estava indo devagarinho... não tinha mais a voz imponente, nem a coragem à punho! Valentia? Já não tinha... Não era mais a vovó Zenilda!

Depois eu comecei a voltar... Levar Maya... Sorrir com as presepadas da veinha, que vez ou outra sabia o que a gente estava proseando na frente dela e outras vezes parecia alheia ao mundo!

(...)

Fazia dias que eu não dormia com ela! Então, na véspera do aniversário de morte da mamãe eu decidi que ia com Maya!! Ela queria ver a Bisa e eu tbm.

A vovó estava meio agitadinha... queria ir comigo pro Festival de Quadrilhas pra no caminho deixá-la na casa da irmã mais velha! Que já morreu, por sinal!

Foi peleja pra convencê-la a ficar! Tive que dizer que ia pro Cabaré! kkkkkk. Ela ficou meio contrariada mas, se aquietou.

No dia seguinte, passei o dia do ladinho dela! Conversamos algumas coisas, arranquei alguns sorrisos e lá pelas tantas...

- Vó eu já vou, viu?

- Tú vai pra onde?

- Pra Nova Olinda! Vou pra minha casa!

- E tú vai de quê?

- De carro.

- O carro vem te buscar aqui?

- É sim! Tá chegando já...

- Apois me leva mais tú! Tú me deixa na entrada da rua, na casa de Lindave.

- Vó, hoje é domingo! Lindave não está em casa! Deve ter saído com Domingos Gino!

- Deixe de conversar besteira! Tá em casa sim! Domingos Gino tá adoentado e ela tá em casa cuidando dele! Me leve lá que eu tenho que conversar com ela! Mãe foi pro Juazeiro e ainda não chegou!

- Vó e se eu passar por lá e ela não estiver em casa? Vou ter que voltar pra trás com a senhora... e eu não posso me atrasar! Bora fazer assim... Eu passo por lá, dou o recado e peço pra ela vir aqui! Se ela não vier, é porque não achei ela em casa!

- Tú faz isso mesmo? Não. Eu acho melhor eu ir... Me leva mais tú mulher, bem ali na entrada da rua! De carro num instante a gente chega lá... eu fico e tu vai tua viagem!

- Vó eu tô trabalhando aqui pela manhã... Amanhã, eu volto e passo por aqui e a gente resolve isso, tá?

- Bença, vó?

- Deus te dê vergonha!

- Vem cá Maya, dá bença pra bisa... a gente já vai.

- Deus lhe faça, feliz!

(...)

Voinha foi dormir umas 19:00h. No dia seguinte demorou a levantar como de costume. O que fez a tia estranhar, pois já tinha ido duas vezes olhar e ela dormia serena! A manhã era fria e a tia Francelma, não quis chamar, decidiu esperar mais um tiquinho. Foi às 08:30, às 09:00 e tudo quieto...

Achou estranho... Às 09:30 voltou... voinha não passava bem. A tia percebeu que não estava legal, pois não abria nem os olhos!

Voinha foi socorrida imediatamente! Acompanhada por médica, enfermeira e a tia pro Hospital Regional em Juazeiro!

Voinha do jeito que chegou no hospital, permaneceu! Como quem dorme...

Voinha foi dormir no dia de aniversário de 25 anos que perdeu a filha... e não acordará mais!

Durante estes dias de angustia e aflição com ela na UTI aprendi que o bem mais valioso que alguém pode adquirir na vida se chama memória!!!

Enquanto estivermos na memória de alguém continuamos vivos - ainda que pensemos que a memória afetiva é uma construção subjetiva daquilo que vivemos, sentimos...

Permanecer vivo é ser lembrado.! (não é a toa que a frase virou marketing de sucesso)... e quer admitamos ou não, ninguém constrói um bem valioso como este tão somente sozinho!

Nesta perspectiva, a memória afetiva requer a construção de uma teia estabelecida com/para o outro. Se uma das partes esquece, não decreta apenas a própria morte, mas a do outro também! E que doloroso é morrer para quem se ama!!! Nestes casos é como se, ainda que vivo, tivéssemos morrido!

(...)

Quando a vovó não mais distinguia quem era quem... Deus, como foi doloroso! Tanto, que para continuar as visitas em sua casa, tive de pensar em algo que pudesse transpor essa constatação. Criar novos vínculos!

Lembrei que cantar os benditos na igreja, era algo que a minha avó materna amava! Então, mudei a estratégia e tratei de tecer teias fincadas naquilo que para nós seria algo inesquecível! O caminho foi a música! E é certeza que agindo assim estabeleci novos vínculos com ela, novas memórias afetivas e adiei o nosso fim por mais alguns dias. 

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A vida pode ser dura mas, também pode ser engraçada!

Durante o confinamento em decorrência da pandemia fiz uso de leituras que considero transformadoras para atravessar desertos emocionais!

A primeira delas foi um livro de Laura Gutman chamado: A Maternidade e a busca pela própria sombra - o resgate do relacionamento entre mães e filhos. Na ocasião eu imaginava que ele pudesse me orientar para ser uma mãe melhor! E na verdade, o que consegui ser, acredito eu, foi uma filha/neta de melhor percepção!

Entre uma página e outra, eu observava o comportamento da minha avó e refletia sobre a maternidade dela, a da minha mãe e a minha... Aquilo foi um exercício muito, muito, valioso!

Sempre que eu aparecia na vovó ela me questionava:

- Tú já merendou hoje? Em cima da mesa tem bolo e banana, tira lá uma torinha de bolo pra tu comer!

- Tu vai almoçar hoje onde? Aqui eu não coloco mais a panela no fogo, recebo o prato na mão! Tu quer uma nota pra ir almoçar na rua?

- Não vovó, eu já estou alimentada!

Somente durante a pandemia, percebi que a vovó fracionava a aposentadoria! E já no início do Alzheimer notei que ela às vezes se levantava da poltrona, ia nas gavetas e esconderijos dos armários, procurava algo, voltava pra cama, olhava debaixo do travesseiro, levantava os lençóis e já meio invocada indagava:

-Tu viu quem foi que veio aqui e levou minha bolsinha de algodão cru que tem uma alça de pano?

- Por acaso, não é essa aí que está pendurada no seu pescoço, vovó? Hahahahahaha

Ela abria o zíper, contava as notinhas, separava uma nota na mão e organizava o resto na bolsinha! Fazia isso inúmeras vezes!

Certa vez, me contou que precisou de um dinheiro pra fazer alguma coisa que queria e pediu pro meu avô. Só porque ele perguntou pra quê ela queria... Nunca mais ela pediu!

- Ora, pra quê é que a gente quer dinheiro...

Tratou de criar tudo quanto era bicho no quintal pra vender e ter seu próprio dinheirinho!

A vovó era vista como uma pessoa durona, altiva, opiniosa e por vezes autoritária! Não gostava de beijos (chamava tirar a pagode), detestava aniversários (achava uma bobagem), se gabava por nunca ter sentido vontade de ir à São Paulo ou se largado de onde enterrou o umbigo! Entretanto, o tempo foi cansando a veinha e ela já aceitava os beijos e assoprava as velinhas sorrindo!

A vovó tinha dinheiro pra tudo! E sempre me dizia que na vida só não há jeito pra morte! O resto...

A tia Francelma aparecia com o almoço e ela dava uma notinha pra comprar o bolo do café da tarde.

Maya aparecia saltitante, ela dava uma notinha pra ir comprar bombom.

Luan aparecia desconfiado, ela dava uma notinha pra ir comprar um pote de sorvete.

Olhava pra mim e dizia: essa pega pra tu ir almoçar lá nos “café” de quem tiver aberto!

É claro que a sabedoria da vovó me foi muito eficaz para não desistir do que eu queria mas, dolorosamente também aprendi que existem situações na vida, das quais não há jeito que dê jeito (não apenas a morte)!

Quando Maya tinha 5 anos, perguntei o que ela queria ser quando crescer... De prontidão respondeu:

- Quero ser igual a Bisa que só fica na cadeira de balanço dando dinheiro pra quem passa!

E esse era o jeitinho dela de cuidar dos seus!

(...)

Lembro de mais um ensinamento:

- Para as causas impossíveis: fé e oração, minha neta!

Despertei por volta de meia noite e meia e decidi aproveitar os lampejos de criatividade e a explosão de ideias que me ocorreu. Tais estalos sempre se sucedem em período noturno! Habitualmente, neste interim, alcanço a melhor atividade neurológica. Acatar o ímpeto de levantar e escrever é a única alternativa que me resta, se quiser voltar a descansar depois.

Debulharam-se muitos parágrafos, de modo que já não consigo aqui quantificar mas, que foram interrompidos pela ligação telefônica do Hospital Regional. Era a médica de plantão na UTI que apeou a notificar a passagem terrena da vovó. Como quem intuía a motivação da comunicação, recebi a informação sem surpresa ou afobação! Me ocorreu apenas perguntar o horário da passagem, agradecer a atenção e solicitar informações acerca dos rituais de liberação do corpo.

Com tranquilidade lembrei da orientação da vovó e da última canção que cantamos:

- Para as causas que você considere impossíveis apenas fé e oração, Heloísa!

(...)

“Se as tristezas desta vida quiserem te sufocar

Segura na mão de Deus e vai

Segura na mão de Deus, segura na mão de Deus

Pois ela, ela te sustentará

Não temas segue adiante e não olhes para trás

Segura na mão de Deus e vai

Segura na mão de Deus e vai

Orando, jejuando, confiando e confessando

Segura na mão de Deus e vai

Segura na mão de Deus e vai

Jesus Cristo prometeu que jamais te deixará

Segura na mão de Deus e vai...”

Voinha queremos lhe prestar nossa última homenagem e agradecer! Agradecer o amor. Agradecer os dias de alegria. Agradecer os incentivos. Agradecer os conselhos. Agradecer a atenção e os cuidados. A proteção, as orações e os dinheirinhos escondidos que andou destribuindo! Caminha na luz e vai sem lembrar ou se preocupar por nós, pois já não precisa mais! Teu rebanho da pronto pra caminhar sem ti.

Deus esteja contigo e conosco!

Heloísa Bitú.

21/07/2022.

Izolda Cela sanciona lei de concurso para professor indígena no Ceará

 

(FOTO | Reprodução |Redes Sociais)

Por Nicolau Neto, editor

A governadora do Ceará, Izolda Cela, sancionou na tarde desta sexta-feira, 22, a lei que permite a realização de concurso público para professores e professoras indígenas.

De acordo com a propositura, o concurso irá preencher 200 vagas entre ensino fundamental e ensino médio e distribuídas em 29 escolas de 13 etnias presentes no Estado.

Em suas redes sociais, a governadora e ex-secretária de Educação escreveu:

Momento histórico para a educação cearense. Sancionei há pouco a lei que regulamenta o 1° concurso para professores das escolas indígenas do Estado. Serão 200 vagas no total, que irão contemplar 29 escolas de 13 etnias: Anacé, Gavião, Jenipapo-Kanindé, Kalabaça, Kanindé, Kariri, Pitaguary, Potyguara, Tabajara, Tapeba, Tapuia Kariri, Tubiba Tapuia e Tupinambá.

O concurso será realizado em três etapas: prova escrita, prática e análise de títulos.

Desafios para negras são muitos, mas mudanças nos Parlamentos são caminho sem volta

 

Julho das Pretas, por Cida Bento

Grandes desafios se colocam para mulheres negras que decidiram se candidatar ao Parlamento e ao Executivo no Brasil, em 2022. Este é um ano especial, no qual comemoramos os 30 anos do encontro ocorrido na República Dominicana em que se instituiu 25 de julho como o Dia Internacional da Mulher Afro-Latina e Caribenha.

No Brasil, a data presta uma homenagem a Tereza de Benguela, líder quilombola que ajudou comunidades negras e indígenas na resistência à escravidão no século 18. Em nosso país, é também celebrada a 10ª edição do Julho das Pretas — criado no contexto de ações coletivas pelo Odara – Instituto da Mulher Negra— e tendo como mote "Mulheres Negras no Poder, Construindo o Bem Viver!".

Os desafios colocados para as mulheres negras não são poucos, mas as mudanças nos Parlamentos já vêm ocorrendo. Nas eleições municipais de 2020, ocorreu um aumento de quase 700 cadeiras ocupadas por mulheres negras nas Câmaras Municipais e um aumento de mais de 2 milhões de votos do povo brasileiro nesse grupo; 32% a mais se compararmos com as eleições de 2016, segundo o Instituto Marielle Franco. Provavelmente esse aumento da presença negra no Parlamento vem provocando, de um lado, comemorações, e, de outro, a intensificação da violência.

A pesquisa realizada pelo Instituto Marielle Franco com parlamentares negras, publicada em 2021, evidencia que 8 a cada 10 mulheres sofreram violência virtual de desinformação ou discurso de ódio — 78% sofreram violência virtual, 63%, violência moral, e 55%, violência institucional.

A violência mostra o sentimento de ameaça diante de propostas que têm como eixo a construção de uma sociedade em que a proteção e o cuidado com o ambiente e a defesa dos direitos humanos, em particular de populações quilombolas, indígenas, negras e femininas, estejam conectados e tenham centralidade, orientando outras perspectivas de desenvolvimento.

Mas não só os desafios do enfrentamento da violência se colocam para as parlamentares. Daniela Rezende, num robusto estudo publicado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em 2020, chama a atenção sobre a importância de mulheres ocuparem espaços de lideranças partidárias na Câmara dos Deputados.

Ela tem como base uma pesquisa realizada entre 1995 e 2015, que mostra o baixo número de legisladoras indicadas para liderança de partidos. Esse número variou de 0 a 2 na Câmara dos Deputados e no Senado, em cada ano. Considerando os dados agregados para todo o período, essas mulheres ocuparam as lideranças de partidos apenas em 12 e 13 ocasiões na Câmara e no Senado, respectivamente.

Os partidos são estruturas fundamentais na distribuição de recursos legislativos e eleitorais e têm um papel decisivo no aumento da presença de mulheres nos espaços de poder e tomada de decisão.

Rezende traz estudos que revelam que a ênfase de mulheres na liderança partidária aumenta o número de candidatas e eleitas. Com mais mulheres em sua estrutura interna, aumentam também as chances de adoção de ações afirmativas.

Líderes partidárias podem influenciar a representação de mulheres na elaboração de políticas públicas. O estudo destaca que, quanto maior o número de mulheres em comitês executivos de partidos, maiores as chances de que sejam incluídos temas relacionados à justiça social.

Rezende ressalta ainda que as lideranças podem fazer uso da palavra, orientar o voto da bancada de seu partido e criar condições para participar da definição da agenda da Casa legislativa. Ou seja, dentre tantos desafios que precisam ser enfrentados pelas mulheres e que se intensificam para negras, indígenas e quilombolas, encontra-se a necessidade de compreender e se apropriar do modo de funcionamento das Casas legislativas para poder transformá-las.

Esse modo de funcionamento que vem dificultando que as Casas legislativas cumpram seu papel de proteger nossas instituições, de fortalecer a democracia brasileira e de se orientar pela nossa Constituição.

A tarefa é grande, mas, atuando coletivamente, como vimos fazendo em tantos coletivos espalhados pelo país, as mudanças ocorrerão. Caminho sem volta.

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Texto encaminhado a redação do Blog pelo CEERT.

Léo Péricles, pré-candidato à presidência, é alvo de ataques racistas

 

(FOTO | Emília Silberstein/Divulgação).

O pré-candidato à presidência pela Unidade Popular (UP), Léo Péricles, tem sofrido ataques racistas em suas redes sociais. Na última semana, o partido utilizou as redes sociais para denunciar as agressões, que partem de um perfil supostamente neonazista. Segundo Péricles, esta não é a primeira investida que sofrem e a legenda vai procurar as punições cabíveis.

"Boa tarde. Sou português ariano puro e sinto nojo de pretos porque tua raça tem em média 55-80 de QI e também possuem uma altíssima propensão para violência. A raça preta deveria ser expulsa das cidades e empurrada de volta para a selva, um lugar que nunca deveriam ter saído", escreveu o perfil denominado Bruno Silva.

Em seguida, o internauta manda uma foto de um chimpanzé e escreve: “Macaco! Volta pra árvore! Quer banana?”

O agressor termina relacionando o ato de racismo ao atual presidente Jair Bolsonaro (PL): “Vota em Bolsonaro para o Brasil continuar racista. Bolsonaro é o maior racista do Brasil. Viva o racismo! Preto nojento!”.

À Alma Preta Jornalismo, Leonardo Péricles declarou que estipular quando começaram os ataques é complexo porque, de acordo com o pré-candidato, todas as vezes que ele esteve em um lugar de destaque na política, que “geralmente não está reservado pessoas negras, de periferias e trabalhadores, isso acontece”.

"Desde que o registro da UP saiu, em dezembro de 2019, e isso deu alguma repercussão na imprensa, nós sofremos alguns ataques. Posteriormente, quando lançamos a pré-campanha aconteceram outros. Agora, que estamos pleiteando estar em todos os espaços de debate, não aceitando a subalternidade, mostrando que precisam existir pessoas negras que disputam o maior cargo político do Brasil e que devem estar nos debates centrais, aí os ataques ficaram mais intensos”, conta o líder da Unidade Popular.

Ele ainda complementou afirmando que esses ataques serão tratados pelo jurídico do partido e no combate ao fascismo e ao racismo nas ruas. “Transformaremos esses ataques em mola propulsora para lutarmos ainda mais para a construção de uma sociedade onde o racismo e demais opressões não existam”, concluiu o pré-candidato.

Léo Péricles não é um caso isolado. No final de junho, a Alma Preta denunciou casos como o do pré-candidato a deputado federal pelo PT-SP, Douglas Belchior, professor de História, fundador da Uneafro Brasil e membro da Coalizão Negra por Direitos. Ele recebeu uma mensagem semelhante à encaminhada à Péricles, vinda de um perfil com a mesma foto.

Eu tenho um enorme nojo de pretos e não deixo essa macacada fedorenta chegar perto da minha família. Heil Hitler! Hitler estava certo. Macaco fedorento”, escreveu o agressor à Belchior, em uma mensagem por WhatsApp.

No começo do mês de junho, um trabalho educativo criado pelo mandato da vereadora Guida Calixto (PT-SP), de Campinas (SP), também foi alvo de perseguição, e mais, o próprio mandato esteve sob risco de cassação devido a publicação da HQ “Territórios Negros: nossos passos vêm de longe”.

Em 2020, um levantamento feito pelo Instituto Marielle Franco com apoio da Terra de Direitos e Justiça Global contabilizou que 78% das candidatas negras relataram ter sofrido ataques virtuais no período eleitoral. Na ocasião, 142 mulheres negras candidatas pertencentes a 93 municípios (em 21 estados) e 16 partidos responderam a um questionário para analisar o cenário da violência política eleitoral neste ano. De acordo com o relatório, os principais autores dos ataques virtuais são grupos não identificados (45%) e candidatos ou grupos militantes de partidos políticos adversários (30%). Também foram identificados grupos misóginos, racistas e neonazistas (15%).

Apesar das diferentes bases legais, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que o crime de injúria racial - o que é destinado a uma única pessoa - pode ser equiparado ao de racismo - que ofende um grupo - e considerado imprescritível, ou seja, passível de punição a qualquer tempo. As denúncias à polícia podem ser feitas por telefone, presencialmente ou internet. A avaliação e a devida punição caberá ao juíz de cada caso.

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Com informações da Alma Preta.

PT oficializa candidatura de Lula à Presidência da República

 

(FOTO | Fábio Vieira | Metrópoles).


O PT aprovou por unanimidade nesta quinta-feira (21/7) a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República. Em convenção realizada na capital paulista, o partido também confirmou que o vice será o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB).

O evento ocorre sem a presença do petista e de seu vice na chapa, que estão em agenda em Pernambuco. Em seguida, a federação Brasil da Esperança, que reúne PT, PCdoB e PV, oficializou com unanimidade a chapa em convenção. Ainda nesta quinta, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e uma liderança dos partidos aliados concederão entrevista coletiva à imprensa.

O petista será o primeiro candidato de uma federação, que significa uma aliança de quatro anos, na qual as siglas se comprometem a atuar em convergência. Além dos partidos que compõem a federação, a aliança da chapa Lula e Alckmin conta com PSol, Rede, PSB e Solidariedade.

Após a escolha da chapa em convenção, os partidos têm até 15 de agosto para fazer o registro do Tribunal Superior Eleitoral. Só a partir do dia 16 que o ex-presidente poderá pedir votos, quando começa oficialmente a campanha eleitoral.

Esta será a sexta vez em que Lula concorre às eleições e a primeira vez em que estará ao lado de Alckmin, seu ex-adversário histórico. Um dos primeiros filiados ao PSDB, o ex-governador de São Paulo deixou o ninho tucano no fim do ano passado após mais de 33 anos na legenda.
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Com informações do Metrópoles.

Mudando a cor da história

 

Imagem retirada do site Piaui.

A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil.” A frase é certamente a mais conhecida de Minha Formação, autobiografia que Joaquim Nabuco publicou em 1900, doze anos depois de o moribundo governo imperial promulgar a Lei Áurea. Para o diplomata, historiador e abolicionista recifense, a servidão imposta às populações negras originárias da África insuflou no país “sua alma infantil, suas tristezas sem pesar, suas lágrimas sem amargor, seu silêncio sem concentração, suas alegrias sem causa, sua felicidade sem dia seguinte”. Em 2000, Caetano Veloso transformou a célebre frase e outros trechos do livro na letra da canção Noites do Norte, que integra o disco de mesmo nome. Lenta e soturna, a música evidenciava que o terrível presságio de Nabuco continuava em vigor às portas do século XXI. Agora, uma iniciativa liderada pelo jornalista mineiro Tiago Rogero pretende demonstrar, mais uma vez, que a sombra do período escravista ainda paira sobre boa parte das mazelas brasileiras.

Desenvolvido ao longo dos últimos dois anos e sete meses, o projeto Querino lança seus três primeiros frutos no dia 6 de agosto: um podcast de oito episódios, um site e uma reportagem na piauí. “A ideia é aproveitar o bicentenário da Independência para rever a história do país sob uma ótica afrocentrada”, explica Rogero. “Queremos mostrar que o Brasil não apenas nasceu da escravidão como continua orbitando em torno da lógica que a sustentou. Praticamente toda a riqueza material e imaterial do país deve muito à exploração da força, do conhecimento e da sensibilidade de indígenas e negros.” O projeto também almeja “botar o dedo na ferida das elites”. “Vamos apontar quem se beneficiou da máquina escravocrata e cobrar responsabilidades”, diz o jornalista.

Ele se inspirou numa ação do New York Times para criar o Querino. Em agosto de 2019, o jornal iniciou o 1619 Project, um trabalho de fôlego que refletia sobre a persistência do racismo entre os norte-americanos. Na ocasião, a chegada dos primeiros escravizados à colônia inglesa da Virgínia – uma das treze que iriam compor o futuro Estados Unidos – estava completando quatro séculos.

Poucos meses depois que o 1619 surgiu, Rogero procurou o Instituto Ibirapitanga com a intenção de fazer algo semelhante por aqui. A organização sem fins lucrativos, que busca  promover a equidade racial no Brasil, gostou da proposta e topou financiá-la. Em seguida, o jornalista levou a sugestão para a Rádio Novelo, produtora de podcasts que também lhe deu sinal verde. Por fim, a piauí* aderiu à ideia. O nome do projeto homenageia o baiano Manuel Querino (1851-1923), intelectual e abolicionista que realizou estudos pioneiros sobre o papel dos africanos e de seus descendentes no desenvolvimento do país. A equipe responsável pela empreitada conta, até agora, com 42 profissionais. Desses, 28 são negros, incluindo Rogero.

Os episódios do podcast que o Querino lançará irão durar entre 50 e 59 minutos. Cada um vai se debruçar sobre um assunto: a Independência, a produção de riqueza, a música, a educação, o trabalho, a religiosidade, a saúde e a política. Rogero apresentará todos os capítulos. Ele próprio escreveu os roteiros, com a ajuda de Flora Thomson-DeVeaux, Paula Scarpin e Mariana Jaspe. Baseou-se em 54 entrevistas e numa ampla pesquisa, que se estendeu por um ano e ficou sob a responsabilidade de Gilberto Porcidonio, Rafael Domingos Oliveira, Angélica Paulo e Yasmin Santos. A professora Ynaê Lopes dos Santos atuou como consultora historiográfica do projeto.

Até o fim de 2022, a piauí deverá publicar pelo menos quatro reportagens com o selo do Querino. A primeira irá retratar filhos de empregadas domésticas negras que cresceram dentro dos minúsculos quartos onde as mães viviam nas casas dos patrões. Os autores são o repórter Tiago Coelho e o fotógrafo Taba Benedicto.

O site do projeto, assinado pela designer Maria Rita Casagrande, vai trazer os links das matérias. Também reunirá os oito episódios do podcast, com conteúdos extras e as referências bibliográficas que nortearam os roteiros.

Se tudo sair como planejado, o Querino terá outros desdobramentos: um braço educacional, rodas de conversa, livros, exposições e talvez um documentário”, afirma Rogero. Antes de se dedicar ao projeto, ele concebeu e apresentou dois podcasts com viés histórico-racial. Em 2019, esteve à frente do Negra Voz, produzido pelo jornal O Globo. Um ano depois, fez Vidas Negras, uma parceria do Spotify com a Novelo.

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Com informações do Geledés.

Lula amplia vantagem sobre Bolsonaro, mostra pesquisa Exame/Ideia

 

Lula lidera a corrida eleitoral em cenário de estabilidade, sem mudanças além da margem de erro em relação às pesquisas anteriores da série Exame/Ideia. (FOTO | Ricardo Stuckert).

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem 44% das intenções de voto, e o presidente Jair Bolsonaro (PL) aparece com 33% em nova pesquisa Exame/Ideia divulgada nesta quinta-feira (21).

Em comparação com a última pesquisa, feita em junho, os números oscilaram dentro da margem de erro. Apesar dessa variação, quem teve uma queda maior, no limite da margem, foi o presidente Bolsonaro, saindo de 36%, há um mês, para 33%. Lula perdeu um ponto percentual.

Ciro Gomes, do PDT, tem 8%, e Simone Tebet (MDB), 4%. André Janones (Avente) fez 2%. Os demais nomes testados pontuaram 1% ou ficaram abaixo disso.

Esses números são da pesquisa estimulada, quando os nomes são apresentados em formato de lista. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.

Foram ouvidas 1.500 pessoas entre os dias 15 e 20 de julho. As entrevistas foram feitas por telefone, com ligações tanto para fixos residenciais quanto para celulares. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o número BR-09608/2022.

Série histórica

Na série histórica, as duas últimas sondagens da Exame/Ideia são as que permitem uma comparação mais precisa, uma vez que outros pré-candidatos foram testados em pesquisa anteriores, mas saíram da corrida presidencial, como o ex-governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e o ex-juiz Sérgio Moro (União Brasil).

Percebemos um número estável das intenções de voto. Ainda não há nenhum reflexo de impacto resultante das medidas do governo de pagamento de auxílio ou de redução de preço dos combustíveis. Ou seja, é algo que precisamos monitorar na opinião pública nos próximos meses. Vale lembrar que o auxílio emergencial demorou aproximadamente dois meses para ter um reflexo na popularidade do presidente”, explica Maurício Moura, fundador do IDEIA.

Moura se refere ao pagamento de 600 reais do Auxílio Brasil, mais um benefício a taxistas e caminhoneiros, além de um valor maior do auxílio-gás que serão pagos até o final do ano, e que foi aprovado pelo Congresso na semana passada.

Em uma pergunta espontânea, em que o entrevistado precisa dizer o primeiro nome que está na mente, Lula tem 36% das intenções de voto, e Bolsonaro, 30%. Ciro aparece com 3%, e os demais pontuaram 1% ou ficaram abaixo disso.

Segundo turno

Em uma simulação de segundo turno entre Lula e Bolsonaro, o petista tem 47%, e Bolsonaro 37%. Na série histórica, essa distância entre os dois ficou maior, se comparado com a pesquisa feita há um mês. O atual presidente também oscilou negativamente, acima da margem de erro.

É maior a parcela da população que avalia o governo de forma negativa. Na pergunta sobre se ele merece ser reeleito, esse número está acima dos 50%, o que significa uma grande dificuldade de reeleição. Outro dado que tem relação é a maior parte dos brasileiros respondendo que acha que o país está no rumo errado”, diz Maurício Moura.

A pesquisa Exame/Ideia testou ainda outros quatro cenários de segundo turno. Lula venceria todas as disputas. Bolsonaro está em primeiro nas simulações com Tebet e Ciro, mas a com o ex-governador do Ceará está dentro da margem de erro e, portanto, é considerada um empate técnico.

Lula é o preferido dos jovens

Ao colocar uma lupa em alguns dados mais específicos da população, Lula tem vantagem no primeiro turno entre os jovens. Na parcela com idade entre 16 e 24 anos, ele tem 52% das intenções de voto, e Bolsonaro aparece com 21%. Ciro tem 10% nesta parcela, e Tebet, 6%.

Já entre os mais velhos, com 60 anos ou mais, há um empate entre Lula e Bolsonaro, ambos com 39% das intenções de voto. Neste grupo de eleitores, o ex-governador do Ceará tem 6%, e Tebet tem 5%.

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Com informações da RBA.

Ciro Gomes oficializa candidatura com ataques a Lula e Bolsonaro

 

O presidenciável Ciro Gomes em discurso durante a convenção nacional do PDT que formalizou a escolha dele como candidato do partido — Foto: Adriano Machado/Reuters.

O ex-ministro Ciro Gomes atacou os adversários Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) nesta quarta-feira (20) no primeiro discurso após ter sido sacramentado candidato a presidente da República — pela quarta vez — em convenção nacional do PDT em Brasília.

Ele foi o primeiro presidenciável a ter a candidatura formalizada, no primeiro dia da temporada de convenções partidárias (até 5 de agosto), durante a qual os partidos terão de formalizar as escolhas dos candidatos.

Ciro Gomes concorre sem aliança com outras legendas e até esta quarta não tinha candidato a vice. O presidenciável afirmou que há negociações com União Brasil e PSD, mas, se não resultarem em acordo, escolherá um filiado ao próprio PDT. Segundo ele, o nome do vice será anunciado "nos próximos dias" e, preferencialmente, será uma mulher.

Na mais recente pesquisa do instituto Datafolha, divulgada no último dia 23, Ciro Gomes aparece em terceiro lugar, com 8% das intenções de voto, atrás de Lula (47%) e Bolsonaro (28%).

"Com todas as suas diferenças, Lula e Bolsonaro são muito parecidos", afirmou Ciro Gomes em um discurso de 53 minutos no qual comparou os rivais aos personagens dos romances "O Médico e o Monstro", de Robert Louis Stevenson (Lula), e "Frankenstein", de Mary Shelley (Bolsonaro).

"O atual quadro político é tão surreal e trágico que uma boa forma de ilustrar é utilizar a literatura de terror", afirmou. "Os dois [Lula e Bolsonaro] estão causando um mal terrível à população brasileira, criando o maniqueísmo do bem absoluto e do mal absoluto. Cada um diz que tudo de bem está do seu lado e tudo de mal está de outro", afirmou.

Ele atribuiu aos 14 anos de governos petistas (2003 a 2016) a ascensão de Bolsonaro ao poder em 2018 e disse que, agora, Lula e o partido se aliam aos que defenderam o "golpe" que levou ao impeachment de Dilma Rousseff em 2016.

"Eles estão pedindo para voltar. Será que para produzir mais enganações e inconsistências? Qual milagre pode existir para que eles possam fazer em quatro anos o que não fizeram em 14? Acordos, conchavos, falta de escrúpulo, que convocam o povo a lutar contra o golpe para depois aparecerem abraçados, beijando na boca daqueles que provocaram o golpe", afirmou Ciro Gomes, ministro da Integração Regional no primeiro mandato de Lula como presidente (2003-2006).

"Catorze anos aqui, e o que o lulismo conseguiu foi parir o Bolsonaro. Alguém acredita que Bolsonaro chegou de Marte? Bolsonaro é produto da construção magoada e iludida do povo, machucado pela mais grave crise econômica e pelo escândalo de ladroeira", declarou.

A Bolsonaro, o presidenciável do PDT reservou os adjetivos "incompetente", "preguiçoso" e "insensível" e afirmou que ele é responsável por "degradar" as instituições.

"Nunca o país teve um presidente tão insensível e incompetente como o que ocupa atualmente o Palácio do Planalto. Fora Bolsonaro. Usar e emporcalhar são os melhores verbos para definir o seu método de permanência porque ele não trabalha. A imprensa não chama tanto a atenção, mas ele é um grande preguiçoso, não trabalha, não pensa, não executa nenhuma ação em favor do povo brasileiro. Ele apenas usa como pocilga o belíssimo palácio desenhado por Niemeyer e parece estar disposto a tudo para fazer dele o seu acampamento de guerra híbrida”, disse.

Ele também criticou a reunião de Bolsonaro com embaixadores, na qual o presidente fez um pronunciamento com ataques ao sistema eleitoral e às urnas eletrônicas:

"Assistimos esta semana ao mais horrendo espetáculo de apologia à ditadura e de vexame internacional já feito por um presidente em toda a nossa história e talvez, eu acredito, da história do mundo moderno e civilizado. Vocês viram. O presidente da nossa República chama os embaixadores das potências e nações estrangeiras para esculhambar o nosso país e degradar nossas instituições, que a ele cabe, por juramento constitucional, velar, proteger e fazer respeitar."

Ciro Gomes disse que o Brasil vive um “neoliberalismo tropical”, um modelo econômico, segundo ele, em que a elite "menospreza" os pobres com políticas compensatórias ou "com puro desprezo”.

Segundo ele, “no banquete dos ricos e restos para os pobres, Collor preparou a cozinha, Fernando Henrique serviu a mesa e Lula temperou a comida. Dilma, Temer e Bolsonaro apenas requentaram o prato”.

“Esse modelo mal-acabado de neoliberalismo tropical começou há quase 30 anos, foi camuflando uma crise crônica, lenta e corrosiva durante os 14 anos do PT, até que ela se tornou aguda e insuportável. Esse modelo econômico, de uma elite ao mesmo tempo neocolonizada e neoescravista, menosprezou os pobres todo o tempo, seja com políticas compensatórias ou seja com puro desprezo. E notabilizou-se pelo privilégio dado aos banqueiros em detrimento dos que produzem", declarou.

Propostas

Na parte do discurso em que falou de propostas de governo, Ciro Gomes defendeu

um estado "vigoroso, indutor de crescimento econômico e da justiça social”;

uma "grande revolução" na educação;

"garantir a preservação e o futuro da Amazônia”;

revogar a atual política de preços da Petrobras;

reforma tributária para “corrigir as distorções que permitem, hoje, ao rico pagar menos imposto do que a classe média e o pobre”;

taxar fortunas superiores a R$ 20 milhões. "Mesmo com uma taxação moderada – R$ 0,50 a cada R$ 100 – arrecadaremos R$ 65 bilhões”;

nova política de juros “com taxas de mundo civilizado”, baseada em “metas que equilibrem índices de inflação com índices de emprego”;

revogar o teto de gastos, uma das “mais arbitrárias e elitistas [medidas] já tomadas recentemente, pois corta apenas os investimentos na vida do povo e deixam intactos os juros absurdos pagos aos bancos”.

“resolver o endividamento de 66 milhões de brasileiras e brasileiros que estão com nome sujo no SPC e no Serasa, renegociando dívidas com abatimento e parcelamento a juros baixos.

O fim da reeleição, "para facilitar a negociação séria, honesta e transparente [...]. Será o fim desta praga que está matando a democracia brasileira”.
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Com informações do G1.