Negros são 75,3% dos estudantes da Escola Padre Luís Filgueiras, aponta pesquisa do professor Nicolau Neto

 

Estudantes Eduarda Pequeno (à esq.) e Laura Meneses, do 2º E, que se autodeclararam pretas na pesquisa do professor Nicolau Neto. (FOTO | Lucélia Muniz).


Por Nicolau Neto, editor

Não há como pensar o Brasil e, em particular a educação, sem trabalhar a diversidade. É impossível falar em democracia na sua amplitude sem se voltar para os dados alarmantes de casos de racismo, uma herança perversa de mais de 300 anos de escravização. Em um país que assopra aos quatro cantos do mundo que vive estado democrático de direito, é muito salutar colocar os pingos no is, visto que dados educacionais têm demonstrado que a maior taxa de evasão escolar são de pessoas negras, pois precisam fazer a difícil escolha entre trabalhar e ajudar em casa ou estudar; aqueles e aquelas que escolhem os estudos não conseguem acompanhar os demais que possuem condições financeiras razoáveis (a maioria não negros).

É o que mostrou, por exemplo, os dados do Censo 2022 – Alfabetização do IBGE que acabou de ser divulgado. Pelos números, pessoas pretas e pardas são 55,5% da população (juntas), no entanto, representam 71,5% dos analfabetos no Brasil. Dos 11,4 milhões de pessoas que não sabem ler e nem escrever, 8,1 milhões são pretos e pardos.

Analisar a educação e de maneira particular as escolas passa necessariamente pelo entendimento das relações étnico-raciais, trazendo a lume dados que façam menção as questões de gênero e das etnias, sem esquecer as classes sociais. Dentro dessa perspectiva desenvolvi uma pesquisa visando atualizar as informações referentes a cor ou raça dos estudantes da Escola de Ensino Médio em Tempo Integral Padre Luís Filgueiras, em Nova Olinda, no interior do Ceará. A instituição conta com mais de 500 estudantes matriculados entre o período integral e noturno.

O questionário tem como base os critérios utilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) e pelo Estatuto da Igualdade Racial quanto a cor ou raça e foi feito pelo Google Forms, aplicativo do Google, e encaminhado nos grupos de WhatsApp de cada uma das 12 turmas do tempo integral e replicado para estudantes do noturno junto aos (as) diretores de turma.

Perfil étnico-racial 2024 da EEMTI Padre Luís Filgueiras. Gráfico colhido junto do Google Forms).


Em 2024, 59,3% dos (as) estudantes da EEMTI Padre Luís Filgueiras se autodeclaram pardos. Aqueles (as) que se reconhecem como pretas atingiu 16%, enquanto que 2,7% responderem se declarando indígenas. Os números de brancos e amarelos atingiram 20,1% e 1,4%, respectivamente.

Quando comparados a 2023, a população branca e parda da escola foram as únicas que teve queda nos números. Neste período elas chegaram a representar 21,5 % e 61,8%, respectivamente. O declínio na parda contraria os números nacionais, quando comparados 2010 a 2022.

A participação de estudantes amarelas teve um leve crescimento de 1,1%. Quem também cresceu foi a indígena (0,9%). O maior crescimento, no entanto, se deu entre a população preta da escola (1,3%), seguindo os dados nacionais.

Dessa forma, quando somados pretos e pardos, estudantes negros na escola representam 75,3%. Apesar de ter estudantes que ainda não se reconhecem enquanto pretas e pretos, é possível perceber que cumprir o que diz a Lei nº 11.645, de 10 março de 2008, que tornou obrigatório o estudo da história e cultura indígena e afro-brasileira nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio é o caminho para o autorreconhecimento. Já tivemos um avanço significativo, principalmente quanto estudantes pretos e que no questionário se autodeclararam como um, solicita discussões em sala a respeito de temas como as cotas raciais, a exemplo do que ocorreu na aula de Sociologia desta sexta-feira (17) no 2º Ano C.

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