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Cida Bento lança livro ‘Pacto da Branquitude’ em francês durante turnê pela Europa

 

A escritora Cida Bento em lançamento do livro. (FOTO | Divulgação).

A versão francesa do livro ‘Pacto da Branquitude’ chegou em Bruxelas, nesta semana. Cida Bento, escritora, psicóloga e conselheira do CEERT (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades) é a autora do importante estudo sobre a branquitude no Brasil, e atualmente está em turnê com a obra, pela França e Bélgica.

Um recorde de candidaturas negras, por Cida Bento

 

Cida Bento. (FOTO/ Reprodução/ CEERT).

Crescimento está ligado à intensificação da pressão dos movimentos sociais

Foi manchete na grande mídia que, nas eleições de 2022, o Brasil terá uma proporção recorde de candidaturas de mulheres e negros — 49,3% são de pessoas negras, e as mulheres somam 33,4%, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Esse crescimento tem a ver com a intensificação da pressão dos movimentos sociais, em particular do movimento negro, por maior representação política nos parlamentos e Executivos de todo o país. A luta é pela democratização desses espaços.

A contagem dobrada dos votos em candidatas mulheres e em candidatos negros para a Câmara dos Deputados, conforme decisão do TSE em 2021, na definição dos valores do fundo partidário e do fundo eleitoral repassados aos partidos políticos, tem potencial para modificar a realidade de que a política no Brasil sempre foi feita principalmente por homens brancos.

Hoje, os processos eleitorais, ainda que de maneira tímida e lenta, vão incorporando outros segmentos da população, que ao longo da história do país não participaram de decisões que afetam diretamente suas vidas e estão construindo coletivamente sua participação. Essa pluralidade na participação política é expressiva do que pode ser considerado uma democracia.

A possibilidade real de mudanças no cenário político aumenta a violência contra essas candidaturas como forma de manter privilégios políticos, de não permitir posições diferentes das hegemônicas no cenário político ou ainda visando destruir qualquer oposição.

O relatório Desigualdade de Gênero e Raça na Política Brasileira, da Oxfam Brasil e do Instituto Alziras, nos revelou que nas eleições de 2020 foram comuns ameaças, discursos de incitação a violência e ódio, desmerecimento intelectual, críticas à faixa etária, ao pertencimento étnico-racial e, quanto às mulheres trans, negação de identidade de gênero.

O relatório mostrou ainda que os candidatos que receberam ataques foram ofendidos majoritariamente por suas atuações profissionais, como políticos e gestores públicos —com exceção de idosos e LGBTQIA+, que também foram alvo de ódio e agressões por essas características.

Desta forma, se houve uma ampliação recorde de vereadores e vereadoras negros e negras nas Câmaras Municipais, que passaram de 42,1% para 45,1% dos mandatos, esses parlamentares sofreram ataques justamente por serem aquilo que são.

E neste contexto, algumas situações se repetem, como o fato de que são os homens brancos o único grupo populacional onde a parcela de eleitos é maior do que a proporção de candidatos.

De outro lado, iniciativas da sociedade civil para ampliar o número de votos destes segmentos também são crescentes. A Rede de Ativistas pela Educação do Fundo Malala no Brasil se mobilizou para incentivar meninas brasileiras a se registrarem e votarem nas eleições gerais deste ano, por meio da campanha #MeninasDecidem.

Vale lembrar que o número de jovens entre 15 e 17 anos com novos títulos cresceu mais de 45%, segundo o TSE, correspondendo a 1 milhão de jovens com título.

É também objetivo deste fundo promover não só a ampliação do voto das jovens, mas também a educação pública de qualidade em regiões do país onde a maioria das meninas não frequentam o ensino secundário, principalmente as negras, indígenas e quilombolas, com vistas a mudanças políticas para garantir educação secundária a todas as meninas.

Todo este processo de crescentes esforços por parlamentos e Executivos que reflitam a multiplicidade cultural, religiosa, de gênero, raça e idade é a expressão também da confiança social na democracia.

Vai ao encontro da Carta de 2022, lida em 11 de agosto na maioria dos estados brasileiros, por estudantes jovens, periféricas, negras e trabalhadoras na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), destacando a importância de defender a Constituição, o Estado de Direito e a democracia.

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Texto encaminhado à redação do Blog pela equipe do CEERT/São Paulo.

Fortalecer, ampliar e aprimorar o sistema de cotas, por Cida Bento

 

Cida Bento. (FOTO/ Reprodução/ Movimentomulher360).

Estudos mostram que estudantes cotistas reconhecem e valorizam as oportunidades que alcançam

Em 2022, a Lei de Cotas, uma política de ação afirmativa bem-sucedida, pode ser revista por parte do Congresso Nacional. Uma política que vem enfrentando ataques no nosso parlamento, através de projetos que visam extingui-la ou descaracterizá-la.

As ações afirmativas e as políticas de cotas nas instituições de ensino superior são fruto da luta do movimento negro contra o racismo e por justiça no tratamento à população que historicamente foi e é discriminada.

A legislação determina o mínimo de 50% de reserva de vagas para o alunado que cursou o ensino médio em escolas públicas. Metade dessas vagas deve ser reservada a estudantes com renda familiar de até 1,5 salário mínimo per capita, bem como para pessoas pretas, pardas e indígenas, com percentual que varia de acordo com a proporção destas populações em cada unidade federativa.

A partir de 2016, a lei foi alterada para incluir pessoas com deficiência. Os resultados de um importante estudo publicado em 2022, avaliando a política de cotas, são alvissareiros.

O estudo foi coordenado pelo Lepes (Laboratório de Estudos e Pesquisas em Educação Superior) da UFRJ e pela Ação Educativa.

O estudo revela um aumento expressivo da participação de ingressantes cotistas entre 2010 e 2019. Hoje são cerca de 30%. Constata que estudantes cotistas evadem menos dos cursos de graduação que os não cotistas. Mostra um crescimento sistemático de matrículas do grupo que combina as características: escolas públicas, de baixa renda, pretos, pardos e indígenas.

Um outro estudo, realizado por Sales Augusto Santos e Matheus Silva Freitas e publicado na Revista Brasileira de História & Ciências Sociais em 2021, mostra que o sistema de cotas não trouxe conflitos raciais violentos nos campi universitários, como previam intelectuais oponentes desse sistema.

A pesquisa que realizaram com 69 universidades federais (74,80% do total), bem como o levantamento documental, constata que em 100% das respostas não se confirma a ocorrência de conflitos raciais violentos em seus campi.

Os autores destacam que o historiador George Reid Andrews (1998) salientava que pessoas brancas de classes média e alta no Brasil sabem que vivem numa sociedade com graves problemas oriundos da discriminação racial contra a população negra. Por isso, sempre temem que negros se vinguem algum dia e antecipam a ocorrência de conflitos raciais.

Enfim, vale destacar algumas das recomendações dos estudos citados, em particular o primeiro: ampliar e qualificar a institucionalização das políticas de ação afirmativa; que as universidades desenvolvam o corte étnico-racial no ensino, pesquisa, extensão e gestão; que realizem programas de formação para coordenadores, docentes e técnicos sobre a Lei de Cotas e sobre educação antirracista; que monitorem o sistema de cotas e façam escuta de toda a comunidade universitária, em particular dos alunos; que seja prorrogada a Lei nº 12.990/2014, que reserva 20% das vagas nos concursos públicos e que as cotas sejam estendidas para a pós-graduação; que a educação antirracista atinja os conteúdos de disciplinas e atividades curriculares dos cursos e que na avaliação das condições de funcionamento das universidades essa questão seja considerada.

Salientam ainda que as cotas devem contemplar a diversificação curricular envolvendo as matrizes afro-brasileiras, africanas e indígenas, entre outras, e que é imprescindível garantir a disponibilidade pública de dados que considerem a dimensão socioeconômica e raça/cor por curso.

Apontam a necessidade de ampliar a noção de permanência nas políticas universitárias envolvendo não só bolsas e auxílios financeiros, mas também acolhimento, escuta ativa, acesso a cursos de línguas estrangeiras, dentre outras.

Os resultados mostram que os estudantes cotistas reconhecem e valorizam as oportunidades que alcançam. Se é assim, todos nós também devemos defender o sistema de cotas.

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Texto encaminhado à redação do Blog pelo CEERT.

Desafios para negras são muitos, mas mudanças nos Parlamentos são caminho sem volta

 

Julho das Pretas, por Cida Bento

Grandes desafios se colocam para mulheres negras que decidiram se candidatar ao Parlamento e ao Executivo no Brasil, em 2022. Este é um ano especial, no qual comemoramos os 30 anos do encontro ocorrido na República Dominicana em que se instituiu 25 de julho como o Dia Internacional da Mulher Afro-Latina e Caribenha.

No Brasil, a data presta uma homenagem a Tereza de Benguela, líder quilombola que ajudou comunidades negras e indígenas na resistência à escravidão no século 18. Em nosso país, é também celebrada a 10ª edição do Julho das Pretas — criado no contexto de ações coletivas pelo Odara – Instituto da Mulher Negra— e tendo como mote "Mulheres Negras no Poder, Construindo o Bem Viver!".

Os desafios colocados para as mulheres negras não são poucos, mas as mudanças nos Parlamentos já vêm ocorrendo. Nas eleições municipais de 2020, ocorreu um aumento de quase 700 cadeiras ocupadas por mulheres negras nas Câmaras Municipais e um aumento de mais de 2 milhões de votos do povo brasileiro nesse grupo; 32% a mais se compararmos com as eleições de 2016, segundo o Instituto Marielle Franco. Provavelmente esse aumento da presença negra no Parlamento vem provocando, de um lado, comemorações, e, de outro, a intensificação da violência.

A pesquisa realizada pelo Instituto Marielle Franco com parlamentares negras, publicada em 2021, evidencia que 8 a cada 10 mulheres sofreram violência virtual de desinformação ou discurso de ódio — 78% sofreram violência virtual, 63%, violência moral, e 55%, violência institucional.

A violência mostra o sentimento de ameaça diante de propostas que têm como eixo a construção de uma sociedade em que a proteção e o cuidado com o ambiente e a defesa dos direitos humanos, em particular de populações quilombolas, indígenas, negras e femininas, estejam conectados e tenham centralidade, orientando outras perspectivas de desenvolvimento.

Mas não só os desafios do enfrentamento da violência se colocam para as parlamentares. Daniela Rezende, num robusto estudo publicado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em 2020, chama a atenção sobre a importância de mulheres ocuparem espaços de lideranças partidárias na Câmara dos Deputados.

Ela tem como base uma pesquisa realizada entre 1995 e 2015, que mostra o baixo número de legisladoras indicadas para liderança de partidos. Esse número variou de 0 a 2 na Câmara dos Deputados e no Senado, em cada ano. Considerando os dados agregados para todo o período, essas mulheres ocuparam as lideranças de partidos apenas em 12 e 13 ocasiões na Câmara e no Senado, respectivamente.

Os partidos são estruturas fundamentais na distribuição de recursos legislativos e eleitorais e têm um papel decisivo no aumento da presença de mulheres nos espaços de poder e tomada de decisão.

Rezende traz estudos que revelam que a ênfase de mulheres na liderança partidária aumenta o número de candidatas e eleitas. Com mais mulheres em sua estrutura interna, aumentam também as chances de adoção de ações afirmativas.

Líderes partidárias podem influenciar a representação de mulheres na elaboração de políticas públicas. O estudo destaca que, quanto maior o número de mulheres em comitês executivos de partidos, maiores as chances de que sejam incluídos temas relacionados à justiça social.

Rezende ressalta ainda que as lideranças podem fazer uso da palavra, orientar o voto da bancada de seu partido e criar condições para participar da definição da agenda da Casa legislativa. Ou seja, dentre tantos desafios que precisam ser enfrentados pelas mulheres e que se intensificam para negras, indígenas e quilombolas, encontra-se a necessidade de compreender e se apropriar do modo de funcionamento das Casas legislativas para poder transformá-las.

Esse modo de funcionamento que vem dificultando que as Casas legislativas cumpram seu papel de proteger nossas instituições, de fortalecer a democracia brasileira e de se orientar pela nossa Constituição.

A tarefa é grande, mas, atuando coletivamente, como vimos fazendo em tantos coletivos espalhados pelo país, as mudanças ocorrerão. Caminho sem volta.

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Texto encaminhado a redação do Blog pelo CEERT.

No Roda Viva, Cida Bento fala sobre como construir uma educação antirracista

 

Cida Bento em entrevista no Roda Viva. (FOTO | Reprodução |Canal do Roda Viva).

Por José Nicolau, editor

A escritora, psicóloga e consultora do CEERT Cida Bento foi a entrevistada na última segunda-feira (2) do Roda Viva, da TV Cultura.

Cida Bento, uma das intelectuais e ativista mais importantes do país falou sobre diversas temáticas relacionadas a negritude, como cotas raciais no ensino superior, o assassinato de Marielle Franco, ideias para punir casos de racismo e injúria racial, a luta dos movimentos negros e, também, fez comentários a respeito da relevância do seu último livro "O Pacto da Branquitude" para o debate sobre a igualdade racial no Brasil.

Outra temática levantada por ela foi sobre como contruir uma educação antirracista no Brasil, principalmente na educação básica. "É fundamental assegurar acolhimento das crianças indígenas e negras, na medida em que a gente possa mexer com professores, gestores e pais", disse.

Clique aqui e confira a íntegra da entrevista.

Cida Bento no Roda Viva, da TV Cultura


A psicóloga, ativista e Conselheira do CEERT, Cida Bento, é a entrevistada do programa Roda Viva, da TV Cultura, nesta segunda-feira, 2 de maio, às 22h.

Cida Bento — eleita em 2015 pela Revista The Economist uma das cinquenta pessoas mais influentes do mundo no campo da diversidade — vai falar na TV Cultura sobre a sua trajetória, a luta dos movimentos negros e, também, comentará a relevância do seu último livro "O Pacto da Branquitude" para o debate sobre a igualdade racial no Brasil.

A entrevista de Cida Bento no Roda Viva pode ser vista no canal da TV Cultura e também pelo canal do Roda Viva no YouTube.

Sobre o Livro

Lançada em abril de 2022, “O Pacto da Branquitude”  denuncia os privilégios e questiona a universalidade da branquitude e suas consequências nocivas para qualquer alteração substantiva na hierarquia das relações raciais na nossa sociedade.

Diante de dezenas de recusas em processos seletivos, Cida Bento identificou um padrão: por mais qualificada que fosse, ela nunca era a escolhida para as vagas.

O mesmo ocorria com seus irmãos, que, como ela, também tinham ensino superior completo. Por outro lado, pessoas brancas com currículos equivalentes – quando não inferiores – eram contratadas.

Em suas pesquisas de mestrado e doutorado, a autora se dedicou a investigar esse modelo, que se repetia nas mais diversas esferas corporativas, e a desmistificar a falácia do discurso meritocrático.

O que encontrou foi um acordo não verbalizado de autopreservação, que atende a interesses de determinados grupos e perpetua o poder de pessoas brancas. A esse fenômeno, Cida Bento deu o nome de "pacto narcísico da branquitude".

Neste livro, a cofundadora do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT) reúne sua experiência para apresentar evidências desse acordo tácito e nos convidar a deslocar nosso olhar para aqueles que, a fim de se manter no centro, impelem todos os outros à margem.

Marque na agenda: nesta segunda-feira, às 22h, Roda Viva com Cida Bento!
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Com informações do CEERT.

Carnaval deu o recado sobre o protagonismo negro no Brasil, diz Cida Bento

 

Cida Bento. (FOTO/ Reprodução).

Se em algum momento pudemos ter dúvidas sobre o quanto ecoam nas periferias e favelas as vozes de intelectuais e ativistas que lutam por um país que reconheça a força da cultura que emana de sua população, os Carnavais dos últimos anos não deixam dúvidas.

A maioria das escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro (oito em 12 escolas) e de São Paulo (sete em 14 escolas) trouxe para a avenida enredos que homenagearam personalidades negras, a cultura afro-brasileira e o protagonismo negro na história do país. E fizeram duras críticas ao racismo e ao assassinato da juventude negra.

O recado foi dado!

Esse processo não começa agora e não ocorre por acaso, mas atinge um pico neste período de nossa história, no qual, não por coincidência, alcançamos um nível de violência racial que é o maior dos últimos 30 anos, em cidades como o Rio de Janeiro, segundo demonstra o Mapa da Violência no Brasil.

Personalidades negras queridas e respeitadas pela população brasileira que haviam sido atacadas nos últimos seis anos por órgãos do governo federal numa tentativa de desonrá-las foram exaltadas, homenageadas nas ruas, por milhares de sambistas. Num dos maiores e mais lindos espetáculos a que temos o privilégio de assistir.

E é assim que constatamos que o que acontece de negativo no Legislativo, no Executivo e no Judiciário, muitas vezes na calada da noite, vem sendo acompanhado por olhares atentos e críticos das periferias e favelas.

As escolas de samba são um território complexo onde muitas vezes não temos na liderança pessoas negras, como, aliás, acontece na maioria das organizações brasileiras e onde a luta pelo poder pode repetir a mesma lógica violenta e excludente que observamos em outras instituições brasileiras.

Mas é também um espaço de aquilombamento, de compartilhamento das raízes culturais pela música, pela dança e pelo teatro. E, nesse sentido, é território fértil para a ampliação da crítica social e da democracia, já que múltiplas vozes, LGBTQIAPN+, pessoas com deficiência, pessoas negras e indígenas buscam se manifestar.

E um diferencial marcante nesse contexto de Carnaval vem sendo a maneira crescente com que aparece a valorização das religiões afro-brasileiras.

Num país que é laico, segundo a Constituição de 1988, não poderiam ocorrer relações de dependência com nenhum culto e, principalmente, não poderia haver perseguição ou impedimento do funcionamento de cultos de qualquer natureza.

Mas isso vem acontecendo!

A despeito de nossa Constituição ter consagrado o princípio de liberdade de crença, de culto, de liturgias e de organização religiosa, crescem as denúncias de violações de direitos no campo do credo religioso contra judeus, muçulmanos, dentre outros grupos. E as religiões afro-brasileiras vêm sendo duramente atingidas por diferentes formas de violência, como agressões físicas e verbais a religiosos, ameaças, pichações em templos e lugares públicos e propagandas de ódio veiculadas na internet.

São frequentes, ainda, as denúncias de invasão dos templos, praticadas por maus policiais, sem mandado judicial e a qualquer hora do dia ou da noite.

Assim é que foi muito animador ver as escolas de samba, em 2022, trazerem para a rua os orixás: narrarem a história de Oxóssi, cantarem Exu ou Oxalá, divindades das religiões de matriz africana.

Isso nos lembrou que a laicidade do estado brasileiro não é um elemento de restrição do pertencimento e expressão religiosos, pelo contrário, é uma riqueza que marca nossa sociedade tão diversa.

?Assim, que possamos contribuir para que essa crítica de parcela expressiva da nossa população à violência social, em particular a religiosa que se manifestou na avenida, se manifeste também nas eleições. Com a certeza de que podemos e vamos fazer a diferença.

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Texto publicado originalmente em sua Coluna na Folha de S. Paulo e reproduzido no CEERT.

Combate ao retrocesso nas cotas

 

Cida Bento (Foto: Carolina Oms/Believe.Earth)

“…Quando a universidade pública abriu as portas e ampliou a diversidade, ela melhorou”, diz Angélica Minhoto, que foi pró-reitora de graduação da Unifesp e participou de estudo realizado com seis universidades federais e com seis universidades particulares visando conhecer o impacto do sistema de cotas sobre a performance do alunado.

O estudo concluiu que, após a adoção das ações afirmativas, a maior parte das instituições “teve um ganho na nota média da prova de conhecimentos específicos”, conforme o Relatório Técnico de 2021 do Centro de Estudos Sociedade, Universidade e Ciência vinculado à Universidade Federal de São Paulo.

Outros estudos mostram que os ambientes universitários tornam-se mais democráticos, como estudo do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), de 2019, que aponta que a Lei de Cotas aumentou em 39% a presença de estudantes negros e indígenas vindos de escolas públicas, nas instituições federais, nos quatro primeiros anos do programa.

A despeito desses resultados positivos, alguns intelectuais vêm ressurgindo na grande mídia e, em suas manifestações, atacam as políticas que visam o combate ao racismo e a promoção da equidade racial, bem como atacam lideranças negras que se destacam nesse processo de luta por uma sociedade efetivamente democrática.

Vários deles assinaram um manifesto contra cotas, que teve mais de uma centena de assinaturas e foi publicado pela Folha em 30 de maio de 2006, no qual se destacaram argumentos como “almejamos um Brasil no qual ninguém seja discriminado, de forma positiva ou negativa, pela sua cor […]”.

Mas não se registram manifestos desses intelectuais contra a ausência de negros e indígenas nas universidades. Eles demonstraram sua discordância quando esses espaços, antes monolíticos, começaram a se tornar mais plurais e a cara da universidade brasileira começou a ter um pouco a cara do Brasil.

Isso ocorreu há 40 anos em outro país, mas parece estar acontecendo no Brasil de hoje.

Mas no Brasil de hoje crescem também outras manifestações, como as de organizações privadas que, após a morte de George Floyd, são pressionadas para que seus investimentos financeiros foquem organizações públicas, privadas e da sociedade civil que tomem medidas concretas para lidar com a injustiça racial e que fortaleçam organizações que lutam pela equidade.

Está aí uma oportunidade para que essas organizações, dentre elas a Folha, se manifestem publicamente pela manutenção das ações afirmativas e cotas e apoiem outro futuro para a juventude negra que não seja a violenta interrupção de suas vidas, como ocorreu com Moïse Kabagambe no quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca, quando cinco “valentões” o espancaram selvagemente até a morte.

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Por Cida Bento, originalmente na Folha de S.Paulo.


“O SUS invisível”, por Cida Bento


Cida Bento. (FOTO/ CEERT).

Assistindo a programas jornalísticos sobre a Covid-19, nas redes de televisão, é possível observar que nunca é mencionado o sistema que oferece a maioria dos dados, imagens e especialistas que aparecem e dão consistência às reportagens: o SUS —Sistema Único de Saúde.