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Saberes negros e indígenas serão tema I Encontro de Professores de Ciências Humanas do Cariri

 

EEEP Wellington Belém de Figueiredo, em Nova Olinda-CE. (FOTO | Reprodução | Seduc-Ce).


Por Valéria Rodrigues, Colunista

O município de Nova Olinda, na região do cariri, será sede do I Encontro de Professores e Professoras de Ciências Humanas do Cariri.

Nova Olinda sediará I Encontro de Professores de Ciências Humanas do Cariri

 

(FOTO | Reprodução).


Por Valéria Rodrigues, Colunista

O município de Nova Olinda, na interior do Ceará, será sede do I Encontro de Professores e Professoras de Ciências Humanas do Cariri.

Idealizado pelo professor Nicolau Neto, da EEMTI Padre Luís Filgueiras, e apoio da 18ª Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação (CREDE 18), o evento reunirá neste primeiro momento todos os professores/as que lecionam História, Sociologia, Filosofia e Geografia em 4 municípios da Rede Estadual de Ensino do Ceará que compõem essa regional: Altaneira, Crato, Nova Olinda e Santana do Cariri.

O encontro será realizado no dia 21 de setembro e terá como temática “Educação Escolar e os Saberes Negros e Indígenas”. Segundo Nicolau, o objetivo é reunir professoras e professores interessados em discutir os caminhos para a construção de uma educação compromissada com as relações étnico-raciais com foco na superação do racismo e ao mesmo tempo na valorização dos saberes negros e indígenas. O que, para ele, passa necessariamente por uma mudança de paradigma educacional focado na descolonização curricular.

Nicolau afirmou a esta coluna que dentre os palestrantes que já confirmaram presença estão Marcos Ramos, professor de História da EEMTI Pe. Luís Filgueiras; Joedson Nacimento, professor indígena do Cariri e Carlos Tolovi, professor do Curso de Ciências Sociais da Universidade Regional do Cariri (URCA). A professora Dayse Vidal, integrante do Grupo de Mulheres Negras Pretas Simoa e que atualmente leciona Sociologia no Estado do Rio Grande Norte ficou de confirmar sua participação.

O juiz Joaquim do Couto Cartaxo e a emancipação dos escravizados em Milagres-CE

 

Joaquim do Couto Cartaxo (FOTO | Câmara dos Deputados).



Por César Pereira, colunista

No dia 18 de dezembro de 1886 o juiz municipal de Milagres, Joaquim do Couto Cartaxo respondeu ao presidente da Província do Ceará, Miguel Calmon Du Pin e Almeida um ofício solicitado por este último no mês de novembro do mesmo ano de 1886. No ofício Miguel Calmon Du Pin solicitava ao juiz deste município esclarecimentos sobre a existência de escravos, isto é, trabalhadores escravizados em Milagres, mesmo após o dia 25 de março de 1884.

Já fazia mais de dois anos que o juiz Joaquim do Couto Cartaxo protelava o envio de informações aos insistentes pedidos de notícias sobre a permanência da escravização em Milagres. Tanto o presidente do Ceará quanto a Assembleia Provincial tinham recebido denúncias a existência de 331 escravos em Milagres. Somente em dezembro de 1886 após um ultimato do governo provincial foi que o juiz sentiu-se politicamente acuado e decidiu responder o ofício de Miguel Calmon Du Pin.

A resposta foi dada nestes termos:


Juízo Municipal de Órfãos de Milagres em 18 de dezembro de 1886, Ilmº e Exmº Sr. – Respondendo o ofício de V. Excª de 22 do mês próximo findo [...]. Tenho a honra de informar a V. Excª que desde o dia 29 do dito mês os senhores de escravos, que existiam neste termo, estão libertando-os sem cláusula alguma, ou com a de serviços por espaço de três anos, sendo que dous (sic), que haviam com sessenta e anos de idade, foram alforriados sem condição, logo que abriu-se a matrícula nos termos da lei n° 3270 de 28 de setembro do ano passado. E creio poder assegurar a de V. Excª que antes de findar-se este ano terei a satisfação de comunicar-lhe, que não existe um só escravo neste município, que deixará de ser uma nota dissonante aos demais da província, sem que para esse resultado fosse o emprego de meios menos lícitos. (Relatório aos Presidentes da Província do Ceará, disponível em: http://ddsnext.crl.edu, acesso em 20 de novembro de 2021)

Os discursos da intelectualidade e da branquitude cearense reunida no Instituto Cultural do Ceará convenceu-se e impôs aos cearenses o mito de que no dia 25 de março de 1884 teria havido a abolição do trabalho escravo na província, sendo nosso estado o primeiro a pôr fim ao trabalho escravo no Brasil, isso não é somente um mito, mas principalmente uma inverdade criada por jornais e panfletos abolicionistas, bem como por pessoas brancas da classe média de Fortaleza na década de 1880.

Procurando desmobilizar a forte atuação dos negros cearense e das lideranças negras da capital da província que haviam assumido em 31 de agosto de 1881 durante a Revolta dos Jangadeiros a direção das lutas antiescravistas no Ceará, a elite escravocrata e a classe média ciosa de seus valores da branquitude se infiltraram nos clubes e associações antiescravistas lideradas por negros e negras, cooptaram algumas dessas lideranças e com suas táticas de barganha política acabaram se impondo através da imprensa como os verdadeiros nomes por trás da campanha abolicionista cearense.

Foi assim que os nomes de Tia Preta Simoa, José Luís Napoleão e Chico da Matilde acabaram passando para segundo plano, e chegaram até mesmo a serem apagados da história cearense como as grandes lideranças antiescravistas do Ceará.

O mito do Ceará Terra da Luz, primeiro lugar a acabar com a escravidão prevaleceu por mais de um século, sem que nenhum historiador questionasse ou problematizasse as condições das emancipações coletivas “dadas” aos escravizados cearenses em 25 de março de 1884. Mas em 1965 o historiador Billy Chandler escreveu um artigo que causou certa polêmica entre os intelectuais do Instituto do Ceará.

Utilizando artigos do jornal O Libertador publicados entre 1884 e 1886 em Fortaleza, esse historiador norte-americano trouxe a luz um escândalo, que acendeu uma intensa polêmica entre os liberais e os conservadores cearenses nos últimos anos da monarquia. Essa polêmica era a renitência dos senhores escravocratas de Milagres em emancipar seus escravizados após o 25 de março de 1884.

A primeira denúncia contra os escravistas de Milagres ocorreu ainda em fevereiro de 1885 no jornal O Libertador. Segundo um artigo publicado neste periódico, em Milagres os senhores de escravos se recusavam a emancipar seus cativos e tudo isto era feito com a conivência do juiz municipal Joaquim do Couto Cartaxo e seu aliado político, o deputado cratense Leandro Ratisbona. O jornal fortalezense denunciava que os dois haviam utilizado os negros como moeda de barganha política nas conturbadas eleições de 1884.

O fato era verídico. Isto é, em Milagres ainda havia em 1885, um ano após as emancipações coletivas de 25 de março de 1884, em torno de 331 negros escravizados e também era verdade que o juiz Joaquim do Couto Cartaxo havia barganhado o voto dos fazendeiros locais para o político Leandro Ratisbona dando-lhes garantias de que poderiam manter em suas propriedades mão-de-obra escravizada sem nenhum problema jurídico.

Precisamos mais uma vez reiterar que nunca houve no Ceará uma lei provincial obrigando qualquer senhor escravista a pôr fim ao trabalho escravo em suas propriedades no dia 25 de março de 1884, a única lei que decretaria a proibição da escravidão no Ceará seria a Lei Áurea de 1888. Desse modo Joaquim do Couto Cartaxo não descumpria nenhuma lei ao não reprimir o trabalho escravo em Milagres pós 1884. O que houve a partir de 25 de março de 1884 na Província do Ceará foi um entendimento da maioria das cidades e vilas cearenses em emancipar seus escravizados sem a necessidade de uma lei impondo a obrigatoriedade da abolição geral e irrestrita como aconteceria quatro anos depois.

As emancipações que ocorreram ao longo dos anos de 1883 e 1884 nem sempre foram sem condições. Quer dizer, os negros eram emancipados muitas vezes sob a condição de trabalharem três ou mais anos para o seu senhor, era uma forma de indenizar o fazendeiro escravocrata pela sua suposta benfeitoria. O próprio juiz diz que em 1886 muitos fazendeiros de Milagres estão procedendo deste modo. Emancipam seus cativos sob a condição da prestação de serviços por algum tempo por estes negros que deveriam ressarcir com trabalho o seu antigo senhor para ser de fato livre.

Billy Chandler despertou através de seu artigo, a suspeita de que o título de Ceará, Terra da Luz não seria muito apropriado devido a renitência dos senhores escravocratas de Milagres. O historiador norte-americano foi chamado de inconveniente e logo surgiram vozes de dentro do Instituto do Ceará procurando resguardar o título cearense, um deles argumentou que 330 negros escravizados não representavam coisa alguma em 1886 (MENEZES, 1967).


Manchete do Jornal O Libertado de março de 1884. (FOTO | Biblioteca Nacional).

É impossível que para resguardar um mito e um título puramente simbólico apaguemos a história de centenas de homens pretos e mulheres pretas escravizadas vivendo no sul do Ceará, na região do Cariri em 1886. É fato que a escravidão em Milagres e em outras localidades do Ceará continuou existindo após o 25 de março de 1884. Mas é fato mais importante ainda que a população negra do município como também autoridades políticas e pessoas brancas não ficaram em silêncio diante do problema.

A luta contra a escravidão em Milagres já era antiga como em todo o Brasil. No ano de 1881 houve um incidente que pôs os pretos livres e escravizados da Vila de Milagres contra os escravocratas. No dia 24 daquele ano, dia de São João, um negro alforriado chamado Isaías Conguinho promotor de sambas na rua do Velame recebeu com outros desordeiros o destacamento da guarda nacional sob o comando do inspetor de quarteirão da vila com paus e pedras. O terreiro de batuques de Isaías Conguinho fora denunciado como um local de práticas criminosas, pois lá se acoitava negros fujões e se tramava um assalto contra a fazenda do sr. João Felizardo Teles Quintal.

Fato importante para Milagres foi que dia 08 de dezembro de 1882 um grupo de cidadãos locais criou a Associação Abolicionista Protetora da Liberdade de Milagres, neste grupo estavam pessoas que eram membros da Câmara de Vereadores do município como o fazendeiro Belarmino Ferreira Lins vereador e um dos primeiros abolicionistas da cidade, denunciado várias vezes ao juiz por dar proteção aos negros fujões.

Além dele havia o professor João Clymaco de Araújo Lima, descrito como um mulato atrevido que ensinava aos meninos de Milagres coisas da maçonaria e do jacobinismo republicano. Numa carta que um anônimo envia para o jornal Pedro II, João Clymaco é acusado de ensinar negrinhos em Milagres durante a noite e que esses negrinhos que aprendiam a cartilha com ele costumavam praticar insolências no Largo da Matriz.

O estudante de direito José Antônio de Carvalho é acusado de trazer ideias contra a propriedade dos bons homens de Milagres e sendo ele amante de uma negra quer impor o fim da ordem nos lares da vila. Já o comerciante José Maria de Andrade, também vereador e sua esposa Ana Vitalina Quintal de Andrade andam pedindo por todo o Cariri, Pajeú E Piranhas dinheiro com o qual possa comprar a liberdade de cativos, criando assim o germe da revolta entre os negros.

O proprietário Antônio de Castro Filgueiras, fundador da Associação Abolicionista Protetora da Liberdade é acusado de ter se lançado vereador não para defender os interesses da Vila de Milagres, mas apenas para utilizar todo o tempo da sessão desta câmara somente para pleitear a liberdade dos pretos. Desse modo, o que podemos compreender é que apesar da renitência dos senhores escravocratas de Milagres em emancipar seus escravizados em 1884, em hipótese alguma podemos afirmar que a permanência da escravidão no município até 1886 foi tranquila e feita com a conivência de toda a sociedade local.

As resistências contra a escravidão em Milagres partiam de várias frentes de batalha. Da Associação Abolicionista Protetora da Liberdade como vimos acima, da Câmara de Vereadores de Milagres que foi a primeira a dirigir ao presidente da Província do Ceará um ofício pedindo providências contra o juiz Joaquim do Couto Cartaxo que insistia em não cumprir as determinações do governo e proceder ao registro dos escravizados ainda existentes no município como determinava a lei de outubro de 1883. A Câmara de Vereadores denunciou o juiz como o principal responsável pela manutenção da escravidão em Milagres e em 1884 realizou um baile de São João para arrecadar fundos para arrecadar fundos e realizar a compra da alforria de cativos.

Mas precisamos destacar principalmente as lutas negras contra a escravidão em Milagres. Homens e mulheres negros que desde sempre lutaram contra a escravidão e que na década de 1880 estiveram também à frente das lutas antiescravistas no município. Destaco aqui o preto Mingu, este negro que fora escravizado pelo alfaiate da cidade e que na década de 1860 aparece como “negro fujão” em anúncios de jornal, é enviado em 1866 pelo delegado Jesus da Conceição Cunha ao Crato onde estavam convocando voluntários para servir como soldado no exército brasileiro e que só retorna a vila em 1874, quando pensavam que teria morrido, alcança sua liberdade prometida, compra a liberdade de sua mãe, se instala num sítio nos arredores da vila e trabalha alugado para comprar seus irmãos ainda escravizados.

O negro Roberto Quengo, posto a venda como homem de 40 anos e cheio de histórias da África, mas que cozinhava e limpava bem. Roberto foi comprado e liberto pela Protetora da Liberdade em 1883, mas entendeu que seus irmãos de cor que continuavam cativos precisavam de liberdade e andava pelas vilas e povoados do Cariri com um São Pedro de barro tirando dinheiro para fazer a liberdade de outros pretos.

E a negra Delfina que invadiu a casa de sua senhora agrediu esta e conforme processo-crime aberto contra Delfina roubou sua filha, pois sua antiga dona iria levá-la para Cajazeiras onde seria vendida em 1882. O negro Agapito, preto que fugiu a escravidão e se escondeu nas matas da serra do Ouricuri de onde descia a noite para roubar cavalos e aliciar outros negros à fuga nas fazendas de Milagres, Buriti Grande (Mauriti) e Cuncas (Barro),

Assim a história de Milagres não é a história da última cidade que acabou com a escravidão no Ceará, é a história da cidade cujas lutas contra a escravidão transcenderam o 25 de março de 1884. Quando nos esquecemos destas lutas deixamos mais uma vez subtendido que a escravidão só acabou por que um punhado de brancos quiseram, o que não é verdade, a escravidão em Milagres acabou porque o professor mulato (negro) João Clymaco de Araújo lutou contra ela, porque Mingu voltou a Milagres em 1874 para trabalhar e comprar a liberdade de sua família, por causa das andanças e histórias de Roberto Quengo, do ato extremo da negra Delfina, mãe extremosa, do terreiro de batuque de Isaías Conguinho. Homens e mulheres negras que fizeram e são a história de Milagres.


Jovens negros fazem protesto nas ruas de Milagres em 2012, pedindo mais apoio para a cultura e proteção às suas vidas. (FOTO | Reprodução | YouTube).

REFERÊNCIAS

CHANDLER, Billy. Os escravistas renitentes de Milagres, in. Revista do Instituto de Ceará, Fortaleza, 1967.

Relatórios dos presidentes da Província do Ceará, disponível em: disponível em: http://ddsnext.crl.edu.

Arquivo Público do Estado do Ceará, Caixas 6-7-8- seção: Milagres (1847- 1889).

SOUZA, Carlos. Milagres, nossa terra Cariri, Artes Gráfica e Editora, Fortaleza, 2021.

Grunec lança nota de repúdio as violações a lei de cotas no Ceará

 

Grunec lança nota de repúdio às violações a lei de cotas no Ceará. (FOTO/ Reprodução).
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Por Valéria Rodrigues, Colunista

 

O Grupo de Valorização Negra do Cariri (GUNEC) lançou nesta segunda-feira, 19 de dezembro, nota de repúdio as violações sistemáticas à lei de cotas por parte das instituições públicas do estado do Ceará. Segundo o grupo, mesmo havendo legislações tanto a nível nacional, como o Estatuto da Igualdade Racial de 2010 e, no âmbito estadual, como a que preceitua a reserva de vagas nos cursos de graduação das universidades estaduais e a que estabelece a reserva de vagas nos concursos públicos de entidades públicas estaduais, de 2017 e 2021, respectivamente, foi preciso recorrer de forma coletiva ao sistema de justiça para denunciar a inobservância dessas normas.

 

A nota endereçada a governadora do Ceará, Izolda Cela (Sem partido) e ao governador eleito Elmano de Freitas (PT), foi assinada por vários movimentos.

 

Confira abaixo o documento:

 

À Excelentíssima Senhora Governadora do Estado do Ceará

Professora Isolda Cela

 

Ao Senhor

Elmano de Freitas

Governador Eleito do Estado do Ceará

Fortaleza/CE

 

  REPÚDIO A VIOLAÇÃO SISTEMÁTICA DA LEI DE COTAS PELO ESTADO DO CEARÁ

 

O Grupo de Valorização Negra do Cariri (GRUNEC) vem a público manifestar repúdio as violações sistemáticas à lei de cotas por parte das instituições públicas do estado do Ceará.

A efetividade das políticas de ações afirmativas, que resultou da luta histórica dos movimentos negros pela igualdade, impõe à Administração Pública a observância da sua concretude, tratando os iguais de forma igual e os desiguais de forma desigual, na medida da sua desigualdade. 

Apesar da existência da Lei nº 12.288/2010, que instituiu o Estatuto da Igualdade Racial no âmbito nacional, que preza por políticas em prol da igualdade, no âmbito estadual, a Lei n.º 16.197, de 17 de janeiro de 2017 estabelece a reserva de vagas nos cursos de graduação das universidades estaduais e a Lei n° 17.432/2021, que estabelece a reserva de vagas nos concursos públicos de entidades públicas estaduais, apenas entre 2021 e 2022, diversos processos coletivos foram instaurados perante o sistema de justiça para denunciar a inobservância dessas normas.

A título de exemplo, cita-se:

1-   Procedimento nº 01.2022.00000958-4, em trâmite no Ministério Público do Estado do Ceará, em face do Instituto de Desenvolvimento Educacional, Cultural e Assistência Nacional (Idecan) e o Estado do Ceará para retificação do resultado dos candidatos autodeclarados negros do concurso público da Polícia Civil do Ceará (PCCE);

2-   o Procedimento n° 09.2022.00027444-7, em trâmite no Ministério Público do Estado do Ceará, em face da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Ceará e Perícia Forense do Estado do Ceará (PEFOCE) para retificação do resultado dos candidatos autodeclarados negros do concurso público da PEFOCE;

3-   a Ação Civil Pública n° 0201613-44.2022.8.06.0071 em face da Universidade Regional do Cariri (URCA) para retificação do edital do concurso público de magistério superior, visando aplicação do percentual correto de vagas reservadas ao cotistas sem o método de fracionamento;

4-   Procedimento nº 01.2022.00000969-5, em trâmite no Ministério Público do Estado do Ceará,  também em face da URCA para implantação da comissão de heteroidentificação nas seleções dos vestibulares;

5-   o acordo extrajudicial entre Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS-CE), a Polícia Militar do Ceará (PMCE), a Secretaria de Planejamento e Gestão do Estado do Ceará (Seplag), a Defensoria Pública do Estado do Ceará (DPCE) e Fundação Getúlio Vargas (FGV) para convocação de mais candidatos cotistas aprovados no concurso para soldado da PMCE.

O GRUNEC denuncia à sociedade que há por parte dos gestores do Governo e dos órgãos do estado do Ceará um descumprimento sistemático da efetividade da política de cotas por meio de omissões e práticas administrativas ilegais, que burlam o microssistema legal que rege a política afirmativa com o fim de criar obstáculos ou relaxar dolosamente os mecanismos de controle, diminuindo na prática o quantitativo de pessoas negras com acesso às vagas definidas em editais para os cotistas.

Importa ressaltar que a Política Afirmativa de Cotas no Brasil tem respaldo na Constituição Federal, nas leis federais, estaduais e nas diversas convenções internacionais firmadas junto aos sistemas globais e regionais, como:

A - Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial - aprovada pela Resolução 2106 da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 21 de dezembro de 1965;  

B - Declaração de Durban – adotada em 31 de agosto de 2001, em Durban (África do Sul), durante a III Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata;

C - Convenção Interamericana Contra o Racismo e a Discriminação Racial e Formas Conexas de Intolerância, ingressando no ordenamento pátrio com status de Emenda Constitucional;

Há de se considerar que o período de 2015-2024 foi estabelecido como a Década Internacional dos Afrodescendentes proposta pela Organização das Nações Unidas (ONU), cuja proposta é reconhecer a desigualdade e a discriminação étnico-racial; promover a justiça através de medidas especiais e desenvolver a comunidade afrodescendente assegurando a adoção de políticas sociais.

As ações afirmativas são bandeiras históricas dos movimentos negros brasileiros que reivindicam plena democracia nos espaços de saber e poder. Na academia, é preciso que as universidades se comprometam com a construção de uma agenda de enfrentamento ao racismo, o que inclui a implementação das Leis 10.639/03 e 11.645/08 na estrutura curricular dos cursos que ofertam e da política de cotas, com garantias de acesso e permanência.

No Ceará, as organizações dos movimentos negros unem-se ao contexto nacional e, com isso, reivindicam a ampliação, o aperfeiçoamento e o monitoramento das políticas de ações afirmativas nas instituições públicas do Estado.

No Cariri cearense, o GRUNEC vem debatendo essa questão desde a sua criação em 2001, com a realização de audiências públicas e outras atividades onde essa pauta tem sido central, a entrega à URCA da Carta de Princípios Institucionais para Políticas Afirmativas da Igualdade Racial elaborada com a participação de outros coletivos negros como o Pretas Simoa, as discussões geradas anualmente nos últimos 13 (treze) anos por ocasião da realização do Artefatos da Cultura Negra que tem oferecido suporte formativo, além dos encaminhamentos via carta aberta pelos Coletivos que formam esse importante movimento de combate ao racismo e tem sido pauta das ações protagonizada pelos movimentos estudantis.

Não obstante, os dados divulgados pelos estudos do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE) demonstram que mesmo sendo um dos estados brasileiros com maior número de população negra (72%), considerando a soma de pretos e pardos, os marcadores sociais de desigualdades raciais são significativos no que diz respeito ao grau de escolaridade, taxas de encarceramento, renda e ocupação formal, evidencializando a precarização histórica da vida da população negra. 

É por isso que as medidas legais adotadas para a reserva de vagas para pessoas negras pressupõem uma reparação histórica de desigualdades e desvantagens acumuladas, de modo a aumentar a representação negra nos espaços de poder, saber e de tomadas de decisões, refletindo no seu acesso a direitos fundamentais com igualdade de oportunidades.

Nesse ínterim, a reserva de vagas para pessoas negras se justifica em face dos severos obstáculos enfrentados para a sua inserção nas mais diversas esferas da vida social, fazendo-se necessária, portanto, a aplicação da igualdade material, a fim de possibilitar o adequado combate à discriminação racial.

O GRUNEC informa que ante a ausência de uma retificação nas condutas dos gestores dos órgãos, autarquias e fundações estaduais para correção, reparo e restauro da máxima eficiência da Política de Cotas no Estado do Ceará passará a requerer providências perante as instâncias federais e órgãos internacionais para que esta unidade federativa seja compelida a repelir as burlas e omissões que afastam o povo negro do acesso às vagas que lhe são de direito.

 

Crato/CE, dezembro de 2022.

ASSINAM ESSA NOTA:

Ponto de Cultura Municipal Terreiro das Pretas

CONSELHO MUNICIPAL DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL-COMPIR CRATO

Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos (CEDDH) e Conselho Municipal de Direitos Humanos de Sobral (CMDH-Sobral)

NEDESA (Núcleo de Estudos de Descolonização do Saber)

Associação Quilombola do Cumbe/Aracati - CE

Organização Popular - OPA

Teia dos Povos do Ceará

Núcleo de Estudos em Gênero e Relações Étnico-Raciais (NEGRER)

Instituição Religiosa de matriz africana. Candomblé Quilombaxé Kwe Sèjá Omi Yponda

MNU (Movimento Negro Unificado)

Rede de Mulheres negras do Ceará

Confederação dos trabalhadores do serviço público municipal - Confetam/CUT

Conselho Municipal dos Direitos da Mulher do Crato

Ouvidoria Geral Externa da Defensoria Pública

Caritas Diocesana de Crato

Fórum Cearense de Mulheres-AMB

De Preto Plataforma de Criação e Produção Artística

Espaço Arte Africana Campinas

NEPIR- Núcleo de Educação para Promoção de Igualdade Racial (Juazeiro do Norte)

Neabi -  IFCE Juazeiro do Norte

Coletivo Camaradas

Ponto de Cultura Carrapato Cultural

CAIC

CARLKISSDANCE- COMPANHIA DE DANÇA NEGRA CONTEMPORANEA

Associação Abayomi Juristas Negras

Associação Mensageiras da Paz

Comitê Quilombola

Fórum Permanente de Educação e Diversidade Ético Racial do Ceará

Comitê impulsionador em defesa da liberdade religiosa

NOSSO movimento pelo bem estar no Brasil

NEEHDREM UFCA (Núcleo de Estudos em Educação, História, Diversidades, Raça, Etnia e Movimentos Sociais)

Frente de Mulheres do Cariri

Instituto Feminista Casa Lilás

Íamis kariris

Trupe dos Pensantes - Artes

Coletivo Florestar

Deputados cearenses aprovam projeto que institui o Dia da Preta Tia Simoa e da mulher negra


Deputados cearenses aprovam projeto que institui o Dia da Preta Tia Simoa e da mulher negra. Na imagem, a representação da Preta Tia Simoa em um projeto intitulado "As Simoas" que trouxe depoimentos de mulheres pretas.

Por Nicolau Neto, editor

A Assembleia Legislativa do Ceará aprovou nesta quarta-feira, 1º de setembro, o Projeto de Lei 335/21 de autoria do Deputado Renato Roseno (PSOL) que institui o Dia da Preta Tia Simoa e da mulher negra e a Semana Preta Tia Simoa de combate à discriminação contra as mulheres negras no Estado.

Na justificativa da propositura e divulgada em suas redes sociais, Roseno destaca que assim como outras personalidades negras, a preta Tia Simoa foi invisibilizada na história "oficial", mas que ela teve um “papel central na luta por liberdade para os corpos negros e negras no Ceará do século XIX”.

Ainda segundo o parlamentar do PSOL, “com a proposta, o Ceará passará a ter o dia 25 de julho como Dia Preta Tia Simoa e também deverá realizar a Semana Preta Tia Simoa de Combate à Discriminação Contra Mulheres Negras”. Ele fisou que o objetivo é fortalecer ações contra o racismo, o sexismo e todas as formas de violência contra as mulheres negras; além da preservação da memória e da contribuição dos povos afrodescendentes, em especial das mulheres negras, para a formação social do nosso estado.

O projeto teve o apoio de diversos coletivos negros, como Movimento Negro Unificado, o Fórum Cearense de Ações Afirmativas, o Grupo de Valorização Negra do Cariri (Grunec), Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas, Núcleo de Africanidades Brasileiras (NACE- UFC), Setorial de Negras e Negros PSOL CE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Afro brasilidade, Gênero e Família (Nuafro - UECE), Coletivo Mulheres Negras Resistem, Rede de Mulheres Negras e  Espaço Cultural Preta Tia Simoa.

A Preta Tia Simoa se tornou conhecida do público por meio das pesquisas da historiadora, ativista negra e colunista deste Blog, Karla Alves.

Clique aqui e saiba quem foi a Preta Tia Simoa.

Blog Negro Nicolau celebra 10 anos em encontro virtual com colunistas e colaboradores

 

Blog Negro Nicolau celebra 10 anos em encontro virtua com colunistas e colaboradores. (REGISTRO/ Dayze Vidal).

Por Nicolau Neto, editor

O blog Negro Nicolau (BNN) foi lançado em 27 de abril de 2011 originalmente alcunhado de “Altaneira Infoco” e posteriormente “Informações em Foco” até chegar a esta denominação. São 10 anos de atuação em defesa da promoção de uma sociedade menos desigual e menos intolerante, com equidade racial e de gênero completados nesta terça-feira (27).

Francilene Oliveira estreia como colunista do Blog Negro Nicolau

 

Francilene Oliveira. (FOTO/ Aquivo Pessoal).

Por Nicolau Neto, editor

Francilene Oliveira, 25 anos, graduada em História pela Universidade Regional do Cariri (URCA), Guia de Turismo através do Senac - Crato/CE e Condutora de Trilhas e Esportes Verticais em Altaneira por meio da Rede de Educação Cidadã/Talher – CE, Artesã através da CEART) e integrante da Grupo ACONTRIAL se propôs a um novo desafio. Ela vai conciliar sua rotina diária como colunista do Blog Negro Nicolau. Vai voltar às origens.

‘Preta Tia Simoa se apresentou para mim como um princípio de autocondução da própria história’, diz Karla Alves

 

Karla Alves. (FOTO/ Reprodução/ YouTube).

Por Nicolau Neto, editor-chefe

O Projeto “As Simoas” foi lançado na plataforma digital YouTube com o propósito de divulgar quatro vídeos com depoimentos de mulheres pretas contando suas trajetórias e a relação que enxerga com a Preta Tia Simoa. Fomentado com recursos advindos da Lei Aldir Blanc através da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, o Canal Preta Tia Simoa recebeu nesta segunda-feira, 15, o último da série.

Projeto As Simoas traz depoimentos de mulheres pretas

 

Projeto As Simoas traz depoimentos de mulheres pretas. (FOTO/ Reprodução/ YouTube).

Por Nicolau Neto, editor-chefe

Resultado de uma grande mobilização de agentes culturais que dependiam quase que exclusivamente de trabalhos artísticos e culturais para sobrevivência, a Lei Aldir Blanc foi sancionada em junho do ano passado.

Escritor Alexandre Lucas é o novo colunista do Blog Negro Nicolau

 

Alexandre Lucas. (FOTO/ Arquivo Pessoal).

Por Nicolau Neto, editor-chefe

Alexandre Lucas, uma das vozes mais atuantes em defesa da cultura popular na região do cariri, é o mais novo colunista do Blog Negro Nicolau.

Antônio Raimundo estreia coluna jurídica no Blog Negro Nicolau

 

Por Nicolau Neto, editor-chefe

O servidor público federal Antônio Raimundo da Silva Neto é o mais novo colunista do Blog Negro Nicolau. Natural do Sítio São Gonçalo, município de Assaré, é filho do agricultor Seu José e da agricultora Dona Maria - hoje aposentados – mas que ainda moram no sítio, como ele próprio descreveu.

Juazeiro do Norte: ponto de encruzilhada entre a Beata Maria de Araújo e o poder hegemônico

 

Mapa colhido junto ao livro "Miliagre em Juazeiro ", pg. 29, de Ralph Della Cava.

Por Karla Alves, em sua coluna no Blog

Foi neste lugar, povoado cuja sombra dos pés de Juá no centro do vale do Cariri servia de descanso para viajantes que comercializavam nas feiras das prósperas cidades ao redor, onde o cruzamento de um homem branco com uma mulher Preta provocou um "evento explosivo" (Braudel) capaz de redefinir o curso da história local. Neste lugar, um ano após a abolição da escravidão no Brasil (1889), uma mulher Preta chamada Maria Magdalena do Espírito Santo de Araújo (1862-1914), filha de Ana Josefa do Sacramento e de Antônio da Silva Araújo, seria protagonista de um milagre que veio a santificar o homem branco, padre e catequizador local, que havia lhe ofertado a hóstia em comunhão transformada em sangue na boca da beata Maria Magdalena, conhecida como beata Maria de Araújo. 

Coluna da Karla Alves: Verdade e justiça caminham juntas

 

(FOTO/ Reprodução).

Por Karla Alves*

Essa constatação (na foto) explica o que significa MACHISMO ESTRUTURAL. Significa que o homem é formatado para praticar o machismo sem reconhecer, pois existem mecanismos (na lei, na família, na escola, nas mídias, religião...) para forçar a naturalização dessas práticas, impedindo que elas sejam reconhecidas por quem pratica e submentendo as vítimas de tais práticas à violenta a aceitação.

Rodolfo Santana é o novo colunista do Blog Negro Nicolau


Rodolfo Santana. (FOTO/ Reprodução/ Instagram).

Por Nicolau Neto, editor-chefe

O Blog Negro Nicolau (BNN) não é mais um projeto individual há alguns anos. Atualmente o BNN conta com cinco colunistas – A professora, agente social e bióloga Valéria Rodrigues, a professora e cientista social Josyanne Gomes, a escritora e poeta Fátima Teles, a historiadora e integrante do Grupo de Mulheres Negras Pretas Simoa, Karla Alves, e a professora universitária e integrante de vários movimentos sociais, como o Grupo de Valorização Negra do Cariri (GRUNEC) e Frente de Mulheres de Movimentos do Cariri, Zuleide Queiroz.

O sol nasce para tods, mas é preciso muits queimando para que alguns poucos desfrutem de vastas sombras, por Karla Alves


Karla Alves. (FOTO/ Reprodução/ Facebook).

Há alguns dias após uma palestra que ministrei numa instituição de ensino para superiores uma mulher branca que também havia proferido uma palestra antes de mim me procura ao final da minha fala pra dizer (com os olhos emocionados) que "não tinha culpa de ser branca". Eu respondi que eu também não tinha culpa dela ser branca, que eu abria mão do legado de opressões destinado à pessoas de minha cor e perguntei se ela estava disposta a abrir mão da herança de privilégios por ela gozados por ter a pele clara. Não houve resposta. Nesse caso (eu disse pra ela), não venha me afirmar que está do mesmo lado que eu nessa luta. Daí pensei sobre a serventia dos discursos que repetimos para nós mesmos e a quem de fato esses discursos acomodam.

Karla Alves: O genocídio negro tem a função de garantir a boa vida da branquitude. Não seja cúmplice do extermínio


Karla Alves é historiadora e colunista do Blog Negro Nicolau. (FOTO/ Reprodução/ Faccebook).


A vida as vezes parece um pássaro em que estou montada para tentar voar no imenso céu. Meu pássaro é pequeno e voa rápido, as vezes é muito difícil se equilibrar em cima dele para não cair.

Discurso conveniente adaptado da meritocracia responsabiliza indivíduos por pobreza, por Karla Alves


Karla Alves é historiadora e colunista do Blog Negro Nicolau. (FOTO/ Reprodução/ Facebook).

Muito conveniente esse discurso adaptado da meritocracia espiritual que responsabiliza ao indivíduo pela escassez de recursos em sua própria vida, como se o morador de rua fosse o único responsável pela miséria que atraiu para si através da energia quântica que emana. Digo "conveniente" porque isenta quaisquer práticas políticas de sua responsabilidade social disfarçando o jogo de poder que envolve causa e consequência, como se privilégios sociais não existissem e não houvesse uma estrutura hierárquica de distribuição desses privilégios.

Abolição no Ceará e a ideologia de dominação, por Karla Alves

Karla Alves. Colunista do Blog Negro Nicolau. (FOTO/ Reprodução/ Facebook).


Em 25 de março comemora-se o dia da abolição da escravidão no Ceará como o feito de maior orgulho na história deste estado, já que decretou o fim do trabalho escravo quatro anos antes da assinatura da Lei Áurea de 1888.

Show "Nossos passos vêm de longe” e Conversas Filosóficas abrirão o X Artefatos da Cultura Negra


(Karla Alves. FOTO/Lino Fly Kariri).
Texto | Nicolau Neto

Um espetáculo regado a muita alegria, cheio de batuque, de axé e de uma riqueza cultural esplendorosa. Assim será o show “Nossos passos vêm de longe” que abrirá o X Artefatos da Cultura Negra.