23 de janeiro de 2022

Especialistas alertam a importância da vacinação infantil diante da variante Ômicron

(FOTO/ Tomaz Silva/Agência Brasil).


A vacinação infantil contra a Covid-19 no Brasil começou na sexta-feira passada (14) em São Paulo com a imunização do Davi, menino de oito anos de idade e indígena da etnia Xavante. Diante do avanço da vacinação nas crianças, volta à discussão o debate sobre a importância da imunização para esse público e a preocupação de alguns pais sobre os efeitos adversos da vacina.

O Ministério da Saúde recomenda que as crianças de cinco a 11 anos com comorbidades, deficiências, indígenas e quilombolas sejam o grupo prioritário para receber as doses. São utilizadas as vacinas da Pfizer e a da Coronavac, liberada pela Anvisa nesta quinta-feira (20) em crianças e adolescentes de 6 a 17 anos. O Governo de São Paulo está fazendo também um pré-cadastro opcional para agilizar o atendimento nos locais de imunização.

Segundo Naiá Ortelan, epidemiologista do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (CIDACS) e com experiência em Nutrição Materno-Infantil e Promoção da Amamentação, a vacinação é a forma mais eficaz de prevenir a contaminação do vírus responsável pela Covid-19.

“É bom ressaltar que, quanto maior o número de infectados, maior é a probabilidade de surgirem novas variantes e novas cepas desse vírus. Então, quanto maior o percentual da população estiver vacinada, menor a probabilidade das novas cepas surgirem”, explica a epidemiologista.

De acordo com Adriano Vendimiatti Cardoso, médico, escritor e divulgador científico, é muito difundida a ideia de que a Covid-19 costuma dar menos sintomas nas crianças, mas isso em comparação com os adultos. Entretanto, quando se compara os quadros de Covid-19 em crianças com outras doenças de infância, se percebe o quão grave o vírus é. Além de que a forma como a criança vai lidar com o vírus depende de seu quadro de saúde anterior e da situação de vulnerabilidade em que ela se encontra.

“Se a gente for olhar para os últimos dois anos, a Covid foi uma das maiores causas de adoecimento, internações e mortes nas crianças no mundo todo. Um dos campeões desses números é o Brasil. Se você for pensar em todas as doenças que são infectocontagiosas, nenhuma matou mais crianças que a Covid no ano de 2021”, pontua o médico.

No Brasil, foram 1449 crianças de até 11 anos mortas pela Covid-19 desde o início da pandemia, segundo a nota pública de membros da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização da Covid-19. “É interessante colocar também que mais de 2/3 das mortes de crianças no Brasil são de crianças pretas, pardas ou indígenas, o que mostra como essa população, até pela questão socioeconômica, está mais vulnerável”, ressalta o médico.

Diante da variante ômicron, a mais transmissível das cepas do novo coronavírus identificada até então, e da proximidade do retorno às aulas, o perigo de não vacinar as crianças aumenta ainda mais segundo os especialistas. “As crianças já tem naturalmente uma certa resistência em relação à Covid. Elas pegam menos. O problema é a ômicron. A ômicron está vencendo sobremaneira essa capacidade das crianças. Ela é mais virulenta que qualquer cepa que já surgiu até agora. Então, ao meu ver, as crianças poderiam estar frequentando as escolas com tranquilidade depois da segunda dose da vacina. Até que isso se complete, talvez, poderia ser feito um caminho híbrido”, explica Cardoso.

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Com informações da Alma Preta.

Ceará já vacinou mais de 13 mil crianças em uma semana

FORTALEZA, CE, BRASIL, 15.01.2021: Fortaleza iniciou hoje a vacinação de crianças de 11 anos. Cerca de 200 crianças estão agendadas (FOTO/Thais Mesquita/OPOVO)(FOTO/Thais Mesquita)

Desde o início da vacinação contra a Covid-19 no Estado, um total de 13.500 crianças entre 5 a 11 anos foram imunizadas em todo o Ceará. Dado foi divulgado na tarde deste sábado, 22, pelo governador Camilo Santana em suas redes sociais. Há uma semana, o uso das doses no público infantil era iniciado.

"Completamos hoje uma semana no início da vacinação das nossas crianças de 5 a 11 anos, um novo e importante momento da imunização dos cearenses. Até agora foram mais de 13.500 doses aplicadas, e nossa meta é agilizar essa vacinação para proteger o quanto antes as crianças do Ceará", comentou o petista nas redes sociais.

Camilo também reforçou a importância de fazer o cadastro da criança no Saúde Digital. Para qualquer cearense receber as doses, é necessário estar cadastrado na plataforma da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa). De um total de 904 mil crianças cearenses, apenas 400 mil cadastros foram confirmados no Estado, segundo o governador. Em Fortaleza, menos da metade das crianças agendadas tomou a vacina contra Covid-19. Segundo dados fornecidos pela Prefeitura, do início da vacinação, no dia 15, até a última quinta-feira, 20, foram realizados um total de 11.080 agendamentos para esta faixa etária. No mesmo intervalo, o número de doses aplicadas foi de apenas 5.243, correspondente a apenas 47% do público esperado.

Capital inicia neste sábado a vacinação infantil para crianças com comorbidades entre 5 a 11 anos. A vacina aplicada é a da Pfizer, mas há previsão do uso da CoronaVac no Ceará após autorização da Anvisa para o público infantil. Sesa discutirá uso do imunizante e distribuição das doses para o Estado até a próxima semana. Dosagem da CoronaVac seria a mesma aplicada em adultos, medida tida como segura após análises técnicas.

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Com informações do O Povo.

22 de janeiro de 2022

Leonel Brizola faria hoje faria cem anos

 

Leonel Brizola faria 100 anos neste sábado (22) - https://blognaopassarao.blogspot.com/

Se estivesse vivo o ex-governador Leonel de Moura Brizola estaria completando cem anos. Filho de camponeses, Brizola nasceu no distrito de Cruzinha de São Bento, no interior do município de Carazinho, a 300 quilômetros de Porto Alegre.

Durante a campanha de 1989 estive lá refazendo o início da caminhada de Brizola para o jornal O Globo. Conversei com primos do ex-governador, companheiros de infância dos tempos em que ele carregava malas na estação ferroviária da cidade enquanto fazia as primeiras letras. E até com o chefe político da cidade de Colorado que, na revolução de 1923 havia mandado matar o pai de Brizola.

Todos, sem exceção, admiravam a trajetória daquele que agora era um dos candidatos a presidente de República. Brizola foi governador do Rio Grande do Sul e iniciou um processo de desenvolvimento do Estado cuja visão somente foi retomada no governo Olívio Dutra 40 anos mais tarde.

Construiu milhares de escolas, todas de madeira para terem construção rápida, muitas delas ainda estão de pé cumprindo sua missão de ensinar as crianças gaúchas. No Rio de Janeiro construiu os CIEPS, escolas de tempo integral. Para ele, educação era a ferramenta essencial para o processo de conscientização do povo e a construção do Brasil novo.

Em 1962, atendendo as reivindicações de arrendatários de terras organizados no Movimento de Agricultores Sem Terra (MASTER), realizou a primeira Reforma Agrária da história da República brasileira, desapropriando 13 mil hectares no Banhado do Colégio, em Camaquã, drenando o banhado e construindo um projeto de canais de irrigação abaixo de uma grande barragem no arroio, onde até hoje, colonos assentados cultivam arroz e milho irrigados. Para ele a Reforma Agrária era uma das bases do desenvolvimento econômico trancado há séculos pelo latifúndio improdutivo.

Criou empresas para produzir o que era importado pelos gaúchos, a Açúcar Gaúcho S/A (AGASA) em Santo Antônio da Patrulha, aproveitando cultura de cana do Litoral. A Salgasa, tentativa da produção de sal entre Cidreira e Tramandaí, introduziu o cultivo da cebola no Litoral Norte, para substituir a importação de cebolas argentinas e pernambucanas. Ele entendia que as regiões deveriam produzir tudo o que pudessem para a sobrevivência e a soberania alimentar de seus povos, evitando o atrelamento a um sistema de transporte. Tudo isso foi sucateado pelos militares a serviço dos imperialistas que ajudaram a transformar o Brasil em uma grande colônia especializando a produção em cada uma das regiões.

Democrata convicto, organizou a resistência ao golpe em 1961, criando a Rede da Legalidade através de rádios de todo o Rio Grade do Sul, comandadas dos porões do Palácio Piratini por ele mesmo ao microfone. Aliás Brizola usou rádio como poucos, quando governador tinha um programa as sextas-feiras de noite em rede de rádios que era ouvido pela maioria dos gaúchos. Dialogava diretamente com as pessoas e ouvia suas reivindicações.

Em 1964 se exilou no Uruguai e de lá comandou movimentos de resistência como o de Três Passos liderado pelo coronel Jeferson Cardin com os Grupos dos 11 e a Guerrilha de Caparaó, em Minas Gerais, onde esteve o jornalista Flávio Tavares. Em 1979 retornou do exílio e refundou o Partido Trabalhista Brasileiro, cuja legenda perdeu para a deputada paulista Ivete Vargas, criou então o PDT. Por este partido elegeu-se governador do estado do Rio de Janeiro e mais tarde concorreu à Presidência da República, depois concorreu como candidato a vice-presidente na chapa do PT, liderado por Luís Inácio Lula da Silva.

A liderança de Brizola hoje está substituída pela força de Luís Inácio Lula da Silva, que acredita nos mesmos princípios e na mesma politica de alianças que poderá devolver ao Brasil a democracia e a economia independente que está sendo destruída pelo atual desgoverno.

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Por Walmaro Paz, originalmente no Brasil de Fato.

“A Voz do Milênio” se cala: morre Elza Soares, aos 91 anos

 

Elza Soares morreu aos 91 anos, em casa, de causas naturais. (FOTO/ Marcos Hermes).

A cantora Elza Soares, 91, morreu na tarde desta quinta-feira (20), em casa, no Rio de Janeiro, de causas naturais. “É com muita tristeza e pesar que informamos o falecimento da cantora e compositora Elza Soares, aos 91 anos, às 15 horas e 45 minutos em sua casa, no Rio de Janeiro, por causas naturais”, diz a postagem nas redes sociais da cantora.

Ícone da música brasileira, considerada uma das maiores artistas do mundo, a cantora eleita como a Voz do Milênio, teve uma vida apoteótica, intensa, que emocionou o mundo com sua voz, sua força e sua determinação”, continua o texto.

A assessoria lembrou ainda que Elza se manteve ativa até os últimos dias de vida. “A amada e eterna Elza descansou, mas estará para sempre na história da música e em nossos corações e dos milhares fãs por todo mundo. Feita a vontade de Elza Soares, ela cantou até o fim”.

Com mais de 50 anos de carreira e 34 discos gravados, Elza Soares cantou do samba ao funk, do jazz à música eletrônica. “Eu sempre quis fazer coisa diferente, não suporto rótulo, não sou refrigerante”, dizia ela. Como um capricho do destino, Elza morreu no mesmo dia que seu ex-marido, o jogador Mané Garrincha, 39 anos depois do seu falecimento.

No último carnaval, em 2020, Elza foi enredo do samba da Mocidade Independente de Padre Miguel. Ela desfilou no último carro e teve sua história cantada no sambódromo, onde ela foi uma das primeiras mulheres a interpretar um samba enredo. “És a ESTRELA! Seu povo esperou tanto pra revê-la! E reviu! Reviu o seu amor Independente passar na Avenida da forma mais linda possível! Você foi uma das maiores deste país. Só podemos agradecer por tudo. Consternados! Essa é a nossa despedida! Obrigado, Deusa. NÓS NÃO VAMOS SUCUMBIR NUNCA! ✊🏿😭⭐️💚”, postou a escola de Padre Miguel, em homenagem à cantora.

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Com informações do Noticias Preta.

20 de janeiro de 2022

Desaparecida

 

Alexandre Lucas. (FOTO/ Reprodução).

 Por Alexandre Lucas, Colunista

A carta estava amarelada, escrita com pressa e força, era possível perceber a pressão da palavra sobre o papel, escrita grossa e azul. Dobrada várias vezes em tamanho pequeno, cabia na palma da mão. Papel amassado, cheio de rugas, sobras de um embrulho para presente, vermelho cintilante. 

Fincada na parede, a carta parecia Cristo crucificado. Acelerado os desaparecimentos, o aborto das despedidas era um código de sobrevivência. As cartas, às vezes, compostas de três palavras e o embaraço do aligeiramento, nem chegavam aos seus destinatários.

Ninguém sabe o que tinha, o tempo esfarelou cada palavra fincada naquele papel crucificado na parede.

18 de janeiro de 2022

Inspirado em Carolina Maria de Jesus, livro reúne histórias de catadoras do Brasil

 

(Foto/Elizabeth Nader/Prefeitura de Vitória).

Vulnerabilidade social, violência doméstica, fome e racismo são alguns dos relatos comuns compartilhados por 21 catadoras de materiais recicláveis de diferentes cidades do Brasil, que, assim como a escritora e catadora Carolina Maria de Jesus, encontraram na escrita uma forma de partilhar as suas dores e tomarem o protagonismo das suas próprias histórias.

As histórias estão reunidas nas 243 páginas do livro 'Quarentena da resistência', publicado pela editora Coopacesso, que conta a história de catadoras de materiais recicláveis de forma intimista e a busca dessas mulheres, de maioria negra e chefes de família, por melhores condições de vida e oportunidade. O livro está disponível para download no site da Organização Internacional do Trabalho (OIT), uma das parceiras do projeto.

Durante sete meses, as trabalhadoras participaram de uma formação virtual com oficinas de criação literária e escrita através da leitura do livro 'Quarto de Despejo: Diário de uma favelada', da escritora Carolina Maria de Jesus. Por meio das trocas de experiências e debates, as catadoras compartilharam sobre as suas realidades. Cada participante recebeu uma bolsa de estudos mensal com valor de R$ 385 para os custos de internet e cestas básicas.

"Inspiradas em Carolina Maria de Jesus, as catadoras, trabalhadoras severamente atingidas pela pandemia, em sua maioria negras, encontraram um lugar de fortalecimento e luta pela palavra e compartilhamento das dores e afetos. O potencial trazido pela literatura, a partir de reflexões sobre trabalho, racismo, gênero e outras questões que atravessam a vida das catadoras, reflete na organização do grupo e na defesa de direitos", afirma Elisiane dos Santos, procuradora do Trabalho do MPT-SP e uma das idealizadoras do projeto.

A ideia do livro surgiu em meio a pandemia de Covid-19, período em que grupos em situação de vulnerabilidade sofreram impactos devastadores, sobretudo os catadores e catadoras de materiais recicláveis, expostos a condições de trabalho precárias e baixa remuneração.

A iniciativa é fruto de uma parceria entre a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o Ministério Público do Trabalho (MPT) de São Paulo, a Festa Literária das Periferias (FLUP) e a Cooperativa Central do ABC (Coopcent ABC), com o apoio da Universidade Federal do ABC (UFABC) e os Laboratórios da Palavra e de Teorias e Práticas Feministas do Programa Avançado de Cultura Contemporânea da Faculdade de Letras/UFRJ.

'O resgate da história de organização da categoria profissional, agora em livro, mostra à sociedade a importância fundamental do trabalho que realizam, ao tempo em que cobra do Poder Público as condições e políticas públicas para a valorização e reconhecimento do trabalho de milhares de mulheres e famílias no Brasil, trabalho este do qual depende a vida das pessoas e do planeta. Essa obra deve ser lida por todos e todas", ressalta Elisiane.

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Com informações do Alma Preta.

17 de janeiro de 2022

Estudantes de história da Ufal lançam calendário em homenagem a personalidades negras de Alagoas

 

Calendário criado por estudantes de história da Ufal homenageia personalidades negras/(FOTO/ Reprodução: G1).

Alunos do curso de licenciatura em História da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), do Campus do Sertão, criaram um calendário 2022 para homenagear personalidades negras alagoanas que dedicaram a vida à luta antirracista.

O projeto foi desenvolvido na disciplina Atividade Curricular de Extensão. Os estudantes também fazem parte do Grupo de Cultura Negra do Sertão Abí Axé Egbé, um equipamento cultural da UFAL em Delmiro Gouveia, que promove estudos, pesquisas, debates, produtos científicos e pedagógicos, eventos, oficinas e apresentações artísticas com foco nas relações raciais e na cultura afro-brasileira.

De acordo com o diretor do grupo, professor Gustavo Gomes, a elaboração do calendário surgiu com a proposta de ir além da utilidade para organizar as atividades diárias e que deve ser visto como um importante instrumento pedagógico, ao trazer um pouco da memória cultural negra do estado.

“É uma forma de propor para as pessoas uma reflexão afrocentrada durante o ano todo, não apenas no mês da Consciência Negra. Propor que aprendam sobre outros marcos temporais, que não são aqueles eurocentrados, marcando o tempo em perspectiva negra, a partir de memórias culturais negras. O resultado ficou lindo, sensível e robusto. É um índice de que o processo de curricularização da extensão acadêmica tem dado certo”, comemora Gomes.

Entre os homenageados estão Mãe Neide, Zezito Araújo, Dona Irinéia e Mestre Tião do Samba. Segundo o grupo Abí Axé Egbé, o projeto buscou personalidades de áreas como política, movimentos sociais, artes, religião, saúde, educação e LGBTQIA+, de diferentes regiões alagoanas.

“São pessoas com vida dedicada à luta antirracista e que deixaram um legado para posteridade. É uma forma de dar visibilidade a negros e negras de Alagoas como heróis e heroínas para além de Zumbi dos Palmares. Elas precisam ter suas memórias reconhecidas, valorizadas, divulgadas, salvaguardadas e internalizadas afetivamente. As pessoas precisam reconhecer e valorizar essas pessoas negras. Ter afeto por essas personalidades”, defende o professor.

O material pode ser baixado gratuitamente no site da Ufal.
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 Com informações do G1.

A quem interessa pregar a narrativa do “racismo reverso”?

 

Quando ouvimos a frase “não consigo respirar” ou algo como “zara zerou” logo vem à memória casos óbvios e marcantes de racismo, porém não isolados, aumentando a certeza de que o racismo sufoca, cercea e assassina vidas negras. A ativista Angela Davis ensina que “numa sociedade racista, não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”. Porém, como num efeito “não olhe para cima”, algumas pessoas tentam negar o óbvio. Em um artigo publicado, irresponsavelmente, no site da Folha de São Paulo, neste sábado (15), o escritor e antropólogo baiano Antônio Risério prega que “racismo de negros contra brancos ganha força com identitatismo”.

Pois bem, enquanto nós negros tentamos respirar com joelhos sobre os nossos pescoços, como fez George Floyd antes de morrer sufocado por um policial branco em 2020; enquanto lutamos para não ser humilhados ao entrar numa loja de luxo como a Zara no Brasil; enquanto desviamos para não ser alvejados por 80 tiros numa tarde corriqueira de domingo, Risério tenta provar a teoria fracassada, e recharçada pelos estudiosos, do racismo reverso. Mas a quem interessa pregar e fortalecer essa narrativa?

No estilo a lá Olavo de Carvalho, Antônio Risério pinça meia dúzia de fatos isolados, que são muito mais uma crítica à condução ideológica da mídia norte-americana, reduzindo um assunto que sentencia a vida de bilhões de pessoas no mundo. Ele compara o racismo, a que ele chama de “racismo branco antipreto” a cenas isoladas discriminatórias de pretos contra pessoas brancas, asiáticas e judeus. Alguns casos são levianamente tirados de contexto como por exemplo o que o autor chama de “o boicote preto a um armazém do Brooklyn, cujos proprietários eram coreanos”. Talvez ele não saiba que fazer o dinheiro produzido por pessoas negras circular na comunidade negra já tem nome, e se chama “black money”.

Tentanto justificar que os negros “já têm instrumentos de poder para institucionalizar o racismo antibranco”, Risério diz que “o racismo negro se manifesta por meio de organizações poderosas como a ‘Nação do Islã’”. Ora, a Nação do Islã é uma instituição religiosa, de caráter confessional e privado, não é a Suprema Corte Americana ou o Congresso. Essas instituições, sim, ao invés de garantir igualdade e justiça, foram vetores de segregação ao promulgar e garantir a manutenção de uma série de normas racistas como as leis Jim Crow, entre 1877 e 1964, nos EUA. Na África do Sul, o Apartheid, que teve efeitos devastadores para gerações inteiras, durou de 1948 a 1994.

Ao menos nos resta dizer, uma vez mais, que não existe racismo reverso, tampouco um “racismo preto antibranco”, como o autor diz. O negro não pode sustentar um sistema racista porque o racismo é um mecanismo de opressão que só existe porque o branco detém o poder. O poder está nas mãos de meia dúzia de homens brancos, de famílias brancas. O dinheiro é deles. O sistema de justiça é operado por eles. Eles controlam a mídia. A política está cheia deles.

O filósofo camaronês, Achille Mbembe, reforça que “o racismo é uma tecnologia de poder, e que sua função é regular a distribuição da morte e tornar possíveis as funções assassinas do estado”. Isso fica claro quando olhamos as estatísticas. Dados do Atlas da Violência 2021 (IPEA, FBSP) mostram que um negro tem 2,6 vezes mais chances de ser assassinado no Brasil. Entre os anos de 2009 e 2019, 623.439 pessoas foram vítimas de homicídio no país. Destas, 53% do total eram adolescentes e jovens negros.

Racismo não se trata apenas de uma ofensa ou agressão pessoal por causa da cor da pele da outra pessoa. Conforme afirma o professor e jurista, Sílvio de Almeida, o racismo é estrutural, porque rege a estrutura da sociedade. Ele impede que pessoas negras acessem espaços de poder e de decisão. A falácia do racismo reverso interessa, tão somente, a quem não quer perder estes espaços de poder.

Além disso, nunca existiu uma lei impedindo um branco de usar o banheiro do negro. Nunca existiu uma lei como o Apartheid para os brancos. Nunca existiu uma lei da “vadiagem” para prender brancos no Brasil. Pessoas brancas não perdem vagas de emprego apenas por serem brancas. Os brancos não foram escravizados e tratados como mercadoria por mais de 350 anos. Não foram os corpos dos brancos lançados no Atlântico, mudando a rota dos tubarões.

É fato que têm negros que agem com discriminação, e isso é repudiável! Ninguém deve ser discriminado. Porém, é leviana e desonesta a afirmação de Risério, ao dizer que “sob a capa do discurso antirracista, esquerda e movimento negro reproduzem projeto  supremacista, tornando o neorracismo identitário mais norma que exceção”. A verdade é que o racismo é sobre uma pergunta: onde estão os negros?

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Por Jersey Simon, originalmente no Notícia Preta.