Esperado
como o ápice de uma eleição marcada por alto grau de tensão, o debate
presidencial realizado pela Globo encerrou três meses de campanha com diferença
marcante entre os dois candidatos. Atrás nas pesquisas de intenção de voto,
Aécio Neves (PSDB) retomou a agressividade que marcou o encontro realizado na
semana anterior pelo SBT, buscando as últimas cartadas para modificar o quadro
favorável a Dilma Rousseff (PT).
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Aécio e Dilma, antes do debate que encerrou a campanha presidencial 2014 e que reforçou diferenças de projetos. |
“Essa
campanha vai passar para a história como a mais sórdida da história do nosso
sistema democrático”, abriu o tucano, seguindo o roteiro para um dia
marcado pela denúncia feita pela revista Veja de que Dilma e o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva tinham ciência de um esquema de propinas feito com
verbas da Petrobras.
A
petista seguiu a linha que havia guiado no vídeo exibido em programa eleitoral
exibido no horário da tarde, acusando a publicação do grupo Abril de buscar um
“golpe”. “É fato que o senhor tem feito
uma campanha extremamente agressiva a mim e isso é reconhecido por todos os
eleitores. Agora, essa revista, que fez e faz sistemática oposição a mim, faz
uma calúnia e uma difamação do porte que ela fez a mim e o senhor endossa a
pergunta”, afirmou. “O povo não é
bobo, candidato. O povo sabe que está sendo manipulada essa informação porque
não foi apresentada nenhuma prova.”
Com
a falha na primeira carta na manga, Aécio sacou a segunda, afirmando ter novos
documentos sobre o financiamento brasileiro ao porto de Mariel, em Cuba. Ele
disse que os dados, guardados sob sigilo, revelam que o empréstimo será pago
excepcionalmente em 25 anos, contra um prazo de 12 usado corriqueiramente.
Dilma reiterou o que havia dito em outras ocasiões: o empréstimo é para uma
empresa brasileira, a Odebrecht, e não para Cuba, e garante a criação de
empregos para brasileiros.
Voltando
à questão moral, tema que balizou a campanha tucana, Aécio perguntou a Dilma a
opinião dela sobre o mensalão. “Se o
senhor me responder por que o chamado mensalão tucano mineiro até hoje não foi
julgado, por que o senhor Eduardo Azeredo (ex-governador de Minas Gerais pelo
PSDB) pediu renúncia do seu cargo para o processo voltar para a primeira
instância, o senhor estaria de fato sendo uma pessoa correta”, respondeu a
petista. “O senhor é o primeiro a falar
de corrupção, mas posso enumerar os casos de vocês que não foram investigados.”
Ainda
na seara partidária, a principal diferenciação entre os dois candidatos se deu
na temática da reforma política, levantada por Aécio, que voltou a advogar o
fim da reeleição, proposta aprovada no governo tucano de Fernando Henrique
Cardoso. Dilma respondeu que esta não é uma questão central, e apresentou uma lista de propostas: fim
do financiamento empresarial privado de campanha, paridade de candidaturas
entre homens e mulheres, fim da coligação nas eleições proporcionais.
“Se de fato o senhor está interessado em
combater a corrupção a proposta é o fim do financiamento empresarial das
campanhas. porque com o fim do financiamento empresarial, acabaremos com a
influência do poder econômico nas eleições”, ressaltou. “Acho que o senhor não tem interesse na
reforma política porque a única coisa que o senhor fala é sobre reeleição.”
“A senhora é contra o financiamento
privado?”, questionou o tucano. “Contra o financiamento empresarial”,
respondeu a petista. “O seu partido, o
PT, recebeu R$ 80 milhões em doações empresariais, candidata”, rebateu
Aécio. “Seu partido não tem autoridade
para falar sobre isso. Sua campanha é uma campanha milionária.”
Economia e gestão
Se
prometia ser interessante para fugir da mesmice, a ideia da Globo de escolher
eleitores indecisos para que fizessem perguntas acabou deixando mornos dois dos
quatro blocos do debate. As questões selecionadas por vezes eram genéricas, por
vezes traziam lugares comuns que pouco contribuíam para trazer questões novas,
ainda mais depois de cinco encontros no primeiro turno e quatro no segundo.
No
geral, Dilma e Aécio marcaram diferenças na economia e na gestão pública. Ela,
ao comparar seu governo com o de FHC e com as marcas do adversário como
governador de Minas. Ele, ao voltar a prometer eficiência e meritocracia na
administração.
Dilma
buscou expor o passado do PSDB na economia, especialmente na questão do alto
desemprego, e recordar que o presidente do Banco Central de Fernando Henrique,
Armínio Fraga, é o ministro da Fazenda de um eventual governo Aécio. “O seu governo afugentou os investimentos e a
inflação, infelizmente, está de volta. A situação do Brasil é extremamente
grave, e é preciso que a senhora reconheça isso”, respondeu o tucano.
“No caso da inflação, você pode ter certeza
de que é meu compromisso o controle da inflação”, rebateu a petista. "Vocês chegaram à obra prima de aumentar imposto
e deixar uma dívida pública muito maior do que a que vocês receberam. Não há
termos de comparação entre o que vocês fizeram e o que nós fizemos."
A
comparação entre os governos FHC e Lula e Dilma despertou respostas repetidas
das duas partes. “A grande verdade é que
quem olha muito para o passado, ou quer fugir do presente, ou não tem nada a
apresentar para o futuro”, disse Aécio, ao responder a pergunta sobre o
setor agrário.
“Vocês deixaram a agricultura a pão e água.
Uma pessoa fala para o futuro, mas tem de mostrar suas credenciais. Quando falo
para o futuro, mostro as minhas credenciais”, respondeu Dilma. “Me desculpa, mas o senhor falou, falou, e
não apresentou nada de concreto. Nem para o presente, nem para o futuro.”
Ela
buscou novamente marcar diferenças de modelos de gestão ao perguntar a Aécio
sobre a falta d’água em São Paulo, assunto que já havia sido tratado no encontro
da Record, no domingo.
“O que estamos tendo não é apenas em São
Paulo. Estamos tendo em toda a região Sudeste falta de água”, afirmou
Aécio, para novamente acusar a Agência Nacional de Águas (ANA) de não atuar da
forma correta na crise paulista, tema que foi central na última semana do
segundo turno. “Esse aparelhamento da
máquina pública é a face mais perversa do seu governo e do governo anterior. Os
técnicos são nomeados por critérios políticos.”
A
presidenta recordou que a responsabilidade constitucional pela gestão dos recursos
hídricos é dos estados e que o único projeto apresentado neste setor ao governo
federal por Geraldo Alckmin, do PSDB, recebeu financiamento da União. “Não planejar no estado mais rico do país é
uma vergonha. Uma vergonha. Os estados do Nordeste estão enfrentando a mesma
seca e em nenhum deles há um caso dessa gravidade.”
Dilma
e Aécio fazem neste sábado os últimos atos de campanha. A petista vai a Porto
Alegre (RS), onde vota no domingo, para uma caminhada com correligionários.
Aécio viaja a São João del Rei, em Minas, onde visitará o túmulo do avô,
Tancredo Neves.
Via
Rede Brasil Atual