Bianca Santana: ‘Mulher negra no STF não é só representatividade, é mudar a Justiça no Brasil’

 

Em entrevista ao BdF, Bianca Santana analisa a agenda do movimento negro no governo Lula. (FOTO | João Benz).

A ministra Rosa Weber se aposentou de suas funções no Supremo Tribunal Federal (STF) na última semana, passando a presidência da Corte para o ministro Luís Roberto Barroso. A questão que ainda paira no ar é: quem será o escolhido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ocupar a cadeira do Supremo deixada por Weber? Essa será a segunda nomeação feita pelo petista neste seu terceiro mandato presidencial, após a aposentadoria de Ricardo Lewandowski e a nomeação de Cristiano Zanin.

Há grande movimentação na sociedade, especialmente de organizações ligadas ao movimento negro, para que uma mulher negra seja nomeada por Lula para o lugar de Weber. Caso aconteça, de fato, a nomeação, esta seria a primeira vez que a Corte, que existe desde 1808, teria uma mulher negra ocupando uma de suas cadeiras. O principal candidato, no entanto, é um homem negro, o atual ministro da Justiça, Flávio Dino.

Críticos da nomeação de uma mulher negra para o STF apontam que a medida seria a imposição de uma pauta identitária. Para a jornalista Bianca Santana, que integra a Coalizão Negra por Direitos, há identitarismo em tudo, inclusive no Partido dos Trabalhadores.

É fundamental pautar esse tema e pautar o debate público. Eu nunca vi uma mulher feminista, uma pessoa de movimento negro falar em pauta identitária, é sempre uma acusação que desqualifica, como se a gente não fizesse política a partir de identidade, todo mundo faz”, afirma Bianca Santana, que é a convidada desta semana do BdF Entrevista.

O presidente Lula é do Partido dos Trabalhadores, trabalhador é uma identidade. E aí você vai me dizer o quê? Que o Lula, ou o PT não fazem política para todo mundo? Fazem política para toda a população brasileira, a partir da identidade dos trabalhadores. O que o movimento feminista faz é luta política contra qualquer forma de opressão a partir da luta das mulheres. O que o movimento negro faz é o enfrentamento ao racismo, com a certeza de que o racismo, o capitalismo, a desigualdade de gênero, todas as formas de opressão caminham juntas”, completa.

Na avaliação de Santana, a escolha por uma mulher negra para o STF não se limita apenas à representatividade que o cargo tem. É, também, a oportunidade de uma mudança no pensamento de todo o sistema de justiça brasileiro.

Quando a gente fala de uma ministra negra no STF, não tem a ver com uma representatividade, porque tem que ter uma mulher negra lá, porque eu tenho que ter um número XYZ para compor uma foto que simule diversidade. A importância é reconhecer na sociedade brasileira, olhar para essa sociedade e compreender a Justiça, o sistema de Justiça. Quem são as pessoas encarceradas neste país? Qual o julgamento, qual o tratamento da Justiça para as pessoas brancas, negras, indígenas, amarelas? Qual é a desigualdade colocada?”, questiona a jornalista.

Na conversa, Bianca Santana fala ainda sobre a agenda do movimento negro, seu novo livro infantil “Diálogos feministas antirracistas (e nada fáceis) com as crianças”, lançado este ano e também sobre o ofício do jornalismo, que tem sofrido questionamentos cada vez mais intensos após a massificação do uso das redes sociais e a maneira como circulam as informações na contemporaneidade.

A gente está muito desafiada e desafiado a mostrar o valor do jornalismo para viver uma sociedade democrática, justa, boa para todo mundo. Um jornalismo que sempre foi um recorte muito específico da realidade brasileira, ele mesmo foi perdendo credibilidade por ele. Nós, movimento negro, sempre fomos críticos ao jornalismo”, aponta.

Precisamos de um novo pacto democrático em que as pessoas negras, indígenas, amarelas tenham os direitos que a população branca tem no Brasil. Com esse novo pacto, a gente precisa de um jornalismo que informe contemplando também os diferentes pontos de vista, perspectivas, narrativas, dessa mesma realidade”, completa Santana.

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Com informações do Brasil de Fato. Clique aqui e leia a entrevista completa.

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