Pretos representam apenas 17,6% dos educadores na EEMTI Padre Luís Filgueiras

 

Professora Beatriz Alexandrino, da EEMTI Pe. Luís Filgueiras, durante roda de conversa com estudantes da EEEP Wellington Belém de Figueiredo. Ela foi uma das que se autodeclarou preta. (FOTO | Divulgação).

Por Nicolau Neto, editor

A EEMTI Padre Luís Filgueiras, uma das duas instituições da rede pública estadual do Ceará, localizada no município de Nova Olinda, na região do cariri, conta hoje com 12 turmas em regime integral, sendo 5 primeiros anos, 4 segundos e 3 terceiros e mais de 500 estudantes matriculados. Para atender a essa demanda, a escola conta com quase 40 educadores e educadoras, entre direção/coordenação, professores/as diretamente lotados em sala, secretária/o, auxiliares administrativos, etc.

Não há como pensar o Brasil e, em particular a educação, sem trabalhar a diversidade. É impossível falar em democracia na sua amplitude sem se voltar para os dados alarmantes de casos de racismo, uma herança perversa de mais de 300 anos de escravização. Em um país que assopra aos quatro cantos do mundo que vive em uma estado democrático de direito e em muitos casos em uma democracia racial, é muito salutar colocar os pingos no is, visto que dados educacionais tem demonstrado que a maior taxa de evasão escolar são de pessoas negras. Muitos jovens negros precisam fazer a difícil escolha entre trabalhar e ajudar em casa ou estudar; aqueles e aquelas que escolhem os estudos não conseguem acompanhar os demais que possuem condições financeiras razoáveis (a maioria não negros).

Analisar a educação e de maneira particular as escolas passa necessariamente pelo entendimento das relações étnico-raciais, trazendo a lume dados que façam menção as questões de gênero e das etnias. Dentro dessa perspectiva desenvolvemos uma pesquisa visando colher informações referentes a questão étnica-racial das/os educadoras/es da Escola de Ensino Médio em Tempo Integral Padre Luís Filgueiras, em Nova Olinda, no interior do Ceará.

Os dados são parte integrante das ações desenvolvidas em sala visando a educação para as relações étnico-raciais, tendo como base os critérios utilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) e pelo Estatuto da Igualdade Racial quanto a cor ou raça e visa corroborar na discussão sobre representatividade do corpo de educadoras/es desta instituição de ensino.

Dados étnico-raciais da EEMTI Pe. Luís Filgueiras. (Gráfico colhido junto do google forms elaborado pelo professor Nicolau Neto).

O questionário foi feito pelo Google Forms e encaminhado no grupos de WhatsApp da escola e recebeu respostas de 34 das/os 38 educadoras/es.

Pelos números, foi constatado que a parcela destas/es que se declara preta atingiu 17,6%, o que representa 6 profissionais da educação. O grupo que se reconhece como pardo, no entanto, é maioria e ocupou metade das respostas no formulário, equivalendo a 17 pessoas. É importante frisar que tanto para o IBGE quanto para o Estatuto da Igualdade Racial, a população negra no Brasil é definida pela somatória de pardos e pretos. Assim, as/os profissionais da educação negros na EEMTI Padre Luís Filgueira representam 67,6%.

O formulário também apurou que  5,9% se reconhecem como indígena (2 profissionais); nenhum/a se autodeclarou amarelo e a parcela de profissionais brancos atingiu 26,5%, ou 9 profissionais.

Em julho deste ano cerca de 340 estudantes também foram submetidos a formulário como esse e foi constatado que apenas 14,7% se reconhecem como pretos. (clique aqui e acompanhe os dados na integra).

Todos esses dados farão parte de uma exposição no dia 20 de novembro, dia nacional da consciência negra e integram as ações do projeto “a cor de uma voz”, que este ano tem como temática “20 anos da lei 10.639/2003: educação, resistência e equidade racial”.

Para refletir

É importante destacar que a população negra no Brasil representa a maioria. São 56% conforme dados do IBGE. Levando em consideração somente as pessoas autodeclaradas pretas, o número corresponde a 9,1%.

No município de Nova Olinda, tendo com base dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua 2018 do IBGE, 70,3% da população se autodeclara negra.

A baixa representatividade da população preta e indígena nos espaços de poder é um problema e precisa ser enfrentado com muita seriedade, pois não contribui para o desenvolvimento do país, além de ser um impedimento para a superação do racismo estrutural.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Ao comentar, você exerce seu papel de cidadão e contribui de forma efetiva na sua autodefinição enquanto ser pensante. Agradecemos a sua participação. Forte Abraço!!!