Imagem puramente ilustrativa. (FOTO/ Gettyimages). |
Por Alexandre Lucas, Colunista
A
camisa ainda tem cheiro de roupa que desconhece a primeira lavada. As suas
linhas seguem embriagadas, cambaleando no caminho, suas casas têm distâncias
descompassadas, uma aqui e outra com endereço incerto. Os botões foram trocados à revelia dos
escolhidos.
A
costureira fez tudo descombinado. Podia ser só uma camisa e pronto, mas as
costuras que nos vestem não são pontos finais. A gente não veste tudo,
escolhemos a cor, o tamanho, o modelo, o tempo e o lugar de vestir.
As
roupas são como versos, sempre diferentes, até podem ser parecidas e
confundíveis. Tem roupas simples e aconchegantes, umas tão leves que nos fazem
dançar, outras que se ajustam aos desejos e desenhos. Lógico, terão aquelas de
função robotizada. No final e quase sempre escolhemos, o que não é uma regra,
ainda existem os descosturados que se despregam da composição de vestir a
barriga e o horizonte.
A costureira e a camisa são partes da mesma costura. Foi preciso acreditar na costureira para perceber os seus caminhos tortos, as suas medidas assimétricas e os seus descombinados. As costureiras são desiguais, igualzinho aos amores.
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