A
pré-candidatura da deputada estadual do Rio Grande do Sul Manuela D’Ávila
(PCdoB) à Presidência da República quebra um “tabu” de mais de sete décadas.
O
partido não tem candidato presidencial desde as eleições de 1945, com Yedo
Fiúza, então prefeito de Petrópolis (RJ), quando o antigo “Partidão” ainda
reunia na mesma sigla as que no início dos anos 1960 se dividiriam em PCdoB e
PCB, ambos obrigados a atuar na clandestinidade até a redemocratização, nos
anos 1980.
A
indicação, anunciada no fim de semana pela legenda, é considerada uma
estratégia para fortalecer outros nomes dentro do campo da esquerda, em uma
eleição marcada pela incerteza e pela multiplicidade de nomes que deverão
aparecer no pleito do ano que vem.
Segundo
a presidenta do PCdoB, deputada federal Luciana Santos (PE), mais do que
discutir nomes, o que o partido pretende é discutir projetos, com uma saída
progressista para as crises simultâneas que o país enfrenta.
A
dirigente afirma que é o “tempo político”
que vai dizer se a candidatura de Manuela será irreversível, e que o PCdoB já
deu “demonstrações irrefutáveis” de unidade pela esquerda.
“Vamos fazer um exercício para saber o que a
gente vai acumular no processo e ver qual é a melhor estratégia. O que nos
interessa é o nosso campo ganhar as eleições do ano que vem. Lá na frente,
vamos poder ter uma noção de qual será a melhor estratégia. Se é ter mais de
uma candidatura, ou não”, diz Luciana.
Ela
compara a pré-candidatura de Manuela D’Ávila à de Ciro Gomes (PDT), que também
“mais contribui do que prejudica”,
segundo Luciana, para o debate político à esquerda.
“Em várias experiências nos estados, tem
situações que, para a vitória do nosso campo político, muitas vezes, mais de
uma candidatura ajuda. Há situações que não, em que é preciso unir.”
Segundo
a deputada, a pré-candidatura do partido serve também de resistência à agenda
neoliberal do governo Temer. Ela prevê consequências “tenebrosas” e “nefastas”
de medidas do governo, como o congelamento dos investimentos por 20 anos, e a
precarização das relações de trabalho com a reforma que entre em vigor no
sábado (11), além de cortes em programas sociais de todo tipo.
“Ao mesmo tempo, não falta dinheiro para o
pagamento da dívida pública, para o mercado financeiro, pois 42% do orçamento
vai para a ciranda financeira. É uma opção de Estado mínimo para o povo, e
máximo para os rentistas”, diz.
Fator Lula
Por
ser mulher e jovem, Manuela D’Ávila também representa a tentativa de disputar
votos dessas parcelas do eleitorado. Além de trazer a discussão de gênero para
a disputa, a candidata poderia enfrentar os arroubos machistas do deputado
federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), também pré-candidato.
O
cientista político Vitor Marchetti, da Universidade Federal do ABC (UFABC),
lembra que não é pequeno o número de jovens que vêm aderindo a bandeiras
conservadoras na política nos últimos tempos.
Ele
acredita que uma eventual ruptura do PCdoB com o seu aliado histórico, o PT,
pode aparentar dificuldade na coordenação política da esquerda. Mas avalia que
a pulverização de candidaturas também pode ser uma estratégia, dadas as
incertezas jurídicas relacionadas à presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva na eleição – e à rejeição ao seu nome. Seria como ter mais de um
cavalo na disputa pelo páreo, compara o cientista político.
“Me
parece que uma estratégia da esquerda é lançar várias candidaturas para tentar
trazer para esse campo votos de eleitores que não vão com Lula. O que estou
projetando, para o cenário do ano que vem é um número muito grande de
candidaturas, comparado com 1989. A direita também não tem líderes capazes de
reunir o campo inteiro. A esquerda talvez esteja reagindo da mesma forma. Com
um número grande de candidaturas, a chance de se ter um candidato na casa dos
20% dos votos ir para o segundo turno é alta”, analisa Marchetti.
Ele
acredita que candidaturas à esquerda, como a de Manuela, podem desaparecer,
caso Lula se confirme como candidato. Mesmo nesse cenário, o professor diz que
a “pulverização” poderia uma estratégia a se considerar. “Talvez usar outros
nomes na linha de frente, disputando as eleições no primeiro turno, fazendo
esse papel de atrair um eleitor que pode dialogar com a esquerda, com o campo
progressista, mas tem resistências ao nome do Lula, seja uma estratégia
inteligente”, avalia. (com informações da RBA/Viomundo).
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Manoela foi lançada pre-candidata ao Planalto em 2018 pelo PCdoB. (Foto: Divulgação). |
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