No
dia 8 de abril o empresário Breno Fernando Solon Borges, que é dono de uma
metalúrgica e serralheria em Campo Grande no Mato Grosso do Sul, foi preso
carregando junto com outras pessoas em dois carros, 130 quilos de Maconha, uma
pistola nove milímetros e 199 munições de fuzil calibre 7,62, de uso exclusivo
das forças armadas.
Por
Henrique Oliveira, no Justificando. As
investigações da Polícia Federal sobre as ações de Breno já vinham sendo
realizadas desde o mês de fevereiro, o grupo foi abordado pela Polícia
Rodoviária Federal na BR 262, quando transportava as drogas e as munições para
São Paulo.
Breno
Borges é filho da presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Mato Grosso do
Sul, a Desembargadora Tânia Garcia Freitas Borges, e uma das autoridades que
preferiu anonimato, segundo o Conjur, o empresário deu o nome da sua mãe para
não ser preso.
Aquela
típica frase: “você sabe com quem você está falando?” uma expressão que remete
a identificação social do seu enunciador no topo da hierarquia, demonstrando
ter algum tipo de autoridade, que busca através do apadrinhamento político
burlar as leis, conseguir proteção e vantagem.
Breno
estava preso desde 8 de abril, e conseguiu no dia 17 de julho o direito de
aguardar seu julgamento em liberdade, pois a sua defesa conseguiu um laudo
médico psiquiátrico no qual Breno é diagnosticado com “Síndrome de Borderline”,
uma doença que consiste no desvio de comportamento do indivíduo, se
manifestando através das alterações de cognição, de afetividade, de
funcionamento interpessoal e controle dos impulsos.
O
também Desembargador, Ruy Celso Barbosa Florecence, concedeu liberdade para que
Breno cumpra tratamento psiquiátrico adequado, sob a tutela e responsabilidade
da sua mãe, que se comprometeu a levá-lo em todas as audiências do processo.
E
essa foi a segunda vez que a defesa de Breno Borges tentou intervir para
tirá-lo da prisão com argumentos médicos, a própria desembargadora e mãe se
ofereceu para ser tutora do filho, para que fosse internado em uma clínica
médica, com alegação que ele sofre de problemas psicológicos, mas teve o pedido
negado em um juizado de primeira instância.
O
direito de responder em liberdade sob alegação médica, é mais um caso onde
presos com dinheiro e influência política conseguem produzir laudos médicos
para ganhar prisão domiciliar ou internação em clínica, enquanto milhares de
presos estão sendo infectados e morrendo nas nossas cadeias por sífilis,
tuberculose, HIV e convivendo em meio a ratos e baratas.
E
mostra que membros da classe média/alta, quando são flagrados cometendo crimes,
são enquadrados como doentes, desequilibrados, imaturos, sempre existindo um
argumento atenuante, que visa afastar o estigma do criminoso para o do que
precisa de ajuda.
Breno
Borges não é o primeiro caso esse ano, em que um sujeito tem sua prisão
revogada, por causa de alianças político-familiares com membros do poder judiciário.
Em
janeiro no estado da Paraíba o também empresário Rodolpho Carlos Silva
atropelou e matou o agente do Detran em uma blitz da Lei Seca.
Rodolpho
chegou a ter a sua prisão preventiva decretada, mas doze horas depois o
desembargador Joás de Brito concedeu um habeas corpus.
O
desembargador é amigo da família de Rodolpho Carlos, que é filho do dono Grupo
São Braz, um dos maiores produtores de café torrado do país, além de ser neto
de José Carlos da Silva, ex vice-governador da Paraíba. Além de serem donos da
afiliada local da Rede Globo.
Enquanto
isso, Rafael Braga, um jovem negro e pobre, catador de material reciclável, e
que não é filho de uma desembargadora, foi condenado a 11 anos de prisão, por
tráfico e associação tráfico, por portar em um flagrante forjado 0,6 gramas de
maconha e 9,6 gramas de cocaína.
No
dia 19 de julho a defesa de Rafael Braga entrou com um pedido de apelação à
sentença condenatória, alegando que não houve fundamentação por parte do juiz
sobre a não retirada das algemas de Rafael durante as audiências, e a não
autorização da realização de diligências para o esclarecimento do caso, como
acesso as imagens da câmera da viatura em que Rafael Braga foi levado para a
delegacia no dia 12 de janeiro de 2016.
É
mais uma etapa do calvário que Rafael Braga vem passando desde a sua primeira
condenação por porte de Pinho Sol e água sanitária, no contexto das
manifestações de junho de 2013.
Esses
dois casos envolvendo Rafael Braga e Breno Borges evidenciam toda a contradição
da política criminal de drogas e a seletividade do poder judiciário; apesar de
Breno Borges ter direito a responder o processo em liberdade, esse mesmo
direito não é garantido a mais de 40% dos presos brasileiros, que são compostos
por presos provisórios.
A
política de proibição das drogas quando relacionada com questões sócio-raciais,
consegue produzir uma total inversão de proporcionalidade, onde 9 gramas de
racismo, pesam mais do que 129 quilos de maconha.
*Henrique
Oliveira é graduado em História e mestrando em História Social pela UFBA e
militante do Coletivo Negro Minervino de Oliveira/Bahia
![]() |
Foto: Reprodução. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ao comentar, você exerce seu papel de cidadão e contribui de forma efetiva na sua autodefinição enquanto ser pensante. Agradecemos a sua participação. Forte Abraço!!!