Não
faz muito tempo que moradores de Itaparica recorreram a uma atitude, no mínimo,
audaciosa: incluir o nome de Maria Felipa de Oliveira, considerada por muitos
deles como a principal heroína da batalha local, numa lápide que já levava o
nome de outros heróis. A homenagem foi instalada na parede da Capela da
Piedade, em 1923.
Por
Clarissa Pacheco, no Correio 24h - “Nós
tivemos a ousadia, tomamos a liberdade e contratamos um calígrafo que fez uma
letra rigorosamente igual à que está lá e acrescentou o nome de Maria Felipa
entre os nossos heróis”, confessa, aos risos, o pesquisador Augusto
Albuquerque, morador de Itaparica.
É
que a mulher negra, corpulenta e estabanada - descrição do historiador Ubaldo
Osório - passou muito tempo esquecida, mas é especial para os itaparicanos. Não
se sabe quando ela nasceu, mas seria natural do povoado de Ponta das Baleias e
morrido em 1873.
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Lápide com nome dos herois na capela da piedade em 1923, mas Maria Felipa só entrou recentemente. Foto: Mauro Akin Nassor/ Correio. |
“A
professora Eny Kleyde Vasconcelos localizou a figura histórica de Maria Felipa
de Oliveira. O que não está documentado são os feitos atribuídos a ela”,
afirma o historiador Milton Moura, que defende que a memória seja considerada.
São
justamente os feitos que fazem de Maria Felipa uma das heroínas do povo. Ela
teria comandado um grupo de cerca de 40 mulheres para, primeiro, seduzir os
portugueses e, depois, atear fogo às embarcações deles. A ela também é
atribuída uma famosa surra de cansanção nos soldados portugueses.
O
feito teria ocorrido na Praia do Convento, cuja localização exata não é
conhecida, mas acredita-se que seja próximo ao local onde funcionou, até a
década de 1940, a casa de veraneio do Instituto Feminino da Bahia. A suposição
é de Augusto Albuquerque, levando-se em conta que, de frente para a praia, fica
uma propriedade que havia sido adquirida junto a padres jesuítas.
"Há 14 anos, ainda existiam seis palmeiras
imperiais aqui na frente, hoje restaram duas. Eu acredito que a praia do
Convento seja aqui porque palmeiras imperiais não eram colocadas em centros de
poder, propriedades religiosas, e aqui não havia nenhum outro convento. Creio
que essa seja a referência", diz, apontando para um verdadeiro paraíso
na ilha.
Também
não há certeza sobre os traços físicos de Maria Felipa. A imagem pintada em
paredes e estampada em livros é da perita técnica Filomena Modesto Orge, do
Instituto de Criminalística Afrânio Peixoto, ligado ao Departamento de Polícia
Técnica da Bahia (DPT).
“O retrato de Maria Felipa de Oliveira foi
construído com subsídios históricos, literários e da tradição oral, para dar a
esta personagem um rosto, e que assim possa ser identificada e lembrada como a
Heroína Negra da Independência da Bahia”, escreveu a perita, em artigo de
2005. Ela aponta, por exemplo, que uma mulher capaz de dar uma surra em um
homem deveria ser forte, alta.
Há
pelo menos duas associações dedicadas à memória dela: uma em Salvador e outra
em Itaparica.
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