Podemos,
Avante e Livres são nomes desconhecidos do eleitorado, mas que devem estar na
disputa eleitoral em 2018. De novo, só os nomes: ideologias e estruturas
permanecem as mesmas dos partidos originais - PTN, PTdoB e PSL,
respectivamente. “O nome faz toda a diferença no marketing político. É uma
estratégia para ganhar uma sobrevida nas próximas eleições”, afirma o professor
de ciência política da PUC-SP Rafael Araújo.
Por
Dimalice Nunes, no CartaCapital - No
último sábado 1º o PTN (Partido Trabalhista Nacional), um dos partidos mais
antigos do país, com 72 anos, passou a se chamar oficialmente Podemos. O antigo
PTN já teve um presidente da República, Jânio Quadros, em 1960, mas em 2014
elegeu apenas quatro deputados federais. Meses depois, ficou com apenas dois.
Com
a ideia de mudança de nome, outros deputados apoiaram a presidente do partido,
a deputada Renata Abreu (SP), e embarcaram na nova legenda. Agora são 14
deputados federais e dois senadores. Alvaro Dias, nome tradicional do PSDB -
mas que pulou para o PV em 2015 - será o candidato à Presidência pelo Podemos,
que adotou a expressão “mudar o Brasil” logo após o nome e se define como um
movimento, não um partido.
Araújo
explica que desde 2013 ganha força no Brasil a negação da política. E a classe
política, assim como os partidos, perceberam isso. “Não vem de agora, mas ficou
mais evidente desde o ano passado, especialmente com a eleição de João Doria
para a prefeitura de São Paulo”, lembra. Nas eleições de 2016, Dória levou com
facilidade, já no primeiro turno, a prefeitura da maior cidade do país se
autoentitulando um gestor e não um político.
Negar
a política não é suficiente para o PTdoB (Partido Trabalhista do Brasil): a
legenda quer tirar o PT do nome. Após o desgaste do Partido dos Trabalhadores,
o partido quer se desassociar no nome.
Ainda sem autorização do Tribunal Superior Eleitoral - o pedido foi
protocolado, mas ainda está em tramitação -, o partido quer se chamar Avante. O
nome já foi aprovado internamente, em convenção realizada em maio deste ano. O
PTdoB também tem certa tradição. Com 28 anos de história, tem apenas quatro
deputados federais e quer melhorar sua participação no Congresso Nacional no
pleito de 2018.
Outro
que quer mudar de nome é o PSL (Partido Social Liberal). Com o nome Livres,
pretende se manter fiel às ideias do social-liberalismo, como declara nas redes
sociais. Sem grandes nomes, o partido já tem 22 anos, 225 mil filiados, mas
apenas dois deputados na Câmara: Alfredo Kaefer (PR) e Dâmina Pereira (MG). A
legenda já iniciou uma "campanha publicitária" com o novo nome,
especialmente nas redes sociais mas, segundo o TSE, não foi feito ainda um
pedido formal.
“O
que eles estão fazendo é usar a estratégia que o mercado utiliza. Sempre que
uma empresa quer se modernizar ou tem problemas com seus clientes, elas se
reposicionam”, lembra Jacqueline Quaresemin de Oliveira, cientista política
especialista em pesquisa de opinião, mercado, mídia e política da Fesp-SP.
A
mudança, porém, é vista como “uma faca de dois gumes” por ela. “Eles não querem
ser identificados como partidos, mas isso é um equívoco. Partidos não são
produtos, embora muitas vezes ajam como tal, deixando de lado os projetos de
políticas públicas. A mudança de nome de alguns pode ser equivocada, pois sua
história, militantes, fatos, memórias, compõem a identidade do partido”,
lembra. Para Jacqueline, renegar a própria história para atrair público é um
erro. “Negando sua ideologia podem acabar perdendo a identidade”, afirma.
Por
outro lado, a cientista política lembra que numa sociedade de consumo é
compreensível que os partidos tentem acompanhar determinadas correntes, mas a
política é um campo mais conceitual. “Quando uma marca se reposiciona ela
mantém sua história, e os partidos têm princípios e projetos que também
deveriam ser preservados.”
Rafael
Araújo lembra que a crise de representatividade não é exclusividade do Brasil.
É mundial, desde 2011, e nasce da percepção de que o estado não entrega o que
promete. “No Brasil é pior por causa dos escândalos de corrupção”, afirma.
Há
um desgaste na democracia representativa parlamentar, que têm nos partidos e
lideranças políticas sua maior expressão, explica Jacqueline. E esse fenômeno
mundial ganha força com as tecnologias digitais, à medida que as pessoas
acessam as redes não somente atrás de informações, mas para serem editores,
geradores de informação, distribuidores, criando uma forma mais ativa de
cidadania, de “democracia direta”.
Na
reflexão da professora, um partido mudar de nome para se adequar a essa
sociedade de consumo conectada pode ser um equívoco justamente porque será esse
o público com maior poder de questionamento e fiscalização. "Certamente
que ainda estamos distantes de uma democracia direta, mas cada vez mais as
pessoas estão eliminando mediadores. Se isso é bom ou ruim a história nos
mostrará", pondera.
Hoje,
é possível dizer que a confiança nas instituições está em queda. Segundo o
Relatório Latinobarômetro 2016, os “partidos políticos” caíram três pontos
percentuais no indicador de confiança, de 20% para 17% na América Latina. Eles
ficaram atrás das Forças Armadas e Polícia, Igreja, Instituições Eleitorais,
Governos, Poder Judiciário e Congresso.
Lei dos Partidos Políticos
Desde
a alteração da Lei dos Partidos Políticos, em 1995, não é mais exigido que as
agremiações tragam a palavra “partido” em seus nomes. E, muito antes da crise
de representação política que dá força ao rebranding dos partidos, em 2007, o
PFL (Partido da Frente Liberal) virou Democratas, ou DEM como é mais conhecido.
Formado
por membros da antiga Arena, profundamente ligada ao regime militar, de cara a
mudança de marca não agradou os grandes nomes do partido, mas acabou sendo
aceita.
Hoje,
o DEM é o segundo maior aliado do governo Temer, atrás apenas do PSDB. Ainda
como PFL, foi importante aliado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso
(PSDB-SP). É do DEM um dos nomes em evidência com o aprofundamento da crise e o
avanço das denúncias contra Michel Temer: Rodrigo Maia (RJ), presidente da
Câmara dos Deputados.
E
a ideia de tirar o "partido" do nome atraiu também novas legendas,
como a Rede Sustentabilidade, ou somente Rede. O TSE aprovou o registro da
agremiação idealizada pela ex-ministra e ex-senadora Marina Silva em setembro
de 2015.
Os
fundadores da Rede tentaram obter o registro em 2013 para lançar Marina
candidata à Presidência, mas tiveram o pedido negado por falta do apoio mínimo
necessário na ocasião. A Rede apresentou 442 mil assinaturas de eleitores
validadas pelos cartórios eleitorais, mas a lei exigia 492 mil, 0,5% dos votos
dados para os deputados federais nas eleições de 2010.
A
ex-senadora acabou disputando a eleição presidencial porque se filiou ao PSB e
integrou, como vice, a chapa encabeçada pelo ex-governador Eduardo Campos. Ela
se tornou candidata a presidente após a morte de Campos em um acidente aéreo e
obteve 22,1 milhões de votos, ficando no terceiro lugar, atrás de Dilma
Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB).
Em
seu site, a Rede não se autodenomina um partido político. “A Rede
Sustentabilidade é fruto de um movimento aberto, autônomo e suprapartidário que
reúne brasileiros decididos a reinventar o futuro do país. É uma associação de
cidadãos e cidadãs dispostos a contribuir de forma voluntária e colaborativa
para aprofundar a democracia no Brasil e superar o monopólio partidário da
representação política institucional.”
O
mesmo foi feito pelo Solidariedade, que obteve seu registro em setembro de 2013
e também se autodenomina como um “movimento”, e não um partido. Seu principal
nome, o deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, veio do
PDT onde ficou por dez anos.
Em
junho deste ano, Paulinho da Força perdeu seus direitos políticos por cinco anos
após ser condenado por improbidade administrativa ao contratar uma fundação sem
licitação e com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador, quando era
presidente da Força Sindical (1999-2000).
Volta do MDB?
Não
há pedido no TSE ou sequer uma aprovação interna, mas até o grande atual
protagonista da política nacional, o PMDB, quer se rebatizar. O senador Romero
Jucá (RR), líder do governo no Senado, apresentou uma proposta para o partido
voltar a se chamar MDB, sigla que dava nome ao partido nos tempos em que ele se
posicionava contra a ditadura militar.
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Movimento a favor do impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff foram marcados por uma forte negação política como meio viável para atender as demandas do eleitor. Foto; Tânia Rêgo/ Agência Brasil. |
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