![]() |
Chris Buck/Oprah Magazine/Reprodução. |
A
forma como as pessoas são retratadas na cultura influencia enormemente como
vemos o mundo e tem um grande potencial de promover mudanças na sociedade.
Em
agosto de 2016, fiz uma provocação em forma de editorial de moda feminina com
imagens retratando um ambiente aristocrático, com negras representando pessoas
da elite e brancas uniformizadas como empregadas – uma delas, a princesa Paola
de Orleans e Bragança, descendente da família real brasileira. Essas imagens
receberam milhares de comentários racistas de brancos e de negros. Uma
característica da cultura brasileira: enquanto os brasileiros acreditam na
igualdade da democracia racial, no dia a dia essa crença é desmontada com
facilidade.
Por
Alexandra Loras, no CEERT - Por isso, é importante elevar a consciência humana
sobre a importância da representatividade. Não se trata de apontar o dedo ou
praticar revanchismo, mas de promover a empatia e a compaixão para tentar
entender o desafio de crescer numa narrativa eurocêntrica não sendo branco.
Por
isso, proponho olhar de um ângulo diferente o absurdo da propaganda ocidental,
que coloca o ariano num grau superior sabendo que existem apenas 3% de loiros
adultos no mundo. É chegada a hora de rever nosso erro de promover a eugenia
usada no regime nazista há 70 anos.
Para
um artigo intitulado “Vamos Falar sobre Raça”, o fotógrafo e roteirista
americano Chris Buck tirou três fotos invertendo os papéis de mulheres de
diferentes etnias. As imagens foram utilizadas para ilustrar a edição de maio
da revista The Oprah Magazine. Em uma delas, em um salão de beleza, mulheres
brancas fazem as unhas dos pés de um grupo de asiáticas.
![]() |
Chris Buck/Oprah Magazine/Reprodução. |
Em
outra, uma menina loira parece indecisa e sem opção na hora de comprar uma
boneca, pois todas nas prateleiras da loja representam meninas negras. Na
terceira, uma mulher branca de uniforme serve chá para sua patroa latina, que
não parece sequer notar sua presença. Esse trabalho de Buck foi essencial para
estimular um diálogo sobre raça, justiça social e poder entre as mulheres.
Há
uma série de interpretações nesses cliques que mostram como pessoas de
diferentes raças percebem o mundo de forma variada. É importante observar que a
melhor maneira de manter privilégios e, consequentemente, desigualdades – e a
violência que delas decorre –, é negar que eles existem. A pessoa branca é
criada para entender sua cor de pele como padrão e a de outras etnias como
diferente, o que só incentiva a formação de um sistema racista e opressor.
A
iniciativa de Buck e da revista tem um valor particular: embora seja um homem
branco, ele parece sensibilizado com a falta de representatividade que deixa
muitas mulheres de outras etnias desconfortáveis ao assumir papéis de poder,
como se não merecessem de fato ocupar essas posições. Segundo o fotógrafo, falar
com os amigos negros, ouvi-los contar suas histórias e experiências fez parte
do trabalho. “Mesmo que as imagens sejam sobre um diálogo, sei que, como uma
pessoa branca, eu deveria ouvir mais do que falar”, afirma ele.
“A revista procura, assim, aprofundar a
conversa sobre o papel que cada um de nós desempenha na narrativa racial dos
Estados Unidos”, comentou ele. E o que se viu foi um debate acalorado nas
redes sociais. A forma como as pessoas são retratadas na arte e no
entretenimento influencia enormemente como vemos o mundo e tem um grande
potencial de promover mudanças significativas na sociedade.
Como
mulher negra, sou diretamente afetada pela falta de representatividade na mídia
e sinto os efeitos que isso tem na formação da identidade e autoestima de
afrodescendentes. Essas imagens impactantes trazem à tona várias questões que
merecem ser discutidas, encorajando um diálogo honesto sobre raça e gênero.
Precisamos incentivar as pessoas a desafiar os pressupostos de raça e
considerar o subtexto repleto de situações cotidianas.
![]() |
Chris Buck/Oprah Magazine/Reprodução. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ao comentar, você exerce seu papel de cidadão e contribui de forma efetiva na sua autodefinição enquanto ser pensante. Agradecemos a sua participação. Forte Abraço!!!