A
audiência pública realizada na manhã de hoje (3) na Câmara dos Deputados para
discussão da reforma política enfatizou a polêmica existente em torno do
financiamento de campanha e sistemas eleitorais. Deputados e analistas
políticos debateram as propostas
avaliadas pela comissão especial criada para analisar as Propostas de
Emenda Constitucional (PECs) 344/13, 352/13 e o Projeto de Lei (PL) 6.316/13,
enviado ao Congresso por entidades da sociedade civil.
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Marcelo Castro: metade dos deputados seria eleita pelo sistema majoritário distrital e metade pelo sistema proporcional. |
O
relator da comissão, deputado Marcelo Castro (PMDB-PI), defendeu o
aproveitamento de modelos bem-sucedidos em vários países, deixando de lado
sugestões brasileiras. “A ideia de se
inventar no Brasil um sistema eleitoral novo pode ou não dar certo. Essa história
de sistema político genuinamente brasileiro nunca funcionou. Por isso, acho
mais prático implementarmos uma experiência que já seja bem-sucedida”,
destacou.
Para
Castro, o ideal deveria ser a combinação do sistema majoritário distrital (no
qual é instituído o voto distrital e o candidato mais votado é eleito em cada
distrito eleitoral) e proporcional de lista fechada (no qual o eleitor vota no
partido). Ele defendeu que seja
observado o exemplo da Alemanha, país que conjugou os dois formatos. E acentuou
que, “com a combinação, os sistemas se
compensam”.
O
relator foi apoiado pelo professor da Faculdade de Direito da Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) Renato Beneduzi. “Sistemas puros são arriscados”, frisou
Beneduzi, ao sugerir um equilíbrio entre diferentes modelos. Ele foi rebatido
pelo deputado Pedro Fernandes (PTB-MA), para quem é necessário aperfeiçoar o
sistema eleitoral brasileiro – e não, importar o de outro país.
Um
dos mais críticos a esta ideia de adoção de um modelo externo foi o deputado
Milton Monti (PR-SP). “Temos que perder a
síndrome de terceiromundista. Por que tudo que é feito lá fora é melhor do que
aqui? O Brasil pode, sim, inventar um sistema eleitoral próprio com ousadia,
responsabilidade e a visão clara das nossas características”, ressaltou.
Financiamento de campanha
Bernaduzi
também abordou o modelo de financiamento de campanha observado na Alemanha e na
Inglaterra, onde, segundo ele, existe uma combinação de financiamentos públicos
e privados, com algumas restrições para o financiamento de empresas. “São duas condições: uma é a transparência
total, com divulgação de relatórios periódicos das doações, e a outra, a
restrição de doação feita por determinadas empresas, como as que possuem
capital do Estado”, informou. A intenção nos dois países, de acordo com
ele, é evitar um sistema exclusivamente privado ou exclusivamente público de
doações.
O
deputado Rubens Otoni (PT-GO) disse que é preciso levar em conta um projeto de
fortalecimento às democracias representativas. E, para isso, é importante
buscar modelos inovadores e elementos de democracia direta, como plebiscitos e
referendos.
Em
outra discussão, sobre a sub-representação das minorias, o professor foi
questionado pela deputada Raquel Muniz (PSC-MG), sobre como o tema é tratado em
outros países. Bernaduzi disse que o método mais eficiente para a inclusão de
mulheres na política seria um sistema eleitoral proporcional, com listas
fechadas de candidatos. Isso porque, dessa forma, seria criado um constrangimento
para os partidos ao deixarem as mulheres de fora ou em último lugar em tais
listas. Ele afirmou que na Alemanha, onde existe um sistema misto, a
representação feminina no parlamento tem funcionado bem.
‘Minorias são maioria’
O
deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA) criticou o fato de no Brasil as minorias
serem “larga maioria”. “A reforma política precisa se debruçar sobre
isso e tratar o tema”, disse. De acordo com Almeida, nenhum dos sistemas
eleitorais clássicos satisfazem o critério de avançar na participação das
minorias.
Embora
não tenha levado a conclusões sobre o tema, o debate foi considerado importante
para a discussão de um modelo que possa vir a ser adotado na proposta de
reforma em discussão no Congresso. E deverá ter continuidade com a presença de
vários representantes da academia e entidades representativas da sociedade
civil nos próximos meses. O próximo ocorre nesta tarde com a segunda audiência
pública do dia, da qual participam representantes da Ordem dos Advogados do
Brasil e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
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