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As recentes e constantes bravatas do presidente e de seus aliados sobre a suposta fragilidade das urnas eletrônicas são uma representação disso - Alan Santos/PR |
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As recentes e constantes bravatas do presidente e de seus aliados sobre a suposta fragilidade das urnas eletrônicas são uma representação disso - Alan Santos/PR |
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Governadora Izolda Cela anuncia concurso para professores de escolas indígenas, no Ceará. (FOTO |Reprodução). |
Um concurso público para a seleção de 200 professores que vão trabalhar em escolas indígenas foi anunciado, nesta terça-feira (17), pela governadora do Ceará, Izolda Cela. As vagas vão ser distribuídas entre ensino fundamental e médio e os professores também vão ser indígenas.
Izolda explicou que a seleção pretende beneficiar 29 escolas indígenas de 13 etnias presentes no estado. O concurso vai ter três etapas: prova escrita, prática e análise de títulos.
"As vagas serão tanto para o ensino fundamental, nos anos iniciais, portanto, para professor polivalente, como também para áreas de conhecimento, que os anos finais já exigem, assim como o ensino médio", comentou Izolda.
A secretária de Educação do Ceará, Eliana Estrela, também esteve presente no evento do anúncio. Ela afirmou que a Seduc pretende impor celeridade ao processo. “Nós vamos botar a mão na massa para que em nenhum momento pare esse processo, para que todo mundo possa estar muito empenhado”, disse a secretária.
Cristina Pitaguary, coordenadora da Organização dos Professores Indígenas do Ceará (Oprice), também comentou a seleção. É um momento histórico, que a gente já espera há 30 anos. Sabemos que nossa classe de professores indígenas já está com quase 700 professores, e vamos ter esse concurso com 200 vagas, mas mesmo assim, é uma felicidade para a gente. É uma porta que está abrindo para que aconteçam outros.
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Com informações do G1 CE.
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Alexandre Lucas. (FOTO |Acervo pessoal). |
Por Alexandre Lucas, Colunista
Vá
se lascar! Essas foram suas últimas palavras, bateu forte o portão e entrou
movida pela ira do momento. As esperanças parecem que se findaram naquele
instante. Todos os momentos carregados do era para sempre se despedaçaram, se
lascaram mesmo.
Depois
daquele dia não fez mais bolo de cenoura com cobertura de chocolate, uma
delícia para apaixonar os corações mais amargos. O café de fim de tarde aos
sábados, os curtos passeios de bicicleta e as pinturas das subjetividades da
vida com têmpera sobre papel foram encaixotadas para as profundezas do vá se
lascar.
O
tempo passou e o vá se lascar ganhava mais sentido, a respiração recebia o
contorno de tranquilidade e o ar parecia pintado de liberdade com as cores mais
fortes. Tudo indicava que foi libertador, aquela ação intempestiva.
Como
todas as cartas de amor são ridículas, com atesta Campos, de Pessoa, vá se
lascar, são como todas as cartas de amor.
Nos dias mais cinzentos, em que o coração pede socorro e a saudade bate, a vagareza se instala, é possível notar a roseira encarnada e ponteada de espinhos, os olhos se fazem cacimba e ela sempre esquece do vá se lascar.
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Chimamanda Ngozi. (FOTO |Reprodução). |
A
escritora é mãe de uma menina, também falou sobre feminismo: ‘Vou ter que
ensiná-la que raça não a define. E também sobre as pessoas que são racistas,
que isso é problema delas’.
A
escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, que tem livros traduzidos em mais
de 30 idiomas e se tornou um ícone contemporâneo, veio ao Brasil neste fim de
semana e falou para três mil pessoas no “Ler – Festival do Leitor”, no Rio de
Janeiro.
Aos
43 anos de idade, ela já foi parar em coleção de moda, estampando camisetas e bolsas.
E também na música “Flawless”, de Beyoncé, que reproduziu trechos de uma das
palestras mais famosas da escritora.
Ela
carrega o poder da palavra que arrasta multidões. Para se ter uma ideia, os
três mil ingressos disponíveis para o evento no Rio acabaram em 45 minutos.
“Estou
muito feliz em estar aqui. Sinto uma conexão com o Brasil e gostaria de falar
português, o português brasileiro”, afirma Chimamanda.
Quando
tinha 19 anos, ela desembarcou nos Estados Unidos, onde se formou em Ciências
Políticas e Comunicação. Foi aí que ela se descobriu negra.
Esta é a segunda vez que Chimamanda vem
ao Brasil
Na
primeira visita, em 2008, a escritora ficou surpresa com a ausência de negros
em espaço de poder. Ela acredita que o Brasil é uma Nigéria, só que com estradas
melhores.
“Eu me lembro de ter ficado impressionada com
a ausência de pessoas negras. Então disse para as pessoas ao meu redor: ‘Onde
estão os negros?’. Acho que é algo que deveria mudar só porque se você vive em
uma democracia, a ideia de democracia é que todos devem ser representados”,
diz.
O
combate ao racismo e ao machismo também é destaque no livro “Para Educar
Crianças Feministas”, escrito em formato de uma carta de Chimamanda para uma
amiga que acabou de se tornar mãe de uma menina. Trata-se de um guia que traz
conselhos simples e precisos de como oferecer uma formação igualitária a todas
as crianças.
“A
gente sabe que os homens, enquanto grupo, têm poder. Mas acho que, como
indivíduos, esse patriarcado em que vivemos também é ruim para eles. Os meninos
crescem e se tornam homens que não têm nenhuma conexão real com seus “eus”
emocionais. É ruim para todos”, afirma.
O
guia foi escrito antes de Chimamanda se tornar mãe de uma menina.
“Minha filha tem apenas 6 anos, mas é uma
menininha muito feroz. Ela tem as opiniões dela, sabe quem é e eu sou muito
grata”.
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Com informações da Revista Raça.
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Segundo colunista, Caetano deve manifestar apoio a Lula. Ex-chanceler tucano defende "salvar o Brasil da tragédia Bolsonaro". Uns Produções (Divulgação)/Marcelo Camargo (ABr) |
“O segundo turno já começou e eu não só voto
no Lula como vou fazer campanha para ele no primeiro turno.” A declaração é
do ex-chanceler Aloysio Nunes Ferreira, um dos mais enraizados tucanos do
estado de São Paulo, berço do PSDB. “Não
existe essa terceira via; só existem duas: a da democracia e do fascismo. Se
quisermos salvar o Brasil da tragédia de Bolsonaro, teremos de discutir o que
vamos fazer juntos”, continuou o ex-ministro do governo Michel Temer à
jornalista Vera Rosa, do jornal O Estado de S. Paulo, nesta sexta-feira (13). A
fala do tucano ocorre no mesmo dia em que o compositor Caetano Veloso, eleitor
de Ciro Gomes em 2018, visita Lula para declarar apoio ao ex-presidente este
ano.
Em
fevereiro, ao mesmo jornal, Nunes já havia sinalizado para esse desfecho, ao
afirmar que a aproximação do ex-governador Geraldo Alckmin de Lula “é um movimento correto do ponto de vista
político, tanto da parte do Alckmin quanto do Lula”.
Em
outra frente, a da cultura, a adesão de Caetano, que também já havia sido
sinalizada em outras manifestações do artista, será celebrada em São Paulo, no
apartamento de Lula. A informação é do jornalista da GloboNews Gerson
Camarotti. Segundo ele, o encontro foi articulado pelo senador Randolfe
Rodrigues (Rede-AP), que abandonou a disputa pelo governo do Amapá para ser um
dos coordenadores da campanha do petista.
Chico
Buarque, Martinho da Vila, Zélia Duncan, Chico César, Marieta Severo, Bruna
Gonçalves, Paulinho da Viola, Antonio Pitanga e muitos outros estão no barco de
Lula, a quem o apoio do setor cultural é virtualmente unânime.
Símbolo
do samba, Zeca Pagodinho já se reuniu com Lula no Rio de Janeiro, junto de
outros artistas. No final de abril, ele afirmou, inclusive, que pode deixar o
país. “Eu não quero ir embora daqui, mas,
do jeito que está, eu penso em ir embora”, declarou ao portal UOL.
Na cultura, repulsa a Bolsonaro
Jair
Bolsonaro provoca repulsa no meio cultural. Sua perseguição a artistas,
produtores e entidades é permanente e revela não apenas ódio, mas perversidade.
Seu último gesto, por exemplo, em relação ao setor, foi vetar as leis Paulo
Gustavo e Aldir Blanc, que permitiriam o repasse de R$ 3,8 bilhões e R$ 3
bilhões, respectivamente, para fomentar uma das atividades mais devastadas pela
pandemia de covid-19.
Antes
mesmo de assumir mandato, o atual chefe de governo já anunciava a extinção do
Ministério da Cultura, medida que defendera ainda como pré-candidato à
Presidência em 2018. Em evento em março daquele ano prometeu acabar com o Minc
e defendeu uma de suas bandeiras da morte: “A
arma, mais que a defesa da vida, é a garantia da nossa liberdade”.
“Visão de mundo”
Na
área política, outro nome de peso a declarar apoio a ao ex-presidente nesta sexta
foi o vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marcelo Ramos (PSD-AM), em
artigo na Folha de S. Paulo nesta sexta. Depois de elencar alguns projetos em
relação aos quais discorda da visão de Lula e do PT (reforma trabalhista,
independência do Banco Central e capitalização da Eletrobras), o deputado
esclareceu.
“A visão de mundo do ex-presidente Lula e a
minha são diferentes, sobretudo em relação à economia. Muitas de nossas
posições são antagônicas nesse campo tão essencial. Mas concordamos em algo ainda
maior: a democracia. E é por isso que estarei com Lula nesta eleição”,
escreveu o parlamentar, que deixou o PL quando Bolsonaro entrou para a legenda.
Da
seara tucana, os ex-senadores José Aníbal e Arthur Virgílio também podem apoiar
Lula, até por discordar dos rumos seguidos pelo PSDB a partir da ascensão de
João Doria, cuja campanha à Presidência da República é um fracasso.
_________
Com informações da RBA.
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Sítio Taboquinha em Altaneira. (FOTO/ Orlando Vieira). |
Por José Nicolau, editor
Um
novo mapeamento geográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
faz com que o município de Altaneira, no cariri cearense, tenha sua área
territorial reduzida.
A
informação foi externada pelo prefeito Dariomar Rodrigues (PT) durante sessão
da Câmara realizada no último dia 04 de maio e divulgada tanto no site da casa
como também no Blog de Altaneira. Ao apresentar imagens, o gestor destacou que
os sítios Poças, Córrego, Taboquinha e Tabuleiro já não fariam mais parte do
município. Ele frisou que as comunidades mencionadas já são assistidas por
Altaneira e que pretende lutar por elas, já que “integram nossa história e cultura altaneirense”.
Altaneira faz divisa com os municípios de Assaré, Nova Olinda, Santana do Cariri e Farias Brito que podem ser beneficiados com esse novo limite territorial.
A população de Altaneira de acordo com a estimativa do IBGE em 2021 é de 7.712 habitantes.
A
nível de Estado, o Ceará também corre risco de ficar despossuído de algumas
cidades para o Piauí. Ao todo, são 13 que fica na Serra da Ibiapaba.
Sobre a possibilidade de Altaneira
perder territórios:
1 -
Os limites realmente precisam ser rediscutidos e redefinidos sim, haja vista
estarem defasado e não corresponderem de fato a realidade da população que
ocupa esses espaços;
2 -
Por consequência do primeiro item, as populações dos territórios em análise se
deslocam para a cidade de Altaneira para as tarefas básicas, como por exemplo,
compras de alimentos e vestimentas; serviços de saúde e acesso à educação.
3 -
Por tudo isso e por terem construído um sentimento de pertencimento ao lugar, é
crucial realizar encontros por setor e mobilizar as pessoas desses espaços para
que cientes da situação, lutem. Algumas estratégias podem ser usadas, como por
exemplo, a realização de abaixo-assinado para entregar aos órgãos competentes e
manifestações de ruas.
4 - Altaneira precisa ganhar territórios e não perder.
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Ex-presidente tem larga vantagem em relação a Bolsonaro; na foto, Lula em evento com sindicalistas, em São Paulo - Ricardo Stuckert. |
A
divulgação de novas pesquisas eleitorais não trouxe novas tendências para a
disputa presidencial de outubro. Foram publicados quatro levantamentos de
terça-feira (10) até a última sexta-feira (13). Os estudos apontam
estabilidade, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com larga
vantagem na liderança, seguido pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).
CNT/MDA: ecos da desistência de Sergio
Moro
A
primeira delas, divulgada na terça-feira (10), encomendada pela Confederação
Nacional do Transporte (CNT) ao Instituto MDA, mostrou que Lula obteve 40,6%
das intenções voto na corrida presidencial das eleições de outubro. Bolsonaro
apareceu com 32%. O levantamento foi o primeiro feito pela CNT/MDA depois que o
ex-juiz Sergio Moro (União Brasil) desistiu da pré-candidatura à Presidência da
República. O anterior foi divulgado em fevereiro.
Os
números confirmam que Bolsonaro herdou um percentual de intenções de voto que
estavam direcionados a seu ex-ministro da Justiça. O crescimento de Bolsonaro
de dois a quatro pontos percentuais já havia sido captado por outras empresas
de pesquisa a partir do final de março, quando Moro abriu mão de concorrer ao
pleito e saiu do Podemos.
Desde
o final de abril, porém, outros levantamentos mostraram que o fôlego de
Bolsonaro com a saída do ex-juiz da Lava Jato não durou muito. Estudos que são
mais frequentes, divulgados a cada 15 dias, como PoderData e Ipespe, apontaram
estabilidade de Lula e a interrupção do crescimento do atual presidente.
Quaest: vitória em primeiro turno é
possível
O
segundo estudo da semana foi feito pela Quaest, encomendado pela corretora
Genial Investimentos, e divulgado na quarta-feira (11). O levantamento mostrou
Lula com grandes chances de vitória no primeiro turno das eleições
presidenciais.
Com
46% das intenções de voto, Lula teve mais votos que todos os outros candidatos
somados (44%), o que garantiria a vitória no pleito ainda no primeiro turno. No
entanto, considerando a margem de erro de 2 pontos para mais ou para menos, o
cenário ainda está longe de uma definição. A pontuação em votos totais
garantiria a Lula um patamar de 51,1% dos votos válidos.
O
petista oscilou positivamente em 1 ponto percentual. Seu principal oponente,
Bolsonaro, não teve alterações na pontuação e se manteve como segundo colocado,
com 29%. Nas duas pesquisas anteriores (março e abril), o atual presidente
havia ganhado 3 e 5 pontos percentuais, respectivamente.
PoderData: distância entre Lula e
Bolsonaro volta a crescer
A pesquisa PoderData, divulgada também na quarta-feira (11), mostrou que Jair Bolsonaro parou de evoluir e que a distância que o separa de Lula ficou estável nos últimos 15 dias. Lula seguiu na liderança com 42% das intenções de voto na simulação de 1º turno que inclui uma lista de todos os pré-candidatos já anunciados. Bolsonaro apareceu com 35%.
A
distância entre os pré-candidatos oscilou para 7 pontos percentuais. Nas
rodadas de 24 a 26 de abril e de 10 a 12 de abril, essa diferença se manteve em
5 pontos.
XP/Ipespe: estabilidade é a tônica da
semana
Uma
nova pesquisa da Ipespe, encomendada pela corretora XP Investimentos, divulgada
nesta sexta-feira (13), mostrou Lula na liderança da corrida pelo Palácio do
Planalto. Clique aqui para fazer o download da íntegra.
Com
44% das intenções de voto, Lula teve dois pontos percentuais a menos do que
todos os outros candidatos somados (46%). Considerando a margem de erro de 3,2
pontos para mais ou para menos, o petista segue com chance de vitória no
primeiro turno. Para isso, precisa superar numericamente os votos de todos os
oponentes.
Lula
manteve o mesmo percentual da pesquisa anterior, publicada há 15 dias. Enquanto
isso, Bolsonaro oscilou positivamente em 1 ponto percentual e chegou a 32%. O
levantamento confirma pesquisas divulgadas por outras empresas nos últimos
dias, apontando que a redução de vantagem entre os dois, motivada pela saída de
Sergio Moro (União Brasil) da disputa, foi interrompida.
Análises
No
Twitter, o cientista político Antônio Lavareda fez uma análise sobre a nova
edição da pesquisa. Segundo ele, o cenário da corrida pelo Palácio do Planalto
é de "engessamento", já que o percentual de eleitores que já
definiram os seus votos é muito superior ao que costuma ocorrer nas eleições
anteriores.
O
responsável técnico pela pesquisa Quaest, Felipe Nunes, também publicou uma
análise, em sua conta no Twitter, explorando o detalhamento do levantamento
para explicar as motivações na baixa variação da pontuação dos candidatos
presidenciais.
__________
Com informações do Brasil de Fato.
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População preta é a maior vítima da violência e da desigualdade no Brasil - ©Nelson Almeida/AFP |
Às vésperas da uma eleição com potência para definir o futuro do país, inclusive em longo prazo, o professor e ativista contra o racismo, Helio Santos, é enfático: “A desigualdade no Brasil é uma decisão política e perpassa todos os governos.”
Santos tem propriedade para a defesa dessa percepção. Militante desde a década de 1970, é pioneiro na participação em ações, políticas e movimentos para correção histórica das consequências do preconceito. Hoje, preside o Conselho Deliberativo da Oxfam Brasil.
Em entrevista ao Brasil de Fato, ele falou sobre o processo de desmistificação e ressignificação do 13 de maio, Dia da Abolição da Escravatura. O debate não é novo, mas ganha contornos urgentes no governo conservador de Jair Bolsonaro (PL), afeito a celebrações que reforçam os tentáculos do colonialismo.
“O dia 14 de maio de 1888 é o dia mais longo
da nossa história, porque nos atinge hoje nas ruas, nas esquinas, nas cadeias e
nas 6,5 mil favelas que se tem no Brasil”, ressalta o professor.
Na
conversa, ele também foi veemente ao afirmar que a pauta racial precisa
alcançar a esfera política de maneira definitiva, principalmente na
representatividade. Para Helio Santos, as eleições deste ano serão permeadas
por esse debate de uma maneira ainda inédita no Brasil.
A
entrevista foi realizada no mesmo dia em que a Coalizão Negra por Direitos, por
meio de partidos políticos, protocolou uma ação no Supremo Tribunal Federal
(STF) pedindo o reconhecimento pelo Estado do genocídio da população negra no
país.
Assinada
por PT Psol, PSB, PCdoB e Rede, a arguição de descumprimento de preceito
fundamental defende que direitos constitucionais não foram cumpridos. Ela pede
que sejam reconhecidas e sanadas as graves lesões praticadas pelo Estado
brasileiro ao povo preto
Confira
abaixo os principais pontos da entrevista e ouça a íntegra no tocador de áudio abaixo
do título desta matéria.
Olhar crítico sobre a abolição
“Até 1930, o 13 de maio era um feriado. A
partir de 1930 deixou de ser, porque não há o que comemorar. Nós tivemos aqui
no Brasil a escravidão mais longa do mundo, 354 anos. Dois lacônicos artigos
dão por terminado esse período, sem nenhuma iniciativa que buscasse incluir e
valorizar aquelas pessoas.
O 13 de maio foi um grande golpe. Um ano
e meio depois, o Brasil edita um decreto a favor da imigração europeia. Um ano
e meio depois, foi editada a lei da vadiagem. Vadio era quem não tinha emprego
e desempregado crônico é o negro.
Eu gosto de falar muito do dia seguinte.
O dia 14 de maio de 1888 é o dia mais longo da nossa história, porque nos
atinge, hoje, nas ruas, nas esquinas, nas cadeias e nas 6,5 mil favelas que se
tem no Brasil. O Brasil não é um país desigual, é o país mais desigual do
mundo.
Durante muito tempo, nós estivemos entre
os 10 mais ricos pelo PIB e entre os 10 mais desiguais. Veja que assimetria
bizarra. O resultado do que o país se tornou tem a ver com a questão racial.
Portanto, a questão racial do Brasil é estratégica, e mais, ela nunca foi
tratada por ninguém na sua justa dimensão.”
Avanço ainda é insuficiente
“É importante reconhecer que políticas foram
conquistadas pelo movimento social negro. É inegável que a roda do racismo
girou, não no ritmo e na velocidade que nós gostaríamos, mas é inegável que
aconteceram mudanças. Hoje, é possível discutir uma política antirracista.
Em 1984 foi criado o Conselho Negro de
São Paulo. Nós estávamos redemocratizando o país. Ou seja, houve todo um
silêncio de 96 anos. Uma iniciativa tímida foi a primeira iniciativa do Estado
brasileiro após a abolição. Depois criamos ações afirmativas, aqui apelidadas
de cotas, que mudaram as universidades.
Hoje, temos inclusive o mundo
corporativo, que foi o último a ceder, procurando avançar nessa área. A mídia
também mudou muito. Mas o Brasil é um país de maioria feminina e de maioria
negra governado por homens brancos.
Esse descompasso é uma das causas de o
Brasil ser o que é. Quem tem dúvida de que a nossa democracia ainda é muito
tímida, é só verificar que não há essa correspondência.”
Eleições antirracistas
“Eu sou um otimista e acho que, este ano, nós
vamos discutir o voto antirracista. O voto antirracista não é só o voto do
negro. Quem é antirracista e não é negro deve votar sim em candidatos negros.
Nós temos um elenco de candidatas e candidatos negros extraordinariamente
habilitados. Pessoas que já estão fazendo coisas sem ter um mandato.
Nós temos também que discutir com as
candidaturas majoritárias. São 27 governadores, que comandam a polícia e o
ensino fundamental. Educação e segurança são dois setores fundamentais para a
população negra.
Nós temos que discutir com os candidatos
à presidência da República esses temas. Quem postula esse emprego tem que
entender que o Brasil é, precisamente, esse país inconcluso.”
A desigualdade como política
“Antes de falar de representatividade, não
podemos esquecer de algo que a pandemia escancarou, 40 milhões de trabalhadores
informais. Esse é o resultado do 14 de maio.
Por isso, quando alguém oferece emprego
com salários baixíssimos, você tem uma fila interminável de pessoas dispostas a
oferecer seu trabalho. É resultado do dia seguinte.
Essa falta de planejamento não é, na
minha opinião, neutra. Na minha opinião, a desigualdade no Brasil é uma decisão
política e, algo mais grave, perpassa todos os governos.
Evidentemente que tivemos governos mais
sensíveis e reconheceram essas dificuldades. Mas quero reiterar aqui, nenhum
desses governos deu à questão racial a sua justa dimensão.”
Subcidadania
“As famílias vulneráveis são,
majoritariamente, dirigidas por mulheres negras. A subcidadania tem cor e tem
sexo. Portanto, qualquer política que queira pensar em uma democratização
substantiva do Brasil tem que ter esse foco.
É uma questão de foco e de decisão
política. Nós vivemos um momento único. O país, na minha avaliação, não resiste
mais a quatro anos de um governo como o que temos agora.
Temos uma parcela significativa da
população vivendo em insegurança alimentar e 10% passando fome. Evidentemente
que a esmagadora maioria dessa população é negra.”
Desperdício de talentos
“Os biólogos ensinam que, quando você não
respeita a diversidade, uma floresta pode perecer, uma lagoa pode apodrecer.
Quando você translada esse conceito para a sociedade humana, acontece o mesmo.
Aqui no Brasil, a antropologia oficial
tece louros à imigração europeia. A maior migração asiática veio para o Brasil
com os japoneses. Tínhamos aqui 1,5 mil etnias indígenas e raptamos da África
vários grupos. Esse grupo formidável, essa diversidade consta da antropologia
oficial, mas esses talentos não são aproveitados.
No entanto, eu, como professor ainda
tenho que ouvir o discurso da meritocracia. É evidente que não se pode falar em
mérito.
Não pode acontecer o que temos hoje, 11
milhões de nem nem, os jovens que não estudam e nem trabalham. Na verdade são os
sem sem, sem oportunidades. Esse país gigante precisa de estadistas que possam
pensar no tamanho dos nossos problemas.”
Para onde e como ir
“Não me falem que essa pauta é identitária. É
uma questão de metodologia. É preciso identificar os grupos vulnerabilizados
para pensar em políticas públicas.
Quando eu falo em 11 milhões de jovens
que não estudam e nem trabalham, isso não é uma identidade. É uma metodologia
geracional em que se identifica para onde a política tem que ser encaminhada.”
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Com informações do Brasil de Fato.