19 de maio de 2022

Como funciona a máquina de fake news da direita nas eleições 2022?

 

As recentes e constantes bravatas do presidente e de seus aliados sobre a suposta fragilidade das urnas eletrônicas são uma representação disso - Alan Santos/PR

Se no ano eleitoral de 2018, as mensagens falsas que mais circulavam nas redes sociais estavam de alguma forma relacionadas aos próprios candidatos, agora o padrão são desinformações que visam lançar dúvidas sobre o processo eleitoral em si, segundo especialistas ouvidas pelo Brasil de Fato. As recentes e constantes bravatas do presidente Jair Bolsonaro (PL) e de seus aliados sobre a suposta fragilidade das urnas eletrônicas são exemplos dessa mudança. 

Não à toa, a pauta também é “dominante” nos grupos de extrema direita nas profudezas do Telegram. “Nessas plataformas mais subterrâneas, como o Telegram, é dominância total da extrema direita. E os [assuntos] mais compartilhados, as pautas e as narrativas que se sobressaem no conjunto dos grupos e canais que a gente analisa, tem a ver não necessariamente com alegação direta de fraude nas urnas, mas com a deslegitimação da institucionalidade que garante o resultado da eleição”, diz Letícia Cesarino, professora no Departamento de Antropologia e no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

No mais recente ato, o capitão reformado afirmou que o Partido Liberal, do qual faz parte, irá contratar uma empresa privada para fazer auditoria nas eleições. "A empresa vai pedir ao TSE algumas informações. O que pode acontecer? Essa empresa que faz auditoria no mundo todo, empresa de ponta, pode chegar à conclusão que, dada a documentação que se tem na mão, ela pode falar que não foi auditável. Olha a que ponto vamos chegar”, afirmou Bolsonaro. 

“Isso sempre esteve colocado, mas nesse ano a pauta ganhou corpo”, afirma Letícia Cesarino. “No 7 de setembro, por exemplo, uma pauta que ganhou proeminência foi o passaporte sanitário, mas numa espécie de crossover com a pauta de fraude nas urnas. Eram boatos de que pessoas não vacinadas seriam impedidas de votar. Então mesmo que não seja a pauta [naquele momento], o tema está circulando pelo menos desde setembro.” 

O movimento é parecido com o do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump. Antes mesmo de perder as eleições do ano passado para Joe Biden, o empresário apontou para uma suposta fraude eleitoral no pleito. “Em todo caso, nada importa porque as eleições na Califórnia estão totalmente manipuladas”, afirmou Trump, na época. Mesmo depois de derrotado, ele não reconheceu os resultados das urnas, estimulando sua base eleitoral a se rebelar, levando-os a invadir o Capitólio. 

Revelando verdades 

Segundo Cesarino, uma das características desses grupos da extrema direita que habitam os subterrâneos das redes sociais é a pretensão de revelar verdades que a imprensa e os opositores querem esconder. “O modo como eles se vendem, como produtores de conteúdo tem a ver com estar revelando verdades que a mídia esconde. E é assim que eles ganham fidelidade desses seguidores”, afirma a pesquisadora. 

Revelar a verdade também é o que o presidente Jair Bolsonaro diz fazer. Em julho do ano passado, por exemplo, ele prometeu apresentar provas de que teria ocorrido uma fraude no sistema eleitoral durante o pleito de 2018. Na época, disse que havia ganhado o pleito já no primeiro turno, contra o candidato do PT, Fernando Haddad. Logo depois, no entanto, a verdade revelada não passou de alegações antigas e falsas de que as urnas eletrônicas completaram o voto no número do PT à revelia da escolha dos eleitores.  
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O texto completo pode ser lido no Brasil de Fato.

18 de maio de 2022

Governadora do Ceará anuncia concurso para professores de escolas indígenas

 

Governadora Izolda Cela anuncia concurso para professores de escolas indígenas, no Ceará. (FOTO  |Reprodução).


Um concurso público para a seleção de 200 professores que vão trabalhar em escolas indígenas foi anunciado, nesta terça-feira (17), pela governadora do Ceará, Izolda Cela. As vagas vão ser distribuídas entre ensino fundamental e médio e os professores também vão ser indígenas.

Izolda explicou que a seleção pretende beneficiar 29 escolas indígenas de 13 etnias presentes no estado. O concurso vai ter três etapas: prova escrita, prática e análise de títulos.

"As vagas serão tanto para o ensino fundamental, nos anos iniciais, portanto, para professor polivalente, como também para áreas de conhecimento, que os anos finais já exigem, assim como o ensino médio", comentou Izolda.

A secretária de Educação do Ceará, Eliana Estrela, também esteve presente no evento do anúncio. Ela afirmou que a Seduc pretende impor celeridade ao processo. “Nós vamos botar a mão na massa para que em nenhum momento pare esse processo, para que todo mundo possa estar muito empenhado”, disse a secretária.

Cristina Pitaguary, coordenadora da Organização dos Professores Indígenas do Ceará (Oprice), também comentou a seleção. É um momento histórico, que a gente já espera há 30 anos. Sabemos que nossa classe de professores indígenas já está com quase 700 professores, e vamos ter esse concurso com 200 vagas, mas mesmo assim, é uma felicidade para a gente. É uma porta que está abrindo para que aconteçam outros.

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Com informações do G1 CE.

17 de maio de 2022

Quando o bolo acabou

 

Alexandre Lucas. (FOTO |Acervo pessoal).

Por Alexandre Lucas, Colunista

Vá se lascar! Essas foram suas últimas palavras, bateu forte o portão e entrou movida pela ira do momento. As esperanças parecem que se findaram naquele instante. Todos os momentos carregados do era para sempre se despedaçaram, se lascaram mesmo.

Depois daquele dia não fez mais bolo de cenoura com cobertura de chocolate, uma delícia para apaixonar os corações mais amargos. O café de fim de tarde aos sábados, os curtos passeios de bicicleta e as pinturas das subjetividades da vida com têmpera sobre papel foram encaixotadas para as profundezas do vá se lascar.

O tempo passou e o vá se lascar ganhava mais sentido, a respiração recebia o contorno de tranquilidade e o ar parecia pintado de liberdade com as cores mais fortes. Tudo indicava que foi libertador, aquela ação intempestiva.  

Como todas as cartas de amor são ridículas, com atesta Campos, de Pessoa, vá se lascar, são como todas as cartas de amor.

Nos dias mais cinzentos, em que o coração pede socorro e a saudade bate, a vagareza se instala,  é possível notar a roseira encarnada e ponteada de espinhos, os olhos se fazem cacimba e ela sempre esquece do vá se lascar.

16 de maio de 2022

Chimamanda Ngozi Adichie fala sobre racismo no Brasil

 

Chimamanda Ngozi. (FOTO |Reprodução).

A escritora é mãe de uma menina, também falou sobre feminismo: ‘Vou ter que ensiná-la que raça não a define. E também sobre as pessoas que são racistas, que isso é problema delas’.

A escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, que tem livros traduzidos em mais de 30 idiomas e se tornou um ícone contemporâneo, veio ao Brasil neste fim de semana e falou para três mil pessoas no “Ler – Festival do Leitor”, no Rio de Janeiro.

Aos 43 anos de idade, ela já foi parar em coleção de moda, estampando camisetas e bolsas. E também na música “Flawless”, de Beyoncé, que reproduziu trechos de uma das palestras mais famosas da escritora.

Ela carrega o poder da palavra que arrasta multidões. Para se ter uma ideia, os três mil ingressos disponíveis para o evento no Rio acabaram em 45 minutos.

Estou muito feliz em estar aqui. Sinto uma conexão com o Brasil e gostaria de falar português, o português brasileiro”, afirma Chimamanda.

Quando tinha 19 anos, ela desembarcou nos Estados Unidos, onde se formou em Ciências Políticas e Comunicação. Foi aí que ela se descobriu negra.

Esta é a segunda vez que Chimamanda vem ao Brasil

Na primeira visita, em 2008, a escritora ficou surpresa com a ausência de negros em espaço de poder. Ela acredita que o Brasil é uma Nigéria, só que com estradas melhores.

Eu me lembro de ter ficado impressionada com a ausência de pessoas negras. Então disse para as pessoas ao meu redor: ‘Onde estão os negros?’. Acho que é algo que deveria mudar só porque se você vive em uma democracia, a ideia de democracia é que todos devem ser representados”, diz.

O combate ao racismo e ao machismo também é destaque no livro “Para Educar Crianças Feministas”, escrito em formato de uma carta de Chimamanda para uma amiga que acabou de se tornar mãe de uma menina. Trata-se de um guia que traz conselhos simples e precisos de como oferecer uma formação igualitária a todas as crianças.

A gente sabe que os homens, enquanto grupo, têm poder. Mas acho que, como indivíduos, esse patriarcado em que vivemos também é ruim para eles. Os meninos crescem e se tornam homens que não têm nenhuma conexão real com seus “eus” emocionais. É ruim para todos”, afirma.

O guia foi escrito antes de Chimamanda se tornar mãe de uma menina.

Minha filha tem apenas 6 anos, mas é uma menininha muito feroz. Ela tem as opiniões dela, sabe quem é e eu sou muito grata”.

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Com informações da Revista Raça.

15 de maio de 2022

Caetano Veloso visita Lula para declarar apoio. ‘Segundo turno é agora’, diz Aloysio Nunes

 

Segundo colunista, Caetano deve manifestar apoio a Lula. Ex-chanceler tucano defende "salvar o Brasil da tragédia Bolsonaro". Uns Produções (Divulgação)/Marcelo Camargo (ABr)



O segundo turno já começou e eu não só voto no Lula como vou fazer campanha para ele no primeiro turno.” A declaração é do ex-chanceler Aloysio Nunes Ferreira, um dos mais enraizados tucanos do estado de São Paulo, berço do PSDB. “Não existe essa terceira via; só existem duas: a da democracia e do fascismo. Se quisermos salvar o Brasil da tragédia de Bolsonaro, teremos de discutir o que vamos fazer juntos”, continuou o ex-ministro do governo Michel Temer à jornalista Vera Rosa, do jornal O Estado de S. Paulo, nesta sexta-feira (13). A fala do tucano ocorre no mesmo dia em que o compositor Caetano Veloso, eleitor de Ciro Gomes em 2018, visita Lula para declarar apoio ao ex-presidente este ano.

Em fevereiro, ao mesmo jornal, Nunes já havia sinalizado para esse desfecho, ao afirmar que a aproximação do ex-governador Geraldo Alckmin de Lula “é um movimento correto do ponto de vista político, tanto da parte do Alckmin quanto do Lula”.

Em outra frente, a da cultura, a adesão de Caetano, que também já havia sido sinalizada em outras manifestações do artista, será celebrada em São Paulo, no apartamento de Lula. A informação é do jornalista da GloboNews Gerson Camarotti. Segundo ele, o encontro foi articulado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que abandonou a disputa pelo governo do Amapá para ser um dos coordenadores da campanha do petista.

Chico Buarque, Martinho da Vila, Zélia Duncan, Chico César, Marieta Severo, Bruna Gonçalves, Paulinho da Viola, Antonio Pitanga e muitos outros estão no barco de Lula, a quem o apoio do setor cultural é virtualmente unânime.

Símbolo do samba, Zeca Pagodinho já se reuniu com Lula no Rio de Janeiro, junto de outros artistas. No final de abril, ele afirmou, inclusive, que pode deixar o país. “Eu não quero ir embora daqui, mas, do jeito que está, eu penso em ir embora”, declarou ao portal UOL.

Na cultura, repulsa a Bolsonaro

Jair Bolsonaro provoca repulsa no meio cultural. Sua perseguição a artistas, produtores e entidades é permanente e revela não apenas ódio, mas perversidade. Seu último gesto, por exemplo, em relação ao setor, foi vetar as leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc, que permitiriam o repasse de R$ 3,8 bilhões e R$ 3 bilhões, respectivamente, para fomentar uma das atividades mais devastadas pela pandemia de covid-19.

Antes mesmo de assumir mandato, o atual chefe de governo já anunciava a extinção do Ministério da Cultura, medida que defendera ainda como pré-candidato à Presidência em 2018. Em evento em março daquele ano prometeu acabar com o Minc e defendeu uma de suas bandeiras da morte: “A arma, mais que a defesa da vida, é a garantia da nossa liberdade”.

“Visão de mundo”

Na área política, outro nome de peso a declarar apoio a ao ex-presidente nesta sexta foi o vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marcelo Ramos (PSD-AM), em artigo na Folha de S. Paulo nesta sexta. Depois de elencar alguns projetos em relação aos quais discorda da visão de Lula e do PT (reforma trabalhista, independência do Banco Central e capitalização da Eletrobras), o deputado esclareceu.

A visão de mundo do ex-presidente Lula e a minha são diferentes, sobretudo em relação à economia. Muitas de nossas posições são antagônicas nesse campo tão essencial. Mas concordamos em algo ainda maior: a democracia. E é por isso que estarei com Lula nesta eleição”, escreveu o parlamentar, que deixou o PL quando Bolsonaro entrou para a legenda.

Da seara tucana, os ex-senadores José Aníbal e Arthur Virgílio também podem apoiar Lula, até por discordar dos rumos seguidos pelo PSDB a partir da ascensão de João Doria, cuja campanha à Presidência da República é um fracasso.

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Com informações da RBA.

14 de maio de 2022

Altaneira pode perder territórios de acordo com novo mapeamento geográfico

 

Sítio Taboquinha em Altaneira. (FOTO/ Orlando Vieira).

Por José Nicolau, editor

Um novo mapeamento geográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) faz com que o município de Altaneira, no cariri cearense, tenha sua área territorial reduzida.

A informação foi externada pelo prefeito Dariomar Rodrigues (PT) durante sessão da Câmara realizada no último dia 04 de maio e divulgada tanto no site da casa como também no Blog de Altaneira. Ao apresentar imagens, o gestor destacou que os sítios Poças, Córrego, Taboquinha e Tabuleiro já não fariam mais parte do município. Ele frisou que as comunidades mencionadas já são assistidas por Altaneira e que pretende lutar por elas, já que “integram nossa história e cultura altaneirense.

Altaneira faz divisa com os municípios de Assaré, Nova Olinda, Santana do Cariri e Farias Brito que podem ser beneficiados com esse novo limite territorial. 

A população de Altaneira de acordo com a estimativa do IBGE em 2021 é de 7.712 habitantes.

A nível de Estado, o Ceará também corre risco de ficar despossuído de algumas cidades para o Piauí. Ao todo, são 13 que fica na Serra da Ibiapaba.

Sobre a possibilidade de Altaneira perder territórios:

1 - Os limites realmente precisam ser rediscutidos e redefinidos sim, haja vista estarem defasado e não corresponderem de fato a realidade da população que ocupa esses espaços;

2 - Por consequência do primeiro item, as populações dos territórios em análise se deslocam para a cidade de Altaneira para as tarefas básicas, como por exemplo, compras de alimentos e vestimentas; serviços de saúde e acesso à educação.

3 - Por tudo isso e por terem construído um sentimento de pertencimento ao lugar, é crucial realizar encontros por setor e mobilizar as pessoas desses espaços para que cientes da situação, lutem. Algumas estratégias podem ser usadas, como por exemplo, a realização de abaixo-assinado para entregar aos órgãos competentes e manifestações de ruas.

4 - Altaneira precisa ganhar territórios e não perder.

Lula segue líder, Bolsonaro estaciona e disputa muda pouco: o que dizem as pesquisas da semana?

 

Ex-presidente tem larga vantagem em relação a Bolsonaro; na foto, Lula em evento com sindicalistas, em São Paulo - Ricardo Stuckert.

A divulgação de novas pesquisas eleitorais não trouxe novas tendências para a disputa presidencial de outubro. Foram publicados quatro levantamentos de terça-feira (10) até a última sexta-feira (13). Os estudos apontam estabilidade, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com larga vantagem na liderança, seguido pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).

CNT/MDA: ecos da desistência de Sergio Moro

A primeira delas, divulgada na terça-feira (10), encomendada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) ao Instituto MDA, mostrou que Lula obteve 40,6% das intenções voto na corrida presidencial das eleições de outubro. Bolsonaro apareceu com 32%. O levantamento foi o primeiro feito pela CNT/MDA depois que o ex-juiz Sergio Moro (União Brasil) desistiu da pré-candidatura à Presidência da República. O anterior foi divulgado em fevereiro.

Os números confirmam que Bolsonaro herdou um percentual de intenções de voto que estavam direcionados a seu ex-ministro da Justiça. O crescimento de Bolsonaro de dois a quatro pontos percentuais já havia sido captado por outras empresas de pesquisa a partir do final de março, quando Moro abriu mão de concorrer ao pleito e saiu do Podemos.

Desde o final de abril, porém, outros levantamentos mostraram que o fôlego de Bolsonaro com a saída do ex-juiz da Lava Jato não durou muito. Estudos que são mais frequentes, divulgados a cada 15 dias, como PoderData e Ipespe, apontaram estabilidade de Lula e a interrupção do crescimento do atual presidente.

Quaest: vitória em primeiro turno é possível

O segundo estudo da semana foi feito pela Quaest, encomendado pela corretora Genial Investimentos, e divulgado na quarta-feira (11). O levantamento mostrou Lula com grandes chances de vitória no primeiro turno das eleições presidenciais.

Com 46% das intenções de voto, Lula teve mais votos que todos os outros candidatos somados (44%), o que garantiria a vitória no pleito ainda no primeiro turno. No entanto, considerando a margem de erro de 2 pontos para mais ou para menos, o cenário ainda está longe de uma definição. A pontuação em votos totais garantiria a Lula um patamar de 51,1% dos votos válidos.

O petista oscilou positivamente em 1 ponto percentual. Seu principal oponente, Bolsonaro, não teve alterações na pontuação e se manteve como segundo colocado, com 29%. Nas duas pesquisas anteriores (março e abril), o atual presidente havia ganhado 3 e 5 pontos percentuais, respectivamente.

PoderData: distância entre Lula e Bolsonaro volta a crescer

A pesquisa PoderData, divulgada também na quarta-feira (11), mostrou que Jair Bolsonaro parou de evoluir e que a distância que o separa de Lula ficou estável nos últimos 15 dias. Lula seguiu na liderança com 42% das intenções de voto na simulação de 1º turno que inclui uma lista de todos os pré-candidatos já anunciados. Bolsonaro apareceu com 35%.

A distância entre os pré-candidatos oscilou para 7 pontos percentuais. Nas rodadas de 24 a 26 de abril e de 10 a 12 de abril, essa diferença se manteve em 5 pontos.

XP/Ipespe: estabilidade é a tônica da semana

Uma nova pesquisa da Ipespe, encomendada pela corretora XP Investimentos, divulgada nesta sexta-feira (13), mostrou Lula na liderança da corrida pelo Palácio do Planalto. Clique aqui para fazer o download da íntegra.

Com 44% das intenções de voto, Lula teve dois pontos percentuais a menos do que todos os outros candidatos somados (46%). Considerando a margem de erro de 3,2 pontos para mais ou para menos, o petista segue com chance de vitória no primeiro turno. Para isso, precisa superar numericamente os votos de todos os oponentes.

Lula manteve o mesmo percentual da pesquisa anterior, publicada há 15 dias. Enquanto isso, Bolsonaro oscilou positivamente em 1 ponto percentual e chegou a 32%. O levantamento confirma pesquisas divulgadas por outras empresas nos últimos dias, apontando que a redução de vantagem entre os dois, motivada pela saída de Sergio Moro (União Brasil) da disputa, foi interrompida.

Análises

No Twitter, o cientista político Antônio Lavareda fez uma análise sobre a nova edição da pesquisa. Segundo ele, o cenário da corrida pelo Palácio do Planalto é de "engessamento", já que o percentual de eleitores que já definiram os seus votos é muito superior ao que costuma ocorrer nas eleições anteriores.

O responsável técnico pela pesquisa Quaest, Felipe Nunes, também publicou uma análise, em sua conta no Twitter, explorando o detalhamento do levantamento para explicar as motivações na baixa variação da pontuação dos candidatos presidenciais.

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Com informações do Brasil de Fato.

Helio Santos: “O dia 14 de maio de 1888 é o dia mais longo da nossa história”

População preta é a maior vítima da violência e da desigualdade no Brasil - ©Nelson Almeida/AFP

Às vésperas da uma eleição com potência para definir o futuro do país, inclusive em longo prazo, o professor e ativista contra o racismo, Helio Santos, é enfático: “A desigualdade no Brasil é uma decisão política e perpassa todos os governos.

Santos tem propriedade para a defesa dessa percepção. Militante desde a década de 1970, é pioneiro na participação em ações, políticas e movimentos para correção histórica das consequências do preconceito. Hoje, preside o Conselho Deliberativo da Oxfam Brasil.

Em entrevista ao Brasil de Fato, ele falou sobre o processo de desmistificação e ressignificação do 13 de maio, Dia da Abolição da Escravatura. O debate não é novo, mas ganha contornos urgentes no governo conservador de Jair Bolsonaro (PL), afeito a celebrações que reforçam os tentáculos do colonialismo.

O dia 14 de maio de 1888 é o dia mais longo da nossa história, porque nos atinge hoje nas ruas, nas esquinas, nas cadeias e nas 6,5 mil favelas que se tem no Brasil”, ressalta o professor.

Na conversa, ele também foi veemente ao afirmar que a pauta racial precisa alcançar a esfera política de maneira definitiva, principalmente na representatividade. Para Helio Santos, as eleições deste ano serão permeadas por esse debate de uma maneira ainda inédita no Brasil.

A entrevista foi realizada no mesmo dia em que a Coalizão Negra por Direitos, por meio de partidos políticos, protocolou uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo o reconhecimento pelo Estado do genocídio da população negra no país.

Assinada por PT Psol, PSB, PCdoB e Rede, a arguição de descumprimento de preceito fundamental defende que direitos constitucionais não foram cumpridos. Ela pede que sejam reconhecidas e sanadas as graves lesões praticadas pelo Estado brasileiro ao povo preto

Confira abaixo os principais pontos da entrevista e ouça a íntegra no tocador de áudio abaixo do título desta matéria.

Olhar crítico sobre a abolição

Até 1930, o 13 de maio era um feriado. A partir de 1930 deixou de ser, porque não há o que comemorar. Nós tivemos aqui no Brasil a escravidão mais longa do mundo, 354 anos. Dois lacônicos artigos dão por terminado esse período, sem nenhuma iniciativa que buscasse incluir e valorizar aquelas pessoas.

O 13 de maio foi um grande golpe. Um ano e meio depois, o Brasil edita um decreto a favor da imigração europeia. Um ano e meio depois, foi editada a lei da vadiagem. Vadio era quem não tinha emprego e desempregado crônico é o negro.

Eu gosto de falar muito do dia seguinte. O dia 14 de maio de 1888 é o dia mais longo da nossa história, porque nos atinge, hoje, nas ruas, nas esquinas, nas cadeias e nas 6,5 mil favelas que se tem no Brasil. O Brasil não é um país desigual, é o país mais desigual do mundo.

Durante muito tempo, nós estivemos entre os 10 mais ricos pelo PIB e entre os 10 mais desiguais. Veja que assimetria bizarra. O resultado do que o país se tornou tem a ver com a questão racial. Portanto, a questão racial do Brasil é estratégica, e mais, ela nunca foi tratada por ninguém na sua justa dimensão.”

Avanço ainda é insuficiente

É importante reconhecer que políticas foram conquistadas pelo movimento social negro. É inegável que a roda do racismo girou, não no ritmo e na velocidade que nós gostaríamos, mas é inegável que aconteceram mudanças. Hoje, é possível discutir uma política antirracista.

Em 1984 foi criado o Conselho Negro de São Paulo. Nós estávamos redemocratizando o país. Ou seja, houve todo um silêncio de 96 anos. Uma iniciativa tímida foi a primeira iniciativa do Estado brasileiro após a abolição. Depois criamos ações afirmativas, aqui apelidadas de cotas, que mudaram as universidades.

Hoje, temos inclusive o mundo corporativo, que foi o último a ceder, procurando avançar nessa área. A mídia também mudou muito. Mas o Brasil é um país de maioria feminina e de maioria negra governado por homens brancos.

Esse descompasso é uma das causas de o Brasil ser o que é. Quem tem dúvida de que a nossa democracia ainda é muito tímida, é só verificar que não há essa correspondência.”

Eleições antirracistas

Eu sou um otimista e acho que, este ano, nós vamos discutir o voto antirracista. O voto antirracista não é só o voto do negro. Quem é antirracista e não é negro deve votar sim em candidatos negros. Nós temos um elenco de candidatas e candidatos negros extraordinariamente habilitados. Pessoas que já estão fazendo coisas sem ter um mandato.

Nós temos também que discutir com as candidaturas majoritárias. São 27 governadores, que comandam a polícia e o ensino fundamental. Educação e segurança são dois setores fundamentais para a população negra.

Nós temos que discutir com os candidatos à presidência da República esses temas. Quem postula esse emprego tem que entender que o Brasil é, precisamente, esse país inconcluso.”

A desigualdade como política

Antes de falar de representatividade, não podemos esquecer de algo que a pandemia escancarou, 40 milhões de trabalhadores informais. Esse é o resultado do 14 de maio.

Por isso, quando alguém oferece emprego com salários baixíssimos, você tem uma fila interminável de pessoas dispostas a oferecer seu trabalho. É resultado do dia seguinte.

Essa falta de planejamento não é, na minha opinião, neutra. Na minha opinião, a desigualdade no Brasil é uma decisão política e, algo mais grave, perpassa todos os governos.

Evidentemente que tivemos governos mais sensíveis e reconheceram essas dificuldades. Mas quero reiterar aqui, nenhum desses governos deu à questão racial a sua justa dimensão.”

Subcidadania

As famílias vulneráveis são, majoritariamente, dirigidas por mulheres negras. A subcidadania tem cor e tem sexo. Portanto, qualquer política que queira pensar em uma democratização substantiva do Brasil tem que ter esse foco.

É uma questão de foco e de decisão política. Nós vivemos um momento único. O país, na minha avaliação, não resiste mais a quatro anos de um governo como o que temos agora.

Temos uma parcela significativa da população vivendo em insegurança alimentar e 10% passando fome. Evidentemente que a esmagadora maioria dessa população é negra.”

Desperdício de talentos

Os biólogos ensinam que, quando você não respeita a diversidade, uma floresta pode perecer, uma lagoa pode apodrecer. Quando você translada esse conceito para a sociedade humana, acontece o mesmo.

Aqui no Brasil, a antropologia oficial tece louros à imigração europeia. A maior migração asiática veio para o Brasil com os japoneses. Tínhamos aqui 1,5 mil etnias indígenas e raptamos da África vários grupos. Esse grupo formidável, essa diversidade consta da antropologia oficial, mas esses talentos não são aproveitados.

No entanto, eu, como professor ainda tenho que ouvir o discurso da meritocracia. É evidente que não se pode falar em mérito.

Não pode acontecer o que temos hoje, 11 milhões de nem nem, os jovens que não estudam e nem trabalham. Na verdade são os sem sem, sem oportunidades. Esse país gigante precisa de estadistas que possam pensar no tamanho dos nossos problemas.”

Para onde e como ir

Não me falem que essa pauta é identitária. É uma questão de metodologia. É preciso identificar os grupos vulnerabilizados para pensar em políticas públicas.

Quando eu falo em 11 milhões de jovens que não estudam e nem trabalham, isso não é uma identidade. É uma metodologia geracional em que se identifica para onde a política tem que ser encaminhada.”

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Com informações do Brasil de Fato.