11 de maio de 2018

Há um Brasil doente que tem saudade das execuções de opositores na ditadura


Corpo do jornalista Vladimir Herzog pendurado em cela do Exército. Ele foi morte pela ditadura, que tentou forjar um suicídio em 1975. (Foto: Reprodução/ Blog do Sakamoto).

O Brasil lida com o seu passado como se tivesse feito as pazes com o presente. Não, não fez. E o impacto de não resolvermos o que aconteceu durante a última ditadura militar (1964-1985) se faz sentir no dia a dia das periferias das grandes cidades e na porção profunda do interior, com parte do Estado e de seus agentes aterrorizando, reprimindo e torturando parte da população (normalmente mais pobre) com a anuência da outra parte (quase sempre mais rica). Sejam eles agentes em serviço ou fora dele, na forma de milícias urbanas e rurais.

Em nome de uma suposta estabilidade institucional, o passado não resolvido e anistiado permanece como fantasma. Não são apenas as famílias dos mortos e desaparecidos políticos que vivem assombrados pelas verdades não contadas e os crimes não admitidos daquela época. Diariamente, os mais pobres sofrem nas mãos de uma banda podre da polícia que adota métodos refinados na ditadura a fim de garantir a ordem (nas periferias das grandes cidades) e o progresso (na região rural).

Um documento secreto liberado pelo Departamento de Estados norte-americano mostrou que o general Ernesto Geisel aprovou a manutenção de uma política de execuções sumárias de adversários em 1974. O ditador brasileiro, que governou entre aquele ano e 1979, teria orientado João Baptista Figueiredo – então chefe do Serviço Nacional de Informações e que seria seu sucessor – a seguir com os assassinatos que começaram no governo do general Médici. Ou seja, a autorização vinha da cúpula do governo.

Quem percebeu a importância do documento, no qual o governo reconhece executar dissidentes, e o postou nas redes sociais foi Matias Spektor, colunista da Folha, e professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas. O memorando é assinado pelo diretor da CIA na época, William Colby, e relata uma reunião com Geisel. É citada a execução sumária de, pelo menos, 104 pessoas.

Contar histórias como a desse documento é fundamental. Os assassinatos sob responsabilidade da ditadura devem ser conhecidos e discutidos nas escolas até entrar nos ossos e vísceras de nossas crianças e adolescentes a fim de que nunca esqueçam que a liberdade do qual desfrutam não foi de mão beijada. Mas custou o sangue, a carne e a saudade de muita gente. E, portanto, sua construção – até agora incompleta e imperfeita – deve ser um esforço coletivo. Mesmo enfrentando ações como o do ''Escola Sem Partido'', que tem como consequência equacionar a barbárie com a civilização.

O problema é que, diante da realidade ultrapolarizada do debate público no Brasil, isso parece ser uma tarefa inútil. Pois não adianta mostrar informações como essa para uma parcela da sociedade que defende o retorno da ditadura militar não pelo desconhecimento dos métodos utilizados, mas, pelo contrário, por saudade deles.

Mesmo que não tenha nascido muito após aqueles acontecimentos. Em sites e redes de ultraconservadores, o memorando foi celebrado como um exemplo de algo que deve ser copiado para o futuro e de competência da ditadura em proteger o país. Assim, sem pudor algum.

Essa parcela tem apoiado a candidatura do deputado federal Jair Bolsonaro para a Presidência da República, sonhando que ele traga os ''bons tempos de volta'', botando ordem e acabando com a roubalheira. Ignoram, dessa forma, a farta documentação que mostra a corrupção em estatais e em obras públicas, nos anos militares, ou mesmo o comportamento promíscuo entre empresas privadas e a ditadura.

Vale lembrar que Bolsonaro foi ovacionado nas redes sociais por conta do conteúdo de seu voto pelo impeachment, em abril de 2016, por uma legião de pessoas que cabulava aula de história ou pouco se importa com a dignidade alheia. Após parabenizar o hoje presidiário Eduardo Cunha, homenageou o açougueiro e torturador Carlos Brilhante Ustra – falecido coronel e ex-chefe do DOI-Codi.

Certamente o finado comandante de um dos principais centros de repressão da ditadura não é incensado por seus belos olhos ou pela forma pela qual fazia um guizado de frango ou jogava tranca. Mas por usar a morte como instrumento de controle estatal. Ustra chegou a ser declarado pela Justiça como responsável por casos de tortura e também condenado a pagar indenização por conta da morte do jornalista Luiz Eduardo Merlino.

O conhecimento de História não é um dádiva, mas sim uma maldição. Porque você se torna responsável por dialogar com quem a ignora, por mais impossível que isso pareça ser. Um diálogo que deve ser paciente e não-violento, na esperança de que entendam que a dignidade humana, construção de milhares de anos dessa História, é uma conquista que deve ser defendida a todo o custo.

As Forças Armadas de hoje não são as mesmas do período da última ditadura, da mesma forma que os contextos nacional e internacional são outros. Seus líderes têm, repetidas vezes, confirmado que o comando é e será civil. E o respeito às liberdades individuais e às instituições continuará. De vez em quando, contudo, as declarações estapafúrdias de generais da ativa, mais do que os oficiais de pijama, colocam a pulga atrás da orelha sobre a sinceridade dessa estabilidade.

Os responsáveis pela parte mais sombria da ditadura, seus aliados e seguidores precisam saber que a sua versão da História – de que duas décadas de assassinatos, censura e violência foram necessárias para o bem da coletividade – não vai vingar. Pois não agiram pelo bem do Brasil. Mataram, roubaram e calaram para o bem de si mesmos. (Por Leonardo Sakamoto, em seu Blog).

10 de maio de 2018

Presidentes militares autorizaram assassinatos na ditadura, revela documento


(Foto: Reprodução/ Brasil 247).

Documentos do Departamento de Relações Exteriores dos Estados Unidos apontam o envolvimento direto dos presidentes Emíliio Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Baptista Figueiredo no assassinato de mais de uma centenas de brasileiros durante a ditadura militar no Brasil.

A revelação foi feita pelo escritor, doutor em Relações Internacionais e professor da FGV, Matias Spektor. Em sua página no Facebook, Spektor apresenta um relato da CIA sobre reunião ocorrida em março de 1974 entre o General Ernesto Geisel, então empossado na Presidência, com o general João Figueiredo, indicado por Geisel para o Serviço Nacional de Informações (SNI), e outros dois assessores: o general que estava deixando o comando do Centro de Informações do Exército (CIE), o general que viria a sucedê-lo no comando.

"O grupo informa a Geisel da execução sumária de 104 pessoas no CIE durante o governo Médici, e pede autorização para continuar a política de assassinatos no novo governo. Geisel explicita sua relutância e pede tempo para pensar. No dia seguinte, Geisel dá luz verde a Figueiredo para seguir com a política, mas impõe duas condições. Primeiro, 'apenas subversivos perigosos' deveriam ser executados. Segundo, o CIE não mataria a esmo: o Palácio do Planalto, na figura de Figueiredo, teria de aprovar cada decisão, caso a caso", relata Matias Spektor.

Leia trecho do documento divulgado pelo governo dos EUA:


"De tudo o que já vi, é a evidência mais direta do envolvimento da cúpula do regime (Médici, Geisel e Figueiredo) com a política de assassinatos. Colegas que sabem mais do que eu sobre o tema, é isso? E a pergunta que fica: quem era o informante da CIA?", questionou Matias Spektor.

Leia na íntegra o relato de Mathias Spektor:

Este é o documento secreto mais perturbador que já li em vinte anos de pesquisa.

É um relato da CIA sobre reunião de março de 1974 entre o General Ernesto Geisel, presidente da República recém-empossado, e três assessores: o general que estava deixando o comando do Centro de Informações do Exército (CIE), o general que viria a sucedê-lo no comando e o General João Figueiredo, indicado por Geisel para o Serviço Nacional de Inteligência (SNI).

O grupo informa a Geisel da execução sumária de 104 pessoas no CIE durante o governo Médici, e pede autorização para continuar a política de assassinatos no novo governo. Geisel explicita sua relutância e pede tempo para pensar. No dia seguinte, Geisel dá luz verde a Figueiredo para seguir com a política, mas impõe duas condições. Primeiro, “apenas subversivos perigosos” deveriam ser executados. Segundo, o CIE não mataria a esmo: o Palácio do Planalto, na figura de Figueiredo, teria de aprovar cada decisão, caso a caso.

De tudo o que já vi, é a evidência mais direta do envolvimento da cúpula do regime (Médici, Geisel e Figueiredo) com a política de assassinatos. Colegas que sabem mais do que eu sobre o tema, é isso? E a pergunta que fica: quem era o informante da CIA?

O relato da CIA foi endereçado a Henry Kissinger, então secretário de Estado. Kissinger montou uma política intensa de aproximação diplomática com Geisel.

A transcrição online do documento está no link abaixo, mas o original está depositado em Central Intelligence Agency, Office of the Director of Central Intelligence, Job 80M01048A: Subject Files, Box 1, Folder 29: B–10: Brazil. Secret; [handling restriction not declassified]. (Com informações do Brasil 247).


Educação de Altaneira volta a ganhar prêmio de Escola Nota 10


Escola Joaquim Rufino de Oliveira é Nota 10 referente ao Spaece 2017. (Foto: Divulgação).

A educação do município de Altaneira conseguiu mais uma vez a partir da Escola de Ensino Fundamental Joaquim Rufino de Oliveira, situada à Rua Padre Agamenon Coelho, entrar no rol das instituições de ensino premiadas como Escola Nota 10.

A informação foi confirmada na tarde desta quarta-feira, 09, com um vídeo publicado no grupo de WhatsApp do Blog Negro Nicolau (BNN) pelo servidor público e comunicador da Rádio Altaneira FM, João Alves. Na rede social facebook era um dos assuntos mais propagados por professores, professoras e gestores/as das escolas públicas do município.

Essa é a segunda vez que a instituição de ensino supracitada ganha o prêmio referente aos resultados do SPAECE 2017 e a primeira vez que a proficiência em língua portuguesa e matemática foi para o 2º Ano.

A diretora da escola, a professora Regigleide Soares usou sua conta no facebook para relatar que estava se sentindo agradecida. Gratidão me define! Dirigir Emef Joaquim Rufino, equipe de excelentes profissionais. MAIS UMA VEZ É 10!Parabéns a todos os envolvidos pela grande conquista!”, escreveu. Ela.

Ao parabenizar a Joaquim Rufino, a diretora da Escola de Ensino Infantil Professora Fausta Venâncio, Corrinha Lino definiu que o “Spaece-alfa favoreceu a Escola ser nota 10” e disse que os professores do 1º e 2º ano fizeram a diferença. Na mesma linha seguiu a Gerente Municipal do Programa de Alfabetização na Idade Certa – PAIC, Micirlândia Soares.

Já a Secretária Municipal de Educação, Leocádia Rodrigues, estendeu as felicitações para a gerente do PAIC.

Parabéns a todos que cumpriram seus papéis. Parabéns gerente Micirlandia Soares pela sua colaboração, dedicação e zelo para garantir aprendizagem na idade certa. A luta do direito de aprender continua e é necessário que toda a sociedade milite nessa causa”, destacou.

A nossa luta é incansável”, postou a professora Pepeta Caldas ao relembrar com fotos o trabalho desenvolvido ao longo do ano passado.

Quero agradecer aos meus professores e ao prefeito de Altaneira por minha escola ser nota 10”, afirmou uma aluna no vídeo postado por João Alves.

Quero agradecer principalmente a essas crianças adoráveis que sem elas não tínhamos condições de voltarmos a ser nota 10; a todos os professores da Escola Joaquim Rufino e em nome deles agradecer a todos os professores do município, a secretária de educação, a todos os motoristas, ao pessoal do PAIC e todos que ajudaram nossa educação voltar; aos pais, precisamos do apoio principalmente esse ano, mas em 2017 Altaneira é Nota 10”, discursou o prefeito Dariomar Rodrigues (PT).

O “Prêmio Escola Nota Dez” foi instituído em junho de 2009, através da Lei 14.37, pelo Governo do Estado, por meio da SEDUC com o objetivo de fortalecer, valorizar e ampliar o trabalho que vem sendo empreendido pelas escolas em relação aos resultados de alfabetização. 

A última conquista desta escola foi em 2014 referente aos resultados do SPAECE 2013 ao lado da Joaquim de Morais que juntas, nas turmas dos 2º e 5º anos, conseguiram elevar a proficiência em língua portuguesa e matemática.




9 de maio de 2018

Boulos nadou de braçada e deu uma aula de coerência, cidadania e pensamento solidário e popular


Guilherme Boulos no Roda Viva. (Foto: Reprodução/ Youtube).

Acabou-se o programa Roda Viva. Minha opinião? Boulos nadou de braçada! Deu ao Brasil uma aula de coerência, cidadania e pensamento solidário e popular.

Fundamental crítica cristalina ao processo injusto e ilegal que levou Lula ao cárcere. Defendeu suas convicções, sem tornar a divergência um argumento de desqualificação da gestão petista.

Tocou em quatro pontos nevrálgicos da complexa questão política brasileira:

a) a necessidade da reforma política;

b) a necessidade da reforma urbana;

c) e eliminação das regalias do judiciário;

d) a necessidade de uma reforma tributária que retire os privilégios dos banqueiros e do capital rentista.

Foi claríssimo ao afirmar que não é contrário à atividade daqueles que mantêm micro, pequenas e médias empresas, geradores da maior parte dos empregos no Brasil.

Manifestou-se contra o modelo que beneficia megacorporações e as grandes instituições financeiras, promotoras da desigualdade.

Tratou com conhecimento da questão venezuelana e denunciou sem papas na língua o retrocesso promovido pelo governo golpista.

Mostrou a importância da representação de mulheres, negros, indígenas e LGBT nos processos decisórios e no avanço do rito civilizatório.

Comoveu ao defender, sobretudo, a empatia e a solidariedade, essas virtudes tão presentes no sonho jovial dos elevados de espírito.

Por fim, encantou ao declarar como seu ídolo o Doutor Sócrates, corinthianista como ele, corinthianista como nós.

Obrigado, Guilherme! Nesta noite, na cova dos leões, representou-nos com coragem e ternura.
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Artigo de Walter Falceta Jr, no GGN. Ele tem 54 anos, atua como jornalista desde 1983. É o atual presidente do Coletivo Democracia Corinthiana.

Na Câmara de Altaneira, Secretário Deza fala sobre medidas de contenção de gastos e transporte de Universitários


Na Câmara de Altaneira, Secretário Deza fala sobre medidas de contenção de gastos e transporte de universitários.
(Foto: Júnior Carvalho).

Com apenas quatro requerimentos votados e aprovados na ordem do dia, a Sessão Ordinária da Câmara de Altaneira nesta quarta-feira, 09, teve como principal destaque a ida do Secretário Municipal de Governo, o professor Deza Soares.  

Deza afirmou incialmente que sua presença na casa não estava prevista, visto que estava agendada uma viagem a capital do Estado para tratar de assuntos ligados a urbanização e revitalização da Lagoa Santa Tereza, mas que tinha recebido ligação constatando o cancelamento do encontro e remarcando outra data. Por isso, disse ele, encaminhei ofício à casa solicitando o espaço para anunciar algumas medidas de contenção de gastos tomadas e a serem tomadas pelo gestor municipal.

De acordo com o secretário, algumas já estão sendo trabalhadas. “Como a licitação”, pontuou. Afirmou, outrossim, que o governo irá fazer uma análise de redução valores prestados pelas assessorias e que haverá também uma redução de serviços.

Quanto à Reestruturação Administrativa, iniciada em 2017, e que não foi possível sua conclusão, Deza afirmou que ela é necessária e que deve ocorrer o mais rápido possível, inclusive para que se possa avaliar o quadro de servidores do município, visando “a contenção de despesas” no que pese aos cargos comissionados e servidores/as em função temporária.

Deza ainda anunciou que amanhã circulará na mídia um Decreto instituindo uma Comissão de Avaliação e Controle de Gastos com Pessoal formada pelo procurador do município, o secretário de administração e finanças e o controlador geral e chegou a relatar que o município já atingiu o limite do que propõe a Lei de Responsabilidade Fiscal.

Por fim, o secretário ainda mencionou acerca de um dos temas mais comentados dos últimos dias, o transporte de universitários/as. Ele reforçou as palavras do prefeito quando em conversa com a redação do Blog Negro Nicolau (BNN) afirmou que “estava fazendo o possível para não retirar a gratuidade dos veículos". “É intenção do governo fazer todo o possível para que os universitários tenham esse benefício”, frisou Deza. Porém, destacou que a prioridade do município é com a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio. “Este último temos a parceria do governo do estado”, ponderou.

Ao lembrar que há o compromisso com o ensino superior, ele afirmou que não é o autor da emenda que instituiu essa obrigação, mas que enquanto vereador e secretário de educação defendeu o transporte gratuito e convocou parlamentares e demais interessados no assunto a se fazerem presentes no próximo sábado, às 09h00, no auditório da Escola 18 de Dezembro, para uma reunião com os universitários. “É preciso encontrar uma saída”, finalizou.


Professora Maria Firmino relata ter sofrido racismo religioso em escola de Juazeiro e caso repercute


Professora Maria Firmino relata ter sofrido racismo religioso em Escola de Juazeiro do Norte. Na imagem, Maria Firmino durante palestra em 2015 sobre Intolerância Religiosa Contra as Religiões de Matrizes Africanas na EEEP Welligton Belém de Figueiredo, em Nova Olinda. (Foto: Nicolau Neto).

A professora de história Maria Firmino, 42, foi afastada da sala de aula na Escola de Educação Infantil e Fundamental Tarcila Cruz de Alencar, em Juazeiro do Norte, no Ceará, após ter dado aula sobre "patrimônio material, imaterial e natural de matriz africana", em 20 de abril.

A Secretaria da Educação de Juazeiro do Norte informou, por meio de nota, que não foi procurada pela docente e que a profissional continua no exercício das suas funções. Já a professora e funcionários da escola afirmam que ela está fora da sala de aula desde abril.

Maria registrou um boletim de ocorrência sobre crime contra o sentimento religioso na Delegacia Regional de Juazeiro do Norte. A delegacia da cidade apura o caso.

Durante a aula, três alunos alegaram terem sentido mal-estar com o conteúdo da aula. Conforme Maria, o episódio foi uma "trama" feita por outros servidores da escola por não aceitarem uma professora de religião africana na unidade.

"Com certeza absoluta foi tudo organizado dentro da escola porque não queriam uma professora que fosse ligada a uma religião de matriz africana lá dentro. É racismo religioso", afirma.

"Fiquei assustada, chocada e de coração partido de ter visto aquilo, alunos fazerem parte do que parecia uma trama", completa Maria.

Segundo a professora, os alunos deixaram a sala dizendo sentir mal-estar e forte dor de cabeça. Nenhum atendimento médico foi solicitado pela escola, segundo a professora. O caso gerou uma manifestação dos pais dos estudantes.

"Quando eu ia saindo na calçada comecei a ouvir gritos de 'sai satanás', 'vou pegar essa feiticeira', 'ninguém pode mais do que Deus'. Só via gente descendo de carro, gente olhando, populares vindo", conta a professora.

Maria afirma que não recebeu apoio da direção ou de funcionários durante o ocorrido.

Com o ocorrido, o advogado da professora foi avisado de que a instituição pretendia transferi-la para o setor burocrático. "Eles estão colocando que eu não tenho mais condição de estar em sala de aula, isso é uma forma de punição. Eu posso até ir [para o setor burocrático], desde que a minha função seja fazer com que as escolas coloquem em prática a Lei de Diretrizes e Bases, que diz que a educação tem obrigatoriedade de ensinar a cultura africana", ressalta Maria.

Repercussão

O advogado e presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB de Juazeiro do Norte, Rafael Uchôa, acompanhou a educadora até a delegacia regional para registrar o fato. Ele confirma que o caso ganhou repercussão na cidade.

Ao G1, a Secretaria da Educação de Juazeiro alegou não ter tomado conhecimento do ocorrido até o contato da reportagem. No entanto, no boletim de ocorrência registrado pela professora, ela afirma que a secretária da Educação de Juazeiro do Norte, Maria Loreto, compareceu à escola para reunião com o colegiado.

A agente administrativa da escola, Adriana Ricarter, estava no local no dia do ocorrido e foi quem deu assistência às estudantes. Pelo relato dela, a diretora não estava na instituição quando tudo ocorreu, mas um outro responsável, identificado como Cícero, chegou ao local momentos depois. Segundo Adriana, Cícero repassou os fatos à Secretaria da Educação.

Também de acordo com a agente, na segunda-feira seguinte ao caso, um professor substituto foi enviado pela secretaria passou a dar aulas na escola.

Boletim de ocorrência referente a crime contra o sentimento religioso por professora na Delegacia Regional de Juazeiro do Norte. (Foto: Maria Firmino/ Arquivo Pessoal).

Cultura afro-brasileira

Lembrando a lei federal 11.645, sancionada em 2008, que torna obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena em escolas de ensino fundamental e médio, públicas e privadas, Maria faz críticas à escola por não cumprir as diretrizes.

"Na aula anterior eu trabalhei a cultura indígena e marquei pra trabalhar as heranças de matriz africana naquele dia. Eu trabalho dentro da lei 11645/08, porém, as escolas não. Aí quando chega no Dia do Índio e da Consciência Negra fazem três desenhos e pregam na parede."

"Nem professor, nem diretor, nem gestor quer saber da História do negro e do índio, não quer trabalhar a diversidade”, reclama.

Maria segue a religião africana candomblé de Angola e tem 20 anos de magistério.

"Não tenho necessidade de converter ninguém à minha religião. Religião nao é de conversão, muito menos de convencimento."

Ela conta que há quatro anos trabalhou na escola Tarcila Cruz de Alencar e pediu transferência após outros professores levantarem um abaixo-assinado contra a permanência dela na instituição. O retorno à escola se deu pela localização mais favorável. A professora mora em Missão Velha, a cerca de 30 km de Juazeiro do Norte.

"Tive uma 'vibração de santo' dentro da sala de professores. Eles me mandaram procurar um psiquiatra, disseram que eu não tinha capacidade de trabalhar, chamaram o colegiado e assinaram abaixo-assinado pra eu sair de lá", relata.

Segundo ela, a vibração de santo consiste em receber uma energia que causa estremecimento no corpo e deixa a pessoa sem fala, sem consciência de si e do lugar por um determinado tempo. A docente diz também ter explicado previamente aos colegas de trabalho que poderia passar por isso, já que sentia mal-estar naquele dia.

Antes dos dois episódios na escola de Juazeiro, Maria nunca havia passado por situações semelhantes, mas afirma estar acostumada a lidar com o "preconceito velado", já que costuma usar adereços que identificam sua ligação com a religião africana, como colares de conta. "Venho sentindo a rejeição nas escolas por onde passo, as piadinhas, o isolamento..."

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Texto publicado originalmente no G1 Ceará com o título “Professora é substituída após dar aula sobre religião africana em escola no Ceará”.

Diferenças com Ciro são pequenas e união da esquerda é necessária, diz Manuela D'Ávila


Manuela defende a união de toda a esquerda. (Foto: Reprodução/Brasil 247).


A pré-candidata do PC do B à Presidência, Manuela D'Ávila, afirmou ao 247 que o governador do Maranhão, Flávio Dino, faz "um chamado à razão, ao diálogo" ao defender a candidatura de Ciro Gomes como nome de unificação da esquerda. A deputada estadual ponderou que o governador defendeu a unidade da esquerda "depois de uma semana na qual PT e Ciro se atacaram de forma desnecessária". Ela diz que as diferenças entre PC do B, PT, PSOL e o PDT de Ciro Gomes "são pequenas diante dos desafios do nosso país e de nosso campo."

Abaixo, comentário de Manuela D'Ávila:

"O mais importante da declaração do Flávio Dino é o chamado à razão, ao diálogo. Ele falou isso depois de uma semana na qual PT e Ciro se atacaram de forma desnecessária, digo isso fraternalmente. E diria mais: nossas diferenças são pequenas diante dos desafios do nosso país e de nosso campo. Estou aberta - e todos deveriam estar também - para a construção de uma saída que una o conjunto da esquerda. Eu e meu partido pensamos no Brasil em primeiro lugar, a luta pela unidade popular é a marca da nossa história de 96 anos. Eu estou me esforçando muito nesse sentido. Se não der certo, podem ter certeza, não terá sido por falta de iniciativa e boa vontade de nossa parte." (Com informações do Brasil 247).


8 de maio de 2018

Encontro nacional de blogueiros terá presidenciáveis e ativistas pela democracia


Gleisi Hoffmann, Manuela D'Ávila, Guilherme Boulos, José Trajano e Roberto Requião estão confirmados no evento.
(Foto: Divulgação).

Em defesa da democracia e contra os retrocessos promovidos pelo governo Temer, o Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé promove nos dias 25 e 26, em São Paulo, o 6º Encontro Nacional de Blogueiros e Ativistas Digitais.

Na programação de abertura, às 18h da sexta (25), haverá uma análise da situação do país e os desafios de personalidades do cenário político de contribuir, ao lado de comunicadores e ativistas, com a batalha de ideias e de informação em contraponto à imprensa comercial. A mesa tem como convidados três pré-candidatos à Presidência da República – Manuela d´Ávila (PCdoB), Guilherme Boulos (Psol) e Ciro Gomes (PDT) – além da presidenta do PT, senadora Gleisi Hoffmann, e do senador Roberto Requião (MDB-PR)

No sábado (26), haverá debates pela manhã e rodas de conversa no período da tarde mediadas por blogueiros. O objetivo é discutir experiências de alcance local e nacional, métodos e projetos de produção de informação em meio aos retrocesso democráticos sofridos pelo país desde o golpe de 2016.

A coordenadora-geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Renata Mielli, a presidenta da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Maria José Braga, o deputado federal Jean Wyllys (Psol-RJ) e o jornalista José Trajano comandam a mesa da manhã.

"Mais do que nunca, a mídia contra-hegemônica joga um papel decisivo na disputa de narrativas no país, contrapondo-se ao pensamento único "emburrecedor" e desmobilizador imposto pelas forças do capital que assaltaram o poder da República", diz a convocação do Barão.

O encontro será realizado no Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo (Rua Genebra, 25, centro – próximo ao Metrô Anhangabaú e Terminal Praça Bandeira). O valor da adesão é de R$ 100. Para realizar a inscrição basta acessar o site. (Com informações da RBA).