17 de março de 2018

Festa de menina branca de 15 anos com escravos negros é criticada



Uma festa de 15 anos com uma temática que remetia ao período colonial provocou uma série de críticas na internet. A má repercussão foi tanta que a cerimonialista precisou divulgar um pedido público de desculpas.

O caso aconteceu em Belém do Pará e a polêmica começou após a divulgação de duas imagens (ver acima) no Instagram Stories — recurso da rede social em que a publicação desaparece após 24 horas no ar. Nas fotos, a aniversariante, branca, é servida por escravos.

Muita gente se espantou com o que viu. “Foi feito uma festa de 15 anos com um tema relacionado a Escravidão. Está no Instagram e eu estou completamente assustada. O rosto da menina foi cortado por ser menor de idade e esse é o perfil da cerimonialista. Sem palavras, completamente”, escreveu uma internauta que repercutiu as imagens.

A cerimonialista Lorena Machado publicou uma nota de esclarecimento. “Diante dos ocorridos, com total humildade, estamos vindo a público nos retratar e pedir PERDÃO”, afirmou.

Pedimos perdão a todos os negros, negras, descendentes, pardos e pardas e a qualquer pessoa que tenha se sentido atingida por nossa publicação. Não foi nossa intenção agredi-los ou ofendê-los, mas admitimos que fizemos”, continuou.

A responsável prosseguiu: “Não quisemos fazer qualquer retratação que levasse a entender que a escravidão foi algo bom em nossa história. Tínhamos a única intenção de retratar o período histórico do Império que, infelizmente, tinha escravidão. Agradecemos os comentários feitos para que pudéssemos identificar e entender onde erramos, foi essencial para que crescêssemos”.

Mais críticas

O pedido de desculpas não foi bem aceito pelos usuários. Nos comentários, as pessoas pedem que o racismo seja denunciado.

Vocês brincam com nossa dor e, depois, vem dizer que foi ‘sem querer’ ou uma ‘homenagem’! Vai se foder!”, publicou uma jovem no Facebook.

Você pensa que já acabou os jeitos das pessoas serem retardadas, mas a criatividade humana vai lá e joga na tua cara que dá pra ser ridículo de infinitas formas”, disse outra.

Algumas pessoas ainda fizeram menção à morte da vereadora do Psol, Marielle Franco, assassinada na noite dessa quarta-feira, 14.

Mulheres pretas morrendo enquanto as brancas brincam de sinhá. #RacistasNãoPassarão”, publicou mais uma internauta. (Com informações do Pragmatismo Político).

(Foto: Reprodução/ Pragmatismo Político).


Lançamento de Livro marca despedida de Meire Alencar como diretora da Escola Estadual Santa Tereza, em Altaneira


Escola Santa Tereza, em Altaneira, lança segundo livro. (Foto: Wlberlândio Oliveira).

Foi lançado nesta sexta-feira, 16/03, o volume II do livro “Uma Ponte para os Valores”, da Escola de Ensino Médio Santa Tereza, em Altaneira. O evento reuniu pais de alunos/as, ex-alunos/as da instituição, representantes políticos partidários, além da gestão escolar, professores/as, estudantes e de representantes da 18ª Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação (Crede 18).

A obra é resultado do II e III Campeonatos de Leitura e Escrita, um dos projetos desenvolvidos pela escola “que inclui além das ferramentas pedagógicas habituais, a persistência e a crença para se comprovar que ainda se pode fazer uma escola pública de qualidade”, diz a diretora Meire Alencar na apresentação do livro que é constituído de pequenos textos construídos por discentes, docentes e outros profissionais que fazem o dia-a-dia da instituição.

Auríço Tertuliano, aluno da EJA, autografando
livro. (Foto: Nicolau Neto).
Durante o lançamento, parte dos/as autores/as se reversaram a contar por que escreveram e como escreveram. Um dos textos mais emocionantes foi o de Auriço Tertuliano da Costa, estudante da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Ele expressou o que sentia ao ler a música de Guilherme Arantes, “Taça de Veneno”.

Quem também emocionou o público foi Francisco Ferreira Silva, do terceiro ano “a” ao ler a poesia “Minha escola, meu orgulho”.

A escola Santa Tereza
Tenho eterna gratidão
Por ter passado três anos
Na melhor instituição.
Deixo aqui o meu recado
Mais levarei meu legado
De orgulho e gatidão...”
(Introdução do texto poético de Fcº Ferreira).

O livro fala ainda sobre amizade, amor, saudade, desejo, poder, respeito, mudança, violência, racismo, bullying, aplicação de softwares educacionais no ensino de física, a contribuição do ensino de história para a formação do aluno na sociedade contemporânea, dentre outros temas.

Luciana Brito, Coordenadora da Crede 18
(Foto: WlberLândio Oliveira).
Para a Coordenadora da Crede 18, Lucina Brito, o momento é de suma importância. Segundo ela, é comum as pessoas acharem chato irem a eventos de lançamento de livros, “mas aqui nós vimos outra coisa. Vimos jovens, professores em produções belíssimas. Isso nos deixa muito feliz. Mostra que a nossa escola está produzindo e que estamos mesmo construindo o conhecimento”, realçou.

Wellton Cardoso, coordenador pedagógico da escola, reforçou as palavras de sua antecessora ao arguir que para que o evento viesse a acontecer foi necessário a construção de uma série de etapas, como a promoção de ações visando o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita em vários ambientes. “O projeto”, segundo o coordenador, “contribuiu para a formação dos alunos ao aprofundar o conhecimento importantes para o prosseguimento nos estudos”.

O lançamento do livro marcou a conclusão da gestão de Meirenildes Alencar frente à Escola Santa Tereza. Foram nove anos como diretora. Ao iniciar seu discurso, Meire saudou a todos/as aqueles/as que representam a sociedade altaneirense, como o prefeito Dariomar Rodrigues, a Secretária de Educação, Leocádia Soares – aquém ela chamou de amiga e comadre -, os ex-prefeitos, este professor, ativista dos direitos civis e humanos da população negra e blogueiro, além daqueles com quem ela conviveu diretamente – professores, professoras, alunos/as e demais integrantes da comunidade escolar, que foram os principais responsáveis pelo projeto.

Meirenildes Alencar, diretora da Escola Santa Tereza.
(Foto: Wlberlândio Oliveira).
De acordo com Meire, foram dois campeonatos de leitura, mas só no terceiro houve a conclusão com o livro. A diretora ressaltou que a escola recebeu do governo federal uma verba do Programa Ensino Médio Inovador (ProEMI) de R$ 33.000,00 e que foi gasto R$ 19.800,00 em 2017 na compra de materiais e na confecção de oficinas. “O restante desse dinheiro”, pontuou ela, “nós recebemos este ano e foi a nossa grande alegria poder voltar a conclusão do terceiro campeonato de leitura e escrita e finalizamos com o lançamento que nossa escola se propôs a ser e foi uma ponta para os valores nesses noves anos” na sua gestão.

Em tom de despedida, ele frisou, “mas a gestão de Meirenildes Alencar não é apenas este nome. São todos esses nomes que passaram por aqui e que estão também ai. Nunca fiz nada sozinha. Sempre tive ao meu lado uma equipe de professores competentes, um núcleo gestor comprometido, alunos interessados, pais que confiavam no trabalho da nossa equipe e não apenas no de Meire”. E ainda disse com o olhar fixo para a coordenadora da Crede 18, “por essa razão Luciana, esse é o nosso sucesso”. “Esse é o nosso grande prazer nesse momento”.

Meire também falou da dificuldade que enfrentou quando a escola passou a perder estudantes para a Escola de Educação Profissional Wellington Belém de Figueiredo. “Nós sabíamos que íamos perdem em aprendizagem. Mas nós não tivemos medo dessa nova realidade e dessa nova forma de aprendizagem da nossa escola. Não está sendo fácil e não foi fácil”, destacou. E disse que o foco maior da escola foi ENEM e vestibulares.

O lançamento do segundo livro da escola Santa Tereza, espaço que amo, que aprendi, que sofri, espaço que fui feliz. Não estou me despedindo ainda. Ficarei aqui até o dia 31 com vocês, mas antecipo os agradecimentos a todos pela caminhada”, encerrou.

Ainda discursaram o prefeito Dariomar e os professores Wlberlândio Oliveira, Paulo Robson - único candidato a direção da referida escola -, e Nicolau Neto. O primeiro parabenizou o protagonismo estudantil e concluiu dizendo que vai presentear com um celular aquele/as que obteve a melhor nota no Enem. Já Wulberlândio frisou que a melhor nota foi da aluna Paula Gabrielly. Paulo Robson, por sua vez, ao tempo em que também estendeu os parabéns a todos apelas belíssimas apresentações, destacou a importância da presença da comunidade no evento. Por fim, este signatário veio a realçar a relevância do que este momento tem para a sociedade, vindo a mencionar valores presentes no livro como cidadania que é a base para a construção de uma sociedade mais participativa, respeitando as diferenças e promovendo a igualdade.

Antes do lançamento que teve como cerimonialista o professor aposentado Ivanildo Cidrão, Charles animou o público com músicas.

Participaram também da solenidade, os ex-prefeitos João Ivan Alcântara e Antonio Dorival, a vereadora Silvânia Caldas, Deza e Leocádia, secretário de governo e secretária de educação, respectivamente, a professora aposentada e ex-diretora da escola em evidência, Maria Duarte, além de representantes de entidades como o Sinsema e o Conselho Tutelar.

Abaixo outras fotos do evento:



















16 de março de 2018

“Tava chorando a defensora de bandido”: O que nos diferencia das bestas?



''Tava chorando a defensora de bandido, Sakamoto?'' Voltando do protesto por conta da execução de Marielle Franco, que passou pela avenida Paulista, na noite desta quinta (15), ouvi a frase dita pela voz de um rapaz, acompanhada de risos de outros, provavelmente seus amigos. Dessa vez não me dignei a olhar para trás e fazer alguma brincadeira, como sempre. Apenas respirei fundo, muito fundo, e segui meu caminho, pensando na tristeza que é ter orgulho da própria ignorância.

Já havia me deparado com centenas de comentários ao longo do dia que celebraram o assassinato de Marielle – liderança feminista, do movimento negro e da comunidade da Maré, no Rio de Janeiro, e quinta vereadora mais votada da capital carioca – e de seu motorista Anderson Gomes. Boa parte deles repetia exaustivamente abominações típicas de quem não faz ideia do que seja esse pacote mínimo de garantias para nossa dignidade.

Alguns dos leitores, aliás, acham que direitos humanos é o nome de um grupo de pessoas. Escreveram que ''com a morte dessa mulher, vai ter menos direitos humanos por aí'' ou algo semelhante.

Parte desses jovens acha que está sendo subversiva e revolucionária, pois luta contra a ''ditadura dos direitos humanos''. Essa ditadura, claro, é uma ficção. Pois se eles fossem minimamente respeitados não teríamos essa taxa pornografia de homicídios, mulheres sendo estupradas, negros ganhando menos do que brancos e pessoas morrendo por amar alguém do mesmo sexo. Não teríamos pessoas sendo executadas por defender a qualidade de vida de outras, inclusive daquelas que querem o seu mal.

Achei que valia a pena retomar trechos de um texto que eu havia escrito, em dezembro passado, para ilustrar a situação:

Direitos humanos dizem respeito à garantia de não ser assaltado e morto, de professar a religião que quiser, de abrir um negócio, de ter uma moradia, de não morrer de fome, de poder votar e ser votado, de não ser escravizado, de poder pensar e falar livremente, de não ser preso e morto arbitrariamente pelo Estado, de não ser molestado por sua orientação sexual, identidade, origem ou cor de pele.

Mas devido à deformação provocada por políticos escandalosos, líderes espirituais duvidosos e formadores de opinião ruidosos, a população acha que direitos humanos dizem respeito apenas a ''direito de bandido'', esquecendo que o mínimo de dignidade e liberdade do qual desfrutam estão neles previstos.

O mundo, ainda em choque com os horrores da Segunda Guerra Mundial, produziu a Declaração Universal dos Direitos Humanos para tentar evitar que esses horrores se repetissem. De certa forma, com o mesmo objetivo, o Brasil, ainda olhando para as feridas de 21 anos de ditadura militar, sentou-se para escrever a Constituição Federal de 1988 – que não é um documento perfeito, longe disso. Mas, com todos seus defeitos, ousa proteger a dignidade e a liberdade de uma forma que se hoje sentássemos para formula-lo, não conseguiríamos.

É depois de grandes momentos de dor que estamos mais abertos para olhar o futuro e desejar que o sofrimento igual nunca mais se repita. Desde então, não vivemos uma guerra como aquela entre 1939 e 1945, muito menos um período de exceção quanto 1964 e 1985. Acabamos nos acostumando. E esquecendo. E banalizando.

Minha geração herdou esses textos – um de nossos avós e outro de nossos pais. Agora, precisamos ensinar à geração de nossos filhos sua própria história sob o risco de que o espírito presente em 1948 e 1988 se perca por desconhecimento. O problema é que parte da geração que ajudou a escrever a Declaração Universal bem como a Constituição de 1988 se esqueceu por completo dos debates que levaram até elas, em nome do poder.

O mundo está em convulsão, com guerras, ataques terroristas, crises migratórias, catástrofes ambientais. O Brasil passa por um período sombrio, com um Palácio do Planalto castrador de direitos, o pior Congresso Nacional de todos os tempos (que está aprovando leis que retiram, à luz do dia, direitos de trabalhadores, mulheres, populações tradicionais, minorias) e um Poder Judiciário que, por vezes, faz política ao invés de resguardar a Justiça.

Contudo, é exatamente nestes momentos que precisamos nos lembrar da caminhada que nos trouxe até aqui. Para ter a clareza de que, mais importante do que reinventar todas as regras, é tirar do papel, pela primeira vez, a sociedade que um dia imaginamos frente aos horrores da guerra ou da ditadura. O que só se fará com muito diálogo e a garantia desse quinhão mínimo de dignidade que todos têm direito por nascerem humanos.

Só assim frases como as que podem ser lidas abaixo deixarão a boca das pessoas para cair no esquecimento. Frases que, não raro, nós falamos sem perceber, guiados pela nossa ignorância, medos e preconceitos. Até que sejamos devidamente educados para o contrário.

– Amor, fecha rápido o vidro que tá vindo um ''escurinho'' mal encarado. – Aquilo são ciganos? Vai, atravessa a rua para não dar de cara com eles! – Não soupreconceituoso. Eu tenho amigos gays. – Tá vendo? É por isso que um tipo como esse continua sendo lixeiro. – Por favor, subscreva o abaixo-assinado. É para tirar esse terreiro de macumba de nossa rua. – Bandido bom é bandido morto. – Tinha que ser preto mesmo! – Vestida assim na balada, tava pedindo. – Por que o governo não impede essas mulheres da periferia de ter tantos filhos assim?. Depois, não consegue criar e vira tudo marginal. – Mulher no volante, perigo constante. – Sabe quando favelado toma laranjada? Quando rola briga na feira. – Os sem-teto são todos vagabundos que querem roubar o que os outros conquistaram com muito suor. – A política de cotas raciais é um preconceito às avessas. Ela só serve para gerar racismo onde não existe. – Ai, o Alberto, da Contabilidade, tem Aids. Um absurdo a empresa expor a gente a esse risco. – Esse aeroporto já foi melhor. Hoje, tem cara de rodoviária. – Por mim, tinha que matar mulher que aborta. Por que a vida do feto vale menos que a da mãe? – Os índios são pessoas indolentes. Erram os antropólogos ao mantê-los naquele estado de selvageria. – Criança que roubou não é criança. É ladrão e tem que ir para cadeia. – Tortura é método válido de interrogatório. – Um mendigo! Vamos botar fogo nas roupas dele. Assim ele aprender a trabalhar. – Pena de morte já. – Eutanásia? Pecado. A vida pertence a Deus, não a você. – Temos que tirar essas regalias trabalhistas. O Brasil não aguenta crescer com tantos custos engessando o desenvolvimento.

Por fim,  gostaria de dar parabéns a todos que veem tudo isso acontecer ao seu redor, mas preferem ficar na ignorância quentinha de sua bolha na rede social porque pensam que o mundo lá fora é a barbárie. Afinal, a ignorância coletiva precisa, para se reproduzir, do silêncio dos que têm consciência, mas não falam.

E o silêncio é sentença de morte dos direitos humanos. (Por Leonardo Sakamoto, em seu Blog).

Marielle Franco. (Foto: Reprodução/ Blog do Sakamoto).


Atos em memória de Marielle e Anderson reúnem consternação, perplexidade e revolta


O silêncio ultrapassa os militantes identificados com o Psol, partido da vereadora.
(Foto: Reprodução/ Facebook/ Luis Paiva).


Em diversas capitais do país, muitas pessoas choram a execução da vereadora Marielle Franco (Psol-RJ). "Ousou percorrer um caminho que não foi construído para mulheres como ela. Tentam calar a voz"

Em silêncio, sem trocar palavras, muitas pessoas se abraçam e choram, se amparando mutuamente. O sentimento ultrapassa os militantes identificados com o Psol, partido da vereadora Marielle Franco, 38 anos, assassinada ontem no Rio de Janeiro. Entre camisetas, broches e cartazes de movimentos sociais e partidos, circulavam pessoas aparentemente não engajadas, com expressões de tristeza, indignação, perplexidade.

Muitas andam caladas, sozinhas. Outras se abraçam como que se solidarizando mutuamente pela dor de cada uma. Abraços e lágrimas. Cenas semelhantes em São Paulo, no Rio de Janeiro, em diversas cidades do Brasil e do mundo percorrem as redes sociais. Na Argentina, o movimento Mães da Praça de Maio mandam sua mensagem.

A professora da rede municipal de São Paulo Silvia Ferraro lembra a repressão desta quarta-feira (14), na Câmara de Vereadores, quando servidores municipais tentavam barrar a aprovação da proposta do prefeito João Doria (PSDB) que altera regra para a aposentadoria dos trabalhadores do município. “Com isso já estamos acostumados. Mas o sangue derramado de uma companheira nos deixa muito abaladas. Marielle não se curvou diante das atrocidades contra o povo pobre das favelas do Rio. Foi executada. Executada! Se quisermos honrar Marielle, não podemos sair das ruas. Temos que continuar a luta.”

A vereadora paulistana Sâmia Bomfim, do Psol, afirmou que nunca poderia imaginar ocupar o Masp, palco de tantas manifestações, porque “uma de nós foi tombada pelo Estado”. “A Marielle ousou percorrer um caminho que não foi construído para mulheres como ela. Tentam calar a voz das mulheres. Vão ter que calar milhões e não vão conseguir.”

Ela lembrou o motorista Anderson Pedro Gomes que foi executado junto com a vereadora. “A Marielle e o Anderson ousaram defender a vida de outros e outras. Tem nome quem apertou o gatilho. Marielle era negra como muitas aqui, feminista como muitas aqui, pobre como muitas aqui. Não vamos nos curvar.”

A ativista Diana Assunção, do grupo de mulheres Pão e Rosa disse tratar-se de um “assassinato com a intenção de calar a luta das mulheres, a luta de quem denuncia o extermínio cometido por policiais”. (Com informações da RBA).


Milhares de manifestantes se reuniram  em frente a Assembleia Legislativa  do Rio de Janeiro. (Foto: Mídia Ninja).

15 de março de 2018

Jovem altaneirense relata que encontra dificuldade para encenar peça “paixão de cristo”



A redação do Blog Negro Nicolau (BNN) foi procurada na manhã desta quinta-feira, 15, por João Paulo, coordenador do grupo de amigos que articula retomar a exibição teatral da peça “paixão de cristo”.

João Paulo. (Foto: Reprodução/ Facebook).
João Paulo afirmou que resolveu procura o BNN depois que leu a matéria veiculada neste espaço de comunicação e que desejava acrescentar informações, além de contrapor ideias postas na rede social facebook por Pedro Rafael. Segundo João Paulo, o responsável pela organização da peca entre amigos é ele e não João Neto como teria dito Pedro.

O jovem, porém, afirmou que o grupo que almeja construir a peça nasceu realmente dentro da igreja católica, mas que depois resolveram sair das quatro paredes da instituição religiosa visando buscar outras pessoas para participarem da encenação da “paixão de cristo”. “Por isso que ela será uma peça de rua”, disse João Paulo.

O coordenador ressaltou que o grupo conta com cerca de 50 (cinquenta) integrantes e que já possuem roteiro, percurso e data definida para a encenação. João Paulo realçou ao Blog que encontrou muitas dificuldades para obter patrocínio, principalmente no que tange aos figurinos. “Procuramos a secretaria de cultura do município e o secretário Antonio de Kaci afirmou que dispunha das roupas", pontuou. “Mas quando chegamos lá”, destacou, “só tinha três peças. A de Jesus e a de dois soldados”, frisou João.

Ele ainda ressaltou que com a ajuda do próprio secretário chegaram a oficializar o prefeito Dariomar Rodrigues (PT) visando ajuda. Diante da demora em uma resposta, o coordenador do grupo, como ele mesmo se intitulou, disse que encontraram na 'Capela de São José', de passagem, o vereador Flávio Correia (Solidariedade) e o indagaram onde encontrariam o gestor do município. O edil, segundo o jovem, teria afirmado que ele estava inaugurando a sede de uma associação de costureiras. “Fomos até ele”, disse. “Explicamos nossa situação e ele disse que a roupa não importava tanto e que poderíamos usar roupas de saco”.

Ainda segundo João Paulo, o prefeito teria dito que o município estava enfrentando dificuldade financeiras e que ele, pessoalmente, poderia ajudar o grupo com cem ou duzentos reais.

A atitude do prefeito foi vista de duas maneiras pelo grupo conforme afirmou o próprio João. “Para uns”, disse, “foi vista como um incentivo, mas para outros a atitude foi taxada como deboche”. “O fato é que resolvemos procurar saídas e fomos aos municípios de Nova Olinda e Santana do Cariri”, ressaltou ele. "Em Santana fomos informados de que o professor Sandro Cidrão poderia nos ajudar, como de fato pode”, ponderou.

Na Escola de Ensino Fundamental Hermano Chaves Frank, no sítio Pedra Branca, chegou a conversar com o professor Sandro e este disse que dispunha das vestimentas e que as emprestaria.

Perguntado sobre o que eles teriam de ajuda do município, João Paulo afirmou que possuem a secretaria de assistência social como espaço para os ensaios, além de duas cruzes cedidas pela secretaria de cultura e que estão junto a integrantes da Fundação ARCA providenciando uma terceira cruz.

Ele destacou ainda o apoio do pároco do município, Damião Peixoto, que se colocou à disposição além de ter xerocado várias partes da peça.

A encenação está programada para ocorrer na noite do próximo dia 30 de março, logo após a missa e tem cerca de 50 minutos de encenação. O pouco tempo se dá em face da peça começar pela santa ceia.

A redação do Blog Negro Nicolau entrou em contato com o prefeito Dariomar Rodrigues para falar acerca do ocorrido. Ele explicou que não poderia ajudar o grupo este ano e justificou que o município perdeu recursos, mas que teria se comprometido em ajuda-los em 2019.

Expliquei que perdemos recursos na ordem de 220 mil reais por mês, e que não tinha como alocar recursos para o grupo de jovens esse ano, mas mim comprometi em ajudar ano que vem”, disse Dariomar.



O silêncio eloquente de Bolsonaro diante da morte de Marielle



O deputado federal Jair Bolsonaro (PSL), eleito pelo Rio de Janeiro, mesmo estado onde foi assassinada a vereadora Marielle Franco (PSOL) e o motorista Anderson Gomes na noite desta quarta-feira 14, não disse uma palavra sobre o caso nesta quinta-feira 15.

O parlamentar, cuja figura foi criada como resultado de um clima de ódio no País, ainda quer ser presidente da República. A agenda principal de Bolsonaro é a segurança pública e o uso da força militar contra o crime organizado.

O assassinato de Marielle e Anderson tem todas as indicações de uma execução política. Os autores de ao menos nove disparos contra o carro onde estavam os dois apenas emparelharam o veículo, dispararam e saíram sem roubar nada.

O caso tem tido grande repercussão internacional e mobilizado boa parte da população em diversas cidades, que protesta contra esse crime bárbaro. O acontecimento pode ser também a derrota de Bolsonaro, que se cala sobre os assassinatos que ocorreram em sua cidade. (Com informações do Brasil 247).

(Foto: Reprodução/ Brasil 247).


Não fique no meu túmulo a chorar, eu não estou lá: em memória de Marielle



Esta semana, um aluno, ao se encontrar com um estudante negro, disse: achei um escravo. Marielle foi executada. EXECUTADA, sim. Um professor confessou: odeio pretos!

Nós compartilhamos cada uma dessas notícias. Durante esses dias, nós #FomosTodos: o estudante da FGV, Marielle e a favor da exoneração professor racista. Hoje #TodoSomos.

Nos meses anteriores:

– as cotas em diversas Universidades públicas foi fraudada e você se calou quando houve fraudes no sistema de cotas raciais na sua universidade;

– falou que não acredita que jovens negros morrem mais. Afinal, existem mais negros na periferia, e na periferia as pessoas morrem;

– relativizou quando mulheres negras saíram em defesa dos homens negros que foram achincalhados por mulheres brancas racistas (o caso dos rappers);

– falou que a Taís Araújo estava fantasiando sobre o racismo estrutural do Brasil, quando disse em sua palestra que seu filho tem mais chances de ser parado pela polícia e de ser assassinado.
– usou Fernando Holiday e Luislinda Valois como exemplo para falar sobre questões raciais;

– achou o cúmulo da vitimização uma mulher negra com o cabelo “armado” reclamar que não conseguia emprego por conta do racismo.

Não se engane! O prego que hoje fecha o caixão dos corpos negros recebe uma martelada sua. A indignação seletiva alimenta a estrutura política, social e econômica que permite que essas atrocidades continuem a acontecer.

Não adianta gritar fora golpista neste momento, o genocídio da população negra não começou com o impeachment. Marielle cai como os seus, ao longo dos séculos, vêm caindo. (Por Pâmela Guimarães-Silva , no  Portal Geledés).


(Foto: Reprodução/ Geledés).

Morte de Marielle Franco, uma das vozes mais ativa contra a ocupação militar, repercute na imprensa internacional



O assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL), ocorrido na noite desta quarta-feira (14), no Rio de Janeiro, repercutiu nos principais jornais do mundo. Veículos de Estados Unidos, Reino Unido e Venezuela destacaram a morte da parlamentar e sua biografia.

O caso apareceu em reportagens do New York Times, do Washington Post e da emissora ABC. "Um membro da Câmara da cidade e seu motorista foram mortos a tiros por dois assaltantes não identificados em uma rua no centro, no Rio de Janeiro, a segunda maior cidade do Brasil, onde militares foram convocados há um mês após uma onda de violência", diz o texto, que tem como origem a agência Associated Press.

Já a emissora multiestatal venezuelana teleSUR lembrou que Marielle era uma das vozes mais "combativas contra a ocupação militar das favelas do Rio de Janeiro". "Um dia antes de seu assassinato, a jovem socióloga havia denunciado a ação brutal e os contínuos abusos de direitos humanos por parte do exército na região de Irajá, na comunidade de Acari", relata.

O britânico The Guardian ressalta que Marielle era ativista e especialista na análise de violência da PM. Além disso, o jornal reforça que a vereadora chegou a acusar os policiais de serem agressivos ao abordar os moradores das favelas do Rio. "Marielle Franco, vereadora e crítica da polícia, é executada a tiros no Rio", diz o título da matéria.

O jornal peruano El Comercio, por sua vez, relatou o crime e ressaltou que a vereadora era crítica da intervenção federal na Segurança Pública do estado.

Já o veículo português Esquerda.net afirmou que o Movimento Feminista Por Todas Nós vai organizar uma vigília em Lisboa para homenagear Marielle, o que deve ocorrer no próximo dia 19.

Marielle, 38 anos, estava dentro de um carro no bairro de Estácio, centro da capital fluminense, quando criminosos emparelharam o veículo e abriram fogo. Foram disparados ao menos oito tiros contra o Chevrolet Agile. O motorista do automóvel onde estava a carioca, Anderson Pedro Gomes, também morreu. Os autores dos disparos não levaram nada. (Com informações do Opera Mundi e da RBA).

The Guardian ressalta que Marielle era ativista e especialista na análise de violência da PM.
(Foto: Guilherme Cunha/ ALERJ).