Após
a votação da reforma trabalhista na Câmara, a bancada ruralista se movimenta
para alterar as leis que tratam da proteção dos direitos do trabalhador rural.
A intenção é restringir o poder da Justiça do Trabalho e do Ministério Público
do Trabalho e alterar normas para permitir, por exemplo, que o empregador deixe
de pagar salário ao empregado do campo. Nesse caso, a remuneração poderá ser
feita por “qualquer espécie”, como alimentação e moradia. As informações são do
Valor Econômico.
Congresso em Foco -
Para não aumentar ainda mais a resistência à sua proposta, o relator da reforma
trabalhista, Rogério Marinho (PSDB-RN), deixou de fora 192 mudanças
legislativas reivindicadas pela bancada ruralista. Esses itens, agora, serão
rediscutidos em um projeto do deputado Nilson Leitão (PSDB-MT), coordenador da
frente parlamentar.
Segundo
o Valor, o texto aumenta para até 12 horas a jornada diária por “motivos de
força maior” e permite a substituição do repouso semanal dos funcionários por
um período contínuo, com até 18 dias de trabalho seguidos. Autoriza, ainda, a
venda integral das férias dos empregados.
“Existe
preconceito muito grande da Justiça do Trabalho com o trabalhador rural”, diz
Nilson Leitão. Para ele, as leis trabalhistas e os regulamentos expedidos pelo
Ministério do Trabalho são elaborados com base nos conhecimentos adquiridos no
meio urbano, desprezando “usos, costumes e a cultura do campo”.
Deputados
e entidades ligados à agricultura familiar, como a Confederação Nacional dos
Trabalhadores Assalariados (Contar) Confederação Nacional dos Trabalhadores
Rurais (Contag), classificam a proposta como ataque ainda maior aos direitos
trabalhistas.
“As normas existentes são esparsas e em
grande medida, subjetivas, dependentes das interpretações dadas pelos auditores
fiscais do Trabalho e da própria Justiça do Trabalho em determinados casos, o
que põe o produtor rural em situação de insegurança jurídica, tornando os altos
gastos efetuados para o atendimento destas normas, um investimento de risco”,
alega o tucano na justificativa do projeto de lei.
Indígenas
Nilson
Leitão é conhecido como um dos principais porta-vozes dos ruralistas no
Congresso. No ano passado, foi um dos autores do pedido de criação da CPI da
Funai, comissão que relatou. Também foi o presidente da comissão especial que
aprovou a proposta de emenda à Constituição (PEC 215) que transfere, do
Executivo para o Legislativo, a palavra final sobre o reconhecimento das terras
indígenas.
Conforme
reportagem da Pública, Nilson angariou R$ 1,43 milhão do setor agropecuário dos
R$ 2,46 milhões investidos na campanha.
O
deputado é investigado no STF por suspeita de envolvimento com outra quadrilha,
acusada de invadir reiteradamente a terra indígena Marãiwatsédé, em Mato
Grosso. Em setembro, 13 pessoas do grupo foram denunciadas pelo Ministério
Público Federal do estado pelos crimes de invasão de terras públicas,
resistência, associação criminosa, incêndio, roubo, corrupção ativa, incitação
ao crime e crime de dano. “É terceiro falando pro quarto sobre um quinto”, diz
Nilson Leitão, sobre as escutas telefônicas nas quais integrantes do grupo
afirmam haver um pedido do deputado por 30 lotes da invasão. “Eu nunca fui lá,
nunca pisei lá. Aliás, fui numa comissão externa da Câmara, com outros
deputados, ficamos duas horas em cima de um caminhão e voltamos.”
Nota
enviada pela Frente Parlamentar da Agricultura sobre PL 4662/2016:
“Sobre notícia publicada nesta terça-feira
(02/05) pelo jornal Valor Econômico, “Leis do trabalho rural devem mudar”, é
preciso esclarecer, em nome da verdade, que o Projeto de Lei 6442/2016 nunca
levantou a hipótese de diminuir o salário em troca de casa e comida. Ao
contrário, o que o projeto prevê são acréscimos beneficiando o trabalhador por
conta de acordos previamente firmados. Ou seja, só há benefícios ao trabalhador
acordados antecipadamente.
Não se mexe no salário. Ele é
sagrado. O texto do projeto em nenhum momento prevê a possibilidade de o
trabalhador passar a ser remunerado tão somente com o fornecimento de sua
habitação e alimentação necessária à sua sobrevivência. Tal possibilidade é
fantasiosa.
Observe-se no § 4º, do art. 16 que “a
cessão pelo empregador, de moradia e de sua infraestrutura básica, assim como,
bens destinados à produção para sua subsistência e de sua família, não integram
o salário do trabalhador”. Ou seja, qual é a dúvida que o salário está
preservado? E mais, que uma coisa não tem nada a ver com a outra?
Algumas pessoas por incompreensão do
texto, ou mesmo por total desconhecimento decorrente da falta de leitura, têm
levantado hipóteses que definitivamente não são verdadeiras, como, por exemplo,
no possível estabelecimento de jornada de 12 horas diárias. O tema jornada de
trabalho está descrito no art. 6º que assim diz: “A duração do trabalho normal
não será superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais”.
Observe-se ainda que a jornada semanal, por exemplo, está definida na
Constituição Federal, logo, seria impossível alterá-la por meio de lei
ordinária. Ou seja, faltam com a verdade essas pessoas que se manifestam nesse
sentido.
Sobre o trabalho contínuo, conforme
consta do projeto, a fim de possibilitar melhor convívio familiar e social, o
trabalhador rural que desenvolva sua atividade laboral em local distante de sua
residência poderá, mediante solicitação e sujeito à concordância do empregador,
usufruir dos descansos semanais remunerados em uma única vez, desde que o
período trabalhado consecutivamente não ultrapasse 18 (dezoito) dias.
Observe-se que não há supressão alguma do direito atualmente existente, o texto
apenas permite que o trabalhador escolha a forma como prefere gozá-lo.
Não se trata de uma premissa
impositiva do empregador, mas sim de um benefício que pode estar amparado pela
legislação, e só pode ser exercido desde que seja requerido pelo trabalhador,
que muitas vezes perde muito tempo – chegando a dias em alguns casos – no
deslocamento até sua residência. Hoje, no meio urbano, essa hipótese é
socialmente aceita, basta ver o caso dos trabalhadores em plataformas
petrolíferas, cruzeiros marítimos, dentre outros.
As propostas legislativas
apresentadas por parlamentares, além de serem uma forma de sua legítima atuação
mandatária para propor ou mesmo rever determinada legislação que afeta a
sociedade, consiste em verdadeiro convite para a promoção do diálogo social dentro
do Congresso Nacional, por todos os atores sociais envolvidos ou interessados.
No que se refere ao PL 6442/2016 não
é diferente, vários são os dispositivos em que se busca uma necessária
atualização ou adequação às necessidades do campo, já que boa parte da
legislação aplicável ao setor decorre de normas tipicamente urbanas.
Eventuais ajustes em propostas
legislativas complexas, como é o caso, são absolutamente normais, todavia, o
que não se pode admitir é a prática de um “terrorismo social” por parte de
pessoas que sequer leram o texto, ou por aquelas que dolosamente o desvirtuam
como forma de promoção pessoal ou de promoção de discursos de conveniência.”
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Nilson Leitão: "Existe preconceito muito grande da Justiça do Trabalho com o trabalhador rural". Foto: Reprodução/Youtube. |