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Precisamos falar sobre Hipocrisia, Falso Moralismo e Cinismo


Precisamos falar sobre Hipocrisia, Falso Moralismo e Cinismo. Tudo a mesma coisa? Quase...

Há certos indivíduos e instituições públicas e, ou, privadas que conseguem agregar todos esses adjetivos. São pessoas que ocuparam cargos públicos as custas do sofrimento alheio e impuseram a eles as marcas de chicotadas ao som de regimes ditatoriais. São veículos de comunicações que apoiaram a instalação da ditadura e colaboram descaradamente para a sua sustentação nem que para isso fosse  preciso torturar e cercear a liberdade de expressão.

No Brasil o período de 1964 a 1985 é exemplo do que ora expõe. Como na história há mudanças e permanências, e estas últimas são muito menos sentidas do que as primeiras, testemunha-se o fato de que a democracia corre-se sério risco de ser desfeita antes de completar seus 31 anos. Isso porque alguns sujeitos e setores da imprensa parece que não sentiram o golpe civil-militar e estão a todo momento tentando interromper o governo eleito democraticamente.

O mais revoltante são as peças que estão convocando as manifestações para o dia 13 do mês em curso. No Ceará, o titular é um coronel, o seu Adauto Bezerra. Em São Paulo, Minas Gerais e em outros estados as figuras cínicas são Aécio Neves e Bolsonaro. Um é representante da elite e do capital e portanto, contrário a todo e qualquer tentativa de se construir uma sociedade voltada para a igualdade social. O outro, homofóbico e racista. Quanto a imprensa basta lembrar do apoio irrestrito ao regime civil-militar. 

Ah, antes que alguém pergunte: Não sou filiado ao PT. E isso não é uma defesa do governo. É apenas um relato de quem não suporta hipocrisia, cinismo e falsos moralistas.  Me chamem para lutar por uma sociedade justa e estarei lá. 

Quando a resposta vem de onde menos se espera: Deputado diz que atuação da oposição é hipócrita



Em sessão para votação da medida provisória sobre o refinanciamento das dívidas fiscais e trabalhistas dos clubes de futebol profissional, na tarde de ontem (7), o deputado Silvio Costa (PSC-PE) voltou a discursar em defesa do governo e fez duras críticas aos parlamentares do PSDB e ao DEM – a quem tem chamado ironicamente de “paladinos da ética”.

Em sua fala de nove minutos, ele chamou de “convulsão” a convenção do PSDB realizada no último domingo. “Não dá para dizer que aquilo foi uma convenção. E não dá para acreditar que o PSDB acredita que o povo do Brasil acredita no PSDB. Acho que o PSDB está precisando fazer uma análise. É um poço de incoerência”, disse.

O parlamentar lembrou que o líder do DEM, deputado José Mendonça Bezerra Filho, foi autor da emenda da reeleição aprovada em 1997, que permitiu que prefeitos, governadores e presidentes pudessem emendar dois mandatos seguidos. A emenda, que beneficiou Fernando Henrique Cardoso (PSDB), foi aprovada mediante um esquema de compra de votos na Câmara. “Todo mundo sabe que o PSDB usou a máquina para aprovar a reeleição (de FHC). No meu estado, vários deputados federais receberam rádio do PSDB para aprovar a reeleição.”

Outra lembrança de Costa foi a criação, pelos tucanos, do fator previdenciário. “O PSDB foi o primeiro a mexer e tirar o direito do trabalhador. E agiu certo porque era o PSDB. Depois acabou com o fator. O mesmo partido criou e acabou a CPMF.

Para ele, os parlamentares dos dois partidos são incoerentes e não têm autoridade política para criticar o governo, muito menos propostas.

Em tom de provocação, mandou recado para Aécio Neves: “Aécio não vai ser candidato porque (Geraldo) Alckmin, como se diz no nordeste, já comeu o cartão dele. Serra quer botar o parlamentarismo”.

FHC não foi poupado. “Fernando Henrique tem ciúme de Lula, inveja de Lula porque Lula tem cheiro de povo e ele tem cheiro dessa parte dessa elite imbecil de São Paulo, que assaltou o país por 500 anos e que olhava para Minas e para o Nordeste com nojo. Lula fez o povo, acima de tudo, sentir o prazer de viver.”

Costa defendeu os 39 ministérios do governo Dilma Rousseff, comparando com o exagero das 27 secretarias criadas pelo governador paulista Geraldo Alckmin. “Proporcionalmente, é maior o número de 27 secretarias num estado do que 39 ministérios para todo o país. Rapaz, respeitem a inteligência do povo brasileiro. Vocês estão pensando que o povo vai entrar na onda de vocês, que estão querendo surfar na insatisfação momentânea de grande parte do povo brasileiro.”

De acordo com o parlamentar, faltam credibilidade, proposta e, principalmente, “a qualidade de chegar no coração das pessoas. “As pessoas ficam mangando do PSDB. Eu estou com pena do garoto do Rio. O Aécio Neves, coitadinho, é um menininho que fica tomando chope em Ipanema. Como perdeu para a presidente Dilma, está com ciúme.”

E atacou também o presidente do DEM, senador Agripino Maia (RN), que apareceu no programa Fantástico, da Rede Globo, recebendo R$ 1 milhão. “Que moral é essa? Vocês, da oposição, quando são pegos em corrupção, então tudo bem.”

Ele ressaltou que o governo está investigando a corrupção e que nunca foram feitas tantas prisões como no governo do PT. E que durante o governo de FHC, o então chefe da Polícia Federal, Romeu Tuma, foi impedido de investigar as privatizações.

E recebeu aplausos de uma parte do plenário quando sugeriu à oposição esperar o término das investigações da Operação Lava Jato, que citou dois ministros do Tribunal de Contas da União. “Vocês vêm falar em pedaladas, mas é preciso esperar para saber se os ministros são culpados ou não. Quem primeiro mexeu em déficit primário foi o PSDB.”

No final de março, em discurso igualmente inflamado contra a oposição, ele criticou a hipocrisia dos parlamentares da oposição e os acusou de acobertar crimes em São Paulo, como os envolvendo o chamado esquema do trensalão.

                               

Um paìs onde racistas só se surpreedem com o racismo dos outros




Como foi bastante divulgado durante a semana, Maria Júlia Coutinho, carinhosamente chamada de Maju, a “garota do tempo” do Jornal Nacional, foi alvo de comentários racistas nas redes sociais. Rapidamente criaram-se campanhas de apoio a ela, pessoas manifestaram-se contra o episódio e a hashtag Somos todas Maju liderou o trend topics do twitter.

Maria Julia Coutinho, Jornalista de meteorologia do Jornal
Nacional, foi alvo de racistas nas redes.
Obviamente que me solidarizo com Maju, como mulher negra que se coloca, sei o que é receber ofensas nas redes sociais de pessoas sem noção. Porém, o que me intriga é a falta de criticidade de muitas pessoas que se solidarizaram.

Quando eu vi algumas pessoas da minha rede de amigos ficarem surpresos com as ofensas, minha vontade foi dizer: queridinhas, é a mesma coisa que vocês faziam comigo na escola, lembram? Lembram meninos, que vocês corriam de mim na época da festa junina dizendo categoricamente: “não vou dançar com a neguinha?” Quase escrevi para um colega que estava revoltado se ele lembrava ter ficado surpreso ao saber que eu fazia mestrado em filosofia política e falava outros idiomas quando me conheceu e ainda disse surpreso “nossa, você é inteligente mesmo, se fosse loira seria um fenômeno”.

Aos que dizem “em pleno século XXI e isso ainda acontece” falta conhecimento da história do Brasil, de que esse país foi fundado no racismo, é estrutural. Eu fico surpresa com a surpresa dessas pessoas. Como eu sempre digo, não precisa ler Franz Fanon, basta ligar a TV. Num país com 52% de população negra, por que essas mesmas pessoas não se surpreendem com a ausência de negros na TV? Por que não criam uma campanha chamada Por uma TV menos eurocêntrica, por exemplo?

Quem trabalha com educação e ficou indignado está trabalhando com a lei 10639? Trata-se de uma lei de 2003 que alterou a lei de diretrizes e bases da educação e obriga a inclusão do ensino da história de África e afrobrasileiras na escola.

Interrompem a aula quando um aluno faz ofensas racistas a outro ou diz que isso é brincadeira e não faz nada?  Quem é empregador, contrata profissionais negras? É urgente que pessoas brancas discutam racismo pelo viés da branquitude, que se questionem. Que reflitam e perguntem a si mesmas: quantas vezes eu contribui com a baixa estima da minha amiga negra ao fazer piadas sobre o cabelo dela? Quantas vezes eu tentei destruir o sonho de uma pessoa negra por achar que a filha da minha empregada negra não podia fazer faculdade com meu filho e sim servir minhas próximas gerações? Quantas vezes eu naturalizei que mulheres negras deviam me servir em vez de entender que elas são empurradas a esses empregos por conta do racismo e machismo estrutural?

Os apresentadores William Bonner e Renata Vasconsellos
posam com cartazes com a frase #SomosTodosMaju.
Sem esses questionamentos não serve de nada mostrar indignação. De campanhas que não mexem nas estruturas e não se questiona privilégios já estamos fartas. Não adianta se revoltar com as ofensas que Maju sofreu julgando que essas são coisas isoladas, que só acontecem às vezes quando o racismo é uma realidade para a qual muitos fecham os olhos.

Não adianta se incomodar com essas ofensas e ser contra as cotas, ser fã do descerebrado do Gentilli, chamar militantes de vitimistas quando apontam racismo. Ou ainda ser a favor da redução da maioridade penal quando se sabe que essa só vai encarcerar jovens negros porque julga-se que jovens brancos ricos ou de classe média são aqueles que de boa família que cometeram um erro.

Não dá pra ter indignação seletiva, revoltar-se com o que aconteceu com a jornalista, mas calar-se quando é com o porteiro, com o menino da periferia.

No Brasil até quem se coloca contra certas atitudes racistas não sabe ou finge não saber como o racismo age. Racismo é um sistema de opressão que nega direitos, vai além de ofensas. Como diz Kabengele Munanga: “o racismo é um crime perfeito no Brasil, porque quem o comete acha que a culpa está na própria vítima, além do mais destrói a consciência dos cidadãos brasileiros sobre a questão racial. Nesse sentido é um crime perfeito”.

Toda solidariedade a Maju e toda indignação perante a hipocrisia. Sim, o Brasil é racista e o ódio racial contra a população negra existe desde que o primeiro navio negreiro aqui chegou.

Do Fato e a História: “Hipocrisias e suas violências”


Muitas vezes, quando queremos nos referir a alguém que é fingido ou sacana, dizemos que fulano é um "artista". Se pensarmos na raiz etimológica da palavra hipocrisia, não estamos de todo errados, ela vem do grego hypokrisis, que designava, na antiga Grécia, os atores de teatro, pois durante as apresentações eles fingiam ser outras pessoas. Com o tempo, a partir principalmente da idade média, hipócrita passou a indicar qualquer pessoa falsa ou fingida, e foi com esse sentido que entrou em nossa língua.

Retomo sua etimologia porque quero falar de duas hipocrisias diferentes, relativas a suas violências correspondentes.

A primeira hipocrisia é a que muitas pessoas (uns ingênuos e outros conscientes) demonstram diante de fenômenos como o racismo e a homofobia, violências que atentam contra a dignidade das pessoas. Registros de racismo e homofobia parecem estar crescendo nos dias de hoje, em função dos inúmeros casos que se tornam público. Não penso que se trata apenas disso, hoje vivemos uma clara transição civilizatória que é cultural e institucional. A vigília de uma massa crítica cada vez maior de ativistas anti-racistas e anti-homofobia é um fato, bem como a ampliação dos canais de denúncia e um maior encorajamento para fazê-lo. A tolerância com atos de racismo e homofobia está cada vez menor, entretanto, posturas que visam diminuir a importância desses atos e demonstram dificuldade em aceitá-los como habitus (Bourdieu) estrutural da nossa sociedade também são muitas.

Essas posturas que relativizam os preconceitos podem ser facilmente identificadas entre humoristas, jornalistas e formadores de opinião da grande mídia. Com todo esse espaço, essas opiniões mesquinhas que minimizam discriminações reivindicando um "direito de ser preconceituoso" se espalham como vírus em comentários pelas redes sociais. É só ter estômago para ler comentários, por exemplo, em postagens sobre o caso de racismo com o goleiro Aranha e sobre o caso do incêndio do CTG em Livramento onde um casal gay casaria.

Vamos ver alguns exemplo dessas vozes: "agora tudo é racismo", "é uma neura de perseguição", "que chatice esse politicamente correto", "eles saem com camisa com 100% negro e eu não posso sair com uma 100% branco", "vamos fazer o dia do hétero também", "racismo está na cabeça dos negros", "raças não existem".

Desde já, preciso sugerir o documentário "O riso dos outros" de Pedro Arantes para encurtar caminho e não precisar falar muito sobre essa onda de "humoristas" que visam perpetuar piadas racistas, homofóbicas, classistas  e que pra se defender denunciam uma suposta "ditadura do politicamente correto". Esse humor atrasado, quer se apresentar como transgressor ao reproduzir piadas que exalam preconceitos contra minorias e ainda reclamar de uma suposta "censura" advinda de militantes e ativistas sociais e da judicialização. Na verdade, como não criam nada novo e perceberem que ao se utilizar da "liberdade de ser preconceituoso" se promovem na mídia, eles seguem tendo os esteriótipos, o riso das desigualdades e a aceitação acrítica do status quo como matéria prima para o humor.

Qualquer pessoa esclarecida ao ver esse excelente documentário entenderá de onde vem esse discurso, de que lado ele está e o que representa dos dias de hoje. Na fala de um dos entrevistados da película, o professor Idelber Avelar, aprendemos que: "temos ainda uma situação de brutal desigualdade na qual as pequenas conquistas dos grupos historicamente excluídos não podem ser apresentadas como uma espécie de nova ditadura ou nova ortodoxia. Politicamente correto é um termo que designa uma relação fantasmática de uma camada social dominante com uma suposta opressão vinda de baixo que na verdade nunca teve realidade nenhuma".

Portanto, essa grita contra o politicamente correto é substrato de um discurso conservador e de direita que promove uma disputa contra setores sociais discriminados que, em função dessa transição que vivemos, passam a ter algumas conquistas e incomodam os que sempre naturalizaram preconceitos e discriminações. Se esse é seu lado, reproduza todas essas simplificações que são feitas, pelo menos agora tens consciência disso.

O caso Aranha e do CTG em Livramento nos proporcionaram aprendizados importantes. Além de um clubismo e folclorismo gauchescos fanáticos, muitas pessoas sensatas caíram no "canto da sereia" que relativiza o preconceito recorrendo ao discurso da diferença. O quê? Como assim?

"No futebol racismo é normal, sempre foi assim, e as vaias ao goleiro negro que denunciou racismo é um direito da torcida", "se eu quiser tenho direito de não gostar de negros e gays, é um direito meu". "Nos lugares do tradicionalismo gaúcho temos direitos de preservar nossa homofobia, aqui é um lugar privado e não vamos casar gays".

Todos sofismas retóricos desprezíveis. Ninguém tem direito ao preconceito. A tolerância termina quando ocorre a intolerância, como muito bem refletiu Juremir Machado em três textos fundamentais com links no final deste. "Há um jogo retórico no ar: a tolerância teria de ser total, abarcando inclusive a intolerância, para não ser intolerante" diz ele.

Ninguém está acima da lei, se alguém não gosta de negros e gays deve se tratar, fazer terapia, e guardar isso, porque se expressar isso cometerá um crime que atacará a dignidade de milhares de pessoas.

Portanto, não há lógica plausível em reivindicar o direito à diferença para ser preconceituoso, pelo simples fato de que sê-lo não configura uma diferença, mas sim um crime. Racismo e homofobia não se tratam de opiniões, mas crimes que a civilização e o processo de desenvolvimento humano não toleram mais.

O preconceito não é um escolha individual, é uma crença (doença) coletiva assimilada por muitos em seus hábitos e pensamentos, essa crença nega o direito de ser feliz a muitas pessoas. Uma morte LGBT acontece, em média, a cada 28 horas motivada por homofobia no Brasil. Dados sobre a morte de jovens negros circulam nas estatísticas diariamente, sem comentar o perfil da população carcerária. Mas podemos pensar em casos individuais em que o preconceito exerce papel definitivo na vida afetiva das pessoas, nas famílias. Quantos gays sofrem além do medo da violência, o medo da rejeição, da exclusão e por isso abdicam de seguir suas vidas plenamente com quem gostam? A bela série de Selton Mello, "Sessão de Terapia" no GNT, tratou de um caso desses nessa sua terceira temporada, Felipe, personagem das quartas-feiras.

A segunda hipocrisia que destaco não tem apenas pessoas como portadoras, mas os meios de comunicação hegemônicos, ou em uma clave mais genérica, a indústria cultural (Adorno e Horkheimer). Os canais de Tv noticiam alarmados os casos de violência que ocorrem em todas esferas da sociedade, os portais da internet exploram violências domésticas, nas escolas, nos grandes centros urbanos, bradam pela ineficácia da segurança pública.

Não vou entrar aqui no mérito de que a segurança pública vista como guerra contra o crime e as drogas está falida. Vou comentar sobre a violência mais gratuita, aquela que é indicativo do grau de brutalidade e violência que crianças e jovens estão expostos hoje em dia.

Se pegarmos os trinta últimos filmes que passaram da Tela Quente ou Supercine, que perfil de filme teremos? Isso vale para as outras emissoras. Vamos pensar agora sobre jogos eletrônicos que adolescentes jogam na internet ou no vídeo game. Grande maioria tem como personagem matadores letais, se dão em cenários de guerras e outros eventos violentos. E o esporte que mais cresce em termos de exposição midiática e lucros? Ganhou inclusive reality show, é o MMA, que deixa de lado os melhores aspectos das artes marciais e traz em sua superfície a lógica da "luta livre" bizarra, impossível de dissociar da promoção da agressividade.

Poderia ficar dando outros exemplo, mas diante desse leque básico de violência que nos acessa, é evidente a hipocrisia dos meios de comunicação que cegamente priorizam a lógica da audiência/lucro sem levar em conta nenhum aspecto educativo. Inclusive deixando de cumprir seu papel por ter uma concessão pública de mídia, que deveria atender a um conjunto amplo de exigências formativas para cidadania que nunca foram levadas a sério.

E quando se pensa em tocar no assunto, democratizar e regulamentar os meios de comunicação, as poucas famílias que comandam a indústria cultural brasileira, gritam desesperadas que sua liberdade está sendo atacada. As mesmas argumentações que desconstroem o grito contra o politicamente correto valem para esse discurso da elite midiática. Com objetivo de reproduzir privilégios e garantir seus mecanismos de manipulação eles tentam nos convencer que os "ditadores" são aqueles que querem mexer no seu monopólio e no seu poder.

Gente, toda essa hipocrisia não está em uma nuvem, ela tem nome e endereço: Danilo Gentili, Rafinha Bastos, Roger (Ultraje), Rodrigo Constantino, Luiz Felipe Pondé, Reinaldo Azevedo, David Coimbra, Percival Puggina, Marcelo Taz, Demétrio Magnoli, Ali Kamel  e muitos outros. Esses são representantes desse pensamento que confunde licenciosidade com liberdade, direito à diferença com direito ao preconceito.

Para eles, rir, brincar com a condição de outro ser, com a desigualdade, a identidade, a orientação sexual, a cor e a religião de alguém pode ser considerado apenas uma brincadeira. É só uma piada? Ou insulto, alienação, ignorância, discriminação, preconceito e falta de compromisso ético com uma sociedade mais humanizada, mais respeitosa?

Pessoas que não sofrem diuturnamente com o preconceito e com violência, caso não se disponham a entender o mundo em que vivem, estão suscetíveis a reproduzir valores e pensamentos (em formato de piada ou não) que corroboram com injustiças inaceitáveis.  No Rio Grande do Sul, infelizmente, temos uma formação cultural preconceituosa na sua espinha dorsal, os lugares sociais dos negros e dos homossexuais estão historicamente demarcados no imaginário coletivo, mesmo a elite intelectual, aquela que acessa o ensino superior, reproduz pensamentos antiquados.
Isso é visivelmente enraizado, principalmente, nas gerações que estão acima dos 50 anos, viveram quase toda sua vida imersos em ambientes que fazer piada de preto e bicha eram coisas normais, em que gay era ligado a promiscuidade e Aids, em que negros não frequentavam clubes sociais por todo o estado. Essa geração retroalimentou ignorâncias e passou para seus filhos e netos, haja vista, o quão normal é ouvirmos comentários e opiniões extremamente preconceituosas nos nossos meios familiares e sociais.

Desnecessário dizer que essa análise não pretende generalizar, mas mostrar como estamos diante de confusões sérias, que induzem pessoas bem intencionadas a repetir mantras que não os representam. A internet abriu a possibilidade de lermos mais, todavia, intensificou o que chamo de "opinismo instantâneo", as pessoas opinam e compartilham conteúdo mais rapidamente que os leem com acuro.
Vamos ficar atentos ao fato de que muitas pessoas estão incomodadas com a transição civilizatória e institucional que estamos vivendo, elas querem manter "aquele tipo de gente no seu lugar", elas estão acostumadas com pobres, negros e gays em determinada posição social que não é na parte de cima da pirâmide, essa "cobertura" é delas. Quando alguém se levanta, exige respeito e mudanças, gera desconforto e então entra em ação o grupo supracitado das "pessoas de bem" e "defensores das liberdades de expressão". Esse grupo formula esse tecido argumentativo conservador e demagógico para anestesiar as mentes que poderiam aderir a um projeto ético e político de sociedade que promova rupturas radicais com a moralidade e as condições sociais atuais.

Hipócritas são atores como vimos, buscam convencer os outros de algo que não é real, por isso são demagogos, palavra que também vem do grego, demos = povo e agogos = conduzir, demagogia seria a arte ou poder de conduzir o povo. É uma forma de atuação política na qual existe um claro interesse em manipular ou agradar todos, visando apenas a conquista do poder político ou ideológico.

Não vamos cair nesse conto atrasado, que justifica violências de todos os tipos.