Filme “Marighella” será exibido pela Globo como minissérie

 

(FOTO/ Divulgação).

O filme “Marighella” ganha versão seriada com exibição pela TV Globo. A estreia será na próxima segunda-feira (16), no bloco noturno e contém trechos removidos do filme. A obra venceu oito estatuetas na última edição do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro.

A minissérie será exibida após o reality show, Big Brother Brasil 2023, que também será estreado na segunda-feira. A produção é inspirada na trajetória do guerrilheiro Carlos Marighella, um dos principais organizadores da luta armada contra a ditadura militar brasileira.

Marighella foi político, escritor e guerrilheiro que, na minissérie, ganha vida por meio do multiartista Seu Jorge. O longa foi dirigido por Wagner Moura e conta com elenco de nomes conhecidos do público como Bruno Gagliasso, Adriana Esteves, Ana Paula Bouzas, entre outros nomes.

O longa-metragem de 155 minutos foi recortado em quatros episódios, para dar vida à minissérie e contém cenas inéditas que não foram ao ao no filme. Em entrevista ao portal Splash, do UOL, Wagner Moura destacou a sua ansiedade para assistir a nova versão.

Há uma quantidade enorme de cenas que não estão no filme. Algumas, inclusive, são das melhores que filmamos, mas que não cabiam na linha narrativa que a montagem foi pedindo. Algumas cenas lindas da relação entre Clara e Marighella, por exemplo, só serão vistas agora na série”.

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Com informações do Notícia Preta.

Mesmo cansada de guerra, democracia resistirá

 

As ministras Anielle e Sonia (Foto: Sergio Lima/AFP).

O resultado das urnas, em 2022, expôs um país dividido entre conservadores e progressistas representados, respectivamente, por Jair Bolsonaro, candidato à reeleição, e Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente em busca do terceiro mandato. A maioria do eleitorado de esquerda e do centro democrático se aproximou, de forma intensa ou moderada, do campo magnético do petista, declarado vencedor. De novembro para cá, Lula comandou a transição, nomeou gabinete, foi diplomado pelo Tribunal Superior Eleitoral e, num histórico e inesquecível 1º de janeiro, tomou posse. Recebeu de representantes do povo brasileiro a faixa presidencial que o antecessor se recusou a repassar.

O Brasil adentrou o ano novo em condições de retomar o debate sobre políticas públicas que, implodidas no mandato anterior, lhe estreitavam o futuro. E devolver normalidade ao funcionamento das instituições democráticas, duramente ameaçadas e atacadas pelo ex-presidente e seus aliados. Mas, derrotado pelo voto, o bolsonarismo passou a semear a ruptura. Já na noite do segundo turno da eleição, proclamado o vencedor, iniciou-se a gestação de um golpe de Estado, que nasceu morto no domingo, 8, mas deixou feridas.

Por dois meses, em manada, Bolsonaro e aliados atacaram o sistema eleitoral; extremistas, observados com injustificável tolerância, tomaram vias públicas e vizinhanças de quartéis para pedir intervenção das Forças Armadas. Sob cumplicidade ou omissão conivente de autoridades militares, policiais e políticas, golpistas atacaram e vandalizaram instalações do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto, do Supremo Tribunal Federal, no domingo infame. A TV transmitiu ao vivo inédita profanação dos edifícios da República. Buscavam abolir violentamente o Estado Democrático, depor um presidente legitimamente eleito, crimes previstos no Código Penal, ensina Adriana Cruz, juíza federal e professora de Direito Penal. E fracassaram. Pela destruição de patrimônio do povo brasileiro, desnudaram-se.

A extrema direita brasileira, bolsonarista, devotada ao capitão ex-presidente que a tudo assistiu de um endereço na Flórida (EUA), ficou nua em plena Praça dos Três Poderes. Nada a atenuá-los, encobri-los, disfarçá-los. No Planalto, os incultos tiraram do pedestal a escultura “Bailarina”, de Victor Brecheret; quebraram “Galhos e sombras”, de Frans Krajcberg; destruíram “O flautista”, de Bruno Giorgi. Racistas, perfuraram seis vezes o quadro denominado “As mulatas”, do modernista Di Cavalcanti. Obscurantistas, sucatearam o relógio do século XVIII desenhado por André-Charles Boulle e fabricado pelo relojoeiro francês Balthazar Martinot. A peça única foi presente da Corte de Luís XIV a Dom João VI, que a trouxe para o Brasil em 1808. Patriotas de araque, arremessaram n’água a “Bandeira do Brasil”, de Jorge Eduardo.

Autoproclamados cristãos, arrancaram da parede a imagem de Jesus Crucificado do STF. Autoritários, puseram abaixo as galerias de fotos dos ex-presidentes no Planalto e no Supremo. Criminosos, rasgaram exemplares da Constituição e dos códigos Civil e Penal usados pela Corte para consultas durante julgamentos; picharam a estátua que representa a Justiça. Destruíram o plenário e arrancaram o brasão do STF, golpes que provocaram “ferida quase física” na ministra Cármen Lúcia:

Foi ato planejado, ensaiado e voltado à desfiguração das composições que fizeram a História das instituições. Papel se rasga, mas a Constituição continua. Rasgar obras não destrói a literatura. O mesmo com o Direito. Destroem-se exemplares para se manter mais forte a instituição que dela se representa”, me escreveu a ministra.

A democracia resistiu ao golpe. As instituições — Presidência da República, Senado, Câmara dos Deputados, STF, governadores das 27 unidades da Federação — se ergueram em reação. Hão de identificar, processar e punir os culpados, numa cadeia de criminosos que vai de incitadores a organizadores, de financiadores a facilitadores, de vândalos a agressores, de conspiradores a ladrões. Sem anistia. O golpe tentado empurra para a luz da democracia aqueles que ousaram flertar com o autoritarismo sombrio. Na pesquisa Datafolha, 93% dos entrevistados condenaram os ataques de domingo. Nas trevas, os extremistas e os cínicos que ainda relativizam a antidemocracia nunca ocultada por um líder político que emergiu atacando adversários, pregando violência e incensando torturador.

O bolsonarismo está nu; e a democracia, viva. Foi por ela que, num palácio em reconstrução, desfilaram Sonia Guajajara e Anielle Franco para serem empossadas como ministras dos Povos Indígenas e da Igualdade Racial. Duas brasileiras, uma indígena, outra negra, que escancararam ao Brasil a possibilidade de fazer política com gratidão à ancestralidade, valorização do território (a aldeia, a favela), compromisso com a equidade, cocar e boné CPX, música e dança, poesia de Conceição Evaristo, samba da Estação Primeira de Mangueira. Como disse Chico Buarque ao entrar no palco, no Rio, no domingo nefasto: “Viva a democracia”. Mesmo cansada de guerra, ela vai passar.

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Com informações do Geledés e do O Globo.

Estatuto da Equidade Racial deve ser pauta em 2023 na Câmara de Altaneira

 

Da esq. para a dir. (Vereador Ariovaldo Soares, Vereador Deza Soares, Professor Nicolau Neto e a Vereadora Rafaela Gonçalves durante solenidade de posse da mesa diretora) FOTO/ João Alves)

Por Nicolau Neto, editor

Nos dia 13 e 26 de maio de 2021, mês em que as atenções se voltaram para relembrar e debater os 133 anos da abolição inconclusa da escravização no Brasil, ocorreu no município de Altaneira, no cariri cearense, e no formato remoto, a apresentação do Plano de Combate ao Racismo e de Promoção da Equidade. A ação partiu deste professor, fundador e editor deste blog.

Como já relatado aqui, as apresentações se deram junto às secretarias de governo, de educação, de cultura, além de contar com a participação de diretores/as e coordenadores/as das escolas no município, de formadores/as educacionais e de representantes do Sindicato dos Servidores Municipais (Sinsema) e um primeiro momento (dia 13) e posteriormente para o poder legislativo (dia 16).

Das 11 propostas do plano, duas já foram aprovadas por meio de lei na Câmara e sancionadas pelo executivo municipal: a transformação do dia 20 de novembro em feriado municipal de autoria do presidente da casa, o vereador Deza Soares (PT); e a criação do Conselho Municipal de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (CMPPIR) oriunda do poder executivo.

Agora, mais uma propostas poderá sair do papel. Isso porque durante a solenidade de posse da mesa diretora da Câmara para o biênio 2023/2024 ocorrida no último dia primeiro, a vereadora Rafaela Gonçalves (PT), agora na função de vice-presidente,  destacou em seu discurso de posse que uma de suas prioridades para este ano será a aprovação e promulgação do Estatuto Municipal da Equidade Racial que adotará os parâmetros do Estatuto da Igualdade Racial do Governo Federal aprovado em 2010.

É importante destacar que o enfrentamento as desigualdades advindas do racismo é uma responsabilidade e um dever de todos e os poderes constitucionalmente instituídos precisam assumir seu papel na luta antirracista disseminando o debate a respeito da questão racial, contribuindo para desarranjar todas as formas de discriminação e preconceito presentes diariamente.

A primeira sessão ordinária de 2023 da Câmara de Altaneira será no dia 1º de fevereiro.

Íntegra do discurso de Anielle Franco, Ministra da Igualdade Racial

 

Anielle Franco assumiu o Ministério da Igualdade Racial (Foto: Ton Molina/Fotoarena/Estadão Conteúdo).

A nova ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, tomou posse do cargo nesta quarta-feira (11) com um discurso marcado de lembranças de sua irmã, a vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018, e sobre a luta pela inclusão de pessoas negras.

A cerimônia aconteceu em conjunto da posse da ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara. Os eventos de ambas estavam marcados para segunda-feira (9), mas devido aos atos golpistas nos prédios dos Poderes precisaram ser remarcados.

Leia abaixo a íntegra do discurso da ministra Anielle Franco:

Gostaria inicialmente de saudar a todas, todes e todos os presentes e realizar os cumprimentos formais me dirigindo ao Presidente Lula e sua esposa Janja, a nossa presidenta Dilma e cumprimento as autoridades ministeriais aqui presentes em nome das minhas colegas excelentíssimas ministras (Ministra Luciana Santos, Margareth Menezes, Esther Dweck, Nísia Trindade, Cida Gonçalves, Ana Moser, Marina Silva, Simone Tebet, Daniela Carneiro e minha companheira nesta cerimônia, a Ministra Sônia Guajajara).

Antes de começar meu discurso, eu preciso agradecer a algumas pessoas.

À minha família, por todo suporte, carinho e cumplicidade, especialmente aos meus pais Marinete e Toinho, ao meu esposo Fred, às minhas filhas, a minha sobrinha Luyara e também a minha irmã Marielle Franco, em nome de quem eu aceitei este desafio. Obrigada por serem minha base e sustentação. Obrigada por toda paciência e cuidado. Obrigada por me fazerem ser a minha melhor versão a cada dia.

Agradeço àquelas que vieram antes de mim, as minhas mais velhas, às minhas irmãs de alma, mulheres negras que seguraram a minha mão desde o dia 14 de março de 2018 e que nunca mais soltaram. Em especial Sueli Carneiro, Lúcia Xavier, Jurema Werneck, Conceição Evaristo, Angela Davis, Vilma Reis, Vanda Menezes, Bianca Santana, Benedita da Silva, Nilza Iracy, Pamella Passos, Fátima Lima, Janaína Cardoso, Marcelle Decothe, Flavia Oliveira, Rachel Barros, Glaucia Marinho, Regina Adami e tantas outras que permanecem comigo.

Agradeço também e saúdo, em nome da minha amiga Talíria Petrone, todas as pessoas, em especial mulheres negras, que se disponibilizaram a seguir na linha de frente da política institucional mesmo depois de tanta dor.

Agradeço ao Padre Gegê e Mãe Leiria que vem me acompanhando e guiando nessa caminhada.

Agradeço à equipe do Instituto Marielle Franco, que sem elas nada teria sido possível nesses últimos 4 anos, e que foram fundamentais, nos ajudando a realizar essa travessia do luto à luta. Além das parceiras e parceiros que nos ajudaram a plantar essa semente, a quem comprimento referenciando aqui os queridos Pedro, Átila, Marcelo, André, Henrique, Carô, Carol Proner e Carol Lourenço.

Agradeço em especial o GT de transição pelo precioso trabalho realizado, em tão curto tempo, e que nos servirá de horizonte para orientar as nossas pautas e ações nos próximos anos.

Agradeço também a equipe com quem tenho trabalhado incessantemente desde antes da posse para construir o Ministério da Igualdade Racial que a população brasileira merece. É uma honra e uma responsabilidade muito grande suceder nomes como Matilde Ribeiro, Martvs Chagas, Edson Santos, Elói Ferreira Araújo, Luiza Bairros e Nilma Lima Gomes, pessoas a quem dirijo a minha mais sincera deferência e admiração.

Quero aproveitar esse momento para apresentar a vocês e saudar nossas futuras secretárias e equipe do ministério: Roberta Eugênio, que assumirá a Secretaria Executiva do Ministério, Flávia Tambor, que topou a missão de ser nossa Chefe de Gabinete, Márcia Lima, que aceitou comandar a Secretaria de Políticas de Ações Afirmativas e Combate e Superação do Racismo, Iêda Leal, que estará à frente da Secretaria de Gestão do Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial – Sinapir; e Ronaldo dos Santos, nosso Secretário de Políticas para Quilombolas, Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana, Povos de Terreiros e Ciganos. A vocês dirijo o meu mais profundo agradecimento por aceitarem o desafio de reconstruirmos e avançarmos com as políticas de igualdade racial deste país.

Por fim, mas não menos importantes, agradeço às pessoas que aceitaram o nosso convite para estar aqui hoje no palco desta cerimônia de posse, que representam o Brasil que queremos construir, com o protagonismo de mulheres, mulheres negras, quilombolas, povos de matriz africana, ciganos, juventudes, favelados e periféricas, povos e comunidades tradicionais.

Desde o dia 14 de março de 2018, dia em que tiraram Marielle da minha família e da sociedade brasileira, tenho dedicado cada minuto da minha vida a lutar por justiça, defender a memória, multiplicar o legado e regar as sementes de minha irmã. Nesse caminho fundamos o Instituto Marielle Franco, organização que se tornou referência no combate à violência política de gênero e raça e na defesa de direitos de mulheres negras, pessoas LGBTQIAP+ e periféricas.

Os dias desde o golpe contra a presidenta Dilma têm sido difíceis, em especial depois de 2018. Tenho certeza que para todas que estão aqui. Mas em meio a uma política de morte, nossa resposta foi a luta pela vida.

Luta essa que nos trouxe até aquele 1º de janeiro deste ano quando, finalmente, o povo brasileiro subiu a rampa deste palácio, em um gesto marcante que emocionou o mundo inteiro pois passou um recado: quando nosso presidente Lula recebeu a faixa presidencial do povo, colocada por uma mulher negra periférica, mostrou que o caminho para o Brasil do futuro será sim liderado por aqueles e aquelas que há séculos resistem ao projeto violento que fundou esse país.

A cerimônia de hoje guarda um simbolismo muito especial. Depois dos atentados sofridos por esta casa e pelo povo brasileiro no último domingo, pisamos aqui em sinal de resistência a toda e qualquer tentativa de atacar as instituições e a nossa democracia. O fascismo, assim como o racismo, é um mal a ser combatido em nossa sociedade.

O mesmo projeto que permite que as vidraças deste palácio tenham sido destruídas, é o projeto que mata todos os dias pessoas como o catador Dierson Gomes da Silva, da Cidade de Deus, no Rio de Janeiro.

Combater o racismo e o fascismo parte — também — da luta por justiça, reparação e por democracia.

Precisamos identificar e responsabilizar quem insiste em manter esta política de morte e encarceramento da nossa juventude negra, comprovadamente falida. Assim como estamos identificando e responsabilizando quem executou, provocou e financiou a barbárie que assistimos no último domingo.

Precisamos, enquanto sociedade, ter uma conversa franca e honesta, que países no mundo inteiro já estão fazendo. Encarar a realidade de que essa política da guerra nas favelas e periferias nunca funcionou. Pelo contrário, apenas segue dilacerando famílias e alimentando um ciclo de violência sem fim.

Se o mundo em que queremos viver é um mundo onde todas as pessoas tenham o igual direito e oportunidade de serem felizes, com sua liberdade, respeitando uns aos outros, em paz, harmonia, justiça e dignidade, já passou da hora de pararmos de repetir as fórmulas fracassadas que não entregam nada disso!

E neste ano de 2023, que estamos celebrando 20 anos do primeiro governo Lula, que criou em 2003 a primeira Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial no Brasil, daremos um passo à frente na institucionalização da luta política antirracista com este Ministério. Trazendo o racismo para o debate público e institucional de um modo até então não vivenciado na política brasileira, uma conquista fruto das mobilizações sociais incessantes que antecederam e culminaram neste momento.

Digo isto porque o sujeito mais importante a quem devo agradecimentos nesta data de hoje é o povo brasileiro, especialmente o povo negro e indígena, que há séculos resistem contra a violência do estado e se articulam para ocupar e permanecer em espaços como este.

Hoje nós possuímos um Ministério da Igualdade Racial no Brasil e gostaria de firmar um compromisso com cada um de vocês afirmando que a tarefa que me foi confiada, de ocupar o cargo de Ministra, será exercida com transparência, seriedade, técnica, combatividade, cuidado, respeito à trajetória e conquistas dos movimentos sociais e muita escuta.

As portas do Ministério da Igualdade Racial estão abertas para que possamos dialogar e construir juntas. Digo essas palavras pensando também nos excelentíssimos ministros e ministras com quem compartilho o desafio da união e reconstrução.

E, para nós, não seria possível falar em reconstrução sem que pensemos na nossa memória e naqueles que nos antecederam, na restauração das conquistas que foram ameaçadas pelos retrocessos dos últimos anos e na reparação, sobretudo, daquilo que ainda não conseguimos olhar com a devida atenção e cuidado.

Após quase quatrocentos anos de escravidão negra, e 133 anos de uma abolição que nunca foi concluída, a população brasileira ainda enfrenta múltiplas faces do racismo que gera condições desiguais de vida e de morte para pessoas negras e não negras no país. Isso não pode ser esquecido e nem colocado de lado.

É lamentável e inadmissível pensar que diante de um dos marcos sociais mais cruéis da nossa história, se não o mais cruel, a escravização de pessoas negras trazidas do continente africano, mediante torturas, estupros, assassinatos e uma série de outras violências, ainda existam pessoas que questionem a importância de um Ministério como o Ministério da Igualdade Racial no Brasil.

Desde o sequestro dos nossos bisavós e tataravós em África, à luta pela garantia de políticas públicas e da existência do Ministério da Igualdade Racial, inclusive no que diz respeito aos recursos orçamentários, temos nos empenhado visceralmente em um projeto de sobrevivência. Projeto este que vai desde o enfrentamento ao racismo científico e suas políticas eugenistas, do branqueamento e da aniquilação da população negra, à desmistificação das narrativas de meritocracia e de democracia racial na sociedade brasileira.

A desigualdade econômica; a fome; a falta e a precarização de emprego; o desmonte de políticas de ações afirmativas; a insuficiência de políticas sociais; o colapso do sistema de saúde; o racismo religioso e ambiental, a violência estatal e o encarceramento são alguns dos exemplos que podemos citar para ilustrar múltiplas dimensões do genocídio da população negra.

Também não podemos deixar de mencionar o negacionismo do último governo federal com relação às políticas de prevenção e enfrentamento à covid-19, bem como o atraso na vacinação, dentre outras questões que culminaram em resultados que atingiram de forma desigual a população brasileira, sendo a população negra a mais afetada. Me solidarizo com todas as pessoas que perderam familiares, entes queridos e amigos em decorrência da pandemia que atravessamos. Cumprimento todos os profissionais de saúde que atuaram na linha de frente desse momento tão duro em nossa história, em especial as mulheres e homens negros que atuam na ponta deste sistema.

Estamos falando de diferenças raciais hierárquicas que instituem condições materiais desiguais de vida e de morte de brasileiros e brasileiras. Não podemos mais ignorar ou subestimar o fato de que a raça e a etnia são determinantes para a desigualdade de oportunidades no Brasil em todos os âmbitos da vida. Pessoas negras estão sub-representadas nos espaços de poder e, em contrapartida, somos as que mais estamos nos espaços de estigmatização e vulnerabilidade.

Apesar de a maioria da população brasileira se autodeclarar negra, é possível observar que os brancos ocupam a maior parte dos cargos gerenciais, dos empregos formais e dos cargos eletivos. Por outro lado, a população negra está no topo dos índices de desemprego, subemprego e de ocupações informais, além de receber os menores salários.

A população negra está mais exposta ao analfabetismo, às piores condições de moradia, sendo inclusive a grande maioria das pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza. Os negros também são os que mais são mortos no Brasil, sobretudo vítimas da letalidade policial; e as mulheres negras também são as mais vitimadas por feminicídio e as que mais estão expostas à mortalidade materna e à violência obstétrica.

Os homens e as mulheres negras também correspondem à maior parcela da população carcerária no país, e muitas dessas pessoas estão presas provisoriamente, sem uma condenação formal.

Afinal, de que Estado de Direito estamos falando? Definitivamente, não é esse o modelo de democracia racial que queremos. Como nos lembra a Coalizão Negra por Direitos, composta por mais de 200 organizações negras do país: enquanto houver racismo não haverá democracia.

Reitero o que foi dito no pronunciamento de posse do Presidente Lula: O Brasil do futuro precisa responder às dívidas do passado! E é por isso que em um governo de reconstrução, nós gostaríamos também de falar com os não negros. O enfrentamento ao racismo e a promoção da igualdade racial é um dever de todos nós. A população brasileira não pode ser onerada com o custo das violações das quais é vítima.

Esperamos poder contar com vocês nessa tarefa de reconstrução em prol de respeito, cidadania, dignidade e igualdade de oportunidades. E, me dirijo especialmente aos demais ministros e ministros cujas pastas não poderiam funcionar sem um recorte pontual e transversal sobre o racismo e a racialidade no Brasil. E, também por isso, o Ministério da Igualdade Racial se coloca à disposição para reconstruir esse novo Brasil coletivamente. O compromisso com a Igualdade Racial no Brasil não pode ser o compromisso apenas deste Ministério!

Às queridas ministras Marina Silva e Sônia Guajajara, contem com o Ministério da Igualdade Racial para defender nossos povos indígenas e nosso meio ambiente lutando contra o que reconhecemos como Racismo Ambiental e pela justiça climática. Afinal, somos nós quem mais sofremos com as enchentes, deslizamentos e doenças produzidas pelas mudanças do clima.

Às queridas ministras Simone, Esther e ministro professor Haddad, contem com o Ministério da Igualdade Racial, para materializarmos a promessa que o Presidente Lula tanto repetiu ao longo da sua campanha: colocar os pobres no orçamento. Sabemos qual a cor da população mais pobre desse país e trabalharemos incansavelmente para dar dignidade através de políticas públicas ao nosso povo.

Às queridas ministras Nísia Trindade, Margareth Menezes, Ana Mozer, Luciana Santos e ministro Camilo Santana, contem com o Ministério da Igualdade Racial para pensarmos políticas de Educação, Saúde, Cultura e Esporte, Ciência, Tecnologia e Inovação que serão essenciais para garantir o direito ao futuro e à vida digna da população negra brasileira.

Aos queridos ministros Flávio Dino, Silvio Almeida e minha querida ministra Cida Gonçalves Contem com o Ministério da Igualdade Racial para promovermos a verdadeira justiça social, racial e de gênero que esse país precisa alcançar.

A todos os demais colegas ministros, advocacia geral da união liderada por meu colega Jorge Messias, controladoria geral da união por meu querido Vini, secretarias, e demais parlamentares e autoridades aqui presentes, contem com o ministério da Igualdade Racial para impulsionarmos políticas internas e externas que garantam efetivamente a democracia que tanto sonhamos.

Só iremos vivenciar uma verdadeira democracia a partir do momento em que a preocupação com a dignidade da população negra seja também uma preocupação de cada um dos outros ministérios, e esperamos poder contar com vocês para enfrentar este desafio. Só conseguiremos dar uma resposta eficaz às dívidas do passado se trabalharmos juntas.

Reconhecemos a demanda dos movimentos sociais com relação à necessidade de uma institucionalidade própria para a formulação, coordenação e articulação de políticas e diretrizes governamentais para a promoção da igualdade racial. Aos movimentos, organizações, sociedade civil, contem com o Ministério da Igualdade Racial para retomar o nosso poder de agência institucional.

Nós precisamos confrontar o esvaziamento e o enfraquecimento das políticas raciais conquistadas e construídas ao longo da história do enfrentamento ao racismo e da promoção da igualdade racial no Brasil. É nossa prioridade lutar pelo fortalecimento e ampliação de políticas que culminem na dignidade da vida do povo negro brasileiro.

E neste dia histórico em que o verdadeiro Brasil toma posse, a partir da caneta de nosso presidente Lula e com o peso de uma luta de gerações pela criminalização do racismo, damos mais um passo no caminho da promoção de reparação e igualdade. Saúdo a todos os juristas, ministros e secretários envolvidos na construção do PL que será assinado agora e que sinaliza um país do futuro sem racismo.

Nos comprometemos aqui também com a revogação dos atos que não reflitam a missão do Ministério da Igualdade Racial e com a promoção de políticas concretas.

Trabalharemos nos próximos quatro anos para fortalecer a Lei de Cotas e ampliar a presença de jovens negros e pobres nas universidades públicas;

Buscaremos aumentar a visibilidade e presença de servidores negros e negras em cargos de tomada de decisão da administração pública;

Relançaremos junto a ministérios parceiros o plano juventude negra viva, que promoverá ações que visem a redução da letalidade contra a juventude negra brasileira e a ampliação de oportunidades para jovens de nosso país;

Avançaremos em uma articulação interministerial pelo fortalecimento da política nacional de saúde integral da população negra;

Retomaremos programas que propaguem direitos para comunidades quilombolas e ciganas, incidindo para a regularização fundiária, a infraestrutura, a inclusão produtiva e o desenvolvimento local com direitos e cidadania para estes povos;

Será, também, a partir da maior estruturação e fortalecimento do Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial que iremos realizar ações que busquem a equidade racial em diálogo com todos os municípios, estados e órgãos da união.

Essas serão as primeiras medidas de uma longa caminhada para recuperar o que foi destruído e fortalecer e ampliar o legado que vem sendo construído há tantas gerações.

É preciso reconhecer que este país foi sedimentado sob hierarquias raciais, consequências do colonialismo escravocrata, das políticas eugenistas, e das narrativas pautadas na desigualdade racial. Aqui se desenvolveu o “racismo à brasileira”, negando a nossa história e falseando uma memória em prol da farsa da democracia racial. O racismo merece um direito de resposta eficaz e nós gostaríamos de convidar a todas, todos e todes, negros e brancos, para que possamos formular e executar juntas essa proposta.

Nós estamos aqui porque temos um outro PROJETO DE PAÍS: Um projeto de país onde uma mulher negra possa acessar e permanecer em diferentes espaços de tomada de decisão da sociedade, sem ser interrompida ou violentada.

Um projeto de país onde uma mãe de um jovem negro não sofra todos os dias na dúvida se o seu filho vai voltar pra casa porque ele corre o risco de ser assassinado pelo próprio estado.

Um projeto de país onde nossos jovens negros possam ter acesso a educação pública, gratuita e de qualidade, através de escolas, universidades e serviços públicos que lhes permitam sonhar e construir outras possibilidades de futuro.

Um projeto de país em que negros, brancos, indígenas, populações tradicionais, e todas as pessoas independentemente de sua raça, cor, etnia, gênero e sexualidade tenham seus direitos constitucionais garantidos, e sejam tratados com dignidade e igualdade de oportunidades.

Um projeto de país pautado na busca pelo bem viver coletivo, pela melhoria da qualidade de vida e pela garantia da cidadania.

Nós temos um projeto de país e esperamos contar com vocês nessa construção. E é por isso que eu faço esse pedido a toda a população brasileira: caminhem conosco.

Caminhem conosco nessa estrada por onde nossos antepassados caminharam e por onde os nossos filhos e filhas caminharão.

Caminhem conosco até que nosso povo seja verdadeiramente livre, protagonista de sua própria trajetória, acessando direitos, dignidade e uma vida plena com justiça, reparação e felicidade.

Caminhem conosco até que os sonhos de nossas ancestrais se tornem realidade.

Gostaria de encerrar este pronunciamento com um poema muito especial para mim e que representa um pouco de tudo isso que quisemos trazer aqui no dia de hoje:

Vozes-Mulheres — Conceição Evaristo

A voz de minha bisavó

ecoou criança

nos porões do navio.

Ecoou lamentos

de uma infância perdida.

A voz de minha avó

ecoou obediência

aos brancos-donos de tudo.

A voz de minha mãe

ecoou baixinho revolta

no fundo das cozinhas alheias

debaixo das trouxas

roupagens sujas dos brancos

pelo caminho empoeirado

rumo à favela

A minha voz ainda

ecoa versos perplexos

com rimas de sangue

e

fome.

A voz de minha filha

recolhe todas as nossas vozes

recolhe em si

as vozes mudas caladas

engasgadas nas gargantas.

A voz de minha filha

recolhe em si

a fala e o ato.

O ontem – o hoje – o agora.

Na voz de minha filha

se fará ouvir a ressonância

O eco da vida-liberdade.

Nós somos essas filhas e não vamos nos furtar à fala e ao ato. Não recuaremos!

Iremos construir o Ministério da Igualdade Racial que a população brasileira merece. Agradeço a cada um de vocês que vieram até aqui, aos que não conseguiram entrar, aos que estão assistindo em casa, na rua, no transporte coletivo, agradeço sobretudo a todas as mulheres negras que construíram esse país no anonimato.

Como diz os versos de uma música considerada um hino para o movimento de mulheres negras, cantada no encerramento o 1º encontro nacional de mulheres negras em 1988, em Valença, no Rio de Janeiro:

África liberta,

em suas trincheiras

Quantas anônimas

Guerreiras brasileiras

mais uma vez

África liberta,

Tem suas trincheiras

Quantas anônimas

Guerreiras brasileiras.

Agradeço novamente a confiança depositada neste projeto coletivo, não chegamos aqui sozinhas e seguiremos juntas reafirmando nosso compromisso em trabalhar dia e noite por um Brasil do futuro com igualdade, justiça e reparação para todas as pessoas.

Vamos juntas.

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Com informações do Geledés e do Portal UOL


Lula sanciona lei que equipara injúria racial ao crime de racismo

 

(FOTO | Reprodução).

O presidente Lula (PT) sancionou a lei que equipara injúria racial ao crime de racismo, na noite desta quarta-feira (11), durante a posse da Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, realizada junto com a posse da Ministra do Povos Indígenas, Sonia Guajajara, no Palácio do Planalto.

A assinatura foi feita, entre aplausos e comemorações, após os discursos das ministras empossadas, que firmaram o compromisso do governo com a população negra e indígena. A lei sancionada prevê que o crime de injúria racial tenha uma pena maior, de 2 a 5 anos de reclusão.

Conforme diz o texto, a pena será aumentada da metade se o crime for cometido por duas ou mais pessoas, assim como no caso de ser cometido por funcionário público no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las.

Também está previsto no texto aprovado a pena de suspensão em caso de racismo praticado em locais esportivos e artísticos, e para casos de racismo religioso. O Projeto de Lei 4566/2021 já havia sido aprovado pelo Congresso Nacional em dezembro do ano passado, e só aguardava a sanção do Presidente da República, que tinha até esta quarta-feira (11) para ser feita.

Agora, assim como nos casos de racismo, a injúria racial é considerada inafiançável e imprescritível. Por fim, o texto também cita o crime de racismo realizado dentro dos estádios. Caso condenada, a pessoa poderá ser proibida de frequentar o local por até três anos.
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Com informações do Notícia Preta.

20 anos da Lei 10.639/03: Acervo digital que incentiva educação antirracista é lançado

 

20 anos da Lei 10.639/03. (FOTO/ Reprodução/ Porvir).

Em novembro de 1996, a Lei 9.394 entrou em vigor para estabelecer as diretrizes e bases da educação no Brasil. Composta por 92 artigos, o objetivo era estabelecer os princípios e finalidades da educação nas instituições de ensino. No entanto, a norma pouco abordava tópicos relacionados à questão etnico-racial no combate a uma aprendizagem antirracista nas escolas.

Assim, em 9 de janeiro de 2003, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) promulgou a Lei 10.639/03, que estabelece a obrigatoriedade de inclusão da história e cultura afro-brasileira no currículo das escolas brasileiras. Em seu aniversário de 20 anos, o regimento ganhou mais um reforço: um acervo digital com mais de 50 experiências positivas para a redução das desigualdades étnico-raciais em sala de aula.

Intitulado “Equidade Racial na Educação Básica: Pesquisas e Materiais”, os conteúdos reúnem diversos materiais como teses acadêmicas, artigos, livros, atividades lúdicas, jogos didáticos e outros formatos. Tudo fruto de um edital realizado em 2020 pelo Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), que procura garantir os direitos da população negra apoiando a luta antirracista.

O CEERT tem se dedicado à formação de pesquisadores/as negros/as na área da educação antirracista. Para isso, temos uma linha de ação que é o edital de pesquisas e artigos científicos sobre o cuidado racial na educação básica. Nesta primeira edição, selecionamos 15 projetos de pesquisas de profissionais da educação que ensinam na Educação Básica e Superior em todas as regiões do Brasil”, explica Graça Gonçalves, consultora da área de educação com equidade racial do CEERT.

Cada pesquisa selecionada pelo edital recebeu um financiamento para que fosse colocado em prática. Com isso, o resultado terminou virando livros, levantamentos, mapeamentos, manuais, aplicativos, jogos, brincadeiras que passam a compor, a partir deste ano, o acervo inédito lançado pela ONG. Segundo Graça, a ideia é que a plataforma seja não apenas um ambiente de aprendizagem, mas também um espaço de interação onde os profissionais da educação e toda a sociedade possam trocar vivências.

Ao acessar o acervo, o internauta tem contato com produtos das diferentes pesquisas realizadas. Jogos e brincadeiras para as crianças, feminismo negro, representatividade na literatura infantil e diversas pesquisas sobre como o racismo está enraizado nas salas de aula são alguns dos temas abordados. Além do CEERT, a iniciativa é do Itaú Social, realizada em parceria com a Fundação Tide Setubal, Instituto Unibanco e Unicef.

Professora da Universidade Regional do Cariri (URCA), Cícera é uma das pesquisadoras que teve seu projeto selecionado pelo edital. Intitulado “O Currículo e os Processos de Formação Docente no Campo das Relações Etnico-Racais na Educação Básica numa Perspectiva Inter e Transdisciplinar”, seu estudo tem como foco no processo de implementação do ensino da história e cultura africana e afro-brasileira no Ensino Fundamental 2 da educação básica. O trabalho também aborda a formação de professores.

Olhamos para as infâncias negras, potencializando a relação que esses adolescentes constroem com as africanidades que fazem parte da sua vida, da comunidade, de suas experiências vividas. [...] Estamos trabalhando a relação com a África e com as trajetórias das populações negras no contexto brasileiro a partir da relação com lugar, que começa a partir da minha história de vida”, detalha a pesquisadora.

Importância de uma educação antirracista

Além do edital que proporcionou aos estudos financiados um olhar mais atento à implantação do ensino da história e cultura afro-brasileira no currículo das escolas brasileiras, o CEERT também investe na formação continuada de professores, especialmente dos profissionais que atuam na aprendizagem de estudantes de 0 a 11 anos de idade.

A formação é desenvolvida através de propostas e metodologias pedagógicas que ajudem os professores a tratarem o assunto durante todo o ano letivo e não apenas em dias de datas comemorativas.

Temos um grande percentual de escolas que só investem no ensino da Lei em datas específicas, como, por exemplo, no mês de novembro [mês da Consciência Negra]. Temos que tornar isso um trabalho cotidiano e não pontual. A luta antirracista no ensino em que ser transversal, dentro de todos os campos do conhecimento que a escola trabalha. Gostaríamos que a lei 10.639/03 fosse menos efemérides. Só assim poderemos erradicar o racismo de todos os setores da vida brasileira”, analisa Graça Gonçalves.

Essa é uma realidade sentida pelo pesquisador e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Alan Alves-Brito. Também coordenador do Núcleo de Estudos Africanos, Afro-brasileiros e Indígenas (NEABI), ele explica que muitos professores sentem dificuldade para pensar formas didáticas de abordar o ensino da história e cultura afro-brasileira, especialmente no que tange a educação escolar quilombola, seu objeto de estudo.

Para nós, professores universitários, um dos grandes desafios ainda é levar a Lei 10.639/03 para a formação inicial. Como é que a gente articula a formação de professores em todas as áreas do conhecimento, na Pedagogia, no direcionamento das Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Escolar Quilombola, de 2012, mas também a de 2004, que é a Educação para Relações Étnicos-Raciais?”, questiona o acadêmico.

A universidade é muito importante para desarticular o racismo institucional porque é a instituição que forma professores e outros profissionais. Se essas pessoas são formadas sem a perspectiva da lei 10.639, não teremos uma educação antirracista. Vamos ter médicos que não vão saber lidar com os corpos negros nos hospitais, por exemplo. Por isso, a importância das universidades de aplicar a lei. A formação continuada de professores que estão já trabalhando e não tiveram essa formação também é importante”, completa Alan Alves-Brito.

Ele também teve seu projeto selecionado pelo edital realizado pela CEERT. Os resultados que mais se destacaram no projeto proposto sobre a educação quilombola foram o Mapa dos Quilombos de Porto Alegre, um Curso de Formação de Professores na temática da ancestralidade e um artigo com críticas às mudanças no Ensino Médio estabelecidas pelo governo do Rio Grande do Sul.

O projeto que eu coordenei se chama Zumbi Dandara dos Palmares. Reuni diferentes pesquisadores porque sou astrofísico, mas convidei colegas historiadores, geógrafos, pedagogos para que o projeto ficasse mais amplo. Nos dividimos em vários grupos de trabalhos para olhar para o banco de dados e analisar pedagogicamente quais eram os planos políticos. Nosso objetivo é desestimular o racismo na estrutura, pensando sobretudo nas questões institucionais”, finaliza.

Anansi Observatório

Além da formação continuada de professores, do apoio aos projetos de pesquisas que serviram de base para o desenvolvimento do acervo digital, o CEERT também conta com o “Anansi Observatório da Equidade Racial na Educação Básica”. A iniciativa nada mais é do que um fruto colhido a partir dos resultados obtidos com as experiências e conclusões obtidas com os projetos desenvolvidos a partir do edital de 2020.

O Anansi Observatório é um ambiente virtual que se pretende monitorar a aplicação da lei nas escolas através de alguns eixos. Este é um projeto que ainda está em construção, mas a ideia é que ele seja o coração do CEERT através dessa biblioteca dinâmica, que vai criar um repositório gigantesco de todos esses materiais que já falamos”, pontua a consultora do CEERT.

Além disso, esse acervo também deve ser um espaço de interação com outros lugares e professores. Assim, teremos materiais de qualquer professor ou pesquisador que queira receber, deixar disponível ou divulgar seu material”, complementa Graça Gonçalves, fazendo menção também a outros eixos prioritários do Observatório, como o “advoga-se”, que acompanha e denuncia a aplicação da lei nas escolas.

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Com informações do Alma Preta.

Câmara de Altaneira repudia ato golpista e terrorista em Brasília


(FOTO/ Reprodução/Mídia Ninja).

Por Nicolau Neto, editor

O Poder Legislativo de Altaneira lançou nesta segunda-feira, 10, uma nota repudiando os atos golpistas e terroristas realizados no último domingo, 08, por um grupo de descontrolados e descontentes com os resultados das eleições presidenciais ocorridas em outubro de 2022 que deram a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a oportunidade de governar o país pela terceira vez.

A nota divulgada nas redes sociais da Câmara e também no perfil do presidente da casa no Instagram, o vereador Deza Soares (PT), classificam os atos como “gravíssimos”, “antidemocráticos” e “criminosos”, além de destacar que “desde o momento da redemocratização do país, os processos eleitorais têm acontecido de forma a fortalecer a democracia, que está frontalmente ameaçada”.

Ao afirmar que é necessário a defesa intransigente da democracia por meio da união de todos os brasileiros e das instituições defendendo a responsabilização e a punição dos envolvidos, o documento também fala que a “liberdade de expressão e manifestação não podem ser confundidas com fanatismo, vandalismo e violência”.

800 professores são empossados na rede pública de ensino do Ceará

 

Governador Elmano de Freitas (PT) deu posse a 800 professores do cadastro de reserva(foto: THAÍS MESQUITA).

Professores que compunham o cadastro de reserva do concurso público da Secretaria da Educação do Ceará (Seduc) realizado em 2018 foram empossados nesta segunda-feira, 9. Os 800 profissionais devem atuar em 491 escolas distribuídas em 169 municípios cearenses.

Os primeiros 1.250 aprovados do concurso foram nomeados em março de 2021. Já a segunda turma, composta por 1.090 docentes, foi nomeada em 30 de junho do mesmo ano. Uma campanha foi realizada pelos aprovados no cadastro de reserva para criação de mais vagas na rede.

De acordo com o Sindicato dos Servidores Públicos lotados nas Secretarias de Educação e de Cultura do Estado do Ceará e nas Secretarias ou Departamentos de Educação e/ou Cultura dos Municípios do Ceará (Apeoc), além dos 800 professores empossados nesta segunda-feira, outros 612 continuam em cadastro de reserva.

A professora de Biologia Daiane Santos Lima, 35, espera que os colegas ainda não chamados possam receber a posse logo. Enquanto esperava a nomeação, Daiane trabalhou na rede pública da Prefeitura de Fortaleza. Agora efetivada, já sabe onde vai dar aula no próximo ano letivo, que começa no dia 30 de janeiro.

Vai ser perto da minha casa, no Pirambu. É uma mudança de vida para mim, para minha família, é ver meu esforço recompensado”, afirma a professora.

A ansiedade pela convocação também chegou ao fim para Jackson Martins, 33, professor de Química, morador de Crateús, no Interior. “Vou trabalhar do lado, em Novo Oriente, a uns 40 km de distância. A gente está feliz, agora é trabalhar”, diz o docente que deve ser lotado em turmas de segundo e terceiro ano do ensino médio.

A secretária da Educação, Eliana Estrela, relembra que o compromisso da posse dos 800 professores foi feito ainda durante a gestão da ex-governadora Izolda Cela (sem partido). “Desde o ano passado já havia acordo para a gente chamar, tinha essa carência. É importante para nós a presença dos professores concursados. Eles brevemente entrarão em exercício”, diz.

Para Elmano, os professores efetivos “ajudam no processo de qualificação” da educação do Estado. Durante a solenidade de posse, o governador afirmou que discutirá com a Secretaria do Planejamento e Gestão (Seplag) sobre novas nomeações do restante dos docentes.

O que for possível nós fazermos para ter os professores ingressando e ter o máximo de professores atendidos”, diz.

Escolas em tempo integral

A meta de universalização do tempo integral em escolas de ensino médio da rede estadual deve avançar em 2023. Segundo a secretária da Educação, mais 80 escolas devem ter matrículas na modalidade de ensino. Até o fim do ano, a expectativa do governo é que 80% de todas as escolas de ensino médio sejam integrais.

Defesa da democracia na solenidade

Durante a solenidade, os atos de terrorismo antidemocráticos registrados no domingo, 8, em Brasília, também foram repudiados. O governador Elmano de Freitas, a secretária-executiva do Ministério da Educação, Izolda Cela, os deputados Idilvan Alencar e Evandro Leitão e a secretária da educação, Eliana Estrela, pronunciaram-se contra as ações extremistas e a favor da democracia.

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Com informações do O Povo.