O
Brasil enfrenta uma epidemia de zika, uma doença "prima da dengue",
desde o meio do ano. A doença, também transmitida pelo mosquito Aedes aegypti,
provoca sintomas parecidos, porém mais brandos do que os da dengue: febre, dor
de cabeça e no corpo e manchas avermelhadas.
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A febre zika é uma doença viral aguda, transmitida principalmente pelo mosquito Aedes Aegypti. |
No
último final de semana, o governo brasileiro confirmou a relação entre o vírus
zika e a microcefalia, uma infecção que provoca má-formação do cérebro de
bebês.
A
região Nordeste é a região mais afetada pelo surto de microcefalia - no Brasil
todo já são mais de 1.248 casos notificados em 311 municípios em 14 Estados. As
notícias sobre o zika e os casos de microcefalia pegaram o país de surpresa e
suscitaram várias dúvidas. Veja abaixo as respostas a algumas dessas questões:
Qual a relação entre o zika e a
microcefalia?
A
partir de exames realizados em uma bebê nascida no Ceará, e que acabou morrendo
com microcefalia e outras más-formações congênitas, identificou-se a presença
do vírus.
A
confirmação foi possível a partir da confirmação do Instituto Evandro Chagas da
identificação da presença do vírus em amostras de sangue e tecidos do
recém-nascido que veio a óbito no Ceará.
A
confirmação da relação entre o vírus e a microcefalia é inédita na pesquisa
científica mundial.
A
microcefalia é uma má-formação congênita, em que o cérebro não se desenvolve de
maneira adequada. Normalmente ela é causada por fatores como uso de drogas e
radiação. Segundo o governo, na epidemia atual, os bebês nascem com perímetro
cefálico menor que o normal, que habitualmente é superior a 33 cm.
O que ainda não sabemos sobre a
ligação entre o zika e a má-formação fetal?
O
Ministério da Saúde deixou claro, no entanto, que ainda há muitas questões a
serem resolvidas. Uma das questões é como ocorre exatamente a atuação do zika
no organismo humano e a infecção do feto.
Também
não se sabe ao certo qual o período de maior vulnerabilidade para a gestante.
Em análise inicial do governo, o risco está associado aos primeiros três meses
de gravidez.
O que é o zika?
É
um arbovírus (do gênero flavivírus), ou seja, costuma ser transmitido por um
artrópode, que pode ser um carrapato, mas normalmente é um tipo de mosquito.
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Ministério da Saúde confirmou relação entre viris zika e microcefalia, uma má-formação no cérebro de bebês. |
No
caso do zika, ele é transmitido por um mosquito do gênero Aedes, como o Aedes
aegypti, que também causa a dengue.
Além
disso, ele também está relacionado com a febre amarela, febre do Nilo e a
encefalite japonesa.
Qual sua origem?
O
vírus foi identificado pela primeira vez em 1947 em Uganda, na floresta de
Zika.
Ele
foi descoberto em um macaco rhesus durante um estudo sobre a transmissão da
febre amarela no local.
Leia
também: Governo confirma relação entre zika vírus e epidemia de microcefalia
Exames
confirmaram a infecção em seres humanos em Uganda e Tanzânia em 1952, mas
somente em 1968 foi possível isolar o vírus, com amostras coletadas em
nigerianos.
Diversas
análises genéticas demonstraram que existem duas grandes linhagens do vírus: a
africana e a asiática.
Quantas pessoas já morreram no Brasil
vítimas do zika?
Além
da bebê cearense, outros dois óbitos relacionados ao vírus foram confirmados
pelo governo.
O
primeiro caso foi é o de um homem com histórico de lúpus e de uso crônico de
medicamentos corticoides, morador de São Luís, do Maranhão. Exames específicos
mostraram a presença do genoma do zika no sangue e em órgãos como o cérebro,
fígado, baço, rim, pulmão e coração.
O
segundo caso é o de uma menina de 16 anos, do município de Benevides, no Pará,
que acabou morrendo no final de outubro. Com suspeita inicial de dengue, ela
apresentou dor de cabeça, náuseas e manchas vermelhas na pele e mucosas. Testes
deram positivo para o zika.
Houve surtos anteriores de zika?
Sim,
mas não nesse grau. Em 2007, por exemplo, foram registrados casos de infecção
do vírus na ilha de Yap, que integra a Micronésia, no Oceano Pacífico.
Foi
a primeira vez que se detectou o vírus fora de sua área geográfica original, ou
seja, África e Ásia.
No
final de 2013, houve um surto do zika na Polinésia Francesa, também no Pacífico.
Mais de 10 mil casos foram diagnosticados.
Desse
total, cerca de 70 evoluíram para um estado grave. Esses pacientes
desenvolveram complicações neurológicas, como meningoencefalite, e doenças
autoimunes, como leucopenia (redução do nível de leucócitos no sangue).
No
dia 26 de novembro, um relatório divulgado por autoridades locais mostrou que
pelo menos 17 casos de má-formação do sistema nervoso central foram registrados
entre 2014 e este ano, de acordo com o Centro Europeu para Prevenção e Controle
de Doenças (ECDC, na sigla em inglês).
Nas
Américas, o vírus foi detectado pela primeira fez em fevereiro de 2014 por
autoridades chilenas, que confirmaram o primeiro caso na Ilha de Páscoa. A
transmissão se deu de maneira autóctone (ocorrida dentro do território nacional
e não em pessoas que viajaram para o exterior).
Em
maio de 2015, o Brasil confirmou seu primeiro caso desse tipo de transmissão,
em um paciente da região nordeste.
A
Colômbia também reportou seu primeiro caso de contágio do vírus, no estado de
Bolívar. Até outubro, eram nove casos nessa região.
Também
foram registrados casos nas Ilhas Cook e Nova Caledônia, novamente no Pacífico.
Qual o tempo de incubação do vírus?
O
tempo de incubação tende a oscilar entre 3 e 12 dias. Após esse período surgem
os primeiros sintomas. No entanto, a infecção também pode ocorrer sem o
surgimento de sintomas (leia mais abaixo).
Segundo
um estudo publicado na revista médica The New England, uma em cada quatro
pessoas desenvolve os sintomas.
A
maioria dos pacientes se recupera, sendo que a taxa de hospitalização costuma
ser baixa.
E os sintomas?
O
vírus provoca sintomas parecidos com os da dengue, contudo mais brandos: febre
alta, dor de cabeça e no corpo, manchas avermelhadas, dores musculares e nas
articulações. Também pode causar inflamações nos pés e nas mãos, conjuntivite e
edemas nos membros inferiores. Os sintomas costumam durar entre 4 e 7 dias.
Há
outros sintomas menos frequentes, como vômitos, diarreia, dor abdominal e falta
de apetite.
Análises
recentes no Brasil indicam que o zika pode contribuir para agravamento de
quadros clínicos e levar à morte.
O
primeiro caso foi confirmado pelo instituto Evandro Chagas, de Belém (PA). Um
homem com histórico de lúpus e de uso crônico de medicamentos corticoides
morreu com suspeita de dengue. Exame de sangue e fragmentos de vísceras
apresentou resultado negativo para dengue, mas detectou o vírus zika.
Qual o tratamento para o zika?
Não
há uma vacina nem um tratamento específico para o zika virus, apenas medidas
para aliviar os sintomas, como descansar e tomar remédios como paracetamol para
controlar a febre. O uso de aspirina não é recomendado por causa do risco de
sangramento.
Também
se aconselha beber muito líquido para amenizar os sintomas.
Há prevenção?
Como
a transmissão ocorre pela picada do mosquito, recomenda-se o uso de
mosquiteiros com inseticidas, além da instalação de telas.
Também
deve se utilizar repelentes com um composto chamado icaridina e roupas que
cubram braços e pernas, para reduzir as chances de se levar uma picada.