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Infográfico produzido por Alexandre Jubran e Luiz Iria. |
Estima-se
que o Brasil tenha a maior população negra fora da África. Em números
absolutos, se comparado ao restante do mundo, o país só perde para a
Nigéria, que conta com uma população
estimada de oitenta e cinco milhões, sendo o único país do mundo com uma
população negra maior que a do Brasil.
A
despeito dessa realidade, o brasileiro de maneira geral pouco ou nada conhece
sobre a África. Nem mesmo sobre os irmãos por laços da língua portuguesa, como
os de Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe, os
brasileiros conhecem alguma coisa. Ignora-se aqui – pois escrevo do Brasil –
até mesmo a formação étnica desses países, suas capitais, localização
geográfica dentro do continente, entre tantas outras coisas.
Não
se admira, portanto, que no Brasil foi promulgada uma lei obrigando o ensino da
História e da Cultura dos africanos e seus descendentes. Editada em 2003, a Lei
Federal 10639 tornou obrigatório esse ensino em todo o currículo escolar. A
letra da lei logo se deparou com uma realidade: como ensinar aquilo que se
desconhece.
Aproveitando
o surgimento do debate, editoras e empresas produziram materiais (livros,
cursos, documentários, materiais didáticos) para subsidiar os docentes para o
ensino do que ficou conhecido como Educação para as relações étnico-raciais.
Esses materiais, a despeito de uma possível boa intenção, trouxeram aquilo que
estava presente no senso comum: os africanos contribuíram com a cultura por
meio da dança, da música, da culinária e da religiosidade. Infelizmente, tal
ideia reforça apenas o preconceito de que na África não se desenvolveu
conhecimentos e saberes que pudessem se comparar aos produzidos por outros
povos, sobretudo europeus.
Enquanto
estudamos o Teorema de Pitágoras – que é importante, sem dúvida – desconhecemos
que esse filósofo grego, segundo a tradição, inspirou-se na grande pirâmide do
Egito (África) para desenvolver seus cálculos. Enquanto isso, poucos conhecem o
arquiteto Imhotep, responsável pelo projeto arquitetônico da construção da
pirâmide. Possivelmente, Imhotep deve ter utilizado dos cálculos
“redescobertos” por Pitágoras. Ironicamente, alguém há de lembrar o nome de
Imhotep como o vilão redivivo no filme “A Múmia”, escrito e dirigido por Stephen
Sommers e lançado em 1999.
No
entanto, desde fevereiro de 2018, a jornalista Sandra Quiala, conhecida como
Mwana Afrika, apresenta na TV Pública de Angola o quadro do projeto “Mwana
Afrika – Oficina Cultural” que difunde informações variadas sobre o continente:
saberes, filosofia, conhecimentos, História, cultura, ciência, arte, religiosidade,
etnias. Nas palavras de Mwana Afrika, “a África é o berço da humanidade, então,
sendo o berço da humanidade, o berço das civilizações, o berço da ciência, eis
a necessidade de todos os continentes, de todas as pessoas do mundo conhecerem
a sua essência, África”.
O
excelso trabalho de Mwana Afrika permite a desconstrução de estereótipos e a
apreensão de conhecimentos que, no caso do Brasil, podem contribuir para uma
educação antirracista e para a eliminação de preconceitos.
Nascida
e criada no Brasil, Sandra Quiala é de origem angolana e pertence à etnia
congo. Atualmente, divide o seu tempo entre Portugal e Angola. Criadora e
apresentadora dessa série documental, Mwana Afrika procura abordar os diversos
e complexos lados do continente africano. O quadro é apresentado em Angola pela
TV Pública, no Brasil pelo canal Trace Brazuca, canal 624 na NET e Claro Brasil
e canal 630 na Vivo, além do Youtube.
De
acordo com a apresentadora, Mwana Afrika significa filho ou filha de África. O
cantor e compositor brasileiro Chico César já cantou a “Mama África”. Sendo a
África a nossa mãe e, em consequência, nós, independentemente de nossa cor de
pele, os seus filhos, é salutar que queiramos saber das nossas origens. Afinal,
alguém disse um dia: “Não se vai a lugar algum sem antes saber quem você é”. E
Mwana Afrika tem nos ensinado isso.
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Texto de Carlos Carvalho Cavalheiro, originalmente no Geledés.