O
homem chegou ao Cariri há mais de 3 mil anos. Essa foi a constatação dos
estudos realizados na área da arqueologia na Chapada do Araripe, pela
arqueóloga e diretora da Fundação Casa Grande, Rosiane Limaverde, que
recentemente defendeu tese de doutorado na Universidade de Coimbra, por meio do
Centro de Estudos de Artes e Ciências do Patrimônio. O estudo é um apanhado de
mais de 20 anos de pesquisa na região, catalogação de sítios arqueológicos e o
trabalho empreendido pela entidade que atualmente tem reconhecimento
internacional e conta com um fluxo de mais de 70 mil pessoas por ano, em Nova
Olinda. A datação realizada com utilização do carbono 14 e análise feita em
laboratório nos Estados Unidos foi concebida com os estudos feitos no sítio
Olho D'água, em Nova Olinda, um dos locais especificados para desenvolver sua
tese.
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Pesquisadora revoluciona estudo com a inserção social obtida em Nova Olinda. |
O
trabalho defendido no final de março chamou a atenção dos avaliadores, pelo
empenho com as comunidades, abrangendo o cunho social e educacional,
relacionado ao patrimônio. Com isso, obteve nota máxima, com aprovação unânime,
distinção e louvor.
Segundo
a pesquisadora, a temática explorada "Arqueologia Social Inclusiva, a Fundação
Casa Grande e a Gestão do Patrimônio Cultural da Chapada do Araripe"
amplia o contexto de atuação da entidade, com uma abordagem diferenciada, como
forma de inclusão social e participação das comunidades, além de ter as
crianças como protagonistas do processo, e suas famílias, o que Rosiane chegou
a denominar de arqueologia da afetividade, com um novo olhar.
Pauta
Depois
de montar um laboratório de arqueologia, o direcionamento seguinte, conforme
Rosiane, é criar um Centro de Arqueologia do Cariri, com o laboratório, que se
encontra na fase de montagem, além de uma biblioteca da área. Será um órgão
parceiro da Universidade de Coimbra, em Portugal. Ela destaca a parceria com a
sua orientadora, Maria Conceição Lopes, da instituição de ensino superior
português, e diz que uma das principais carências na região está voltada para a
instalação de um curso voltado para a área.
A
arqueóloga tem empreendido uma luta que afirma ser praticamente solitária nesse
sentido, principalmente pela importância de a história a ser preservada.
Desbravadora, percorreu dos pés de serra ao alto da Chapada, o caminho das
águas traçados pelos indígenas, até o rumo das próximas descobertas.
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Rosiane defendeu na universidade portuguesa uma arqueologia que relata a origem dos primeiros povos a habitar a região, por meio de sua tese de doutorado, passando pela trajetória da Casa Grande como um projeto referencial. |
Rosiane
destaca que a pauta da arqueologia no Cariri foi iniciada por meio da Fundação
Casa Grande. "Até então, o que
estava relacionado aos índios era coisa de gente inculta e sem instrução. Era
assim que a historiografia do Cariri tratava o assunto", afirma. Com
isso, a Fundação passou a ter um olhar primeiramente artístico, musical. Com
isso, ela justifica a instituição como o local que foi marco do caminho das
boiadas no sertão do Nordeste.
A
tese traz o estudo de uma centena de sítios de arte rupestre na região, a partir
do sertão dos Inhamuns, como forma de demonstrar a rota traçada até chegar na
Chapada do Araripe, por meio do trajeto das águas, conforme a pesquisadora.
Para isso, foi realizado um mapeamento dentro dos boqueirões dos rios,
identificando todo esse caminho e tendo como referência o sítio Santa Fé, no
Crato, por ser o de maior altitude da Chapada. "No momento em que ele foi
gravado e pintado, o homem já estava de fato na região", diz.
"Todo esse estudo foi voltado para uma
arqueologia social inclusiva. O tempo todo trago esse discurso e essa forma de
fazer arqueologia, que procura não ser um fim em si mesmo, mas um meio de
inclusão social, em desenvolvimento da comunidade, conscientização e que traz
uma solidariedade entre as pessoas, que a Casa Grande vem construindo",
explica.
Na
região da entrada do Araripe, entre a serra da Ibiapaba, sertão dos Inhamuns,
até chegar ao Vale Oeste, foram identificados 53 sítios, número considerado
representativo para a região. Ela também avaliou a entrada pelo Vale Leste,
vindo pelos rios, e também pelo Norte. O estudo não descarta a possibilidade de
existência de outras inscrições rupestres na região.
Marco
O
casal de artistas que criou o projeto da Casa Grande e atualmente preside,
Rosiane Limaverde e Alemberg Quindins, mergulhou numa trajetória de
conhecimento dos primeiros habitantes da região, embrenhada de histórias
mitológicas. Na mais antiga casa da cidade, um marco do caminho dos aboios
sertanejos hoje sedia o projeto do Memorial do Homem Kariri. São centenas de
artefatos indígenas encontrados na região, que são expostos à população.
Exemplares que demonstram a existência dos antepassados, que fez com que
Rosiane decidisse estudar mais a fundo.
O
projeto de educação patrimonial serviu de referência para a criação das Casas
do Patrimônio, projeto que vem sendo desenvolvido pelo Instituto Brasileiro de
Patrimônio Histórico e Artístico nacional (Iphan), e, por dois anos, de 2009 a
2011, período que vigorou um convênio entre a entidade e o órgão federal, faz
da Casa Grande pioneira com o modelo de trabalho. O projeto da organização não
governamental Fundação Casa Grande atua em vertentes da comunicação, com o
protagonismo juvenil e de crianças, além do turismo comunitário com famílias da
cidade de Nova Olinda, sendo um dos pontos turísticos mais visitados do Cariri.
.E.S