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A ministra Marina Silva em sessão da Comissão de Infraestrutura do Senado. (FOTO | Alessandro Dantas). |
O que os senadores fizeram contra Marina Silva na terça-feira (27) tem nome e sobrenome: violência política de gênero. No país que em 2024 registrou 1.459 vítimas de feminicídio, o maior índice da série histórica, o senador tucano Plínio Valério (AM) pensou ser boa ideia se negar a se desculpar por ter desejado, em março, enforcar a ministra.
O
presidente da Comissão de Infraestrutura, o bolsonarista Marcos Rogério
(PL-RO), afirmou que a ministra deveria pôr-se no seu lugar. Se o Brasil fosse
sério, ambos já teriam sido repreendidos por quebra de decoro pela presidência
da casa legislativa a que pertencem. A realidade, no entanto, é que casos
similares acumulam notas de repúdio e nenhuma ação.
A
boçalidade da masculinidade frágil dos senadores não tolera escutar uma mulher
negra, ambientalista e progressista em posição de poder por mais de uma hora
sem querer calá-la à força.
Senadores
trataram a ministra Marina Silva como a elite brasileira trata aqueles que
considera, pela cor ou pela origem, seus serviçais. Senadores violentaram
Marina Silva por meio da humilhação racista e misógina explícita com a mesma
indignidade com que o Senado tem violentado as leis ambientais e direitos de
povos indígenas no país: humilhar Marina Silva busca encobrir a boiada em curso
e, ao mesmo tempo, enfraquecer a ministra.
A
violência política contra Marina Silva só foi possível dada a falta de apoio
político do governo Lula, o qual ainda não possui uma agenda ambiental clara.
O
governo Lula não orientou os partidos da base governista a votar contra a
proposta de licença ambiental especial (LAE), que, na prática, permite
empreendimentos “estratégicos” que causem dano ao meio ambiente e ainda conta
com apoio do atual ministro da Agricultura, Carlos Fávaro. Trata-se da quinta
derrota de Marina no Congresso, com aval ou omissão do governo federal.
O
Senado precisa decidir se quer que a imagem do país do futuro sejam ministras
achincalhadas em praça pública e o meio ambiente violentado por leis feitas em
benefício próprio dos senadores.
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Texto de Thiago Amparo, originalmente no Geledés.
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