Maria Djhenniffer, do 2º Ano C, interpretando Benigna Cardoso. FOTO | Kauã Sales (3º Ano A). |
Por Nicolau Neto, editor
A Escola de Ensino Médio em Tempo Integral Padre Luís Filgueiras, em Nova Olinda-CE, realizou nesta sexta-feira, 14 de junho, a 7ª edição do Sarau Literário. A ação se desenvolveu durante todo o dia no Teatro Violeta Arraes envolvendo estudantes das três séries. O encontro teve como temática “equidade de gênero e proteção às mulheres” e como proposta central “Meninas, mulheres e artes: Educação que transforma”.
Pensada,
articulada e desenvolvida pela área de linguagens e códigos, as ações
enveredaram por várias expressões artísticas, dentre as quais cita-se recitação
de poesias, interpretações musicais e peças teatrais. Segundo o professor
Daniel Rodrigues, a ideia teve como referência a proposta trazida no VIII Festival Alunos
que Inspiram, da Secretaria da Educação do Ceará (Seduc), que objetiva identificar,
valorizar dando visibilidade à produção artística e cultural dos estudantes rede
pública estadual de ensino.
Para
o estudante João Alleff, do 3º Ano A e cerimonialista, “o Sarau constitui-se num espaço de ampliação do repertório comunicativo
e expressivo, de convívio e sustentação das diferenças na comunidade, de
ampliação e construção de laços e inclusão sociais, além da ampliação da autonomia.”
E é dentro desse contexto e percebendo “que as mulheres, na maioria das vezes,
se encontram em situação de exclusão e silenciamento, que abraçamos essa
temática”, destacou.
Na
mesma frequência, Valclécia - também cerimonialista e do 3º Ano A -, frisou a situação da mulher no país que é colocada em situação de inferioridade e
chamou o público para testemunhar um poema autoral da estudante Jamile Bispo
(3º A) recitado pela própria. Neste, ela prendeu a atenção do público ao mencionar
o tempo todo a importância das mulheres vítimas de violência fazerem as
denúncias.
Valclécia e João Alleff, cerimonialistas e estudantes do 3º Ano A. (FOTO | Kauã Sales). |
Para
a professora Laudinha Muniz, “além da denúncia, o Sarau também tocou em pontos
estratégicos que corroboram para a perpetuação dos casos de agressões físicas,
levando cotidianamente a morte de milhares de mulheres”. “Um dos fatores é o
ato de ir sempre adiando a denúncia dos atos de violência. Por isso, nossos
estudantes recitaram o poema ‘Hoje eu
recebi flores’ que toca em uma das questões mais chocantes no país, que é a
dependência financeira como motor dos contínuos ataques ao gênero”, comentou.
O
recorte racial nas discussões foi outra marca ao trazer para o centro Conceição
Evaristo, que é uma das intelectuais e escritoras negras mais conhecidas do
país. Seus poemas são de denúncias das inúmeras desigualdades que a sociedade
brasileira alimenta, como misoginia, homofobia, patriarcado e o racismo. Suas
escritas tocam também no empoderamento das mulheres negras que buscam contar
suas histórias e trajetórias.
Ainda
nesta seara, recortes dos poemas que integram a obra Não vou mais lavar os
pratos foram recitados, abordando assuntos urgentes que necessitam um olhar
mais sério da sociedade, como negritude, o racismo, a maternidade, a
escravidão, a liberdade e o ser mulher.
Mas
nem só de poemas viveu esta sétima edição. Teve músicas que encantaram o
público. Aqui, destaque para a música 'Pra todas as mulheres', interpretada por
Mariana Nolasco, abordando a luta das mulheres contra a opressão e concomitantemente
o anseio por respeito e igualdade. Mas falar de música e não citar, ou melhor,
não interpretar Chico Buarque, um dos maiores ícones brasileiros, não faz
sentido. Então, o professor Daniel Rodrigues e o estudante João Neto (2º B) trataram de
resolver essa equação. A interpretação se deu a partir da música “Cotidiano”,
que segundo eles ‘é o retrato íntimo de como o amor pode se manifestar na simplicidade
do dia a dia, ao mesmo tempo em que questiona a resignação com a repetição e a
busca por algo mais na vida.
Um dos momentos mais reflexivos se deu com a encenação da peça intitulada “Benigna Sois”. A ação envolvendo estudantes trouxe para o palco um pouco da trajetória de martírio da santanense Benigna Cardoso que foi, segundo a versão da história, brutalmente assassinada aos 13 anos em uma tentativa de estupro. Na peça, Benigna, interpretada pela estudante Maria Djhenniffer (2º C) revive os momentos que antecedem sua morte ao lado de duas amigas da infância e duas amigas e do seu algoz (vivenciado por Italo, do 2º E). A ação retrata os caminhos que a tornariam símbolo de resistência feminina.
Para
assistir a peça “Benigna Sois”
clique aqui.
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