Do Cafezinho: Cristovam Buarque entra para a história como traidor da democracia



Um governo formado por um partido que se elegeu defendendo a ética e se mostrou o mais corrupto da história. Um governo incompetente. Uma presidente que mentiu para se reeleger”, ataca senador

Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil.

O senador Cristovam Buarque (PPS-DF) confirmou, nesta quinta-feira (14), que apoia o impeachment da presidente Dilma Rousseff e qualificou o governo do PT, seu ex-partido, como “o mais corrupto da história”. “Eu vejo uma manifestação clara contrária a um governo que deixou esgotar o modelo que tínhamos adotado no Brasil. Um governo formado por um partido que se elegeu defendendo a ética e se mostrou o mais corrupto da história. Um governo incompetente. Uma presidente que mentiu para se reeleger e no dia seguinte fez tudo diferente do que havia prometido”, afirmou o senador, por meio de nota divulgada pelo PPS.

Segundo ele, o impeachment não é golpe e resulta de “uma grande insatisfação da nação” com a corrupção mostrada pela Operação Lava Jato e da manifestação do Tribunal de Contas da União (TCU) de que houve crime de responsabilidade por parte da presidente com as chamadas pedaladas fiscais e a abertura de crédito orçamentário sem autorização do Congresso Nacional.

De acordo com o jornal O Globo, 44 senadores já declararam ser favoráveis à continuidade do processo contra Dilma, e apenas 18 se dissera contrários. A votação na Câmara está prevista para este domingo. O senador era considerado indeciso até o momento.

Cristovam também sinalizou apoio à realização de novas eleições. “Não tem golpe. Está previsto na Constituição. Porém, o que pesa nos formadores de opinião da esquerda tradicional, que em grande parte estão nas universidades e nos meios artísticos, é a necessidade de uma nova eleição. Não estou me referindo aqui aos docentes que dependem de cargos do governo ou de petistas que estão cegos e não veem nada de errado. Falo daqueles que de fato estão descontentes com este governo”, sustentou.

Para o senador, há uma desconfiança generalizada da sociedade com os políticos, o que reforça a insegurança em relação a uma possível saída de Dilma da Presidência. A solução, segundo ele, passa pela capacidade do vice-presidente Michel Temer, de retomar a credibilidade. “E aí vai depender de quem ele nomeia como ministro. As medidas que tomará do ponto de vista do ajuste fiscal. As primeiras medidas de longo prazo, porque mesmo sendo apenas dois anos, não se pode de deixar de pensar na educação, saúde e na inovação tecnológica. Se ele não conseguir administrar o caos instalado na área de saúde, por exemplo, já terá fracassado”, afirmou.

Pelo PT, Cristovam foi governador do Distrito Federal e chegou ao Senado. Primeiro ministro da Educação de Lula, Cristovam rompeu com o partido após ser demitido por telefone pelo ex-presidente um ano depois de ter assumido o cargo. Em 2006, disputou a Presidência da República pelo PDT. No começo deste ano, ele se filiou ao PPS, alegando divergências com a decisão do comando pedetista de integrar o governo Dilma.

A petista poderá ser afastada do mandato por até 180 dias caso o parecer da comissão do impeachment seja aprovado por dois terços dos deputados (342 dos 513), no próximo domingo (17), e passe com maioria absoluta no Senado (ou seja, com o apoio de pelo menos 41 dos 81 senadores) nas semanas seguintes. Nesse caso, Temer assumirá o comando do governo e Dilma será submetida a um julgamento que determinará sua saída definitiva do cargo ou não. Para essa votação final, conduzida pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), são exigidos pelo menos 54 votos.

“...Qual teu problema?”, diz aluna Kézia em resposta a comentários machistas durante desfile


O município de Nova Olinda, na região do cariri cearense, promoveu na tarde desta quinta-feira, 14 de abril, ações educativas e culturais visando comemorar os seus 59 (cinquenta e nove) anos de emancipação política.

Na programação a participação das escolas de ensino infantil, fundamental e médio foi atração à parte e, como tal, permitiu a divulgação de projetos desenvolvidos em seus estabelecimentos. Porém, um fato estarrecedor foi exposto pela aluna Kézia Adjane, matriculada no curso técnico de Redes de Computadores (2º ano) na Escola Estadual de Educação Profissional Wellington Belém de Figueiredo.

Dentre os vários projetos que a escola expôs nos desfile estava o “Humanizando” idealizado e sustentado pelos próprios alunos com o apoio de professores que, tem como um dos objetivos denunciar a violência física e psicológica pelo qual passa as mulheres, além de promover o empoderamento destas. 

Kézia, Vivian e Emanuelly - da esquerda para a direita durante desfile em alusão aos 59 anos de emancipação política do município de Nova Olinda. Foto: Prof. Clodovânio.
Junto com Viviam Matos e Emanuelly Alves, alunas da mesma instituição de ensino, elas ostentavam placas que iam de encontro com os objetivos do projeto. “Denuncie”, “Humanize” e “Não se Omita” expuseram elas. Kézia não escondeu a alegria de ter participado da ação da escola, mas foi taxativa ao demonstrar o desgosto por uma sociedade arraigada em preconceitos e que infelizmente ainda não saiu da idade média revelando comentários machistas e homofóbicos. Segundo ela, sem revelar nomes, os comentários deram-se durante o desfile. A discente descreveu alguns: ‘mulher é pra apanhar mesmo’; ‘sai daí viado’ (retirado do jeito que estava na rede social), ‘vem se omitir aqui em casa’.. Com todo o rigor ideológico e a criticidade que ela tem respondeu à altura – “qual teu problema?”, disse. “... fiz questão de virar essa plaquinha da foto especialmente pra você e dizer o que eu queria...”, complementou.

Com muito zelo e propriedade ela afirmou “O que mais eu poderia sentir por uma pessoa que precisa tentar (só tentar mesmo, porque não conseguiu) humilhar uma mulher para "reforçar sua masculinidade”? Passar bem e muito amor pra ti”.

Confira a íntegra da nota de Kézia Adjane:

Tô cansada, com sono, mas não poderia deixar de postar isso. O desfile de 14 de abril foi incrível, amei representar a violência contra a mulher. Mas não vou mentir que alguns comentários que ouvi durante o desfile me deixaram com nojo; "mulher é pra apanhar mesmo"," sai daí viado", "vem se omitir aqui em casa"...se você que disse algo assim está lendo isso...qual teu problema? Não vou responder aqui pois já disse o que eu tinha para dizer no desfile mesmo, fiz questão de virar essa plaquinha da foto especialmente pra você e dizer o que eu queria. Só espero que esse seu pensamento um dia mude, tenho muito dó de você, mesmo! O que mais eu poderia sentir por uma pessoa que precisa tentar (só tentar mesmo, porque não conseguiu) humilhar uma mulher para "reforçar sua masculinidade”? Passar bem e muito amor pra ti

Vasco iguala recorde de invencibilidade do último ano de glórias



O Vasco atingiu uma marca histórica com a vitória por 1 a 0 sobre o Remo, nesta quarta-feira, pela Copa do Brasil. O time de Jorginho chegou aos 20 jogos de invencibilidade e atingiu a marca de 2011, ano em que o clube foi campeão da Copa do Brasil, vice-brasileiro, além de cair nas semifinais da Copa Sul-Americana.

Elenco atual chegou a 20 partidas de invencibilidade e igualou marca do Vasco de 2011.
Naquela temporada a equipe, comandada por Fernando Prass, Felipe, Diego Souza, Alecsandro, entre outros, ficou conhecida como o "Trem Bala da Colina" e proporcionou à torcida o último ano de glórias do Cruzmaltino.

O elenco atual já possui a maior invencibilidade entre os clubes das Séries A, B, C e D do Campeonato Brasileiro e pode atingir outra marca histórica: caso não seja derrotado no próximo domingo contra o Fluminense, e na semifinal e final do Campeonato Carioca, ele será campeão estadual invicto, feito que não acontece desde 1992.

Embora venha de uma grande sequência positiva, o time não tem jogado bem, mas o capitão Nenê minimiza o fato.

"É impossível um time jogar todos os jogos bem. O mais importante é o resultado. Os últimos três jogos não fomos tão bem, mas conseguimos resultados positivos. Hoje estávamos menos concentrados que o normal no primeiro tempo, mas melhoramos no segundo e chegamos à vitória", avaliou à Rádio Globo.

O clássico do fim de semana na Arena Amazônia, em Manaus, valerá o título da Taça Guanabara. O Tricolor joga pelo empate.

Mandado de segurança para anular processo de impeachment é rejeitado por maioria do STF



A maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu hoje (14) manter em tramitação na Câmara dos Deputados processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff. A Corte rejeitou pedido liminar da Advocacia-Geral da União (AGU) para anular o processo.

Voto do relator, ministro Edson Fachin, foi seguido por seis
 ministros. José Cruz/Agência Brasil.
O tribunal seguiu voto do relator, ministro Edson Fachin. Votaram com o relator os ministros Luís Roberto Barroso, Teori Zavascki, Rosa Weber, Luiz Fux, Carmen Lúcia e Gilmar Mendes. Faltam votar três ministros.

Para o ministro, não houve irregularidades por parte da comissão sobre cerceamento de direito de defesa, por entender que os deputados deverão votar, no próximo domingo (17), a denúncia original que foi apresentada pelos juristas Janaína Paschoal e Helio Bicudo.

Dessa forma, segundo o ministro, a presidenta teve oportunidade de apresentar defesa após o recebimento da denúncia e o relatório da Comissão Especial do Impeachment serve apenas para orientar a decisão dos deputados.

No entanto, Fachin deixou consignado que o eventual julgamento do processo de crime de responsabilidade pelo Senado deverá avaliar somente os fatos iniciais que estavam na denúncia original que chegou à Câmara, como suposta edição ilegal de decretos de créditos suplementares e empréstimos do Tesouro Nacional a bancos públicos.

Direito de defesa

De com a AGU, a Comissão Especial do Impeachment violou o direito de defesa de Dilma ao permitir que os juristas Janaína Paschoal e Helio Bicudo pudessem se manifestar em uma das sessões, além de inserir na denúncia os termos de delação do senador Delcídio do Amaral (sem-partido-MS), fato que não foi objeto da denúncia original, recebida por Eduardo Cunha.

O advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo sustenta que a defesa da presidenta ficou prejudicada no processo e citou que, na sessão no último dia 6 da Comissão Especial do Impeachment, convocada para a leitura do relatório final de Jovair Arantes, o advogado da União substituto, Fernando Luiz Albuquerque Faria, foi impedido de apresentar questões de ordem.

Ministro das Comunicações aciona Anatel contra medidas abusivas das operadoras


Do O Povo

O ministro das Comunicações, André Figueiredo, encaminhou à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), nesta quinta-feira, 14, um documento solicitando que o órgão inspecione e adote medidas para que as empresas de telecomunicações respeitem o direito dos consumidores a respeito de eventuais práticas abusivas. A iniciativa surge após as empresas de banda larga fixa divulgarem novos planos de Internet limitada.


"Nós sabemos que existe uma previsão regimental da possibilidade de limitar essa franquia, mas contratos não podem ter uma alteração unilateral. A Anatel precisa tomar ações que protejam o usuário", afirmou o ministro. "Seguimos investindo políticas públicas que universalizem o acesso ao pleno conhecimento em todas as regiões".

André Figueiredo disse ainda que o ministério realiza ações para ampliar o acesso da população brasileira à Internet de alta velocidade. O Programa Nacional de Banda Larga (PNBL), por exemplo, será substituído pelo Brasil Inteligente.

Um abaixo-assinado online foi aberto no serviço de petições Avaaz. Até a tarde desta quinta-feira, 14, a campanha contava com mais de 1 milhão de apoiadores.

AGU protocola no STF mandado de segurança para anular processo de impeachment



A Advocacia-Geral da União (AGU) protocolou hoje (14) um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) para que a Corte anule o processo de impeachment de Dilma Rousseff, que tramita na Câmara dos Deputados. Neste domingo (17), os deputados federais irão votar o parecer a favor da abertura do processo contra a presidenta. A AGU também pede, em caráter liminar, que a votação de domingo não seja realizada até que os vícios do processo sejam eliminados. O relator do recurso no STF é o ministro Edson Fachin.

O advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, entrou com recurso com ação no STF para anular processo de impeachment da presidenta Dilma. Antonio Cruz/Agência Brasil.
Segundo o advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, a AGU não está pedindo que todo o processo seja anulado, mas parte dele. “Aqui neste caso eu não estou pedindo a anulação do processo desde o início. Não estou atacando o ato inicial do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Estou dizendo que a partir de um certo momento houve uma irregularidade da tramitação do processo de impeachment, que afetou a defesa e que transformou o objeto desse processo em uma situação absolutamente indefinida. É isso que estou atacando. Então se for acolhido este pedido, o que acontece é anular-se os procedimentos a partir da junção da delação do Delcídio do Amaral e a partir da realização da audiência em que foram ouvidos os autores da denúncia”.

Para a AGU, o direito de defesa da presidenta Dilma Rousseff foi violado durante o processo. A advocacia argumenta que o relatório do deputado Jovair Arantes (PTB-GO) levou em consideração acusações que não estão presentes na denúncia aceita pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Entre as acusações incluídas no processo, Cardozo apontou assuntos relacionados ao mandato anterior da presidenta Dilma e a delação premiada do senador Delcídio do Amaral, preso na Operação Lava Jato da Polícia Federal.

De acordo com Cardozo, a denúncia, aceita por Cunha, tratava inicialmente de seis decretos sobre créditos suplementres e o atraso no repasse de recursos do Tesouro Nacional para os bancos públicos poderem pagar benefícios sociais em 2015, as chamadas pedaladas fiscais. Cardozo disse ainda que em uma audiência, durante a tramitação do processo, foram ouvidos os autores da denúncia, que acrescentaram fatos, segundo Cardozo. Neste caso, a defesa não foi intimada para ser ouvida.

Segundo o advogado-geral da União, o relator Jovair Arantes chegou a afirmar que fatos além da denúncia não seriam levados em consideração. “Porém, no próprio relatório, o relator, embora dizendo que ia formar sua convicção só sobre os dois fatos que tinham sido recebidos pelo presidente Eduardo Cunha, faz menções a outras situações. E mais do que menções: aponta outros fatos como justificadores da necessidade de se aprovar o impeachment”.

Cardozo argumenta que a defesa da presidenta ficou prejudicada no processo e citou que, na sessão no dia 6 da Comissão Especial do Impeachment, convocada para a leitura do relatório final de Jovair Arantes, o advogado-geral da União substituto, Fernando Luiz Albuquerque Faria, foi impedido de apresentar questões de ordem. Na ocasião, Rogério Rosso (PSD-DF), presidente da comissão, disse que o Regimento Interno na Câmara autoriza somente deputados da comissão a apresentar questão de ordem e orientou que os defensores procurassem parlamentares para apresentarem suas questões de ordem.

Além da extrapolação indevida do objeto, além do tratamento de fatos decorrentes da delação do Delcídio do Amaral e de outras situações que foram trazidas para o processo e avaliadas pelo relator, segundo o próprio confessa, além da dicotomia entre o que ele fala no relatório e faz, temos o prejuízo da defesa por não ter sido permitido ao advogado levantar questão de ordem e por não termos sido intimados para que pudéssemos comparecer a uma importante audiência que não estava presente no rito do presidente Fernando Collor de Melo [que sofreu impeachment em 1992] e que foi esclarecida a denúncia. Ou seja, a defesa não pôde fazer perguntas sobre o esclarecimento da denúncia após aberto o processo. Tudo isso a nosso ver levam vícios formais do processo e a razão pela qual estamos fazendo diversos pedidos”, disse Cardozo.

Segundo Cardozo, entre os pedidos feitos na ação do STF, a AGU pede que seja declarada a nulidade do parecer de Jovair Arantes, que seja refeita toda a instrução por meio de um novo parecer a ser apreciado pela Comissão Especial com a identificação clara do objeto da denúncia e a anulação da audiência com os autores da denúncia -- que são os advogados Hélio Bicudo, Janaína Paschoal e Miguel Reale Jr.

Na entrevista à imprensa, o ministro negou que a ação no Supremo seja uma medida para ganhar tempo. “Estou lutando por um direito que acho justo”.  E completou: “Só pude fazer a defesa de dois fatos, que são os fatos que estavam no processo”.

Cardozo disse ainda que é possível que novas ações sejam levadas ao STF sobre o processo. “Haverá outras ações?  É possível que sim, cada uma a seu tempo. Esse é um primeiro pedido que a presidenta da República faz”.

“Estado democrático de direito” ou “Democracia”?, por Monica Stival



Proponho que nós, de esquerda, reflitamos sobre o que significa defender pura e simplesmente “a legalidade”, “o Estado de direito”, “a aplicação imparcial das leis”.

Quando discutimos os meios de comunicação, quando discutimos as intervenções e posições cotidianas, mesmo aquelas em almoços familiares ou nas confusões sentimentais em grupos de amigos, costumamos mostrar como é ingênua a afirmação da neutralidade. Tomamos já como discussão vencida a ideia da imparcialidade. Por que, então, haveria neutralidade ou imparcialidade no sistema judiciário?

Quando a lei antiterrorismo for utilizada contra manifestações populares, quando a lei de propriedade for utilizada contra ocupações populares daqueles que não contam nem com a garantia do direito à moradia, quando o aborto for absolutamente criminalizado, vamos defender pura e simplesmente a legalidade? Não estou sugerindo, de modo algum, menosprezar o direito positivo; estou propondo disputar o espaço que confere legitimidade às leis, às interpretações e às decisões jurídicas. É nessa medida que defender a Constituição de 1988 é defender o direito positivo vigente sobretudo porque esta Constituição é uma conquista social substancialmente progressista. Nem toda Constituição é imediatamente boa ou justa, de um ponto de vista político e social (não qualquer ponto de vista). É somente este ponto de vista que pode disputar a legitimidade dos processos institucionais – e a disputa política, sabemos bem, não se dá em esfera pública igualitária, mas nos enfrentamentos por narrativas próprias (aqui o papel fundamental das mídias alternativas e das redes sociais, apesar dos pesares) e nos enfrentamentos práticos organizados, como ocupações e manifestações de rua.

Assim, creio que a tarefa crítica de esquerda seja hoje, sobretudo, explicitar a posição política que cada decisão implica. Não podemos sacralizar o direito positivo, como se a aplicação das normas ou os procedimentos pudessem ser “puros”, independentes de narrativas e de perspectivas políticas e morais. Não se pode simplesmente defender a legalidade por ela mesma, mas disputar o sentido e, com isso, o conteúdo do sistema legal. Por exemplo, creio que caiba à esquerda mostrar que, sim, há lei de responsabilidade fiscal, cujo sentido é fundamentalmente liberal; mas ela implica crime de responsabilidade? A ilegalidade que justifica o termo golpe, abstraindo todo o resto do processo complexo de narrativa e inviabilização de certas figuras politicamente fortes, está na ligação entre a lei que regulamenta a gestão orçamentária e a possibilidade de interromper mandato – essa possibilidade não está dada constitucionalmente. Pelo menos se a questão for analisada politicamente. Afinal, além da letra da lei de responsabilidade há o espírito complexo que faz com que outros direitos dependam de grana, simplesmente – combate à zika, combate à miséria, ao desemprego, etc. Vale notar como é curioso defender alteração no sistema institucional executivo por gestão orçamentária e, ao mesmo tempo, como sugere Armínio Fraga em entrevista recente, propor “orçamento zero”, isto é, a suspensão dos repasses constitucionais – muitos dos quais ligados a políticas públicas que se sobrepuseram, por seu valor social e político, à letra do controle fiscal.

Aqui entra a decisão sobre o vínculo entre essas normas, a viabilidade de políticas públicas dentro do preceito liberal do modelo fiscal e a aplicação da lei geral ao caso particular (sem comentar que se aplicaria, se fosse o caso, a todos os governantes, em exercício ou não…). [não vou tratar aqui da questão das ilegalidades que não estão diretamente ligadas ao processo formal de impedimento aberto na Câmara Federal]. A decisão é conceito político por excelência (e não elemento especificamente jurídico, como diz Schmitt, senão formalmente ligado ao sistema jurídico nesse nosso tipo de sociedade).

Portanto, a democracia se revela esse espaço aberto à disputa política e moral sobre as leis, interpretações e decisões. É na democracia que se pode disputar o sentido político que atravessa necessariamente o sistema judiciário, na medida em que é praticado por pessoas. E explicitar isso não significa menosprezar a ordem jurídica, mas mostrá-la tão humana quanto qualquer outra esfera da vida social, tão política quanto qualquer outra intervenção no espaço comum, no espaço público. Não se pode simplesmente defender a legalidade como se estivesse em questão assentir ao que diz o sistema jurídico, como se este fosse um sistema impessoal que se revelasse a origem e o fundamento da verdade e do justo.

Ora, todo movimento social que obteve vitória na demanda por algum direito social sabe que não se pode reservar as transformações do direito positivo exclusivamente ao movimento de jurisprudência, como se as transformações – que não são “frias”, mas reacionárias ou progressistas, isto é, com sentido político – respondessem apenas a uma necessidade interna do sistema jurídico; ou como se fossem legitimadas em discussões igualitárias cujo procedimento estivesse calcado em uma razão comum. As conquistas sociais sedimentadas na forma jurídica são resultado de disputas que envolvem racionalidades distintas, que envolvem força política, que envolvem posição explícita a respeito do sentido progressista que tais demandas representam, considerando a vida concreta das pessoas (não todas, é claro…).

Combater o normativismo não implica dizer que não há democracia, mas estado de exceção. As medidas de exceção só estão em disputa política e social em uma democracia, em um espaço aberto justamente a diferentes narrativas e interpretações sobre os fatos e sobre o dever-ser (direito). Enquanto pudermos enfrentar esse debate, há democracia. E é explicitando o sentido reacionário de interpretações e decisões correntes que poderemos manter esse espaço aberto e nos colocarmos dele de maneira distinta daquela religiosa pela qual se coloca as decisões jurídicas acima da crítica social. Abrir mão de mostrar que há sentidos distintos nas normas e na sua aplicação é abrir mão de colocar-se no espaço aberto e indeterminado que a democracia permite.

Em debate sobre crise política jornalistas atacam monopólio da mídia



"Não podemos deixar que só uma mídia fale por nós", afirmou o jornalista Miguel do Rosário, do blog O Cafezinho. "As redes sociais estão esvaziando a narrativa do golpe. Estamos conseguindo amanhecer o país dessa treva com a qual a Globo quis subjugar a nação brasileira", disse a jornalista Laura Capriglione, do coletivo Jornalistas Livres.

Blogueiros e jornalistas fazem ato e aula pública sobre legalidade democrática, no centro de São Paulo.
Quem passou ontem (12) no início da noite pela Praça do Patriarca, centro de São Paulo, pôde acompanhar um debate sobre o papel da mídia na crise política do país, que nesta semana se aglutina com a votação do processo de impeachment pelo plenário da Câmara, no domingo (17). O ato, chamado de "Comunicação em Defesa da Democracia", foi realizado pela Frente Brasil Popular, que representa mais de 60 organizações do campo progressista, e reuniu jornalistas da mídia alternativa para falar sobre o papel da comunicação na conjuntura em que forças conservadoras pretendem destituir a presidenta Dilma Rousseff.

As críticas à concentração de mídia no país, nas mãos de poucas famílias; o reinado da Rede Globo sobre a formação de consciência do público, processo que vem sendo questionado pela mídia alternativa e movimentos sociais por meio das redes sociais; e a mídia tradicional como articuladora do golpe em marcha foram os aspectos que permearam as falas dos jornalistas.

"A mídia se arvora o papel de paladino da ética, mas é mentira, porque ela seleciona os adversários que ela quer destruir, seleciona o que quer segundo os seus interesses", disse Miguel do Rosário, ao criticar o problema da concentração de mídia no país. "Na Europa, tem programas de assistência social maiores que os do governo Lula", comentou sobre a dificuldade que o público tem de receber informação diversificada dos meios de comunicação.

Rosário também falou sobre o caso Panama Papers, uma série de investigações que envolvem evasão de divisas por milionários em paraísos fiscais, divulgados pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ). Ele destacou a presença do nome da Rede Globo no caso. "O problema é quando as empresas de mídia, elas mesmas, estão envolvidas em escândalos. Quem vai investigá-las, quem vigia os vigilantes?", indagou.

O jornalista frisou que "a imprensa não pode ter poder absoluto". E afirmou que diante disso surge o pode investigativo dos blogs, que podem esclarecer sobre a sonegação da imprensa. "E agora com o caso Panama Papers surge a Globo, que tem o modus operandi de trabalhar com empresas offshore. Os bilionários botam dinheiro em paraísos fiscais. Off-shore é palavra para enganar pobre. O Brasil é o país com a maior taxa de sonegação fiscal do mundo. No Primeiro Mundo, você tem combate à sonegação; aqui o judiciário é cúmplice por omissão da sonegação. E tem uma cumplicidade entre a mídia e o judiciário. Ela encobre a violência policial, que fica impune para continuar praticando crimes", afirmou.

Na evasão investigada pelo Panama Papers, podem estar envolvidos os direitos de transmissão de jogos de futebol. "A Globo compra os direitos da transmissão de jogos, ela joga o dinheiro em paraísos fiscais e não paga impostos. Temos de investir em meios alternativos para conduzir investigações jornalísticas", disse Rosário.

No caso do Panamá Papers, as informações ficaram nas mãos de jornalistas do Uol, Estadão e Rede TV!.  "É estranho, quem vai investigar? Eles vão usar isso politicamente só para a narrativa da grande imprensa. Temos de incentivar meios independentes, por fora da grande mídia, que chegou a um ponto em que se tornou praticamente delinquente e é agora o centro do golpe".

Rosário também informou que os jornalistas independentes estão se organizando para prestar informações sobre o Brasil a comunidades internacionais. A iniciativa chama-se Brigada Herzog:  "Estamos tentando subsidiar a imprensa fora, dando uma outra visão sobre o que acontece no Brasil. Temos de criar uma ponte para veicular essas denúncias lá fora".

A jornalista Laura Capriglione disse que a Globo é um grande drama para a democracia do país. "Pela primeira vez não estamos falando sozinhos contra a Rede Globo, e isso é um problema para a democracia. A torcida do Corinthians denunciando a Globo, isso é fundamental. Estamos vendo como os evangélicos, por exemplo, não se sentem representados pela Globo", afirmou a jornalista.

"Quem não se lembra da prisão do bispo Edir Macedo? A cobertura é incrivelmente parecida com a forma que eles apresentam do Partido dos Trabalhadores. É a mesma coisa, e tem gente desconfiada da Rede Globo. Pela primeira vez na história, as pessoas desconfiam, 'será que é verdade?' Eu acho que para isso colaborou o trabalho de cada um nas redes sociais", afirmou Laura.

A jornalista disse que existe uma disputa pela narrativa que representa a realidade na sociedade contemporânea. "As maquininhas (referindo-se aos smartphones) permitem que a gente dispute a narrativa. Em 2014, as redes sociais ajudaram a garantir a vitória de Dilma no segundo turno. E agora também. Nós somos produtores de conteúdo, cada um de nós é capaz de ser jornalista. Com a Rede Globo, era um lado só, mas aí surgem as redes sociais. Nós podemos e devemos ser produtores e transmissores desse conteúdo". E ao concluir, disse: "Nossa dificuldade é maior (enquanto jornalistas independentes), mas temos a coragem do povo e a vontade de vencer. Não vamos entregar a democracia que nos custou tanto".

O jornalista do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Rafael Soriano indagou sobre a responsabilidade da mídia na morte de dois sem-terra no acampamento Dom Tomás Balduíno, no Paraná, na quinta-feira (7), com uma emboscada da Polícia Militar e de seguranças da Araupel, empresa que também ocupa a área. Soriano lembrou que a área em questão é pública, e foi invadida pela empresa. "Depois de muitas ameaças, chegamos a esse estopim na semana passada. Não é um caso isolado. O povo sem-terra tem se organizado para resistir ao golpe pelo partido da imprensa, que coloca em curso um golpe à nossa democracia", afirmou.

O jornalista do MST também lembrou de outra vítima do golpe, o presidente do PT em Mogeiro, no agreste paraibano, Ivanildo Francisco da Silva, assassinado na quarta-feira (6) com um tiro de espingarda dentro de casa, no assentamento Padre João Maria. "Esse recrudescimento da violência não é à toa, é uma articulação da elite para enfrentar quem tem capacidade de barrar esse golpe", afirmou.

A coordenadora do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, Rosane Bertotti, defendeu a regulamentação da mídia para a sociedade brasileira superar o atual estágio de concentração e desinformação. "Este é o grande momento em que temos de aprender a jogar o xadrez da comunicação", disse. "A comunicação está junto com a história da democracia. Não é uma questão só para jornalistas, tem a ver com nossas vidas, com o direito de viver", afirmou. "Precisamos recuperar o debate sobre a comunicação pública", disse ainda, considerando a necessidade de regulamentação prevista na Constituição de 1988 e que até hoje não foi realizada.