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Imagem mostra protesto do Movimento Negro Unificado na época de sua fundação.. (FOTO | Reprodução / Alma Preta). |
No
dia 18 de junho o Movimento Negro Unificado (MNU) completou 45 anos
de uma história de luta contra o racismo, de pioneirismo no
enfrentamento a discriminação racial e todas as formas de opressão.
Ao
longo dessas mais de quatro décadas, o MNU foi pioneiro na discussão
do feminismo negro. Lélia Gonzalez, Neuza Maria Pereira, Vera Mara
Teixeira e depois Luiza de Bairros, Angela Gomes e tantas outras
colocaram em discussão as especificidades da vida das mulheres
negras elaborando sobre a tríplice exploração que sofriam como
trabalhadora, mulher e negra. Num tempo que a voz do feminismo era
completamente branca.
Ainda
no começo da caminhada as lideranças paulistas do Movimento Negro
Unificado se juntaram aos componentes do Jornal Lampião e ao Grupo
Somos para numa passeata enfrentar o caráter homofóbico e racista
das incursões policiais sob o comando do delegado Wilson Richetti na
boca do lixo, zona boemia de São Paulo à época.
O
MNU também deu origem a várias outras organizações negras nos
anos 1980, levou a discussão racial para os partidos de esquerda,
lutou pela criação nos diferentes governos estaduais e municipais
pela criação das secretarias de combate ao racismo e promoção
deaigualdade racial. Levou aos sindicatos pelo Brasil afora, como
petroleiros na Bahia e no Rio de Janeiro, metroviários em São Paulo
e no Rio de Janeiro, professores em várias regiões do Brasil e
outras, a discussão racial.
O
MNU, ainda em 1978, soltou um manifesto, no dia 4 de novembro,
propondo que o 20 de novembro, que até então era comemorado desde
1971 no Rio Grande do Sul, pelo grupo Palmares, por sugestão do
poeta Oliveira Silveira como um dia em memória de Zumbi, se
transformasse no Dia Nacional da Consciência Negra. O que só vai
virar lei em 2003 com a Lei 10639/03, que também colocou na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) a obrigatoriedade do
ensino da História da África e dos afro brasileiros, que também
era uma luta do Movimento Negro Unificado desde sua fundação.
No
Movimento Negro Unificado nasceu a discussão da necessidade da
conjugação das lutas raciais, as lutas da classe trabalhadora,
surgiu também a discussão da necessidade de estudo sobre os
territórios negros. E também nos idos dos anos 1990 num congresso
em Salvador, na Bahia, surgiram discussões sobre o racismo como
estruturante do capitalismo.
Foi
no MNU também que apareceu, com a enfermeira Margarida Barbosa em
Campinas (SP), as primeiras discussões sobre anemia falciforme e as
particularidades da saúde da população negra, afetada pelo racismo
e as condições de vida delegadas a esta população.
Mas
na sua história o MNU não se restringiu só as lutas do negro
brasileiro e capitaneou no Brasil as lutas contra o apartheid na
África do Sul, a solidariedade ao povo Palestino e pela libertação
de Mumia Abu Jamal, ex-liderança dos Panteras Negras e preso
político nos EUA.
Esteve
na luta pelo ressurgimento do movimento sindical e estudantil
brasileiro no pós-ditadura. Lutou e luta contra o encarceramento em
massa, contra a tortura e não se furtou e não se furta a nenhuma
das lutas necessárias à busca de um Brasil e um mundo menos
desigual e mais justo.
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*Texto
de Regina Lúcia dos Santos, originalmente no Terra.
Regina é coordenadora estadual do Movimento Negro Unificado,
em São Paulo.
Afro
Memória: 40 anos da candidatura de Milton Barbosa, a primeira do MNU.