6 de setembro de 2022

Independência para quem?


(FOTO | Bênção das bandeiras da Revolução de 1817, óleo sobre tela de Antônio Parreiras | Reprodução).

Por Nicolau Neto, editor

Se você for falar do evento de 1817 que contou com a participação do Crato a partir de Bárbara de Alencar como parte do processo de "Independência do Brasil", lembre de destacar para seus alunos e alunas que ela foi também uma escravocrata.

Lembre de dialogar com eles e elas sobre o protagonismo das mulheres, das mulheres negras e dos povos indígenas que além de querem a separação com Portugal desejam ter de volta sua liberdade.

Reflita com eles/as qual o sentido teve essa "independência" na época e hoje. Traga para o campo do debate o fato de que mesmo oficializada a separação de Portugal em 1822, o território passou a ser administrado de forma monárquica e por um português, filho do rei de Portugal D. João VI, o Pedro de Alcântara (depois passou a ser chamado de D. Pedro I).

Mencione os diversos momentos de lutas, de batalhas e guerras travadas pela independência, desmistificando essa romantização de que o evento foi pacífico e que Pedro foi herói.

Reflita ainda que mesmo após tudo isso, o Brasil continuou mais 66 anos escravizando a população negra. E que o 7 de setembro como data "comemorativa" ignorou o protagonismo da população negra e da população indígena, além de mitificar D. Pedro I.

Mencione ainda que essa data só se tornou oficial a partir do presidente Eurico Gaspar Dutra, o primeiro governo brasileiro após o período ditatorial de Getúlio Vargas com a lei nº 662, de 6 de abril de 1949 e referendada em 2002 durante a gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso (lei nº 10.607, de 19 de dezembro).

Por fim, lembre-se de indagar: que sentido teve essa independência? O que vamos mesmo comemorar amanhã?


5 de setembro de 2022

Terceira via funciona como linha auxiliar de Bolsonaro

Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB).(FOTO |Reprodução | Revista Fórum).
 

Por Nicolau Neto, editor

Há três dias escrevi artigo para minha Coluna no site/blog Intelectual Orgânico indagando qual o papel da terceira via nas eleições presidenciais de 2022. No texto, cheguei a conclusão de que ela vem atuando mais como linha auxiliar do atual presidente do que  de fato como uma alternativa frente a polarização que ora se apresenta.

Desenvolvi alguns argumentos que os trago novamente para este Blog. Os dois principais nomes que se arvoram na chamada terceira via, principalmente Ciro Gomes (PDT), vem afirmando categoricamente que Bolsonaro é resultado da crise econômica gerada por governos anteriores e que ele é ainda fruto de um ato de protesto da população contra a classe política. Essa assertiva não é verdadeira. E diria ser, no mínimo, incoerente e antihistorico. Visto que se ele, o Bolsonaro, fez esse discurso contra o PT; os demais candidatos também fizeram. E muitos com propriedade. O que não foi o caso do atual mandatário. Sendo assim, é incoerente e não analisa os fatos como de fato ocorreram. É um caminho tortuoso, pois os leva para o campo do conseguir votos como Bolsonaro conseguiu usando das mesmas ferramentas que ele, no sentido de se passarem como “salvadores/as” da pátria.

E esse discurso é muito perigoso porque ao invés de contribuir para eleições amparadas em propostas e ideias, acaba por dar munição para o Bolsonaro conseguir a reeleição. E isso não é saudável para a democracia. Por último, atribuir a culpa do emergir do Bolsonaro e do bolsonarismo ao PT e a governos anteriores - a exemplo de FHC - é promover um discurso antihistórico. É antihistórico, porque o próprio impeachment de Dilma está ai como uma das provas. Era necessário tirá-la para construir caminhos que permitissem destruir todas as políticas públicas que lembrassem os governos do PT (E olha que nem sou filiado ao PT. Minha afinidade ideológica é outra). Depois, vem a Lava Jato e o caso Lula. Não preciso mencionar aqui tudo o que já foi veiculado. Mas a prova é o Lula solto e concorrendo as eleições. 

Desta feita, é preciso lembrar que Bolsonaro não é uma novidade na política. Não apareceu das contradições de governos passados. Ele vem sendo eleito com suas ideias antidemocráticas e pela via democrática desde 1991. 

Simone Tebet, do MDB, é preciso lembrar que votou para que a única mulher presidente do país em mais de 500 anos, Dilma Rousseff, fosse impedida de continuar seu mandato. E hoje sustenta um discurso pra lá de contraditório de que mulher vota em mulher. Uma falácia. Ela própria negou seu discurso "futuro" so votar pelo impeachment. Além de ter votado em 2014 e 2018 em Aécio Neves (PSDB) e Bolsonaro (hoje PL), respectivamente. Tebet atuou em favor das pautas liberais, apoiou e votou favorável a PEC do Teto de Gastos e da Reforma Trabalhista.

Ciro, por outro lado, vem adotando um discurso arrogante e em certa medida como se fosse o único capaz de tirar o país da marasmo que se meteu desde 2016. Age como se fosse o "salvador da pátria" e em algumas oportunidade tal qual o Bolsonaro ao bater boca com quem lhe faz questionamentos. O ex-ministro de Lula é candidato desde 2018 quando ficou em 3º lugar e em quase quatro anos não conseguiu atrair nenhum partido político para sua candidatura, o que é muito ruim para quem pretende ser presidente do país e necessita dialogar com o congresso nacional de políticos das mais diferentes posturas e ideias. 

Conclui-se, então, que o Bolsonaro e o bolsonarismo são frutos do golpe político-midiático-jurídico de 2016 e do processo eivado de parcialidade da Lava Jato que prendeu Lula para que ele não disputasse as eleições de 2018. Dito isso, as candidaturas chamadas de “terceira via” pelas metodologias que adotaram estão funcionando como via auxiliar de Bolsonaro. Tanto que as novas pesquisas divulgadas demonstram que a diferença entre Lula (PT) e Bolsonaro (PL) tem diminuído. Umas dentro da margem de erro e outras nem a isso chega.  O crescimento da terceira via é considerável em Simome Tibet que já está com 6%, dois a menos que Ciro que nunca conseguiu alcançar os dois dígitos. 

Vejamos os números da BTG| FSB divulgados hoje, 05 de setembro:

Lula: 42%;
Bolsonaro: 34%;
Ciro: 8%;
Simone: 6%.

Os dados quando comparados com a pesquisa anterior do mesmo instituto demonstram que Bolsonaro e Ciro oscilaram para baixo. O primeiro dois pontos e o segundo, um ponto. Lula também oscilou um ponto para baixo. A senadora Simone Tebet, do MDB, foi a única que teve crescimento. No levantamento anterior ele tinha 4%.

Reitero o que já afirmei em outras oportunidade: não se pode correr o risco de jogar tudo para o segundo turno. 

A Invenção da "Ideologia de Gênero" acaba de ser lançada

 

(FOTO | Arquivo Pessoal do Cientista Político Luiz Felipe Miguel).

Por Nicolau Neto, editor 

Um dos temas que mais ganhou repercussão no Brasil, principalmente a partir de 2018, virou livro. Estamos falando da famigerada "Ideologia de Gênero." 

A propagação dessa falsa ideia acabou reverberando até mesmo no municípios pequeno, onde vira e mexe éramos testemunhas de projetos apresentados por vereadores nesse sentido, em uma cara intenção de censurar o trabalho de profissionais da educação em sala de aula. Em Nova Olinda, no cariri cearense, essa tentativa não surtiu o efeito esperado visto que a população se mobilizou e conseguiu barrar a matéria.

Agora, o tema virou livro. A informação foi divulgada pelo professor de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), Luiz Felipe Miguel. A obra é intitulada A Invenção da "Ideologia de Gênero", do sociólogo Rogério Junqueira.

Para o Cientista Político Luís Felipe, o autor "é um dos mais destacados estudiosos das questões de gênero na educação brasileira."

Ao falar sobre a obra, Luís Felipe destaca que ela "sintetiza anos de pesquisas e é uma contribuição fundamental para a compreensão de um elemento central da ofensiva reacionária em curso no país" e argumenta ainda que o livro  é "amplamente ilustrado" e "visa atingir um público amplo, sem abrir mão do rigor crítico."

Editado pela Letraslivres, de Brasília, a obra tem 312 páginas e está a um valor bem acessível: R$ 20.00.

FUNAG disponibiliza gratuitamente a coleção de livros da série “Bicentenário: Brasil 200 anos – 1822-2022”

 

FUNAG disponibiliza gratuitamente a coleção de livros da série “Bicentenário: Brasil 200 anos – 1822-2022” . (FOTO |Reprodução | FUNAG).

No contexto das comemorações do Bicentenário da Independência, a Fundação Alexandre de Gusmão disponibiliza a coleção “Bicentenário: Brasil 200 anos – 1822-2022” para download gratuito na biblioteca digital da FUNAG.

Alguns livros disponíveis:

🔹História da independência do Brasil

🔹As Singularidades da Independência do Brasil

🔹Os Pilares da Independência do Brasil

🔹História da formação das fronteiras do Brasil

🔹Rio Branco e a política exterior do Brasil (1902-1912) – Volume I

🔹Rio Branco e a política exterior do Brasil (1902-1912) – Volume II 

🔹José Bonifácio, primeiro chanceler do Brasil

🔹História da organização administrativa da Secretaria de Estado dos Negócios 

🔹Estrangeiros e das Relações Exteriores (1808-1951)

🔹Diplomacia do Império no Rio da Prata (até 1865)

🔹Um Diplomata do Império: Barão da Ponte Ribeiro

🔹Legações e embaixadas do Brasil

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Com informações da página da Biblioteca do PPGG - UFRJ no Facebook. Clique aqui e saiba mais.

Yury do Paredão convida jovens e lança comitê da juventude, em Juazeiro do Norte

 

Yury do Paredão convida jovens e lança comitê da juventude, em Juazeiro do Norte . (FOTO  | Reprodução | WhatsApp).


A avenida Padre Cícero, ao lado do Cariri Shopping, ficou movimentada na tarde desse domingo, dia 4. O empreendedor e candidato à deputado federal, Yury do Paredão – PL, reuniu diversos amigos e apoiadores para inauguração do novo comitê de campanha, o Comitê da Juventude, localizado ao lado do comitê central na Av. Padre Cícero, nº 2400, em Juazeiro do Norte.  

De acordo com Yury, o espaço será mais um local de mobilização onde os jovens possam se reunir e debater propostas com o candidato, assim como suas caminhadas e articulações que vêm sendo realizadas com frequência. 

“Espero que a juventude abrace meu projeto e venha junto comigo para que eu possa defender os jovens lá em Brasília. A cada dia que passa vejo mais e mais jovens com Coragem para Pensar Grande”, afirmou o candidato 

O candidato, ao chegar no local, fez questão de agradecer todos os que estavam presentes. "Vou estar em Brasília em busca de oportunidades, investimentos, empregos para o nosso Cariri. Porque todo jovem precisa de oportunidade, precisa de trabalho decente, precisa de boa educação para crescer na vida. Obrigado pela presença de todos, pessoal,” acrescentou. 

No final de semana, Yury cumpriu sua agenda de campanha nas cidades de Juazeiro do Norte, Crato, Barbalha, Nova Olinda e inaugurou um ponto de apoio na cidade de Aurora.

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Texto encaminhado a redação do Blog Gabrielly, do Blog do Boa.

4 de setembro de 2022

Potengi completa hoje 65 anos de Emancipação Política

 

Praça 4 de setembro. (FOTO | Arquivo do IBGE).


Por Nicolau Neto, editor

Neste domingo, 04 de setembro, o município de Potengi, na região do cariri oeste, está completando 65 anos de Emancipação Política. Antes de ser alçado a categoria de território independente com governo e leis próprias, o espaço pertencia ao município de Araripe. Os passos iniciais para sua separação ocorreu nas primeiras décadas do século XX quando foi elevada a categoria de Vila sob o nome de Chique-Chique.

Em 1931 uma lei estadual extinguiu o município de Araripe, fazendo com que Chique-Chique ficasse nas linhas territoriais de Assaré. Araripe passa a contar novamente com esse território quando quatro anos depois volta a condição de município. Entre idas e vindas ao Araripe e Assaré. Chique-Chique passou a ser escrito com “X” a partir de um decreto estadual datado de 1938, conforme dados do IBGE.

Ainda na primeira metade do século passado, por volta de 1934, há mudança de nome. O distrito passa a se chamar Potengi como integrante de Araripe. Depois, já como Ibitiara permancece distrito. Essa divisão continua até a segunda metade do século XX, quando pela lei estadual N.º 3786, de 4 de setembro de 1957, este território se desmembra oficialmente do município de Araripe e passa a ser Potengi, município autônomo.

O município atualmente é constituído por dois distritos. Além da sede, Potengi, há o Barreiros.

As primeiras denominações hoje estão presentes no Esporte e na Cultura, como time de futebol e espaço para formação de músicos, respectivamente.

Hoje, Potengi é reconhecidamente um Armazém de Saberes Culturais - a exemplo do Museu Orgânico do Mestre Franculi; o Reisado dos Caretas no Sítio Sassaré representado pelo Mestre Antônio Luiz; a comunidade remanescente de quilombolas “Carcará” (que tem sido objeto de estudo de pesquisadores e pesquisadoras da região), além de ser tradicionalmente conhecida como "a cidade que não dorme" em virtude de uma prática que remonta a antiguidade com cerca de 2 mil anos antes de Cristo - a dos ferreiros. Esta última, a exemplo do Carcará, vem sendo pesquisada.

Em 2020, Potengi entrou para a História política do Ceará ao eleger o primeiro prefeito do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). O agricultor e comunicador Edson Veriato acabou durante a gestão mudando para o Partido dos Trabalhadores (PT).

Parabéns a todos que ajudaram a construir o Potengi que hoje conta com pouco mais de 11.000 habitantes, conforme projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nessa cidade reside boa parte de meus familiares, todos por parte de mamãe, na Vila Campos. Foi nessa vila que minha vó, Joana Tibúrcio do Amarante, que carinhosamente o chamava de Vó Joana, faleceu em 2021 aos 99 anos.

Parabéns, Potengi; Parabéns, Xique-Xique; Parabéns, Ibitiara.

3 de setembro de 2022

Lula reafirma espaço das mulheres e comunidades tradicionais em seu governo

 

Lula em encontro na Casa Palmeira de Babaçu Dada e Dijé, sede do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu no centro histórico de São Luís. (FOTO | Ricardo Stuckert).


O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reafirmou hoje (3) seu compromisso de recriar o Ministério das Mulheres, criar uma pasta assuntos indígenas e de pesca, atualmente no Ministério da Agricultura, e de retomar políticas voltadas à segurança alimentar que beneficiam pequenos produtores, extrativistas e pescadores artesanais. É o caso do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), extinto pelo governo de Jair Bolsonaro (PL) em meio ao retorno do Brasil ao Mapa da Fome.

Vamos recriar o Ministério das Mulheres, criar ministério para cuidar dos povos originários, para cuidar da pesca. Não tem sentido Ministério da Agricultura cuidar da pesca. Vamos também retomar as conferências nacionais e estreitar a participação popular, a democracia”, disse Lula.

O candidato à Presidência da República atendeu assim reivindicação de lideranças de quebradeiras de coco de babaçu, com quem se reuniu na manhã deste sábado na Casa Palmeira de Babaçu Dada e Dijé, sede do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), no centro histórico de São Luís.

Mulheres do Maranhão, Pará, Piauí e Tocantins, que começam a coletar e quebrar coco já aos cinco anos, expuseram a Lula os avanços que alcançaram a partir de seu governo. Entre eles o fomento a formação de cooperativas e abertura de minifábricas para o beneficiamento das amêndos, produzindo azeite, sabão, sabonetes e outros. Falaram da melhoria nas condições de vida, inclusive de entrada de filhos na universidade. E da volta à situação de fome durante o atual governo.

Lula aproveitou para cobrar mais respeito às mulheres

Além da recriação do Ministério das Mulheres, as quebradeiras querem medidas para conter a perseguição e criminalização por fazendeiros, que impedem a entrada das extrativistas. E leis que obrigem um mínimo de 60 palmeiras de babaçu por hectare de pastos e monocultivo de soja que avançam na região. Outro aspecto ambiental envolvido nas reivindicações, diretamente associado ao trabalho das quebradeiras, é a proibição das pulverizações aéreas de agrotóxicos, que contaminam os cocos e toda a roça dos agricultores.

Durante o encontro, Lula e Janja fizeram diversas perguntas sobre a lida para entender mais sobre as dificuldades enfrentadas pelas mulheres no dia a dia de um trabalho perigoso, que envolve uso de ferramentas de corte. E que na melhor das hipóteses, por ser executado no chão, causa dores em diversas partes do corpo.

Nosso governo não quer tirar nada de ninguém. Mas queremos que todos tenham o mínimo que é de direito. Nenhuma mulher tem de ser quebradeira de coco a vida inteira. Quem de ter oportunidade de outras coisas e vamos incentivar as cooperativas”, disse o ex-presidente.

Em nome das quebradeiras de coco, Lula aproveitou para valorizar todas as mulheres enquanto puxava a orelha dos homens, inclusive “progressistas de boteco”, que não dividem as tarefas domésticas.

Não há números atualizados sobre quebradeiras de coco. Dados de 2010 apontavam mais de 300 mil distribuídas pelo Maranhão, Para, Piauí e Tocantins.

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Com informações da RBA.


Ativista da Guiné-Bissau que viralizou aconselha Ciro a estudar mais sobre a África

 

Vensam e a camiseta de sua campanha: "África não é um país". (FOTO| Reprodução | Facebook).

O ativista pan-africanista Vensam Iala, nascido na Guiné-Bissau e radicalizado no Brasil há 12 anos, não gostou quando viu o candidato a presidente pelo PDT, Ciro Gomes, utilizar mais uma vez a expressão “fundão da África” no primeiro debate entre os presidenciáveis. Esta semana, ele viralizou ao postar um vídeo onde critica Ciro pelo uso do termo, atualmente com quase 1 milhão de visualizações no tiktok e outras 250 mil no instagram.

Eu sei que você tem muito apreço pela França, mas da próxima vez que for falar da África, não vá para Paris, vá para a Guiné-Bissau, para o Senegal”, provocou Vensam. “O Monumento da Renascença Africana (em Dakar, no Senegal) tem muito mais a te ensinar.”

Ciro falou em “fundão da África” pelo menos três vezes na campanha até agora. Em entrevista ao G1 em 13 de junho do ano passado, o candidato do PDT falou: “Isso aqui é um país do fundão da África subsaariana, que não tem comida? Não. Nós somos o maior produtor de alimentos do planeta Terra”.

Em 16 de agosto, no Roda Viva, voltou a usar o termo: “Nós não somos um país do fundão da África, que não tem acesso a vacina”. “É preciso ter um programa de renda mínima que erradique a miséria porque o Brasil tem comida, diferente do fundão da África… , disse, no debate da Band/UOL.

Em novembro do ano passado, Ciro já havia feito comentários no mínimo estranhos sobre o continente ao apresentador José Luiz Datena. “Nós somos um país da África? Desorganizado, com bases tribais, com geografia de deserto? Não! Nós somos o país que mais produz comida no planeta Terra”, afirmou.

Antes do guineense Vensam, outros influenciadores brasileiros negros já haviam questionado o candidato no twitter pelo uso da expressão sem significado, como o advogado Thiago Amparo e a poeta Elisa Lucinda.

Em entrevista à jornalista Cynara Menezes, editora do Socialista Morena, Vensam Iala, que se formou em Letras na Unesp e mora em São Paulo, lamenta que haja um “desconhecimento gigantesco” sobre a África no Brasil, inclusive na Universidade. E foi para tentar diminuir esse desconhecimento que criou o projeto Visto África, pensado a partir da principal forma de ignorância sobre o continente africano condensada no slogan: “África não é um país”.

Se isso acontece dentro da academia, imagina fora? Por isso criei esse projeto, para criar outra imagem sobre o continente africano. Muito pouco se fala sobre a África e quando se fala vem carregado de imagens estereotipadas. É muito importante que, nesse momento que estamos vivendo, numa narrativa decolonial, a gente traga pensamentos outros, pensamentos novos.”

Para Vensam, Ciro tem se referido à África com menosprezo. “No debate da Band, acho importante fazer essa ressalva, não tinha nenhuma pessoa negra, e a questão que estava a se falar não era nada voltada à questão racial, ao racismo. Não tem nenhum pretexto que encaminhasse para uma fala em que a África fosse mencionada dessa forma pejorativa. Existe essa carga de menosprezo, de não consideração aos africanos, à África de maneira geral. Ele fala em ‘fundão’. O que é esse ‘fundão’? O tom que carrega… Nós não somos ignorantes ou inocentes, nós sabemos em que contexto foi usado”, disse.

Não é uma fala de hoje, é uma fala muito recorrente desde a invasão colonial, essa visão da África como um lugar restringido à miséria, à pobreza. Nunca a África serve de modelo econômico, por exemplo. Nós sabemos que há vários países da África com economia melhor que o Brasil”, continua. “Se o Ciro gosta de economia, de trabalhar com números, poderia por exemplo trazer o Carlos Lopes, um dos maiores economistas do continente africano, que tem livros publicados sobre o modelo de desenvolvimento da África e que pode servir para o Brasil inclusive. Mas não, interessa para ele trazer essa imagem que já está muito viciada, parece que é um discurso decorado ele falar desse ‘fundão’.”

Em uma das entrevistas onde fala em “fundão da África”, ao G1, Ciro é mais específico ao citar a “África subsaariana” como sendo a região à qual se refere. O problema é que a “África subsaariana”, antigamente chamada de “África negra”, ocupa mais de dois terços do continente abaixo do Egito, da Argélia, da Líbia, da Tunísia e de Marrocos (países da África do Norte). Todos os demais países são o que Ciro chama de ‘”fundão da África”, inclusive a África do Sul…

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Com informações do Socialista Morena. Clique aqui e leia na integra.