Projeto de estudantes da Escola Menezes Pimentel (Potengi) vira destaque na imprensa regional e estadual. Aedes aegypti também é responsável pelas doenças: zika e chikungunya. (FOTO/ Divulgação)
Um
projeto desenvolvido por dois estudantes da Escola de Ensino Fundamental e
Médio Menezes Pimentel, do município de Potengi, na região do cariri, virou
destaque nas imprensas regional e estadual. O Projeto intitulado “Armel”
tem como finalidade atrair e matar mosquitos transmissores da dengue usando
suor humano e teve a orientação do professor de Física, Rosemberg de Sousa.
O
projeto “Armel” usa armadilha visando atrair e matar os mosquitos e de acordo
com Francisco Caíque (2º Ano A), em entrevista a Rádio CBN Cariri, o combate
aos mosquitos ocorre tendo como base os comportamentos físicos e bioquímicos
das espécies sugadoras de sangue pertencentes à família Culicidae, a exemplo do
aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue.
A "Armel" aproveita também o circuito metálico da raquete que mata mosquitos e
outros materiais que atraem os insetos. Essa foi a explicação dada também a Rádio
CBN Cariri, desta feita pela aluna Elizabeth Nunes (2ª Ano A). Segundo ela, é
aqui que o suor humano pode contribuir. “A gente utilizou o ácido lático
contido no suor humano, que foi retirado de voluntários e destilado. Também
utilizamos comprimidos efervescentes com água na temperatura de 12ºC. Nosso
projeto tem ainda a coloração preta que acaba atraindo esses mosquitos”,
relatou Elizabeth.
O
projeto, conforme pontuaram Caique e Nunes, foi idealizado a partir de informações
circuladas nos veículos de comunicação. O Jornal O Povo, por exemplo, chegou a
informar que somente este ano houve um amento de 50% dos casos de dengue.
Além
da Rádio CBN Cariri, a "Armel" da Menezes Pimentel, foi veiculada nos sites Miséria,
Gazeta do Cariri e no O Povo.
Em
contado com a redação deste Blog, o professor orientador desta ação asseverou
que já está pensando nos próximos projetos.
A "Armel" será apresentada este mês durante o Ceará Científico, um evento da
Secretaria da Educação do Ceará (Seduc – CE).
A
data do Dia Mundial da Alimentação, 16 de outubro, foi escolhida em 1945 para
celebrar a criação da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e
Agricultura (FAO). “Toda pessoa tem
direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a
saúde e o bem estar, principalmente quanto à alimentação.”. Este é o início
do artigo 25º da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Desde
a década de 1940 existe um debate mundial sobre a segurança alimentar e houve
apenas um único momento na história do Brasil em que o Estado se comprometeu e
foi capaz de assegurar esse direito, entre 2004 e 2013, quando políticas
públicas de combate à miséria resultaram na exclusão do Brasil do Mapa da Fome
da FAO.
No
país, quem determina o conceito de segurança alimentar e nutricional é a Lei
orgânica de segurança alimentar e nutricional (LOSAN) de 2006, que diz o
seguinte: “Realização do direito de todos
ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade
suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo
como base práticas alimentares promotoras de saúde, que respeitem a diversidade
cultural e que sejam social, econômica e ambientalmente sustentáveis.”
O
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, criado em 2004 e extinto
em 2019, realizou um estudo técnico no qual criou-se o principal indicador da
insegurança alimentar no país: A Escala Brasileira de Insegurança Alimentar
(Ebia), através da qual dividiu-se o fenômeno nos níveis leve, moderado e
grave. A escala seria capaz de medir a experiência física e psicológica da
população com fome.
A
fome provoca o adoecimento físico e psicológico, é um fenômeno tanto individual
quanto coletivo (familiar) e social (comunitário), ligado diretamente à renda.
Ele se instala quando a falta do alimento sai de uma preocupação individual e
chega ao âmbito coletivo. Por exemplo, a preocupação com a alimentação atinge
primeiramente os adultos de uma família, que reduzem suas refeições para que a
comida renda e as crianças possam se alimentar por mais tempo e se agrava
quando as crianças não comem por dias.
_____________
Com informações do Alma Preta. Leia o
texto completo aqui.
A
gente anda só e a revolução não se faz de forma isolada, esse provavelmente
seja o entendimento para compreender que as transformações são fruto da luta
organizada. A compreensão de coletividade, as condições objetivas e o poder
político é o que faz a revolução. Na comunidade do Gesso, no Crato, existe uma
revolução em curso?
É
preciso entender com profundidade o que vem acontecendo na comunidade na última
década, não é um simples movimento, mas um conjunto de forças e uma engenharia
social que enxerga a dimensão transversal da luta pelo direito à cidade e suas
interrelações entre o local e o global.
Entender
o significado do processo histórico de ocupação espacial e simbólica da
comunidade é um caminho para compreender o que vem ocorrendo nesta última
década. A estratificação social e espacial da Comunidade do Gesso, demarcada
pelas linhas férreas e pelo preconceito de classe e a estigmatização social são
elementos essenciais para apontar os danos estruturais na urbanização e no
acesso à cidade, bem como na autoestima coletiva e no sentimento de unidade
comunitária.
Não
é o discurso da “melhoria” que vem dando visibilidade e impulso às mudanças na
comunidade, é para além. O discurso da “melhoria” é justo e previsível, mas ao
mesmo tempo pode ser pequeno e insignificante. É outra perspectiva, baseada na
necessidade de desconstruir as relações de submissão e coitadismo e ao mesmo
tempo da construção de pontes e capilaridades para o protagonismo social.
A
comunidade do Gesso precisa ser percebida a partir do seu Território. É atuação
em rede e a dimensão territorial que vem redimensionando a capacidade política
e a construção de uma narrativa positiva de organização popular.
Em
2015, o Coletivo Camaradas idealizou e articulou uma série de organizações da
sociedade civil e do poder público para constituir o Território Criativo do
Gesso, uma experiência necessária, inovadora e dinâmica que compreende cinco
bairros da cidade do Crato, onde está inserida a comunidade. Essa dimensão de
Território coloca em outro lugar a comunidade do Gesso, ou seja, no lugar da
aproximação entre sociedade civil e poder público, do imaginário transformador
de organização popular, do reconhecimento de potencialidades e desafios e
evidencia uma radiografia mais próxima da realidade, onde são expostos os
conflitos, diálogos possíveis e as construções coletivas.
Dentro
do Território é possível mapear Pontos de Cultura, coletivos artísticos, grupos
da tradição popular, Ongs, grupos esportivos, museu comunitário, escolas,
universidade, grupos religiosos, unidades de saúde e de assistência social,
além de outros órgãos da gestão pública, o que torna esse conjunto de
organizações uma potência territorial.É numa costura de rede que a comunidade e o Território Criativo do Gesso
vão ganhando força e visibilidade.
De
forma isolada, as organizações da sociedade civil perdem força, mas quando
atuam em rede conseguem ampliar ações, reivindicações e conquistas, é o que vem
acontecendo na comunidade do Gesso e no Território. É nesta atmosfera que o
lugar e o Território vão se conectando a outras visões de mundo e ganhando
novas dimensões e articulações.
Além
das ações realizadas em parcerias e das reivindicações constantes, alinhasse a
essa questão a produção de conteúdo para construção de uma narrativa
territorial e de lugar. São vídeos, fotografias, cartazes, textos para
imprensa, etc., que vão dando nomes e identidades para as organizações e os
sujeitos, ou seja, que vão promovendo o protagonismo popular. Essa visibilidade
significa também ocupação dos micros espaços políticos de poder, tão
necessários para o enfrentamento e o diálogo com o poder constituído.
Um
exemplo de conquista e de como a micropolítica se entrelaça a macropolítica e
vice-versa, é a Lei Aldir Blanc, fruto da luta dos movimentos sociais, de
gestores públicos e de parlamentares de diversos campos políticos, em especial
da esquerda que proporcionou ao país reduzir os impactos da pandemia na
economia da cultura descentralizando recursos públicos para estados e
municípios brasileiros. A Lei Aldir Blanc teve impacto direto na comunidade do
Gesso, no Território Criativo do Gesso e na sua interligação com o país.
Atividades
formativas, produções de documentários, apresentações artísticas, diálogos com
artistas, pesquisadores e gestores culturais de diversos estados do país,
estruturação com aquisição de equipamentos para diversas organizações que atuam
no Território Criativo do Gesso e o envolvimento da sociedade civil e do poder
público em diversos eventos demonstra a atuação em rede do Coletivo Camaradas
proporcionado pela Lei Aldir Blanc.
Com
foco na luta pelo direito à cidade, a Lei Aldir Blanc também proporcionou a
comunidade do Gesso, através do Coletivo Camaradas uma série de intervenções
urbanísticas e paisagísticas que impactam diretamente na cultura, no cuidado
coletivo, na economia local e no protagonismo das organizações e dos moradores.
O projeto urbanístico e paisagístico reforça a existência e a continuidade do
Sítio Urbano do Gesso, uma conquista comunitária que visa promover a
agricultura urbana, o Sítio Urbano é reconhecido por lei municipal. A ação
consta de construção de calçadas, escadarias, corrimão, ampliação de canteiros,
terreiros culturais e oratório e de uma série de intervenções artísticas. Essa
intervenção abre novos olhares para pensar a interface entre direito à cidade e
a cultura. É possível pensar urbanização, paisagismo, meio ambiente e cultura
de forma interligada e tendo os sujeitos e suas organizações como
protagonistas? Sim, o exemplo da Comunidade do Gesso, demonstra que é possível
inverter o holofote e promover a qualidade de vida.
É
impossível andar pela comunidade do Gesso e não perceber que existe algum tipo
de revolução.
Capa da obra 'Black Power – A Política de Libertação nos Estados Unidos' (2021). (FOTO/ Divulgação / Jandaíra/ Aventuras na História).
Recém-lançada
pela Editora Jandaíra, a obra "Black Power – A Política de Libertação nos
Estados Unidos", de Charles V. Hamilton e Kwame Ture (antes
conhecido como Stokely Carmichael) foi o primeiro livro a definir o conceito de
racismo institucional.
Publicada
originalmente em 1967, a obra foi fundamental para a luta do movimento negro,
ao denunciar o preconceito racial.
Escrita
no auge da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, a obra discute o
enfrentamento à supremacia branca e denuncia a opressão cometida pela branquitude.
“Este livro se mantém como um símbolo da
juventude e da autoconfiança do movimento Black Power, que elevou a luta por
direitos civis nos Estados Unidos e inspirou movimentos de libertação em todo o
mundo. No fim dos anos 1960 e 1970, os ativistas do Black Power impulsionaram
uma nova consciência coletiva que unia lutas globais por meio de visões
anticoloniais, anti-imperialistas e pan-africanas. O Black Power acentuou o
orgulho de se ter a pele mais escura e o cabelo natural como uma celebração estética
da beleza negra”, escreveu Bokar Biro Ture, filho de Kwame Ture, no
prefácio.
De
acordo com a ativista do Movimento Negro desde a década de 1960, Elida Monteiro
Damazio, a obra reconhece, ainda, a importância das mulheres negras na luta
contra o racismo.
“As referências acadêmicas e o tom de
manifesto revolucionário não lhe tiram a verve de um romance arrebatador e nos
provocam a mesma emoção de assistir a um filme de Ava DuVernay ou de Spike Lee”.
Disponível
na Amazon em formato Kindle e edição física, "Black Power – A Política de
Libertação nos Estados Unidos", ainda hoje, é uma obra fundamental
para entender conceitos fundamentais da luta do movimento negro.
Enquanto Bolsonaro perde quase metade do seu eleitorado, Lula retém a grande maioria dos votos de Haddad e recebe o apoio daqueles que apoiaram Bolsonaro. (FOTO/ Fabio Rodrigues Pozzebom / ABr).
O
presidente Jair Bolsonaro perdeu metade de sua base eleitoral, segundo pesquisa
divulgada nesta sexta-feira (15) pela Genial/Quaest. “Os dados mostram que apenas 52% daqueles que votaram em Bolsonaro no
segundo turno de 2018 votariam outra vez no presidente”, afirma o cientista
político Felipe Nunes, diretor da Quaest e professor da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG).
Dos
votos que Bolsonaro perdeu, 21% migraram para o ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, segundo a pesquisa. Ciro Gomes recebe 8%; Doria, 7%; e os brancos e
nulos ficam com 12%.
Entre
quem votou em Fernando Haddad no segundo turno de 2018, 79% votariam em Lula e
só 1% diz que votaria em Bolsonaro. “Ou
seja, enquanto Bolsonaro perde quase metade do seu eleitorado, Lula retém a
grande maioria dos votos de Haddad e recebe o apoio daqueles que apoiaram
Bolsonaro”, afirma Nunes em sua conta no Twitter.
“Se no primeiro turno das eleições de 2018
Jair Bolsonaro teve 46% dos votos válidos, a 4º rodada da pesquisa mostra que
seu desempenho hoje seria bem pior. Bolsonaro não passaria dos 30% de votos
válidos”, observa ainda o cientista político.
A
quarta rodada da pesquisa foi feita entre 30 de setembro e 3 de outubro, com
2.048 pessoas em entrevistas presenciais domiciliares. A margem de erro da
pesquisa é de 2.2 pontos.
Especial Dia do/a Professor/a: o papel fundamental do/a professor/a na luta antirracista. Na foto, o professor Nicolau Neto durante conversa com estudantes da Escola 18 de Dezembro, em Altaneira, sobre a falsa abolição da escravatura.
Quais
são as principais alegrias e os principais desafios da carreira das professoras
e dos professores brasileiros? E qual é a importância da promoção da educação
antirracista? Fizemos essas perguntas a quatro educadores participantes do
Edital Equidade Racial na Educação Básica, que tem como propósito fortalecer
coletivos de pesquisa nessa temática e mapear oportunidades estratégicas de
atuação.
O
Edital é uma iniciativado Itaú Social
com realização do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades
(CEERT), em parceria com o Instituto Unibanco, a Fundação Tide Setubal e o
Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).
Conheça
abaixo um pouco mais sobre os projetos e professores representantes de cada
etapa de ensino: Educação Infantil, Ensino Fundamental I, Ensino Fundamental II
e Ensino Médio:
Professora
Neli Edite dos Santos - Educação Infantil
“Ingressei
no magistério com 18 anos de idade. Hoje, passados 38 anos, posso dizer que
tenho marcas inscritas em mim por engajamentos, curiosidades, inquietações,
estudos, parcerias, comprometimentos políticos, indignações, descobertas, somas,
sonhos e transgressões poéticas. Em cada escola onde trabalhei, transpus muros,
arrisquei. Semeei desobediências inventivas entre estudantes, famílias,
comunidade e com colegas que toparam riscos.
Desde
os primeiros anos de atuação como alfabetizadora, passando pelas redes públicas
estadual e municipal, até ingressar no Colégio de Aplicação da Universidade
Federal de Uberlândia, em 2010, tenho sido inquieta, afetada por aquilo que tem
me constituído e atravessado. Cada escola tem seu jeito, seu ritmo, suas
riquezas, suas dificuldades, suas mazelas e potencialidades. Em cada uma delas,
afetei e fui afetada pelos coletivos: colegas, estudantes, famílias e
vizinhança. Em cada uma delas, busquei parcerias e encontrei conflitos
produtivos e improdutivos. Muitas geraram bons afetos e frutos. Algumas deram
em nada. Outras, dissabores e amarguras. Por isso, talvez, minha principal
alegria em continuar sendo professora é a disposição para arriscar,
principalmente quando o risco se confunde com travessura, travessias e
atravessamentos.
O
papel de professores e professoras no enfrentamento ao racismo depende de
vários elementos. Posso citar, por exemplo, seu reconhecimento étnico-racial,
de gênero e classe. Para enfrentar o racismo e contribuir para uma educação
antirracista, professores brancos precisam enfrentar o espelho, a historicidade
da branquitude em suas relações desumanizadas e desumanizantes com povos não
brancos: negros, indígenas, indianos, ciganos – entre outros.
Se
for uma pessoa negra e se for uma pessoa que pretende contribuir com a justiça,
com a igualdade de fato, com a democracia, ela poderá ser atravessada pelo
reconhecimento da sua condição de negritude e somará, assim, no enfrentamento
ao racismo. Uso o termo poderá, e não deverá.Isso porque, ao reconhecer-se e, mais ainda, assumir-se negra, a pessoa
é arremetida ao confronto com uma sociedade forjada e mantida pelo racismo
estrutural. Conhecer-se nessa arquitetura pode ser vivido como algo
extremamente pesado, sufocante e, a depender das circunstâncias, fatal.
É
comum a expectativa de que pessoas negras se posicionem em relação ao racismo,
denunciando-o, falando sobre ele, tendo-o como objeto de estudo. É comum também
que pessoas não negras, não indígenas, não indianas, não ciganas (entre outros
povos não brancos) considerem exageradas as denúncias de racismo, sobretudo
quando são praticantes dele (em geral, sem intenção de ofender).
Com
essa breve reflexão, quero dizer que o papel do(a) professor(a) no
enfrentamento ao racismo depende de vários elementos. A começar pela relação
que ele/a tenha com sua imagem nos espelhos da sua história, da história de seu
país e da história da humanidade”.
A
professora Neli Edite dos Santos é coordenadora geral do projeto ‘Construindo
uma escola antirracista: ingresso e permanência de cotistas na educação
básica’, realizado na Escola de Educação Básica, um colégio de aplicação da
Universidade Federal de Uberlândia, que oferece Educação Infantil, Ensino
Fundamental Regular e na Modalidade Educação de Jovens e Adultos.
Givânia
Maria da Silva - Ensino Fundamental I
“A
lista dos desafios de ser professor é grande, principalmente em uma sociedade
marcada pelo racismo e por um ensino que deixa tantas lacunas na nossa formação
inicial. A formação continuada também não dá conta de nos ajudar a superar
determinados déficits. No caso das comunidades quilombolas, as novas
tecnologias também se tornaram desafios, pois são desconhecidas por muitas
pessoas.
Precisamos
lidar com estruturas tão hierarquizadas dos estados e municípios, onde os
gestores não pautam a questão racial como fundamental e a gente sabe o quanto
isso é importante. Muitos quilombos não têm acesso à internet. Falta
investimento na compra de equipamentos, na formação dos profissionais e nas
escolas quilombolas. Tudo isso prejudica o trabalho do professor e a
aprendizagem dos alunos.
Mas
temos também as nossas alegrias. Sabemos que nada será feito sem nós. Somos
peças fundamentais no processo educacional. Mesmo com a tecnologia,o professor ainda é uma peça muito importante
e nunca vai deixar de ser. Precisamos avançar e construir comunidades de
aprendizados.
Também
sentimos profunda alegria quando vemos que inspiramos outras pessoas. Somos um
instrumento da luta e da resistência para uma educação antirracista. Por isso
seremos sempre um instrumento de transformação e emancipação, apesar do modelo
social. Devemos ocupar o lugar de instrumento e ferramenta da luta
antirracista, seja na sala de aula ou no cotidiano.”
A
professora Givânia é coordenadora do projeto Quilimbos e Educação: Políticas
Públicas e Práticas Pedagógicas, com foco na análise dos dados do Censo do
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira para
identificar os desafios da educação quilombola enfrenta e em estudos de casos
em duas comunidades quilombolas: Povoado de Mesquita, em Cidade Ocidental (GO)
e Quilombo de Conceição das Crioulas, em Salgueiro (PE).
Erisvaldo
Pereira dos Santos - Ensino Fundamental II
“O
principal desafio de ser professor está relacionado com o lugar social da
profissão docente em nossa sociedade. Embora todos as outras profissões
dependam do trabalho docente, há uma falta de compromisso político com a
valorização desse profissional em nossa sociedade em termos de remuneração. A
principal alegria de ser professor é a de saber que sem o seu trabalho as
transformações no mundo em prol da justiça social e do bem-estar não
acontecerão. Mesmo porque, todo(a) professor(a) está investido de uma
autoridade comprometida com o curso do mundo na ordem do bem viver social. Por
isso Paulo Freire afirma que educar é uma prática política.
O
desafio principal do (a) professor (a) diante do enfrentamento ao racismo é o
de não naturalizar esse fenômeno que estrutura nossas relações sociais. Ao
naturalizar o racismo, o(a) professor(a) contribui para que não haja mudanças
nas relações sociais e raciais. Para não cair na armadilha da naturalização,
seu trabalho docente carece, portanto, de uma sólida formação teórica e de uma
postura ética de acolhimento e valorização da alteridade.
A
partir daí, ele(a) não enfrentará apenas o racismo, sendo uma pessoa
antirracista, mas também enfrentará todas as mazelas que envolvem os sujeitos
subalternizados e discriminados. A interseccionalidade entre raça, gênero e
classe é a base que organiza essa prática. Dessa maneira, o (a) docente
contribuirá para a formação de um sujeito autônomo, crítico e ético.”
Erisvaldo
é coordenador do projeto Epistemologias Antirracistas e Projeto Político
Pedagógico: Uma Pesquisa Aplicada no Âmbito da Secretaria de Educação de
Contagem (MG). O objetivo do projeto foi oferecer aportes epistemológicos do
feminismo negro e antirracista, afim de contribuir para a reflexão sobre a
fundamentação de Projetos Políticos Pedagógicos (PPP’s), na perspectiva das
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e
para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana.
Gerson
Alves dos Santos - Ensino Médio
“O
grande desafio de ser professor é atuar em um ambiente cada vez mais
precarizado e deixado de lado pelas políticas públicas. O tempo todo
enfrentamos uma realidade desestimuladora e que acaba por consumir nossas esperanças
e anseios quanto ao desejo de construir uma educação de fato transformadora.
Gestores
e colegas professores, em grande medida não se preocupam ou desconhecem a
importância da autonomia no processo de ensino. Algo que cria um ambiente pouco
politizado e pouco aberto a pautas que vão além de um conjunto de ações e
entendimento, preso a institucionalização burocratizada.
Já
a grande alegria é ouvir os alunos e suas experiências transformadoras no
ambiente escolar. É saber que alguns transformam sua realidade a partir do que
discutimos em sala. Isso reforça a esperança e refloresta a crença na educação
como um espaço de transformação de uma realidade tão adversa.
Penso
que o professor tem que ser protagonista, principalmente nesse contexto político
em que estamos vivendo. As políticas que garantem o ensino da história, cultura
afro-brasileira e indígena é uma realidade do ponto de vista institucional,
mas, ainda está longe do ideal quando se pensa o ambiente escolar e um conjunto
de práticas cotidianas que viabilizem um ensino antirracista.
Temos
de sair do plano institucional, isto é, da data enquanto momento folclórico e
por vezes romantizado. Algo muito comum entre nós brasileiros, sociedade em que
a lei por vezes acaba em si mesmo e não se transforma em realidade cotidiana.
No caso, o professor, sabedor dessa realidade, precisa se colocar enquanto
agente transformador, alguém capaz de questionar e instigar no ambiente escolar
a discussão sobre o racismo brasileiro e seu caráter estrutural. Alguém capaz
de ser protagonista nesse processo de questionamento das subjetividades
reprodutoras desse racismo estrutural que tende a desumanizar a população
negra.”
Gerson
é coordenador do projeto “O quilombo na escola: práticas pedagógicas,
identidade étnica e ancestralidade”, que tem como objetivo atuar na formação de
professores das escolas estaduais (Ensino Fundamental e Médio) de uma
comunidade quilombola na cidade de Moreilândia, Estado do Tocantins.
A
ideia é que a história da comunidade possa fazer parte do currículo de modo a
ser incorporada na realidade dessas escolas, fazendo com que a realidades dos
quilombolas e dos moradores da cidade possam fazer parte do cotidiano escolar,
potencializando, assim, uma educação inclusiva e antirracista.
Fruto
de uma mobilização voluntária de cinco moradores/as do Sítio Latão, em Santa do
Cariri (CE), imbuídos no desejo de transformar essa comunidade através da
educação e da cultura, nasceu o projeto social Biblioteca “Caminho
do Conhecimento”.
O projeto que partiu da professora Renata Lino, Marcia Lino, Luiz Reginaldo,
José Reginaldo e Francisco Martins, conhecido popularmente por “Chichico” se
configura como uma ação não governamental e já está em processo de organização de
acervo bibliográfico, inclusive com pretensão de tombamento.
Segundo
Renata Lino, o espaço onde funcionará a biblioteca tem como proprietário o
Chichico e passou por reforma. Ela destaca ainda que quem desejar fazer doações
é só entrar em contato com os/as idealizadores ou encaminhar mensagens para a
página do projeto literário no Facebook.
A
Biblioteca já conta com alguns acervos, tanto didáticos como paradidáticos e a inauguração
deve acontecer em dezembro, contanto com todos os cuidados que a pandemia
exige. O equipamento vai oferecer consulta de acervo e empréstimo de livros.
Entre o catálogo de exposição online do Museu Afro Brasil está uma coleção dedicada a registrar parte das habilidades e conhecimentos africanos que construíram o “novo mundo” e inspiram o presente. A exposição “Design e Tecnologia na Escravidão”, online e grátis, apresenta objetos, como ferramentas e obras de arte.
O movimento do museu com esta mostra é ir para além da imagem, por vezes, menor, de que e a presença africana no país se firmou apenas pelas contribuições culturais e folclóricas.
É possível “passear virtualmente” pelas salas e conferir, em detalhes, cada um dos objetivos ali posicionados, sendo que grande parte deles registra o cotidiano de pessoas escravizadas e suas ferramentas de trabalho. É uma prova fundamental do desenvolvimento de tecnologias por pessoas negras, escravizadas, livres e libertas, no campo do vestuário, da mineração, agricultura e até na identificação de mudanças climáticas.
O texto do pesquisador, Douglas Araújo, afirma que o legado africano foi e é “um elemento essencial no desenvolvimento tecnológico das etapas de desenvolvimento econômico do país”. Em outras palavras, a exposição deixa nítido que praticamente tudo que foi construído no passado, por aquelas pessoas negras, não só determinaram o tipo de país daquele momento, como também construiu as bases do que temos hoje, como ensina o ideograma Sankofa, que nos leva a olhar, sempre, para o passado para construir o futuro.
Acervo digital
Além da visita virtual é possível acessar o acervo digital do museu que conserva mais de 5 mil obras, entre gravuras, pinturas, fotografias, documentos e outros registros.