No dia em que o Estatuto da Criança e do Adolescente completa 25 anos, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) lançou, nesta segunda-feira (13) em Brasília, o relatório #ECA25anos – Avanços e Desafios para a Infância e a Adolescência. A publicação apresenta uma análise de indicadores relacionados à infância e à adolescência desde a aprovação do ECA, em 1990.
De
acordo com o UNICEF, o ECA criou bases sólidas que asseguraram o progresso nos
indicadores da infância e adolescência. Nesses 25 anos, o País implementou
políticas e programas que garantiram a sobrevivência e o desenvolvimento de
milhões de meninos e meninas brasileiros.
Entre
os avanços, estão a queda da mortalidade infantil e na infância e o progresso
em todos os indicadores na área de educação, a redução do trabalho infantil e a
redução do sub-registro de nascimento.
Na
área de educação, por exemplo, o Brasil conseguiu garantir o acesso a 93% de
suas crianças e adolescentes no ensino fundamental. De 1990 a 2013, o
percentual de crianças e adolescentes em idade obrigatória fora da escola caiu
64%, passando de 19,6% para 7% (Pnad).
Outro
indicador positivo na área da educação é a queda na taxa média de analfabetismo
entre brasileiros de 10 a 18 anos de idade. Essa taxa caiu 88,8%, passando de
12,5%, em 1990, para 1,4%, em 2013. A queda foi ainda mais significativa entre
os adolescentes negros, de aproximadamente 91% (Pnad).
No
entanto, o UNICEF alerta que esses resultados não estão alcançando determinados
grupos. Muitas crianças e adolescentes estão sendo deixados para trás em razão
de sua raça ou etnia, condição física, social, gênero ou local de moradia.
Crianças
indígenas, por exemplo, estão entre as mais vulneráveis. Elas têm duas vezes
mais risco de morrer antes de completar 1 ano do que as outras crianças
brasileiras e estão entre os grupos mais vulneráveis em áreas como educação.
Outro
desafio apresentado pelo UNICEF é o da exclusão escolar. Mais de 3 milhões de
crianças e adolescentes ainda estão fora da escola (Pnad, 2013). Os excluídos
da educação representam exatamente as populações marginalizadas no País: são
pobres, negros, indígenas e quilombolas. Muitos deixam a escola para trabalhar
e contribuir com a renda familiar. Uma parcela tem algum tipo de deficiência. E
grande parte vive nas periferias dos grandes centros urbanos, no Semiárido, na
Amazônia e na zona rural.
A
publicação também aponta como desafio a redução da mortalidade materna. O País
ainda está longe de alcançar a meta do Objetivo de Desenvolvimento do Milênio
5, que estabeleceu o número de mortes diretamente ligadas à gravidez para 35
por 100 mil nascidos vivos. No Brasil, esse indicador é de 61,5 por 100 mil
nascidos vivos, segundo estimativas de 2012 (Sistema de Informações sobre
Mortalidade, 2011).
Para
o UNICEF, a mais trágica das violações de direitos que afetam meninos e meninas
brasileiros são os homicídios de adolescentes. De 1990 a 2013, passou de 5 mil
para 10,5 mil casos ao ano (Datasus, 2013), um aumento de 110%. Isso significa
que, em 2013, a cada dia, 28 crianças e adolescentes eram assassinados.
Dos
adolescentes que morrem por causas externas no País, 36,5% são assassinados. Na
população total, esse percentual é de 4,8%. (Homicídios na Adolescência no
Brasil, 2015). Esse cenário perturbador coloca o Brasil em segundo lugar no
ranking dos países com maior número de assassinatos de meninos e meninas de até
19 anos, atrás apenas da Nigéria (Hidden in Plain Sight, UNICEF, 2014).
“Analisando
a trajetória desses 25 anos, podemos afirmar que o Brasil tomou a decisão certa
em adotar o Estatuto” disse Gary Stahl, Representante do UNICEF no Brasil. “O
Brasil precisa agora se focar nos mais excluídos. Para isso, são necessárias
ações específicas, capazes de alcançar as crianças e os adolescentes que foram
deixados para trás”.
O
novo relatório do UNICEF também analisou o atual modelo de responsabilidade
penal de adolescentes entre 12 e 18 anos. De acordo com a análise, a criação do
Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase) foi um avanço nesses 25
anos. No entanto, o modelo de responsabilização de adolescentes não está sendo
implementado de forma efetiva. Para o UNICEF, o País vive hoje a ameaça de
retroceder o caminho que trilhou nos últimos 25 anos caso seja aprovada a
redução da maioridade penal de 18 para 16 anos.
“Aperfeiçoar
o sistema socioeducativo, garantindo que ele ajude a interromper a trajetória
do adolescente na prática do delito, é uma das tarefas mais importantes que o
País tem diante de si”, diz o relatório.
O
relatório #ECA25anos foi realizado com o apoio da ANDI – Comunicação e
Direitos, uma organização da sociedade civil que atua há mais de 20 anos em
defesa dos direitos de crianças e adolescentes por meio de ações na área de
mídia e desenvolvimento.
O
Estatuto da Criança e do Adolescente foi uma das primeiras leis no mundo a
traduzir os princípios da Convenção sobre os Direitos da Criança, adotada um
ano antes, e se tornou uma referência para outros países.