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Abdias do Nascimento foi um dos maiores ativistas do movimento negro no Brasil . (FOTO/ Paulo Moreira/ Agência O Globo). |
O
MASP — Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand apresenta, de 25 de fevereiro
a 5 de junho de 2022, a mostra Abdias Nascimento: um artista panamefricano, que
ocupa os espaços da galeria e do mezanino, no 1 o subsolo do museu. Com
curadoria de Amanda Carneiro, curadora assistente, e Tomás Toledo, curador-chefe
do MASP, a exposição está inserida no biênio dedicado às Histórias Brasileiras
no museu e exibe a faceta artística deAbdias Nascimento (1914-2011), intelectual,
ativista político, dramaturgo, ator, escritor e diretor.
A
exposição tem patrocínio do escritório Mattos Filho e apoio cultural do
IPEAFRO, instituiçãofundada em 1981 pelo artista e que guarda seu acervo.
Figura
fundamental para a história do país, Nascimento desempenhou papéis que marcaram
o século 20 em diversos campos, tais como a política, a cultura e a
intelectualidade.
Suas
pinturas associam orixás à abstração geométrica, formas livres a símbolos
africanos —como os adinkras —, além de explorarem gêneros mais tradicionais,
como paisagens e retratos.
No
Brasil, seu trabalho artístico ainda merece maior atenção e esta é, portanto, a
razão da exposição Abdias Nascimento: um artista panamefricano e do catálogo que
a acompanha.
Reunindo
62 pinturas — desde o início de sua produção em 1968 até o ano de 1998 —,
amostra enfatiza o repertório de ideias, cores e formas do movimento
pan-africanista, com noções, fontes e imaginário ladino-amefricano — termo
cunhado por Lélia Gonzalez (1935-1994), amiga e interlocutora política e
intelectual do artista e formuladora do conceito de amefricanidade para se
referir à experiência negra na América Latina.
A
mostra retoma conceitos formulados por Nascimento, como o quilombismo, para destacar
o projeto de transformação social sobre bases que retomam a experiência dos quilombos.
O artista materializou seu pensamento também na pintura homônima, presente na
exposição e visualmente representada pela união do tridente de Exu aos ferros
de Ogum, divindades iorubás que se popularizaram no Brasil com a umbanda e o
candomblé.
Em
1968, ano que marca o início de sua produção de pinturas e sua mudança para os Estados
Unidos, Nascimento já era um nome laureado no Brasil. Participou da formação da
Frente Negra Brasileira, movimento e depois partido político criado na década
de 1930, e dafundação do Teatro Experimental do Negro, o TEN, uma das mais
radicais experiências de dramaturgia do país, nos anos 1940; realizou o
concurso Cristo de cor, que contou com diversos artistas, como Djanira da Motta
e Silva (1914-1979), para a representação de um Jesus negro, em 1955; e na
mesma década idealizou o Museu de Arte Negra, cujo acervo é referência nos
debates sobre museus e comunidades. Já seus trabalhos de artes visuais foram
mais celebrados em solo estadunidense, onde realizou exposições nos
conceituados Studio Museum em Harlem, Nova York; Museum of Fine Arts, em
Syracuse; e Crypt Gallery, da Universidade de Columbia.
Parte
das pinturas desta mostra apresenta ao público a pesquisa de Nascimento sobre
símbolos e bandeiras de projetos e identidades nacionais, que podem ser lidas
de uma perspectiva simultaneamente pan-africanista e amefricanista.
Os
trabalhos Okê Oxóssi e Xangô, ambos de 1970, por exemplo, estabelecem paralelos
entre representações do Brasil e dos Estados Unidos por meio de uma
recomposição de símbolos nacionais, mais especificamente os elementos de suas
bandeiras. Segundo Amanda Carneiro, curadora da exposição, “ao subverter o
sentido das bandeiras, incorporando referências de matriz africana,
questionam-se medidas de incorporação (ou seria retomada?) de signos culturais
mais plurais, não exclusivamente alicerçados no eurocentrismo, repensando as
comunidades imaginadas”. Okê Oxóssi, inclusive, pode ser considerada um dos
grandes pontos de partida para a mostra individual de Abdias Nascimento no
MASP. A pintura — doada ao acervo do museu em 2018 no âmbito da mostra
Histórias Afro-Atlânticas por Elisa Larkin Nascimento, cofundadora e atual
presidente do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro) —
ganha agora novos significados no contexto expositivo dedicado a histórias
brasileiras, em conjunção com a extensa produção do artista.
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Com
informações da Revista Raça.