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Segundo o vice do órgão, o Brasil tem obrigação de cumprir decisão favorável a Lula. (Foto: AFP). |
A
decisão do Comitê de Direitos Humanos da ONU de conceder uma liminar para Lula
participar das eleições produziu um choque de versões sobre a efetividade da
medida. Enquanto o órgão das Nações Unidas afirma ser uma exigência, capaz de
violar um pacto internacional, o Itamaraty e o governo brasileiro sugerem ser
apenas uma recomendação.
O
comitê determinou ao Estado Brasileiro que “tome
todas as medidas necessárias para permitir que o autor [Lula] desfrute e
exercite seus direitos políticos da prisão como candidato nas eleições
presidenciais de 2018, incluindo acesso apropriado à imprensa e a membros de
seu partido politico.”
Logo
após a decisão chegar ao conhecimento do Itamaraty, o governo brasileiro
preferiu classificá-la como uma recomendação. Em nota, o Ministério das
Relações Exteriores afirmou que as conclusões do Comitê "não possuem
efeito juridicamente vinculante". A pasta disse, porém, que encaminhará o
teor da deliberação ao Poder Judiciário.
O
Itamaraty afirmou na sequência que é "fiel
cumpridor do Pacto de Direitos Civis e Políticos". "Os princípios nele inscritos de igualdade
diante da lei, de respeito ao devido processo legal e de direito à ampla defesa
e ao contraditório são também princípios constitucionais brasileiros,
implementados com zelo e absoluta independência pelo Poder Judiciário."
Não
é o que pensa o Comitê da ONU, para quem um descumprimento da decisão pelo
Brasil é um desrespeito ao Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos,
ao qual o País aderiu em 1992, durante o governo de Fernando Collor.
O
texto do pacto diz que os Estados signatários "reconhecem que o Comitê tem competência para receber e examinar
comunicações provenientes de indivíduos sujeitos à sua jurisdição que aleguem
ser vítimas de uma violação".
Sarah
Cleveland, vice-presidente do comitê da ONU e autora da liminar, diz se tratar
de uma "obrigação legal".
Ao portal UOL e ao jornalista Jamil Chade, ela afirmou que o Brasil tem de
acatar a decisão. Professora de direito da Universidade de Columbia, em Nova
York, ela afirmou que trata-se de uma medida urgente e de efeito imediato.
"O comitê não é uma Corte. Então essa não é
uma ordem judicial. Mas o Brasil é um signatário de tratados, e a posição do
comitê é que o Brasil tem obrigação legal de cumprir o pedido do comitê",
disse Sarah, em entrevista ao UOL."
Cleveland
diz que o descumprimento seria uma violação do pacto firmado em 1992 e
ratificado em 2009, mas reconhece a ausência de mecanismos do órgão para
garantir o cumprimento da medida ou impor sanções. Por outro lado, terá
capacidade para concluir que o País violou suas obrigações.
O
Comitê de Direitos Humanos da ONU é composto por 18 especialistas independentes
em direitos humanos de diversos países. Nenhum dos atuais integrantes é
brasileiro.
O
órgão já tomou uma decisão desfavorável a Lula. Em maio deste ano, negou um
pedido da defesa do ex-presidente Lula para que o comitê, baseado em Genebra,
recomendasse uma medida cautelar a seu favor e interrompesse sua reclusão.
Na
ocasião, a própria Sarah Cleveland explicou o motivo da negativa."Para que se peça a um Estado que se
estabeleçam medidas cautelares, deve-se demonstrar que este está violando de
forma irreparável alguns dos preceitos do Pacto [Internacional sobre Direitos
Civis e Políticos]".
Agora,
o comitê entende que o pacto pode ser violado se Lula não disputar as eleições.
O governo brasileiro e o Judiciário por enquanto ignoram a decisão. O ministro
da Justiça, Torquato Jardim, afirmou que ela não tem relevância jurídica. Ele
classificou a medida como uma "intromissão
política e ideológica indevida em tema técnico-legal”. (Com informações de
CartaCapital).
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