Na Globo, Bolsonaro foge de perguntas, nega o que disse e parte para o ataque


"O policial, se mata dez, 20 ou 30, deve se condecorado", disse candidato do PSL no Jornal Nacional.
(Foto: Reprodução).

Na segunda entrevista realizada com alguns dos candidatos à presidência da República em série iniciada na segunda-feira, com Ciro Gomes (PDT), o Jornal Nacional recebeu Jair Bolsonaro (PSL) nesta terça (28) . Fiel ao seu estilo, ao ser questionado em pontos polêmicos procurou falar mais alto e deixou de responder objetivamente a maioria das questões dos apresentadores William Bonner e Renata Vasconcellos.

Foi perguntado sobre por que se julga o novo, se atua há 27 anos e fez da politica uma profissão. Respondeu que sua família é "limpa", nunca teve um cargo em governos e sempre se valeu do que conquistou em seus mandatos.

Sobre questões trabalhistas, tentou explicar por que votou contra a PEC dos trabalhadores domésticos e justificou: "(A PEC) levou milhões para ser diaristas, e não recolhem sequer para a Previdência. Muitas mulheres perderam emprego por causa de excesso de direito". Segundo ele, as pessoas que dormiam na casa dos patrões "perderam o café da manhã e o pernoite".

Ao ser questionado a respeito dos direitos trabalhistas, disse que os empregadores "têm dito que um dia o trabalhador vai ter que decidir entre todos os direitos e menos emprego ou menos direitos e mais emprego". A respeito de quais direitos estaria disposto a retirar, saiu pela tangente: "quem tira direito é a Câmara  e o Senado". Acrescentou: "O salário é muito para quem paga e pouco pra quem recebe. Não jogue a responsabilidade sobre um candidato".

Ele tentou negar uma afirmação na qual defendeu que, se fosse patrão, não empregaria mulheres com mesmo salário dos homens. "Ouviu ou leu onde?", devolveu à apresentadora Renata. "Ouvi e li", retrucou a jornalista. Depois, ainda questionado sobre o tema, o candidato afirmou que "na CLT já se garante isso (igualdade). Por que o Ministério Público do Trabalho não age? Isso está na CLT", repetiu. 

Nas redes sociais, telespectadores acusaram a Globo de "levantar a bola" para o candidato e de dar "palco" para ele discorrer sobre "as maluquices" que gosta de falar. A jornalista Helena Chagas escreveu em seu perfil: "É impressão minha ou o JN não está taaaaaaão agressivo com o Bolsonaro?"

No entanto, além de ser questionado sobre sua posição contra a classe trabalhadora, também foi perguntado sobre receber auxílio-moradia, preconceito contra LGBTs, por estimular a violência e outros temas. Mas usou sempre o recurso de desviar o foco das questões ou partir para o ataque.

Disse que não tem preconceito contra LGBTs, e que seu intuito é "defender as crianças". Repisou a questão do kit gay. "Um pai não quer chegar em casa e ver um filho brincar com boneca por influência em sala de aula", respondeu, após ouvir a pergunta sobre seu preconceito e sua frase segundo a qual "seria incapaz de amar um filho homossexual" e que preferiria que um filho morresse do que aparecer "com um bigodudo por aí".

Sobre sua proposta de militarizar a sociedade e combater a violência com mais violência, respondeu: "mais violência é se o bandido tem uma .762 (ponto 762, um fuzil), o policial também tem que ter. Se (o bandido) tem uma .50 (ponto 50), o policial tem que ter um tanque. Não pode (o bandido) ser tratado como um ser humano normal. O policial, se mata 10, 20 ou 30, ele deve ser condecorado. Vai dar florzinha pra ele? Tem que atirar", pregou.

Ao colocar a questão sobre a democracia e o fato de o candidato a vice de Bolsonaro, o general Hamilton Mourão, ter defendido que os poderes "têm que buscar solução" para situação de caos, William Bonner teve que ouvir o candidato, mais uma vez, lembrar que o todo-poderoso Roberto Marinho, mandatário da Globo até sua morte, em 2003, defendeu a ditadura em editorial de outubro de 1984. "Deixe os historiadores pra lá", disse Bolsonaro.

Ao se despedir, afirmou que "dois partidos (PT e PSDB) mergulharam o Brasil na mais profunda crise ética e moral" e acrescentou: "Precisamos eleger um presidente honesto que tenha Deus no coração".

Os entrevistadores da Globo não perguntaram sobre o fato de o candidato ser réu em duas ações penais no Supremo Tribunal Federal por declarações de 2014 contra a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS). Bolsonaro é réu por injúria e incitação ao estupro.

Bonner e Renata também não se lembraram de que, nesta terça-feira, a Primeira Turma do STF iniciou julgamento em que discute a admissibilidade de mais uma ação contra ele.

A Rede Globo já informou que "não vai haver cobertura de campanha" do candidato do PT. O candidato a vice na chapa do ex-presidente Lula, o ex-prefeito Fernando Haddad, não foi convidado.

O JN dá sequência à série com Geraldo Alckmin (PSDB), nesta quarta (29), e Marina Silva (Rede) na quinta. (Com informações da RBA).

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