Pequenos produtores rurais de Altaneira são contemplados com mais de 1 milhão de reais



Em solenidade realizada nesta segunda-feira, 19, em Fortaleza, pequenos produtores rurais de Altaneira ligados a quatro Associações foram contemplados com recursos na ordem de R$ 1.170,237 ( hum milhão, cento e setenta mil e duzentos e trinta e sete reais) oriundos do Projeto Paulo Freire. O anúncio foi feito pelo prefeito Dariomar Rodrigues (PT) em sua conta no facebook na noite dessa terça-feira, 20.

Além do prefeito, participaram do evento representantes de quatro associações – a dos Pequenos Produtores Rurais dos Sítios Taboquinha e Taboca; dos Sítios Serra do Valério e Açudinho; do Sítio Córrego e a da Associação Comunitária José Francisco da Silva. Segundo o chefe do executivo municipal, além do recurso o município poderá ser contemplado em breve com a inclusão no programa de mecanização agrícola. Isso fará com que “nossas associações receberão um trator para nos ajudar nessa luta que está acontecendo na revitalização da mandioca e do algodão”, disse Dariomar.

O prefeito realçou também que muito em breve a casa de farinha - localizada no sítio Serra do Valério -, será totalmente reformada e ficará com “equipamentos novos e modernos, instalações amplas e funcionamento pleno”. De acordo com ele, o valor da reforma está orçado no valor de R$ 220.000 (duzentos e vinte mil reais) “para fechar com chave de ouro esse projeto da revitalização da cultura da mandioca”.

A política de revitalização da cultura da mandioca já conta, conforme anunciou o prefeito com mais de 100 tarefas plantadas e “até o final do ano”, pontuou o gestor, “teremos grande farinhada, melhorando assim a renda desses produtores que tanto lutam por um futuro melhor”.

O prefeito se mostrou otimista e afirmou que apesar do pouco recurso previsto para 2018, está dando o máximo para gerar emprego. “Estamos dando o máximo para gerar o máximo de emprego e renda principalmente na agricultura que por muito tempo foi colocada em segundo plano. Eu não tenho duvida que com esses projetos em andamento, Altaneira em breve será exemplo para outros municípios na questão da agricultura sustentável”.

No evento, o prefeito também esteve ao lado do governador Camilo Santana e do Secretário Estadual de Desenvolvimento Agrário, Dedé Teixeira, a quem os parabenizou.

Prefeito Dariomar Rodrigues ao lado de pequenos/as produtores/as rurais em evento na capital do Estado.
(Foto: Divulgação).


Cem entidades internacionais denunciam Brasil na ONU e cobram governo Temer no caso Marielle



O Brasil será denunciado, hoje, por mais de 100 entidades internacionais, no plenário da 37ª sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, Suíça, pela execução da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, na última quarta-feira, dia 14 de março, e por causa da situação em Acari, região periférica do Rio de Janeiro com mais casos de violência e assassinatos cometidos por policiais no Rio de Janeiro.

Na denúncia, o Brasil é instado “a assegurar uma investigação imediata, imparcial e independente, processando os responsáveis materiais e intelectuais deste crime, com a competência e a abertura para a possibilidade de o assassinato ter sido uma execução extrajudicial.” O governo brasileiro também será cobrado “a dar proteção efetiva aos sobreviventes desse ataque, como testemunhas-chave desta atrocidade”.

Segundo o articulador das entidades que farão a denúncia, Paulo de Tarso Lugon Arantes, advogado internacional e militante de Direitos Humanos, “a intervenção federal, que acabou se configurando como militar, não oferece salvaguarda aos moradores das comunidades afetadas. Além de ser uma medida com interesse eleitoral, tem sua constitucionalidade questionada no STF”. Ele afirma ainda, que o decreto assinado por Michel Temer, sem as salvaguardas de Direitos Humanos, funciona na prática, “como uma ‘licença para matar’, visto que os generais afirmaram publicamente não querer uma nova Comissão da Verdade apurando as ocorrências, e sugerindo que os eventuais casos envolvendo militares deveriam ser analisados pela Justiça Militar, aumentando a chance de impunidade”. Outra preocupação das entidades é com o funcionamento do Programa de Proteção de Defensores de Direitos Humanos, que vem sofrendo uma série de cortes orçamentários e tendo sua aplicabilidade dificultada nos Estados. Segundo Arantes, o Brasil aceitou recomendação na Revisão Periódica Universal (RPU-2017) – encontro em que os países se avaliam mutuamente, quanto a situação de direitos humanos, gerando um conjunto de recomendações – para reestruturar e ampliar o financiamento do Programa, mas até agora não saiu do papel. Levantamento de entidades ligadas aos Direitos Humanos mostram que, só este ano, 12 lideranças políticas já foram assassinadas, somando 194 vítimas nos últimos 5 anos.

A denúncia será lida, em plenário, por Mariana Tavares, jovem negra, tataraneta de escravos, que conseguiu uma bolsa de estudos para fazer mestrado em “Antropologia e Sociologia do Desenvolvimento” no “Graduate Institute of International and Development Studies”, em Genebra.

Também será apresentado à relatora especial da ONU sobre execuções extrajudiciais, sumárias ou arbitrárias, Agnès Callamard, um vídeo com denúncias que relatam a perseguição e os diversos casos de violência sofrido pelos moradores de Acari. Ocorrências que fizeram parte substancial das denúncias públicas feita pela vereadora Marielle Franco.

Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas

Todo o material será objeto de análise das relatorias da ONU que tratam do racismo, execuções sumárias e proteção aos defensores de Direitos Humanos, para que o Brasil seja instado a prestar contas da investigação conduzida pelas autoridades competentes, e a oferecer proteção oficial àqueles que denunciam a violência policial nas comunidades afetadas, conforme consta na Declaração da ONU sobre Defensores de Direitos Humanos, Resolução 53/144 da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 9 de Dezembro de 1998, que diz no 12º artigo, parágrafo 2: “O Estado deverá adotar todas as medidas adequadas para garantir que as autoridades competentes protejam todas as pessoas, individualmente e em associação com outras, contra qualquer forma de violência, ameaças, retaliação, discriminação negativa de fato ou de direito, coação ou qualquer outra ação arbitrária resultante do fato de a pessoa em questão ter exercido legitimamente os direitos enunciados na presente Declaração”.

O Itamaraty lançou forte ofensiva para barrar a denúncia no Conselho. Segundo apuração da reportagem, a chancelaria enviou dois telegramas a todas as suas embaixadas do mundo, instruindo os diplomatas a entrarem em contato com autoridades locais e com formadores de opinião para “expor de maneira mais ampla possível as medidas tomadas pelo governo para esclarecer o assassinato da vereadora e do motorista Anderson Gomes”.

Em junho de 2016, o governo interino de Michel Temer, por meio da seu ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, suspendeu a criação de novos convênios do Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas (PROVITA). O Programa não atende somente os defensores de Direitos Humanos e, desde 1999, passou a ser de responsabilidade dos Estados. De lá para cá novos cortes foram feito ao programa, que também esbarra em barreiras burocráticas para ser implantado com eficiência.

Em um debate ocorrido no dia 6 de março, no Rio de Janeiro, chamado Dia D da Proteção, que discutiu o PROVITA, Alice de Marchi, da ONG Justiça Global e integrante do Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos, revelou que a situação piorou depois que a Intervenção Federal foi implantada no Rio de Janeiro. Segundo ela, “pessoas que estão defendendo o direito à vida já vem sendo criminalizadas, perseguidas, simplesmente por desempenharem seu trabalho extremamente nobre, digno, justificado, que é o de defender Direitos Humanos. Quando há uma intervenção, que ainda monitora, mapeia, criminaliza ainda mais esses sujeitos sociais, é importantíssimo que a sociedade esteja de olhos bem abertos, muito atentas, para que esse processo não recrudesça ainda mais no momento que a gente está vivendo.

Para Roberta Maristela, promotora de Justiça do Rio de Janeiro e conselheira do Provita no Estado, “infelizmente o sistema tem deficiências. Existe uma falta de informação das portas de entrada do PROVITA. A Polícia Civil, a Polícia Militar, não tem muita informação de como se ingressa no Programa. No próprio Ministério Público e na Defensoria Pública existe essa deficiência. E existe um tempo, até a pessoa ser ouvida pela entidade gestora, passar por essa triagem, ter a decisão do Conselho e conseguir ingressar no Sistema.”

Veja o vídeo com as denúncias apresentadas ao Conselho de Direitos Humanos:


Abaixo, a íntegra do documento a ser apresentado na reunião da ONU nesta terça-feira.

Conselho de Direitos Humanos
37º Período Ordinário de Sessões
Item 8 – Acompanhamento e implementação da Declaração de Viena sobre os Direitos Humanos

Declaração conjunta de [….] *
Sr. presidente,

A proteção efetiva dos defensores dos direitos humanos é essencial para a implementação doméstica da Declaração de Viena.

A vereadora Municipal Marielle Franco e seu piloto Anderson Gomes foram brutalmente executados no dia 14 de março no Rio de Janeiro, Brasil. O mandato parlamentar de Marielle centrou-se no racismo estrutural e na violência policial sofrida pelos pobres, negros e jovens nas favelas e no empoderamento de mulheres negras e da comunidade LGBTI.

Este ataque brutal ocorre no contexto de uma intervenção federal altamente militarizada no Estado do Rio, decretada pelo Presidente, contrários a vontade das comunidades locais. De fato, as preocupações sobre a intervenção foram destacadas pelo Alto Comissário em sua declaração durante esta sessão.

Muitos que falam a verdade ao poder no Brasil enfrentam violência e estigmatização sem precedentes, já que o país está no topo das mortes dos defensores. Marielle e Anderson foram mortos a tiros no carro, retornando de uma rodada de debate com mulheres negras. Marielle foi nomeada relatora de um comitê parlamentar para supervisionar os abusos da ação militar no Rio. O programa de proteção dos defensores permanece subfinanciado e insuficiente.

A força, o engajamento e o espírito de sororidade de Marielle devem servir de fonte de inspiração para o trabalho necessário para a promoção e proteção dos direitos humanos, em particular para os grupos mais marginalizados.

Instamos o governo brasileiro a assegurar uma investigação imediata, imparcial e independente, processando os responsáveis materias e intelectuais deste crime, com a competência e a abertura para a possibilidade de o assassinato te sido uma execução extrajudicial. Também instamos as autoridades a dar proteção efetiva aos sobreviventes desse ataque, como testemunhas-chave desta atrocidade.

Obrigado.”

(Com informações  de Gustavo Aranda do Jornalistas Livres).

(Foto: Reprodução: Jornalistas Livres).



Secretário de Educação do Ceará rechaça medida de Temer que quer liberar 40% do ensino médio à distância



O presidente Michel Temer (MDB) quer liberar até 40% da carga horária total do ensino médio para ser realizada a distância. Para a educação de jovens e adultos, a proposta é permitir que 100% do curso seja fora da escola, conforme reportagem de Paulo Saldaña na Folha de São Paulo.

Secretário de Educação do Ceará por ocasião
de evento em Pentecoste.
(Foto: Reprodução/Facebook).
Essa brecha ao ensino online foi possível após a aprovação e sanção da Reforma do Ensino Médio em 2017. Vetada anteriormente, agora a resolução que atualiza as Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio prevê essa regulamentação da carga horária.

Esse texto já foi discutido uma vez no Conselho Nacional de Educação (CNE), cabendo a cada rede pública ou escola privada regulamentar formatos e ferramentas do ensino, tão logo se tenha a definição das diretrizes.

Pelas regras em evidência, é permitido que qualquer conteúdo escolar previsto no currículo possa ser dado à distância. Se aprovado, os alunos poderiam ter dois dias de aulas por semana fora da sala.

A medida foi rechaçada pelo Secretário de Educação do Estado do Ceará, Idilvan Alencar. Ao compartilhar matéria da Folha de São Paulo em sua conta no Facebook, o secretário afirmou que a ideia de liberar 40% do ensino médio à distância “precariza a escola pública”.

O professor é insubstituível nesta etapa da aprendizagem.
Sou veementemente contra !”, postou Idilvan


O professor Roberto Souza, coordenador da Crede 20, em Brejo Santo, também usou o facebook para repudiar a medida de Michel Temer. Segundo ele, é mais uma pauta de retrocesso.

Mais uma pauta de retrocesso na educação bancada por esse governo ilegítimo. Não se pode permitir tamanho absurdo”, disse.

Site desmente notícias falsas sobre Marielle. Na URCA terá ato pela vereadora nesta quarta



O mandato de Marielle Franco lançou um site para desconstruir as notícias falsas sobre a vereadora do Psol executada na última quarta-feira (14), junto Anderson Gomes, que dirigia o carro que foi atacado por atiradores.

Marielle tem sido vítima de uma série de acusações falsas sobre a sua história e sua atuação. Os boatos falsos dizem que seu mandato foi eleito pelo Comando Vermelho, que era usuária de maconha e engravidou de um chefe do tráfico.

Eleita vereadora com 46,5 mil votos, a quinta mais votada, Marielle teve a maior parte dos votos na Zona Norte, cerca de 47% do total, seguidos da Zona Sul (34%), Zona Oeste (18%) e Centro (1%). "Na região de Bonsucesso, que abarca os eleitores da Maré, Marielle teve 7% dos seus votos", explica o portal.

O site também desmente que Marielle "defendia bandido". "Franco nunca defendeu qualquer ato criminoso ou fora da lei. Mas lutamos para que nenhum assaltante ou infrator seja torturado, amarrado a postes e executado. Defender isso é defender a garantia da nossa Constituição", afirma o texto.

O site também permite que o internauta possa denunciar mentiras publicadas na internet, seja no Facebook, Instragram, Twitter ou WhatsApp.

Ato em São Paulo e na Universidade Regional do Cariri (URCA)

Nesta terça-feira (20), será realizado um ato no vão-livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), na Avenida Paulista, às 17h e memória à vereadora e ativista dos direitos humanos. A manifestação é convocada pela Frente Povo Sem Medo e o Psol-SP.

"Não podemos tolerar mais tanta violência. O assassinato de Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, têm todos os indícios de uma execução, de um crime político. A intervenção militar aprofunda a violência e está sendo usado pelo governo golpista (...)  É hora de reunir nossas forças e de enfrentar o fascismo!", diz a convocação. 

Já em Crato, no Ceará, docentes e discentes da Universidade Regional do Cariri (URCA) junto a movimentos sociais realizaram concomitante a uma aula pública sobre cotas raciais um ato com o tema "Vidas Negras Importam. Mariella Presente", conforme informou ontem a professora Telvira ao Blog Negro Nicolau (BNN).  (Com informações da RBA).

Marielle foi executada na última quarta-feira (14), junto com seu motorista Anderson Gomes.
(Foto: Marielle Franco/Instagram).



Escola substitui livros de professora após críticas de fundamentalistas



Pelos corredores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), escutei algumas vezes das estudantes negras sobre o privilégio que era contar agora com Kiusam de Oliveira no quadro de professores da universidade. Mestra em Psicologia, doutora em Educação, especialista em temáticas étnico-raciais, ela ministra a disciplina de Educação das Relações Étnico-Raciais. Mas também é dançarina, contadora de histórias e escritora. Seus diversos livros infantis trazem desde lendas africanas até temáticas contemporâneas ou, na maioria das vezes, a fusão de ambos. "Sou escritora focada no fortalecimento das meninas negras”, diz.

Não demorou tanto para voltar a ouvir seu nome. Desta vez, não por sua brava e sensível resistência, mas pela reação a ela. Seu livro Oma-Oba: Histórias de Princesas, que apresenta seis mitos africanos originários das comunidades Ketu, foi substituído após pressão de evangélicos fundamentalistas no Sesi em Volta Redonda, município do Rio de Janeiro.

Kiusam se encontrava nos últimos dias em Salvador, participando do Fórum Social Mundial, onde foi procurada por um jornalista fluminense. De volta à casa, pôde ter contato com a carta enviada pelo Sesi, publicada nas redes sociais por Juliana Pereira de Carvalho, mãe de um aluno.

"Acredito ser de fundamental importância que a equipe pedagógica esclareça esses pais. (sic) não falo apenas pelos meus filhos negros, mas para além da necessidade imediata da visibilidade afro-descendente, precisamos formar pessoas que se sensibilizem e busquem uma sociedade mais justa", questionou Juliana, lembrando da Lei 11.648/08, que torna obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira nas escolas públicas e privadas.

A Gerência de Educação Básica da instituição autorizou a troca dos livros, embora tenha ressaltado que "o título trata da cultura africana e que não têm um cunho religioso". As turmas agora serão divididas em grupos de trabalho (de acordo com o material comprado e escolhido).

A professora Kiusam criticou os fundamentalistas, inclusive os da Bancada da Bala, da Bíblia e outras que têm escrito leis que representam retrocessos para o país. "O projeto de sociedade deles não inclui a população e a cultura negra. Seremos exterminados. Marielle [Franco, vereadora carioca assassinada] deixou esse alerta de que nós mulheres pretas estamos na mira. Se a gente não se unir, vamos morrer".

Ela convidou todos que se indignaram com a situação a compartilhar e denunciar. "Não podemos deixar isso passar. O meu livro foi o primeiro, mas tantos e tantas outras escritoras e escritores que produziram material nesse sentido, enaltecendo a ancestralidade africana, Vai começar uma caça muito grande também no campo da literatura". (Com informações do Século Diário).


Inscrições para o I Seminário Fazeres Quilombolas: quilombos, identidade e educação começam nesta terça-feira



A partir desta terça-feira, 20, começam as inscrições para o “I Seminário Fazeres Quilombolas: quilombos, identidade e educação”.

Segundo informações no site do evento, o seminário visa levantar discussões sobre as lutas e a história das comunidades de quilombos do Estado do Ceará e no Brasil. Rever a produção acadêmica e ter a apresentação de artigos de pesquisas e de TCCs.

No Ceará estão situadas mais de 80 comunidades de quilombos com os processos de titulação e reconhecimento em situações distintas, mas que se caracterizam como resultado das lutas ancestrais dos movimentos sociais dessas localidades e dos grupos organizados em favor da causa. Dentro desta perspectiva, será discutidas as realidades de tais territórios negros com pesquisadores e quilombolas.

O Projeto de Seminário foi concebido no âmbito da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC/FACED) no ano de 2015, com a organização de Samia Paula dos Santos Silva, Jair Delfino e  do Professor Henrique Cunha Jr.  O evento que fora criado naquele ano mudou de nome e se expandiu e este ano, com a organização das doutorandas Samia Paula dos Santos Silva e Marlene Pereira dos Santos, com a participação do Professor Henrique Cunha Junior,  tem a intenção de ampliar percepções e aprofundar os estudos e discussões sobre os quilombos do Estado do Ceará, como também conhecer a realidade de outras regiões do Brasil.

O Seminário ocorrerá na Universidade do Parlamento do Ceará, em Fortaleza, entre os dias 23 e 26 de maio, das 08h às 16h e contará com Kabengele Munanga, Rafael Sanzio, Fabio Velame, Clarice Zientarki e Delma Silva como palestrantes.

Para saber detalhes de como participar é só acessar o site Fazeres Quilombolas.

Cartaz de Divulgação/ Fazeres Quilombolas.


Parque do Piauí: um gigante para a ciência, invisível para o Brasil



A pesquisadora franco-brasileira, Niéde Guidon, de 81 anos, participava de uma exposição sobre pinturas rupestres no Museu do Ipiranga (em São Paulo) no início da década de 1970, quando um homem se aproximou e disse:

- Lá na minha cidade tem um monte desses desenhos

Guidon, na época professora da École des Hautes Études en Sciences Sociales, de Paris, montou então uma missão de pesquisadores rumo a São Raimundo Nonato, um município do no Polígono das Secas no Piauí, um dos Estados mais pobres do Brasil. Chegando lá, foi levada por moradores locais a um abrigo de pedra (similar a uma caverna, mas menos profundo) em cujas paredes estavam gravadas em vermelho imagens de animais e cenas de dança, sexo e caça. Ela decidiu, então, se dedicar à pesquisa no local e nunca mais foi embora.

Em 1979, a pesquisadora conseguiu que a área de 129.000 hectares fosse demarcada para preservação, tornando-se o Parque Nacional da Serra da Capivara. Lá, descobriu com a sua equipe 1.350 sítios arqueológicos com cerca de 750 pinturas rupestres, a maior concentração do continente americano, e começou uma disputa científica que procura demonstrar que a presença do homem na região é muito mais antiga do que se imaginava anteriormente. Os últimos achados na Capivara dão conta de que a chegada à América foi dez mil anos antes do que supunha a teoria predominante, o paradigma de Clovis First. E pode ter começado pela América do Sul e não pela do Norte.
Em uma publicação no periódico científico “Journal of Archaeological Science”, Christelle Lahaye e Eric Boëda, que comandaram a escavação na Toca da Tira Peia, dentro do Parque Nacional, descobriram 113 artefatos de pedras lascadas ou polidas, feitos com uma matéria-prima que não foi achada perto do sítio escavado, o que indicaria a manipulação desses objetos pelos homens. A análise deles mostrou que os mais antigos haviam sido usados há pelo menos 22.000 anos.

Os achados são elementos que fortalecem os indícios contrários à teoria de Clóvis e dão força para a briga que Guidon iniciou ainda na década de 1970, com as primeiras escavações na Serra da Capivara. Para ela, o local foi povoado na verdade há mais de 100.000 anos, uma data considerada “absurda” pelos discípulos de Clóvis.

A teoria de Clóvis First foi proposta por arqueólogos norte-americanos na década de 1930, após a descoberta de pontas de lança feitas com ossos de mamute na cidade de Clóvis, Novo México (EUA). Assim, os pesquisadores norte-americanos afirmam que o homem chegou há 11.500 anos pela Ásia, a pé, durante o Pleistoceno (a Era do Gelo). Só depois de se espalharem pela América do Norte povoaram a do Sul.

Mas as escavações da equipe de Guidon no Piauí começaram a contestar esse modelo já em 1983. Na ocasião, pedaços de carvão encontrados no sítio Paraguaio, o primeiro investigado pela pesquisadora, traziam indícios de que a ocupação ali era de, ao menos, 31.500 anos atrás. Em 1984, uma nova datação, também em pedaços de carvão, marcava 32.160 anos. Os achados foram publicados na revista Nature, em 1986. Com o passar dos anos, no entanto, descobriram-se indícios de 58.000 anos atrás e, em 1991, chegou-se à data que deixava, e muito, Clóvis para trás: os 100.000 anos. “Como o Carbono 14 não funciona para datações tão antigas, aplicamos a termoluminescência, que faz com que o material emita uma luz que permite saber quando o fogo foi aceso”, conta ela.

As análises, consideradas “irrefutáveis” pela pesquisadora foram contestadas por pesquisadores que diziam que o carvão descoberto seria consequência de fogueiras naturais. Guidon e sua equipe afirmavam que as fogueiras não eram naturais, pois as marcas estavam apenas em paredes dentro do abrigo. Próximo a esses locais, foram encontradas evidências de pedras lascadas pelo homem e de pinturas rupestres. A teoria da pesquisadora é de que o homem teria chegado diretamente à América do Sul, vindo da África, na época de uma grande seca no continente africano.

A querela científica, no entanto, perdurou devido ao que alguns pesquisadores chamam de “imperialismo acadêmico” norte-americano. Só que evidências achadas justamente em solo norte-americano passaram a demonstrar nos últimos anos que a teoria de Clovis não se sustentava mais.

Em 2008, em Oregon, pesquisadores descobriram por meio de análises de DNA em ossadas humanas que a ocupação já havia acontecido há 14.000 anos. No Texas, em 2011, descobriram 15.528 artefatos no chamado complexo Buttermilk Creek, datados de um período entre 13.200 a 15.500 anos. E um pesquisador norte-americano chamado Tom Dillehay, na década anterior, já havia conseguido reconhecimento acadêmico para suas descobertas no sítio arqueológico Monte Verde, no Chile, onde objetos encontrados remontavam a 12.500 anos.

No ano passado, com a publicação dos novos achados na Serra da Capivara, a comunidade científica voltou os olhos novamente para o Piauí. Os indícios de pedras lascadas ou polidas de 22.000 anos são menos polêmicos que os pedaços de carvão das fogueiras e, por isso, a tese de Guidon começa a não parecer tão “absurda”.

Dizer que a chegada do homem na América há 100.000 anos é algo absurdo não é uma afirmação muito científica. Em ciência, não se pode dizer, a priori, que algo não aconteceu. Mas é preciso de mais dados [para a tese de Guidon]”, diz Astolfo Araújo, professor do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (USP).

É lógico que falar em 100.000 anos deixa a gente assustado. Mas, por outro lado, a presença do homem na África é de 200.000 anos atrás. Não é impossível que alguém tenha vindo de barco para a América do Sul”, continua ele.

Ele ressalta ainda que uma das possibilidades para o intervalo entre os indícios de 100.000 anos atrás e os de 22.000 anos poderia ser o desaparecimento do primeiro grupo populacional, mais antigo, na América do Sul. “Mapeamentos do genoma descobriram que nós temos muito pouca variabilidade genética. Isso poderia significar que a nossa população quase se extinguiu”, explica ele. Um estudo publicado em 2008 no American Journal Of Human Genetics apontou que há 70.000 anos a população humana pode ter encolhido para apenas 2.000 pessoas por conta do clima extremo. Essa “quase extinção” teria ocorrido justamente na época do intervalo dos achados na América.

Com isso, defende ele, existe a possibilidade de que tenha havido duas entradas de homens na América. Hipótese defendida também pelo professor do Instituto de Biociências da USP Walter Neves, descobridor de um crânio de 11.000 anos na região de Lagoa Santa (Minas Gerais), apelidado de Luiza. Para Neves, no entanto, houve duas ondas migratórias, ambas vindas da Ásia. A primeira, há 14.000 anos, foi de indivíduos parecidos com Luiza, de morfologia semelhante à dos australianos e africanos atuais. Essa espécie não teria deixado descendentes.

A segunda leva, de acordo com ele, chegou há 12.000 anos. Eram indivíduos de tipo físico asiático, semelhante aos índios americanos atuais, explicou, em entrevista à revista da Fapesp. Neves, que foi “inimigo científico” de Guidon por anos, diz que finalmente visitou o parque da Capivara para avaliar a coleção lítica dos sítios e saiu de lá “99,9% convencido de que houve no local uma ocupação anterior a 30.000 anos”. Mas a dúvida que restou ainda é significativa, disse ele na mesma entrevista.

Mas a disputa entre as teses científicas continua. Nesta semana, pesquisadores publicaram um artigo na revista Science descobriram no México um esqueleto de 12.000 anos que, segundo eles, sustenta tese de que as populações que chegaram à América vieram da Ásia pela região do estreito de Bering, posteriormente se espalhando para o sul. Com a descoberta, eles descartam a possibilidade de que tenha havido diversas ondas de povoadores. O crânio da menina de aproximadamente 15 anos, apelidada de Naia, tem a morfologia dos australianos e africanos, mas a análise do DNA mitocondrial extraído dos dentes do esqueleto é semelhante a dos índios atuais. Assim, a Luiza descoberta por Neves teria os mesmos ancestrais de Naia, de acordo com a pesquisa publicada na Nature. A descoberta foi vista com ceticismo por Neves, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo.

O fato é que a falta de esqueletos antigos que poderiam trazer afirmações mais precisas sobre a questão é um problema na América do Sul. Por isso, sítios como os do Parque Nacional da Serra da Capivara, onde a pesquisa continua, são essenciais para que o enigma chegue perto do fim. No entanto, aos 81 anos, Guidon luta para fazer novos discípulos que possam continuar com seu trabalho para manter o local, que recebe pouca verba e corre o risco de se tornar cada dia mais precário. (Com informações do Brasil El Pais).


Pintura rupestre que é simbolo do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piaui, nordeste do país.
(Foto: Toni Pires).

Aula pública sobre cotas raciais será realizada na Universidade Regional do Cariri



A Universidade Regional do Cariri (URCA), campus Crato, será palco na próxima quarta-feira, 21, de aula pública visando debater Cotas Raciais. O ato é uma idealização dos movimentos sociais, movimentos estudantis e do Grupo de Estudo e Pesquisa de História, Cultura e Ensino Afro-Brasileiro, Americano e Africano (GEPAFRO).

O tema apesar de frequente em discussões, ainda é pouco explorado pela comunidade, o que acaba suscitando dúvidas quanto a sua implementação em concursos públicos, em seleções de vestibulares nas universidades, faculdade e institutos educacionais.  

Em fevereiro de 2017 a URCA promoveu alguns encontros acerca da temática, como o I Seminário e Ações Afirmativas: A Implantação do Sistema de Cotas e de uma Audiência Pública. Ambos os eventos contou a participação de organizações não governamentais, associação de surdos e mudos, movimentos negros do cariri, professores, universitários e demais membros da sociedade civil.

Ao Blog Negro Nicolau (BNN), a professora do Departamento de História desta universidade, Telvira, afirmou que a atividade é uma idealização do GEPAFRO, coordenado por ela, do Grupo de Valorização Negra do Cariri (GRUNEC), do Sindicato dos Docentes da Universidade (SINDURCA), dos movimentos estudantis da UFCA e tem como objetivo cobrar da instituição um posicionamento. Segundo a professora, "a URCA não tem feito nada em relação a isso". "Na verdade", realçou, "essa aula é para denunciar. A gente já teve um primeiro vestibular com ofertas de vagas para cotas sócio raciais e já tivemos os primeiros constrangimentos de candidatos brancos que se autodeclararam negros e os negros ficaram na fila". 

A ação que será realizada por docentes e discentes da URCA, UFCA, IFCE e também por movimentos sociais, deve debater sobre a realidade que ainda persiste – a pouca presença de negros, negras e indígenas no ensino superior. Ainda segundo Telvira, junto com a aula haverá um ato com o tema "Vidas Negras Importam. Mariella Presente".

A aula pública ocorrerá a partir das 18h30 no pátio da pedagogia.

(Foto: Divulgação).