14 de maio de 2022

Altaneira pode perder territórios de acordo com novo mapeamento geográfico

 

Sítio Taboquinha em Altaneira. (FOTO/ Orlando Vieira).

Por José Nicolau, editor

Um novo mapeamento geográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) faz com que o município de Altaneira, no cariri cearense, tenha sua área territorial reduzida.

A informação foi externada pelo prefeito Dariomar Rodrigues (PT) durante sessão da Câmara realizada no último dia 04 de maio e divulgada tanto no site da casa como também no Blog de Altaneira. Ao apresentar imagens, o gestor destacou que os sítios Poças, Córrego, Taboquinha e Tabuleiro já não fariam mais parte do município. Ele frisou que as comunidades mencionadas já são assistidas por Altaneira e que pretende lutar por elas, já que “integram nossa história e cultura altaneirense.

Altaneira faz divisa com os municípios de Assaré, Nova Olinda, Santana do Cariri e Farias Brito que podem ser beneficiados com esse novo limite territorial. 

A população de Altaneira de acordo com a estimativa do IBGE em 2021 é de 7.712 habitantes.

A nível de Estado, o Ceará também corre risco de ficar despossuído de algumas cidades para o Piauí. Ao todo, são 13 que fica na Serra da Ibiapaba.

Sobre a possibilidade de Altaneira perder territórios:

1 - Os limites realmente precisam ser rediscutidos e redefinidos sim, haja vista estarem defasado e não corresponderem de fato a realidade da população que ocupa esses espaços;

2 - Por consequência do primeiro item, as populações dos territórios em análise se deslocam para a cidade de Altaneira para as tarefas básicas, como por exemplo, compras de alimentos e vestimentas; serviços de saúde e acesso à educação.

3 - Por tudo isso e por terem construído um sentimento de pertencimento ao lugar, é crucial realizar encontros por setor e mobilizar as pessoas desses espaços para que cientes da situação, lutem. Algumas estratégias podem ser usadas, como por exemplo, a realização de abaixo-assinado para entregar aos órgãos competentes e manifestações de ruas.

4 - Altaneira precisa ganhar territórios e não perder.

Lula segue líder, Bolsonaro estaciona e disputa muda pouco: o que dizem as pesquisas da semana?

 

Ex-presidente tem larga vantagem em relação a Bolsonaro; na foto, Lula em evento com sindicalistas, em São Paulo - Ricardo Stuckert.

A divulgação de novas pesquisas eleitorais não trouxe novas tendências para a disputa presidencial de outubro. Foram publicados quatro levantamentos de terça-feira (10) até a última sexta-feira (13). Os estudos apontam estabilidade, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com larga vantagem na liderança, seguido pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).

CNT/MDA: ecos da desistência de Sergio Moro

A primeira delas, divulgada na terça-feira (10), encomendada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) ao Instituto MDA, mostrou que Lula obteve 40,6% das intenções voto na corrida presidencial das eleições de outubro. Bolsonaro apareceu com 32%. O levantamento foi o primeiro feito pela CNT/MDA depois que o ex-juiz Sergio Moro (União Brasil) desistiu da pré-candidatura à Presidência da República. O anterior foi divulgado em fevereiro.

Os números confirmam que Bolsonaro herdou um percentual de intenções de voto que estavam direcionados a seu ex-ministro da Justiça. O crescimento de Bolsonaro de dois a quatro pontos percentuais já havia sido captado por outras empresas de pesquisa a partir do final de março, quando Moro abriu mão de concorrer ao pleito e saiu do Podemos.

Desde o final de abril, porém, outros levantamentos mostraram que o fôlego de Bolsonaro com a saída do ex-juiz da Lava Jato não durou muito. Estudos que são mais frequentes, divulgados a cada 15 dias, como PoderData e Ipespe, apontaram estabilidade de Lula e a interrupção do crescimento do atual presidente.

Quaest: vitória em primeiro turno é possível

O segundo estudo da semana foi feito pela Quaest, encomendado pela corretora Genial Investimentos, e divulgado na quarta-feira (11). O levantamento mostrou Lula com grandes chances de vitória no primeiro turno das eleições presidenciais.

Com 46% das intenções de voto, Lula teve mais votos que todos os outros candidatos somados (44%), o que garantiria a vitória no pleito ainda no primeiro turno. No entanto, considerando a margem de erro de 2 pontos para mais ou para menos, o cenário ainda está longe de uma definição. A pontuação em votos totais garantiria a Lula um patamar de 51,1% dos votos válidos.

O petista oscilou positivamente em 1 ponto percentual. Seu principal oponente, Bolsonaro, não teve alterações na pontuação e se manteve como segundo colocado, com 29%. Nas duas pesquisas anteriores (março e abril), o atual presidente havia ganhado 3 e 5 pontos percentuais, respectivamente.

PoderData: distância entre Lula e Bolsonaro volta a crescer

A pesquisa PoderData, divulgada também na quarta-feira (11), mostrou que Jair Bolsonaro parou de evoluir e que a distância que o separa de Lula ficou estável nos últimos 15 dias. Lula seguiu na liderança com 42% das intenções de voto na simulação de 1º turno que inclui uma lista de todos os pré-candidatos já anunciados. Bolsonaro apareceu com 35%.

A distância entre os pré-candidatos oscilou para 7 pontos percentuais. Nas rodadas de 24 a 26 de abril e de 10 a 12 de abril, essa diferença se manteve em 5 pontos.

XP/Ipespe: estabilidade é a tônica da semana

Uma nova pesquisa da Ipespe, encomendada pela corretora XP Investimentos, divulgada nesta sexta-feira (13), mostrou Lula na liderança da corrida pelo Palácio do Planalto. Clique aqui para fazer o download da íntegra.

Com 44% das intenções de voto, Lula teve dois pontos percentuais a menos do que todos os outros candidatos somados (46%). Considerando a margem de erro de 3,2 pontos para mais ou para menos, o petista segue com chance de vitória no primeiro turno. Para isso, precisa superar numericamente os votos de todos os oponentes.

Lula manteve o mesmo percentual da pesquisa anterior, publicada há 15 dias. Enquanto isso, Bolsonaro oscilou positivamente em 1 ponto percentual e chegou a 32%. O levantamento confirma pesquisas divulgadas por outras empresas nos últimos dias, apontando que a redução de vantagem entre os dois, motivada pela saída de Sergio Moro (União Brasil) da disputa, foi interrompida.

Análises

No Twitter, o cientista político Antônio Lavareda fez uma análise sobre a nova edição da pesquisa. Segundo ele, o cenário da corrida pelo Palácio do Planalto é de "engessamento", já que o percentual de eleitores que já definiram os seus votos é muito superior ao que costuma ocorrer nas eleições anteriores.

O responsável técnico pela pesquisa Quaest, Felipe Nunes, também publicou uma análise, em sua conta no Twitter, explorando o detalhamento do levantamento para explicar as motivações na baixa variação da pontuação dos candidatos presidenciais.

__________

Com informações do Brasil de Fato.

Helio Santos: “O dia 14 de maio de 1888 é o dia mais longo da nossa história”

População preta é a maior vítima da violência e da desigualdade no Brasil - ©Nelson Almeida/AFP

Às vésperas da uma eleição com potência para definir o futuro do país, inclusive em longo prazo, o professor e ativista contra o racismo, Helio Santos, é enfático: “A desigualdade no Brasil é uma decisão política e perpassa todos os governos.

Santos tem propriedade para a defesa dessa percepção. Militante desde a década de 1970, é pioneiro na participação em ações, políticas e movimentos para correção histórica das consequências do preconceito. Hoje, preside o Conselho Deliberativo da Oxfam Brasil.

Em entrevista ao Brasil de Fato, ele falou sobre o processo de desmistificação e ressignificação do 13 de maio, Dia da Abolição da Escravatura. O debate não é novo, mas ganha contornos urgentes no governo conservador de Jair Bolsonaro (PL), afeito a celebrações que reforçam os tentáculos do colonialismo.

O dia 14 de maio de 1888 é o dia mais longo da nossa história, porque nos atinge hoje nas ruas, nas esquinas, nas cadeias e nas 6,5 mil favelas que se tem no Brasil”, ressalta o professor.

Na conversa, ele também foi veemente ao afirmar que a pauta racial precisa alcançar a esfera política de maneira definitiva, principalmente na representatividade. Para Helio Santos, as eleições deste ano serão permeadas por esse debate de uma maneira ainda inédita no Brasil.

A entrevista foi realizada no mesmo dia em que a Coalizão Negra por Direitos, por meio de partidos políticos, protocolou uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo o reconhecimento pelo Estado do genocídio da população negra no país.

Assinada por PT Psol, PSB, PCdoB e Rede, a arguição de descumprimento de preceito fundamental defende que direitos constitucionais não foram cumpridos. Ela pede que sejam reconhecidas e sanadas as graves lesões praticadas pelo Estado brasileiro ao povo preto

Confira abaixo os principais pontos da entrevista e ouça a íntegra no tocador de áudio abaixo do título desta matéria.

Olhar crítico sobre a abolição

Até 1930, o 13 de maio era um feriado. A partir de 1930 deixou de ser, porque não há o que comemorar. Nós tivemos aqui no Brasil a escravidão mais longa do mundo, 354 anos. Dois lacônicos artigos dão por terminado esse período, sem nenhuma iniciativa que buscasse incluir e valorizar aquelas pessoas.

O 13 de maio foi um grande golpe. Um ano e meio depois, o Brasil edita um decreto a favor da imigração europeia. Um ano e meio depois, foi editada a lei da vadiagem. Vadio era quem não tinha emprego e desempregado crônico é o negro.

Eu gosto de falar muito do dia seguinte. O dia 14 de maio de 1888 é o dia mais longo da nossa história, porque nos atinge, hoje, nas ruas, nas esquinas, nas cadeias e nas 6,5 mil favelas que se tem no Brasil. O Brasil não é um país desigual, é o país mais desigual do mundo.

Durante muito tempo, nós estivemos entre os 10 mais ricos pelo PIB e entre os 10 mais desiguais. Veja que assimetria bizarra. O resultado do que o país se tornou tem a ver com a questão racial. Portanto, a questão racial do Brasil é estratégica, e mais, ela nunca foi tratada por ninguém na sua justa dimensão.”

Avanço ainda é insuficiente

É importante reconhecer que políticas foram conquistadas pelo movimento social negro. É inegável que a roda do racismo girou, não no ritmo e na velocidade que nós gostaríamos, mas é inegável que aconteceram mudanças. Hoje, é possível discutir uma política antirracista.

Em 1984 foi criado o Conselho Negro de São Paulo. Nós estávamos redemocratizando o país. Ou seja, houve todo um silêncio de 96 anos. Uma iniciativa tímida foi a primeira iniciativa do Estado brasileiro após a abolição. Depois criamos ações afirmativas, aqui apelidadas de cotas, que mudaram as universidades.

Hoje, temos inclusive o mundo corporativo, que foi o último a ceder, procurando avançar nessa área. A mídia também mudou muito. Mas o Brasil é um país de maioria feminina e de maioria negra governado por homens brancos.

Esse descompasso é uma das causas de o Brasil ser o que é. Quem tem dúvida de que a nossa democracia ainda é muito tímida, é só verificar que não há essa correspondência.”

Eleições antirracistas

Eu sou um otimista e acho que, este ano, nós vamos discutir o voto antirracista. O voto antirracista não é só o voto do negro. Quem é antirracista e não é negro deve votar sim em candidatos negros. Nós temos um elenco de candidatas e candidatos negros extraordinariamente habilitados. Pessoas que já estão fazendo coisas sem ter um mandato.

Nós temos também que discutir com as candidaturas majoritárias. São 27 governadores, que comandam a polícia e o ensino fundamental. Educação e segurança são dois setores fundamentais para a população negra.

Nós temos que discutir com os candidatos à presidência da República esses temas. Quem postula esse emprego tem que entender que o Brasil é, precisamente, esse país inconcluso.”

A desigualdade como política

Antes de falar de representatividade, não podemos esquecer de algo que a pandemia escancarou, 40 milhões de trabalhadores informais. Esse é o resultado do 14 de maio.

Por isso, quando alguém oferece emprego com salários baixíssimos, você tem uma fila interminável de pessoas dispostas a oferecer seu trabalho. É resultado do dia seguinte.

Essa falta de planejamento não é, na minha opinião, neutra. Na minha opinião, a desigualdade no Brasil é uma decisão política e, algo mais grave, perpassa todos os governos.

Evidentemente que tivemos governos mais sensíveis e reconheceram essas dificuldades. Mas quero reiterar aqui, nenhum desses governos deu à questão racial a sua justa dimensão.”

Subcidadania

As famílias vulneráveis são, majoritariamente, dirigidas por mulheres negras. A subcidadania tem cor e tem sexo. Portanto, qualquer política que queira pensar em uma democratização substantiva do Brasil tem que ter esse foco.

É uma questão de foco e de decisão política. Nós vivemos um momento único. O país, na minha avaliação, não resiste mais a quatro anos de um governo como o que temos agora.

Temos uma parcela significativa da população vivendo em insegurança alimentar e 10% passando fome. Evidentemente que a esmagadora maioria dessa população é negra.”

Desperdício de talentos

Os biólogos ensinam que, quando você não respeita a diversidade, uma floresta pode perecer, uma lagoa pode apodrecer. Quando você translada esse conceito para a sociedade humana, acontece o mesmo.

Aqui no Brasil, a antropologia oficial tece louros à imigração europeia. A maior migração asiática veio para o Brasil com os japoneses. Tínhamos aqui 1,5 mil etnias indígenas e raptamos da África vários grupos. Esse grupo formidável, essa diversidade consta da antropologia oficial, mas esses talentos não são aproveitados.

No entanto, eu, como professor ainda tenho que ouvir o discurso da meritocracia. É evidente que não se pode falar em mérito.

Não pode acontecer o que temos hoje, 11 milhões de nem nem, os jovens que não estudam e nem trabalham. Na verdade são os sem sem, sem oportunidades. Esse país gigante precisa de estadistas que possam pensar no tamanho dos nossos problemas.”

Para onde e como ir

Não me falem que essa pauta é identitária. É uma questão de metodologia. É preciso identificar os grupos vulnerabilizados para pensar em políticas públicas.

Quando eu falo em 11 milhões de jovens que não estudam e nem trabalham, isso não é uma identidade. É uma metodologia geracional em que se identifica para onde a política tem que ser encaminhada.”

______________

Com informações do Brasil de Fato.

13 de maio de 2022

Grupo de Estudos Preta Simoa compartilhará experiências antirracistas em sala de aula

 

( 📷 Reprodução | Redes Sociais).

Por Valéria Rodrigues, Colunista

O professor José Nicolau criou o Grupo de Estudos Preta Simoa (GEPS). Segundo ele, a iniciativa visa compartilhar experiências antirracistas desenvolvidas por professoras, professores e estudantes da educação básica.

Nicolau destaca ainda que o grupo terá momentos de aprofundamento teórico a partir da leitura de artigos científicos e de livros de profissionais de diversas áreas do conhecimento que tenham como foco a educação antirracista.

A primeira reunião do GEPS será em Agosto. Pensando em atender as pessoas que residem em outros municípios, os encontros ocorrerão quisenalmente aos sábados, sempre a partir das 14h , via Meet.

"Quer se juntar a nós? Entre em contato por meio de nossas redes sociais ou por e-mail. Venha fortalecer a nossa causa", asseverou Nicolau.

Quem foi Simoa

A Preta “Tia Simoa” foi uma negra liberta que, ao lado de seu marido (José Luís Napoleão) liderou os acontecimentos de 27, 30 e 31 de janeiro de 1881 em Fortaleza – Ce , episódio que ficou conhecido como a “Greve dos Jangadeiros”, onde se decretou o fim do embarque de escravizados naquele porto, definindo os rumos para a abolição da escravidão na então Província do Ceará, que se efetivaria três anos mais tarde. No entanto, apesar de sua importante participação para a mobilização popular que impulsionou os acontecimentos, esta mulher negra teve sua participação invisibilizada na história deste Estado onde, ainda hoje, persiste a falsa premissa da ausência de negros, conforme pontuou a historiadora Karla Alves.

Saiba mais sobre ela aqui.

Como ressignificar o 13 de maio?

 

I Semana Afro-Cultural da Frente Negra Altaneirense realizada em 2014 dentro do Projeto ARCA, em Altaneira. (FOTO/ Acervo do Blog).

 O 13 de maio é uma data para reflexão crítica. Isso porque é muito transparente o fato de o fim do trabalho escravo não ter significado cidadania aos ex-escravizados e às pessoas negras. Nos primeiros anos e décadas pós 1888, reconhecia-se essa data, especialmente na comunidade negra, como sendo uma data relevante, mas a realidade se impôs de forma absoluta: liberdade sem dignidade, liberdade com racismo”. É o que aponta a historiadora Wania Sant'Anna, consultora de Diversidade e Inclusão da Daniel Advogados.

Apesar do 13 de maio ser marcado pela assinatura da Lei n.º 3.353, conhecida como Lei Áurea, fato que coloca a Princesa Isabel como a pretensa salvadora dos negros escravizados, a data não é comemorada pelo movimento negro brasileiro, por diversos motivos, que incluem o contexto histórico em que a assinatura da lei estava inserida.

A socióloga e professora Najara Costa, ativista e ex-candidata à Prefeitura Municipal de Taboão da Serra pelo PSOL, explica que a abolição de 1888 foi inconclusiva, pois não atendia às necessidades do povo preto. Questões como educação, moradia, trabalho e saúde não foram debatidas de forma que os negros e ex-escravizados pudessem conquistar os acessos, segundo ela.

É importante destacar que mesmo com o 13 de maio de 1888, não houve políticas para que a população negra ocupasse os espaços institucionais, pelo contrário, se consolidou no Brasil um projeto de embranquecimento da nação, inclusive com a vinda de imigrantes europeus para trabalhar nas indústrias”, aponta a socióloga.

Segundo a História, a abolição não foi uma ação benevolente da princesa e do Senado, derivada do modelo econômico baseado no trabalho escravo, que precisava ser substituído pelo trabalho livre. O fim da escravidão no Brasil foi impulsionado por diversos fatores, entre eles, uma importante participação popular. Cada vez mais escravizados, negros livres e brancos se juntaram aos ideais abolicionistas, sobretudo, na década de 1880.

Pré e pós-abolição

As principais táticas que antecederam o 13 de maio eram reuniões em diferentes associações abolicionistas, bem como a realização de eventos artísticos para angariar apoio ao movimento negro. Segundo o doutor em História, Willian Lucindo, é necessário também destacar as rebeliões e fugas de pessoas escravizadas e a atuação dos abolicionistas negros para que o caminho até a data de abolição pudesse ser trilhado. As organizações quilombolas, de acordo com o especialista, também foram marcos de suma importância para o decreto que botava fim na escravidão.

Ainda, podemos olhar para a legislação abolicionista, mas não como meros marcos legais do processo. É preciso observar as ações e reações das populações negras. Lucimar Felisberto dos Santos apontou que, após a promulgação da conhecida ‘Lei do Ventre Livre’, em 28 de setembro de 1871, aumentou o número de casos de mulheres escravizadas participando de fugas com suas crianças porque elas entendiam que podiam perdê-las quando completassem oito anos de idade”, pondera o doutor.

Willian Lucindo ainda destaca que é necessário ponderar o que aconteceu a partir de 13 de maio. De acordo com o doutor em História, os dias subsequentes tiveram verdadeiras ondas de comoção bastante complexas.

De um lado, muitos abolicionistas negros e brancos buscaram criar instituições voltadas para a integração de ‘libertos’ – como acabaram denominando todas as pessoas negras na época, na sociedade pautada pelo trabalho livre – por meio de escolas, associações de ajuda mútua”, explica.

De outro lado, alguns antigos escravocratas pediam que o governo obrigasse os ‘libertos’ a ocupar algum ofício, outros pediam que se reforçasse a política de imigração. As pessoas negras, de um modo geral, deram demonstração de que entendiam a liberdade como igualdade às pessoas brancas, era mais do que o direito a trabalhar em troca de salário”, avalia William.

Ele destaca ainda que, de um modo geral, as instituições governamentais buscaram controlar as populações negras e garantir que se mantivessem nos postos de trabalho do período do escravismo, enquanto as populações negras procuraram se distanciar ao máximo das situações e lugares que lembravam o cativeiro.

Também foram nos dias subsequentes que se tornou mais forte a ideia de que as pessoas negras eram mais propensas a vadiagem, ao crime e, no caso específico das mulheres negras, à prostituição”, pontua.

A historiadora Wania Sant’Anna complementa e afirma que muito importante compreender o papel do Estado na implementação de políticas a partir de 14 de maio de 1888 e como isso, efetivamente, beneficiou pessoas brancas e funcionou como um dos alicerces na efetivação das teorias racistas contra a população negra e recém liberta.

Os negros, homens e mulheres, foram descartados e interditados pós-13 de maio e o que nós temos de desigualdade étnico-racial no Brasil de hoje tem raízes em decisões como essas da política de imigração europeia. E, nesse caso, ainda orientada com o objetivo de embranquecer o país”, ressalta.

Para além do 13 de maio

Historicamente, outros momentos foram marcantes para o fortalecimento do povo negro e, diferentemente do 13 de maio – em que até hoje uma mulher branca é a protagonista – houve representatividade preta e brasileira. Para Amailton Magno Azevedo, professor do Departamento de História da PUC-SP, o movimento negro não reconhece o 13 de maio por que elegeu outras datas que melhor expressam a luta contra o racismo e valorização da negritude.

Temos o 20 de novembro em 1971, data conquistada pelo movimento negro gaúcho. O 20 de novembro relembra a importância e relevância do papel de Zumbi dos Palmares, líder do quilombo dos Palmares e morto pelo sistema escravocrata, exatamente no dia  20 de novembro de 1694. Essa data alterou o marco histórico da consciência e libertação negra, até então centrado no dia 13 de maio de 1888”, avalia o pesquisador.

Em 1798, por exemplo, aconteceu a Conjuração Baiana, revolta negra e popular. Também conhecida como Revolta dos Alfaiates ou Revolta dos Búzios, o levante tomou ruas de Salvador (BA) e foi uma das maiores manifestações do tempo em que o país vivia uma monarquia. A luta era por uma sociedade mais democrática, republicana e com condições que permitissem a equidade racial no Brasil. A independência do Haiti, primeira república negra do mundo, e a Revolução Francesa influenciaram a organização da revolta.

Já em 1835, ocorreu no Brasil a Revolta dos Malês. Contra a escravidão e pela liberdade religiosa, negros oriundos de vários países, mas em sua maioria muçulmanos, protagonizaram um importante levante pela liberdade. A revolta teve uma liderança feminina importante para o país: Luísa Mahin, que lutou pela liberdade de seu povo até ser presa. Seu filho, Luís Gama, seguiu os passos da mãe e é considerado um dos maiores abolicionistas do Brasil.

A Revolta dos Malês, em 1835, segue sendo um marco histórico na luta por liberdade, porque nos oferece a oportunidade da complexidade da comunidade negra escravizada, como o papel das Irmandades Negras na compra das alforrias”, salienta Wania Sant’Anna.

Entre 1838 e 1841 acontece a Balaiada, levante em que o povo negro se uniu aos vaqueiros e camponeses no Maranhão contra as péssimas condições de vida que levavam. O movimento, também conhecido como Guerra dos Bem-te-vis, visava o combate à pobreza e à miséria que tomavam conta da província. Foi a mais longa e numerosa revolta popular ocorrida na região.

No pós-abolição, em 1910, aconteceu a Revolta da Chibata. Liderada por João Cândido, também conhecido como “Almirante Negro”, o levante foi organizado por marujos negros contra os castigos físicos, baixos salários e as péssimas condições de trabalho da época. Mesmo com a escravidão abolida em 1888, práticas escravagistas continuavam violentando os negros como punições com chicote.

A Greve dos Queixadas, que aconteceu entre 1962 e 1969 também teve protagonismo negro. Contra as péssimas condições de trabalho, o movimento, também conhecido como a Greve dos Perus, foi a primeira grande greve sindical brasileira. O levante começou numa fábrica de cimentos no bairro de Perus, na cidade de São Paulo. A greve durou sete anos, em plena ditadura militar.

Temos muitos atos individuais e coletivos que merecem ser lembrados, reconstituídos, informados à sociedade brasileira como sendo a história das pessoas negras, africanas e seus descendentes no Brasil”, pontua a historiadora Wania Sant’Anna”.

Como ressignificar o 13 de maio?

Para Amailton Magno, é possível ressignificar o 13 de maio, considerando as novas pesquisas históricas sobre o tema. Ele explica que a historiografia realça que a abolição não deve ser compreendia apenas por um ato pessoal de uma representante da monarquia, mas da participação ativa de abolicionistas negros, como André Rebouças e José do Patrocínio, bem como das pessoas escravizadas que organizaram suas revoltas contra o sistema escravocrata.

Ainda que conservadores, como José de Alencar, defendessem a continuidade escravidão, a pauta abolicionista e negra saiu vitoriosa. Sob esse prisma, o 13 de maio foi também uma obra e conquista negra”, salienta o professor.

A professora e socióloga Najara Costa reforça que é imprescindível lembrar do 13 de maio como uma data de luta, voltada a pautar o Estado e a política. Ela pondera que observar a questão racial para analisar os espaços sociais é necessário, bem como problematizar esses assuntos, a fim de trazer políticas para que as instituições assumam o compromisso contra a desigualdade.

Portanto, o 13 de maio serve como data para trazer à memória o que foi a violência da escravização, mas também essa violência moderna, que permite que as desigualdades ainda persistam”, finaliza.

____________

Com informações do Alma Preta.

12 de maio de 2022

Expocrato: Não é sobre os ingressos

 

Expocrato:  Não é sobre os ingressos. (FOTO |UP Movies). 
 

Por Alexandre Lucas, Colunista 

 

Surgida em 1944, como Exposição Agropecuária do Crato, atualmente Exposição Centro-Nordestina de Animais e Produtos Derivados, se caracteriza como um dos maiores eventos agropecuários do Norte-Nordeste, dentro do seu complexo de atividades se destaca o festival de shows musicais (Expocrato). Esse evento precisa ser rediscutido do ponto de vista de gestão e de função socioeconômica, por ser uma concessão pública.     

A “Exposição do Crato”, como ficou conhecida ao longos dos anos, tem uma forte ligação com a cidade e a economia local, possui um fervor afetivo com a região e suas identidades culturais, local de reencontros de gerações, mas desde o seu nascedouro mostra a cara perversa da desigualdade social e da estratificação socioespacial. A “exposição” é um espaço de mistura segregado.

A festa popular, vai dando lugar a festa de quem pode pagar.  É preciso estudar a movimentação econômica da Expocrato para compreender o seu fluxo, os investimentos públicos e o retorno para as cadeias produtivas regionais. É possível esse evento gerar desenvolvimento econômico para a região numa escala de ampliação para os setores mais populares da região metropolitana do Cariri? Possivelmente essa questão merece estudo e tomada de posição política.   A sensação que temos é que somos um Brasil de Portugal dentro desta festa. Somos tratados como colônia e daqui retiram as nossas economias.

Essa festa não pode ser só visitada pela sua população, mas deve ser também consumida de forma acessível, não podemos permitir que a Expocrato tenha tabela de aeroporto, preços exorbitantes.    

A Exprocrato não pode ser tratada como espaço público de interesse privado.  Se faz necessário estabelecer critérios que orientem para princípios de desenvolvimento econômico regional, que reduzam impactos ambientais e que promovam a diversidade e a pluralidade estética, artística e cultural da região num parâmetro de equidade, sem ser gueto e sem ser colônia.

As universidades públicas da região metropolitana do Cariri devem ser incluídas no processo de gestão da Expocrato, pelo papel político que cabem em contribuir com o desenvolvimento regional, como é o caso da URCA e da UFCA. A Agricultura Familiar e os movimentos agroecológicos devem também compor essa arquitetura gestacional.

As empresas devem se submeter a lógica do Estado e não o contrário, na parte dos shows por exemplo, o norte  deve ser o Sistema Estadual de Cultura (SEC), principal marco legal das políticas públicas para Cultura no Ceará. Vale lembrar que SEC não é uma política da Secretaria de Cultura, mas antes de tudo uma política de estado para cultura.   

A Expocrato não é uma festa apenas, ela alimenta várias cadeias produtivas, tem uma dimensão empreendedora imensa, conecta o Cariri a várias partes do país, essa capacidade de negócios é estratégica para a região. É primordial defender a descentralização de recursos gerados pela Expocrato e que esses recursos sirvam de aterro econômico para o Cariri.    

Território Criativo do Gesso realiza atividades com fotografia neste sábado

 

Território Criativo do Gesso realiza atividades com fotografia neste sábado. (FOTO/ Reprodução/ WhatsApp).

Por Naju Sampaio

Neste sábado vai ocorrer mais uma vez o Passeio Fotográfico, às 8:30 da manhã, com local de encontro na sede do Coletivo Camaradas, que é responsável pela atividade.  A ação é realizada no Território Criativo do Gesso sempre no segundo sábado do mês e possui como objetivo observar o território e trazer um debate sobre o espaço urbano e o direito à cidade.

Nesse encontro será debatido sobre a existência de uma "Cidade Desplanejada" e contará com a participação das arquitetas e urbanistas, Ráyra Fêlix e Flávia Alves, que são integrantes do Núcleo de Direito à Cidade. Para além do debate sobre a cidade, o Passeio Fotográfico possibilita também a partilha de conhecimentos sobre a linguagem fotográfica.

De acordo com Cristóvão Teixeira, professor do curso de direito da Universidade Federal do Cariri (URCA), os passeios fotográficos permitem que as pessoas tenham contato com a realidade social e produzam fotografias que  servem à divulgação da situação da ocupação da cidade e dos espaços urbanos. A atividade permite a formação de um senso de pertencimento ao território, estimulando o olhar para o entorno e criando novas perspectivas de criação da imagem urbana.

Ainda no sábado, o professor Cristóvão, juntamente com Fabiana Cruz, membro do GEDHUF e estudante do curso de direito da UNILEÃO, ministrarão uma Oficina Fotográfica sobre a Construção da Imagem. A oficina ocorrerá na URCA, Campus São Miguel, às 14:30. A atividade foi idealizada para fomentar o debate sobre o patrimônio cultural e ambiental da região do Cariri, juntando o poder da imagem, com o compartilhamento de técnicas fotográficas, e também a partilha de imagens já produzidas por excelentes fotógrafas e fotógrafos que  construíram e constroem a imagem territorial da região.

11 de maio de 2022

Ailton Krenak recebe título de Doutor Honoris Causa pela UnB nesta quinta (12)

 

(FOTO | Neto Gonçalves|Divulgação).

líder indígena Ailton Krenak receberá da Universidade de Brasília (UNB) o título de Doutor Honoris Causa. A homenagem será realizada na quinta-feira, 12, às 16h30. Para convidados, a cerimônia acontece no auditório da instituição. A comunidade poderá acompanhar o evento em transmissão ao vivo pelo canal da UnBTV no YouTube.

O título de Doutor Honoris Causa a Krenak foi aprovado pelo Conselho Universitário (Consuni) da UnB em dezembro de 2021. Na ocasião, o vice-reitor Enrique Huelva, disse que “Krenak é um filósofo imprescindível para este momento. Ele acrescenta novas ontologias que transcendem a divisão entre a natureza e o ser humano”.

A data da entrega do título foi definida em memória ao lançamento oficial da Aliança dos Povos da Floresta ocorrida em 12 de maio de 1989, em São Paulo, sob a liderança de Ailton Krenak, da União das Nações Indígenas (UNI), e Chico Mendes, do Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS).

A partir da década de 1980, Ailton Krenak passou a se dedicar à articulação do movimento indígena. Em 1987, durante as discussões da Assembleia Constituinte, foi autor de um gesto marcante que comoveu a opinião pública: pintou o rosto de jenipapo enquanto discursava no plenário do Congresso Nacional, em sinal de luto pelo retrocesso dos direitos indígenas.

Honoris Causa

A concessão do título pela UnB é atribuída a personalidades que tenham se destacado pelo saber ou pela atuação em prol das artes, das ciências, da filosofia, das letras ou do melhor entendimento entre os povos. A recomendação da homenagem ao líder indígena foi feita pelo Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (Ceam) da universidade.

---------------------

Com informações do Geledés.