26 de novembro de 2018

5 pensadores africanos contemporâneos que você precisa conhecer


Léopold Sédar Senghor, filósofo e Presidente do Senegal / Foto: Divulgação - Reprodução - Revista Galileu.

Embora seja pouco estudada em outros países, a filosofia praticada nos países da África é bastante rica e remonta à Antiguidade.

A filosofia e cultura africanas recebem menos atenção do que merecem, mas têm grande influência no pensamento ocidental. Ao longo da história, pensadores de diferentes regiões da África contribuíram de maneira decisiva para a filosofia grega, principalmente por meio do egípcio Plotino, um dos maiores responsáveis por perpetuar a tradição acadêmica de Platão. Na filosofia cristã, o algeriano Augustine de Hippo estabeleceu a noção do pecado original.

Segundo o nigeriano K.C. Anyanwu, a filosofia africana é “aquela que se preocupa com a forma como o povo africano do passado e do presente compreende o seu próprio destino e o do mundo no qual vive”. Conheça alguns dos principais pensadores da modernidade:

Léopold Sédar Senghor (Senegal)

Nascido em 1906, Senghor estudou na Sorbonne, de Paris, e foi a primeira pessoa do continente a completar uma licenciatura na universidade parisiense. Foi um dos responsáveis por desenvolver o conceito de negritude e um movimento literário que exaltava a identidade negra, lamentando o impacto que a cultura europeia teve nas tradições do continente. Em 1960, o Senegal foi proclamado independente muito graças ao apelo que Senghor dirigiu ao então presidente francês, Charles de Gaulle. Ele foi então eleito presidente da nova república, cargo que ocupou até 1980. Senghor morreu em 20 de dezembro de 2001, aos 95 anos, na França.

Henry Odera Oruka (Quênia)

Oruka viveu entre 1944 e 1995 no Quênia e foi o principal responsável por distinguir a filosofia africana em quatro grupos principais. A etnofilosofia, a abordagem que trata a filosofia africana como um conjunto de crenças, valores e pressupostos implícitos na linguagem, práticas e crenças da cultura africana. A sagacidade filosófica, espécie de visão individualista da etnofilosofia, consiste no registro das crenças dos sábios das comunidades africanas. A filosofia ideológica nacionalista, uma forma de filosofia política. E a filosofia profissional, que seria uma forma mais europeia de pensar, refletir e raciocinar. Ele era do grupo que defendia a sagacidade filosófica, e nos anos 1970 iniciou um projeto para preservar o conhecimento dos sábios de comunidades africanas tradicionais.


O filósofo Henry Oruka / Foto: Divulgação.

Cheikh Anta Diop (Senegal)

O antropólogo e historiador senegalês que estudou as origens dos humanos e a cultura da África pré-colonial é tido como um dos maiores pensadores africanos do século 20. Foi um dos responsáveis por contestar a ideia de que a cultura africana é baseada mais na emoção do que na lógica, mostrando que o Antigo Egito estava inserido na cultura africana e deu grandes contribuições para a ciência, arquitetura e filosofia. Ele viveu entre 1923 e 1986.


Cheick Anta Diop / Foto: Divulgação.


Ebiegberi Alagoa (Nigéria)

Entre as teorias do professor da Universidade de Port Harcourt, nascido em 1933, é a de que existe toda uma filosofia  baseada em provérbios tradicionais do Delta do Níger. O provérbio “o que um velho vê sentado, o jovem não vê em pé”, por exemplo, serviria para mostrar como na filosofia e cultura africana a idade é um fator crucial para a sabedoria.

Wole Soyinka (Nigéria)

Vencedor do Nobel de Literatura de 1986, foi considerado um dos dramaturgos contemporâneos mais refinados, com textos classificados como cheios de vida e sentido de urgência. Suas obras costumam retratar a Nigéria contemporânea. Soyinka nasceu em 1934 em uma tradicional cidade iorubá, uma das maiores etnias do país.

Embora sua família tenha se convertido ao cristianismo, ele se manteve fiel à visão de mundo iorubá. Soyinka é um forte crítico de governos autoritários, que incluíram o regime de Robert Mugabe no Zimbábue e, mais recentemente, e eleição de Donald Trump nos Estados Unidos (ele possuía um visto permanente norte-americano, mas o rejeitou após a eleição de Trump e voltou para a Nigéria). Ele chegou a ser preso em 1967 durante a guerra civil nigeriana e ficou em confinamento solitário por dois anos. (Com informações Revista Galileu).

Soyinka / Foto: Wikimedia Commons.



25 de novembro de 2018

V Edição do Campeonato Municipal de MTB de Altaneira consagra Higor Gomes bi campeão


Os 10 primeiros colocados na etapa final do municipal MTB de Altaneira. (Foto: Raimundo Soares).

Com participação de apenas 13 ciclistas das cidades de Altaneira, Crato, Farias Brito, Juazeiro e Nova Olinda realizou-se na tarde de ontem (24/11) no circuito da Trilha Sítio Poças a última etapa da quinta edição do Campeonato Municipal MTB de Altaneira.

O altaneirense Higor Gomes já havia conquistado, por antecipação, o título de Campeão de 2018, tornando-se o primeiro bicampeão do certame. Higor foi Campeão da primeira edição em 2014.

Apenas os dois primeiros colocados completaram as seis voltas no circuito de 4,7 Km. O estreante William Soares não completou a primeira volta, abandonou com pneu furado.

Na disputa da etapa os ciclistas do sexo masculino são divididos em cinco categorias, divididos por faixa etária e os cinco primeiros formam a Elite Geral, independente de sexo e idade.

A décima etapa do Municipal MTB de Altaneira terminou assim:

Elite Geral:
1) Higor Gomes;
2) Francisco Serafim;
3) Leonardo Pereira;
4) José dos Santos;
5) Evandro Alves.

Elite Feminino:
1) Raquel Guedes
2) Arlineide Nunes.

Não houve participação de ciclista na categoria Júnior, já nas categorias Sub 30,Veterano A e Veterano C contou com apenas um ciclistas cada, Lucas de Brito, Bruno Roberto e Raimundo Soares, respectivamente.

Nas etapas os ciclistas disputam medalhas e ao longo do campeonato concorrem ainda a 5 (cinco) camisas nas seguintes cores:

1) Camisa Amarela: Campeão Geral - Higor Gomes;
2) Camisa Rosa: Campeão Visitante - Lucas de Brito;
3) Camisa Vermelha: Campeão Jovem - Raquel Guedes;
4) Camisa Verde: Campeão Veterano -  Luciano Ferreira;
5) Camisa Branca com bolinhas azul: Campeão Local - Bruno Roberto.

O Campeão Higor Gomes, fez a Melhor Volta da etapa com tempo de 15min57seg., o que lhe rendeu R$ 100,00 de premiação. O patrocínio da Melhor Volta foi da Construtora Cariri.

Em virtude realização da etapa regional dos jogos abertos na cidade a décima etapa contou com uma pequena participação de público e não foi prestigiada nenhuma autoridade local.

A mesa de cronometragem foi coordenada pelo professor Pedro Rafael, auxiliado por Esmeraldo Gomes e Francisco Filho. Os ciclistas altaneirenses fizeram uma homenagem ao professor Pedro Rafael colocando-o no lugar mais alto do Pódio.

O Campeonato Municipal MTB de Altaneira é patrocinado pelo grupo MegaSom e a empresa DellMaq. (Com informações do Blog de Altaneira).

O ministério de Bolsonaro é um show de horrores


Com Bolsonaro, nada de novo. (Foto: Rogério Melo/PR).

Depois de quatro anos fazendo campanha e vendendo a ideia de que mudaria "tudo que está aí", Bolsonaro foi eleito e já indicou metade dos seus ministros. Sempre que perguntado se tinha nomes em mente, o então candidato era vago, fazia questão de assegurar que seriam nomes exclusivamente "técnicos". Nada de "negociatas políticas" ou "escolhas ideológicas". Ao ler o nome dos indicados, notamos o completo oposto.

Um dos poucos nomes garantidos em ministério durante as eleições foi Paulo Guedes. O "guru" econômico de Bolsonaro tem atuado como um verdadeiro primeiro-ministro do Brasil. Sondou Sérgio Moro antes mesmo do segundo turno. Depois das eleições, atacou parlamentares e está montando sua equipe econômica como se tivesse sido ele próprio o candidato mais votado.

Guedes é fundador do banco BTG Pactual. Escolheu para presidir o BNDES Joaquim Levy, do Bradesco e ministro do desastroso ajuste de Dilma em 2015. Para o Banco Central indicou Roberto Campos Neto, do Santander. Para a Petrobras, nomeou seu amigo da Escola de Chicago, Roberto Castello Branco, que defendeu publicamente neste ano privatizar a empresa. Dois privatistas também foram nomeados para a presidência da Caixa e do Banco do Brasil.

Seguindo o discurso de Bolsonaro, parte da mídia trata esses nomes como "economistas" técnicos. Nada mais falso. Os porta-vozes dos principais órgãos públicos da nossa economia são umbilicalmente ligados ao mercado financeiro, numa escandalosa porta giratória com visível conflito de interesses. Com lucros recordes sucessivos, tanto no período de crescimento quanto de recessão econômica, os bancos já vinham ditando os rumos da economia do País nas últimas décadas. É inédito, porém, o nível de controle que terão sobre a política econômica no próximo período, aparentemente sem qualquer contrapeso.

De noite, montam sua plataforma de governo jantando com grandes acionistas e nomes ligados ao capital estrangeiro, interessados na compra de ativos públicos e de riquezas nacionais. De dia, utilizam a crise econômica para justificar privatizações, reformas que retiram direitos e a venda da soberania nacional a preço de banana. Não por acaso o New York Times definiu Bolsonaro como "descaradamente pró-americano".

Na política, Bolsonaro nomeou Onyx Lorenzoni como ministro da Casa Civil. O deputado é filiado ao DEM há 21 anos, quando ainda chamava-se PFL e tinha como comandante Antônio Carlos Magalhães. Foi, na hipocrisia própria aos udenistas, um dos principais parlamentares a levantar a bandeira das dez medidas contra a corrupção, articuladas pelo Ministério Público Federal. Uma das medidas é a criminalização direta de quem receba recursos eleitorais via caixa 2.

Lorenzoni poderia ser seu próprio promotor: admitiu ter recebido 100 mil reais da JBS não declarados à Justiça Eleitoral para sua campanha de 2014. Declarou-se, porém, "arrependido" e foi perdoado pelo Deus Moro.

Outra indicação, também do DEM, é a nova ministra da Agricultura, Tereza Cristina. Líder da bancada ruralista, foi uma das principais articuladoras do avanço do projeto que quer flexibilizar ainda mais o uso dos agrotóxicos no Brasil. Por conta disso, ganhou o apelido de "Musa do Veneno". Durante período na gestão estadual do Mato Grosso do Sul, deu incentivos fiscais à JBS, fechou parcerias pessoalmente com Joesley Batista e recebeu doações eleitorais da empresa no mesmo ano. Não é exatamente um nome técnico.

 Nada mais absurdo que a nomeação do até então desconhecido dos brasileiros Ernesto Araújo como chanceler. Diplomata que atua nos Estados Unidos, fã incondicional de Trump, disse que o presidente norte-americano é a salvação do Ocidente. Em blog pessoal, fez campanha aberta para Bolsonaro e atacou partidos de esquerda.

Araújo vive em uma verdadeira realidade paralela, onde o "marxismo cultural" pilota o movimento "globalista", a China segue um país maoísta e o aquecimento global é um dogma esquerdista. Seus impropérios e disparates sucessivos fazem corar só de lembrar que será essa a voz do Brasil para o mundo.

Sigamos. O novo ministro da Saúde será Luiz Henrique Mandetta, terceiro nome do DEM. Está sendo investigado por fraude em licitação, tráfico de influência e caixa 2 na implementação de um sistema de prontuário eletrônico quando era secretário municipal de saúde.

O médico já presidiu a Unimed e desde o início foi contra o Programa Mais Médicos. Difícil crer que alguém com ligação direta ao sistema privado de saúde terá algum compromisso com o SUS. As indicações da última semana foram fechadas com chave de ouro com Ricardo Vélez Rodríguez na Educação. É uma tragédia anunciada. O defensor feroz da dita escola "sem partido" é visceralmente antiesquerda, exalta o golpe militar de 1964 e rasga elogios à monarquia. Um fundamentalista que parece desconhecer a Revolução Francesa. Não é a Marx que questiona, mas a Voltaire e o Iluminismo. Trevas à vista.

Um superministro banqueiro e com a agenda mais antipopular do período democrático. Um político que assumiu ser corrupto na Casa Civil. Uma ruralista que quer liberar geral o veneno na comida na Agricultura. Um trumpista em cruzada contra o marxismo e o ambientalismo na diplomacia. Um deputado investigado e contrário ao Mais Médicos na Saúde. Um inquisidor da Idade Média na Educação. Esse é parte do time de quem prometeu "varrer" o que havia de pior na política brasileira e montar uma equipe "técnica", não "ideológica". O ministério de Bolsonaro é um verdadeiro show de horrores. (Por Guilherme Boulos, na CartaCapital).

24 de novembro de 2018

Olavo de Carvalho “é a cabeça mais insana já produzida nesse país”, diz teólogo Leonardo Boff


Leonardo Boff criticou a influência  do “filósofo autodidata” Olavo de Carvalho na formação da equipe ministerial do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL). (Foto: Reprodução/Revista Fórum).


Professor emérito de Ética, Filosofia da Religião e Ecologia na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, o teólogo Leonardo Boff criticou a influência do “filósofo autodidata” Olavo de Carvalho na formação da equipe ministerial do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL).

Podemos medir a cabeça do novo presidente pelas nomeações que fez a pedido de Olavo de Carvalho: o ministro das relações exteriores e o da educação. Olavo é a cabeça mais insana já produzida nesse país. Não possui formação séria nenhuma. Diz os piores palavrões como o c. de sua mãe”, tuitou Boff, sobre as indicações de Ernesto Araújo, para Relações Exteriores, e do colombiano Ricardo Vélez Rodriguez, para Educação, feitas pelo guru intelectual da família Bolsonaro.

Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, Olavo disse que não tem mais nenhum ministro “no bolso” para indicar. O pseudo filósofo também já afirmou que o único cargo que aceitaria seria o de embaixador nos Estados Unidos – apesar de, segundo ele, Bolsonaro já ter oferecido os ministérios da Cultura e da Educação.

Eduardo Bolsonaro, deputado reeleito pelo PSL, disse, após as eleições, que quer levar os parlamentares do PSL para os Estados Unidos para terem aulas com Olavo. “É nossa base filosófica”, disse o filho do presidente eleito. (Com informações da Revista Fórum).

23 de novembro de 2018

Trajetória de Dandara dos Palmares impulsiona identificação, diz Zuleide Queiroz


Zuleide Queiroz, do Grupo de Valorização Negra do Cariri, afirma que a trajetória de Dandara dos Palmares impulsiona identificação / Foto: Natinho Rodrigues - (Reprodução - Diário do Nordeste).

Figura emblemática na luta pela liberdade junto a Zumbi e Ganga Zumba, Dandara faz parte da história de outras mulheres e movimentos negros no Ceará.

Quantas histórias adormecem sob o jugo da cegueira social? De quantos personagens e fatos não falamos simplesmente porque nunca foram apresentados a nós? Mais especificamente, quantas mulheres nossa memória negligencia quando a pauta do dia é resistência, bravura, luta? Sobrevivência.

Elas são inúmeras, filhas de várias partes do Brasil e do mundo. Personagens concretas de realidades opressoras, com força capaz de transgredir o decurso do tempo e inspirar uma fortuna de atividades. Não à toa, neste Dia da Consciência Negra - data criada em 2003 e instituída, por lei, em 2011 - o Verso dá destaque à figura de Dandara dos Palmares, símbolo-mor de coragem, protagonista quase apagada do registro oficial do Brasil Colonial. Não nestas linhas.

Nesse movimento, a travessia que propomos é de imersão no ofício de mulheres cujo sangue transborda energia e cuja melanina é pigmento de obstinação. Influenciadas pela irrefreável figura de Dandara, revitalizam trabalhos e conferem fôlego novo a expressões diversas. São ícones a levantar bandeiras que partilham semelhante apelo: desafiar lacunas antigas e promover reconhecimento ao lugar do negro, ao lugar da negra. Avante à luta!

No sangue, na memória

Se de geração em geração herdam-se traços, Dandara é mãe da resistência. No dia em que Zumbi teve a cabeça degolada num golpe, um ano e nove meses já teriam passado desde a morte da força feminina do Quilombo dos Palmares. A história da figura apontada como mulher do herói palmarino permanece cercada de incertezas e poucos registros, mas justifica e empodera o confronto das mulheres negras com tudo que as subjugam até hoje.

Relatos afirmam que Dandara teria se jogado de uma pedreira ao abismo, em fevereiro de 1694. A decisão extrema transparece a recusa da mulher de se entregar às forças militares que cercaram o famoso quilombo, onde viviam cerca de 30 mil pessoas distribuídas em aldeias. Não há registros do local onde a matriarca nasceu, nem da sua ascendência africana. Estudos levam a crer, contudo, que sua origem é brasileira e que ela se estabeleceu no Quilombo dos Palmares ainda quando criança. Além dos serviços domésticos, ela defendia como podia o seu povo e os três filhos que teve com Zumbi.

Líder das falanges femininas do exército negro palmarino, Dandara é descrita como uma verdadeira heroína. Ela dominava técnicas da capoeira e teria lutado ao lado de homens e mulheres em inúmeras batalhas e consequentes ataques à sua comunidade quilombola, situada na Serra da Barriga, atual região de Alagoas. De acordo com Zuleide Queiroz, professora da Universidade Regional do Cariri (Urca) e integrante do Grupo de Valorização Negra do Cariri (Grunec), a personagem é referência, homenageada por grupos feministas pelo instinto de coragem e maternidade.

A história da figura apontada como mulher do herói palmarino permanece cercada de incertezas e poucos registros, mas justifica e empodera o confronto das mulheres negras com tudo que as subjugam até hoje. 
(Reprodução/Diário do Nordeste).
"A decisão dela foi marcar a história. Foi uma atitude claramente pensada, não em função da força, do medo ou da violência, características facilmente atreladas ao machismo. Foi no sentido de educar as próximas gerações. Tudo ou nada!", partilha, emocionada.



A trajetória de Dandara dos Palmares também impulsiona identificação. Com divergências do ativismo relacionado às mulheres brancas, o feminismo negro levanta pautas específicas. Enquanto as mulheres brancas buscavam equiparar direitos civis com os homens brancos, mulheres negras carregavam nas costas o peso da escravatura, ainda relegadas à posição de subordinadas; isso, porém, não se limitava apenas à figura masculina, pois a mulher negra também estava em posição servil perante a mulher branca.

Segundo Zuleide, a partir dessa percepção, o exemplo da líder de Palmares, assim como o de outras heroínas com pele de cor forte, é a base para a autonomia feminina negra. "Se antes víamos a luta das mulheres brancas pelos direitos, hoje nos reconhecemos na reconstituição da história de Dandara. É a nossa ancestralidade".

É com o intuito de resgatar e reverberar essa posição de luta que o Grupo de Valorização Negra do Cariri (GRUNEC), entidade sem fins lucrativos, promove no interior do Estado a busca pela igualdade étnica/racial e a autoestima da população de cor negra na região caririense, onde foram encontradas, atualmente, 26 comunidades quilombolas, a maioria lideradas por mulheres. Zuleide afirma que Dandara está presente, sim, no coração e no sangue, de toda mulher negra, filhas das mulheres que se jogaram no precipício no decorrer da história.

Batuque para Dandara

Em 2016, durante cortejo no carnaval de rua, o Maracatu Nação Fortaleza homenageou Dandara dos Palmares ao levar a bravura histórica da guerreira para os olhos e ouvidos do público. Com loa reverenciando a personagem, os brincantes entoaram em alta voz: “Ê Ê Ê Dandara/ O tambor já tocou, Calunga mandou chamar/ Vai ter gira no terreiro, iaiá/ Batuque para Dandara/ Luz que alumiou a força dessa nação”.

Ao conferir destaque à mulher, o grupo buscou acrescentar novos elementos ao desfile carnavalesco por meio de uma contribuição cultural e artística focada no respeito à luta feminina, trazendo à tona a trajetória de um ícone ausente nos livros de História e consolidando um ponto de referência para todas aquelas identificadas com a estrada de resistência de Dandara.

Conforme registrado no site oficial do bloco, “‘Salve a Guerreira Dandara’ nos remete a um Brasil do período colonial e da resistência do Quilombo dos Palmares, enriquecendo a proposta do Maracatu Nação Fortaleza ao trazer as cores vivas da cultura afro-brasileira para as vestimentas e adereços; o toque ancestral dos tambores saudando uma rainha negra e sua luta pela liberdade; a presença do simbolismo incorporado na Calunga; e os elementos do universo Brasil-África como referência na montagem do desfile”.

           


Coletivos de mulheres negras no Ceará refletem força revolucionária de Dandara dos Palmares

Feminista, anti-racista e anticapitalista: assim é definido o Instituto Negra do Ceará - Inegra por Margarida Marques, uma das integrantes do projeto. A organização não-governamental tem como projeto político a luta contra o preconceito e a discriminação racial, sexista e de classe. Munida desse objetivo, a empreitada busca fortalecer a construção afirmativa da identidade feminina negra e propor políticas públicas que contribuam para a promoção da igualdade de gênero, raça e classe.


Zuleide Queiroz: "Reconstituir a história de mulheres negras é entender de onde vem a nossa força interior para diante de todas as diversidades". (Reprodução/ Diário do Nordeste).

Os negros e negras vivem em condições de exclusão social como consequência do processo de escravização e de uma abolição que nunca se concretizou. Assim, eles são aqueles que vivem em piores condições de vida, ganham menores salários e são as maiores vítimas da violência”, situa Margarida.

Ela conta que o Inegra atua no Estado desde 2003 como desdobramento de um coletivo de 13 mulheres negras. Hoje, integra o Fórum Cearense de Mulheres (FCM), a Articulação de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB) e a Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB). Entre suas principais realizações, está a Jornada pela Saúde da População Negra; o projeto Fulô do Mandacaru; e atuação no tema do encarceramento feminino, com apoio do Fundo Brasil de Direitos Humanos.

De acordo com Margarida, “superar uma realidade de opressão significa entender um outro projeto social e econômico, de inclusão, tolerância, justiça e reparação social e histórica dos que construíram a riqueza desse país através da mão de obra escravizada e foram deixados às margens do direito e da cidadania”.

Em semelhante engajamento, o Movimento Negro Unificado (MNU) atua no País há mais tempo, gestado em plena ditadura militar, em junho de 1978. Porém, foi apenas em 7 de julho do mesmo ano que a organização foi lançada publicamente, num ato realizado nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo, lançando as bases para a luta em todo o Brasil, inclusive no Ceará.

Dentro desse recorte, o destaque recai também sobre o Grupo de Valorização Negra do Cariri (Grunec), entidade sem fins lucrativos que conta com a participação de Zuleide Queiroz. O projeto foi formado em 2001 com o objetivo de promover a autoestima da população negra na região caririense, propagando também a consciência sobre afrodescendência ao valorizar a história e cultura do povo.

Encontro

Nesse sentido, em tempos onde a união é cada vez mais necessária para mudar panoramas de opressão, é que vai ser realizado, nos dias 23 e 24 deste mês, o I Encontro de Mulheres Negras do Ceará, no Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB). A reunião tem caráter duplo: tanto comemora os 30 anos do primeiro Encontro Nacional das Mulheres Negras, realizado em Valença, no Rio de Janeiro, quanto prepara o terreno para a edição nacional de 2018, marcado para acontecer em Goiânia, de 6 a 9 de dezembro.

A inscrição para a etapa local pode ser feita online a partir de link disponibilizado no facebook, na página do evento. A participação custa um valor simbólico de R$ 5 e deve reservar aos interessados um encorpado debate sobre a atual conjuntura cearense no que toca ao movimento negro, imprimindo força e maior alcance aos projetos no segmento.

Tanto Dandara como todas as mulheres negras de ontem e hoje que lutam e resistem contra o racismo,  as injustiças sociais e o machismo, nos inspiram e nos fortalecem. Resgatar as memórias delas e tornar conhecida suas lutas é importante em especial às novas gerações, pois é uma maneira de recontar nossa história, escrita de maneira a invisibilizar a luta do povo negro”, reitera Margarida Marques.
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Texto publicado originalmente no Diário do Nordeste com o título “A grande influência de Dandara dos Palmares”.


Golpe de 1964 deve ser comemorado, disse o novo ministro da Educação


(Eduardo Bolsonaro/Divulgação/ Reprodução/ Portal Gauchazh).

Anunciado como nome à frente do Ministério da Educação no governo de Jair Bolsonaro, Ricardo Vélez Rodríguez, já defendeu o golpe de 1964 em um dos textos publicados em seu blog em abril 2017. Intitulado de "31 de março de 1964: é patriótico e necessário recordar essa data", o texto destaca que "esta é uma data para lembrar e comemorar. A esquerda pretende negá-la. Mas não pode".

Em outro trecho, o futuro ministro escreveu: "64, vale sim afirmá-lo, nos livrou do comunismo. Nos poupou os rios de sangue causados pelas guerrilhas totalitárias que, na Colômbia, por exemplo, no conflito que ora se encerra, ceifou mais de 300 mil vidas e obrigou a sair do país a mais de 5 milhões de colombianos, no longo período que vai de 1948 até os dias atuais. Não tivessem os militares brasileiros agido com força para desmantelar a "República do Araguaia", teríamos tido o nosso "Caguán" (o território "livre" do tamanho do Estado do Rio de Janeiro, situado no coração da Colômbia e a partir do qual as Farc chegaram quase a balcanizar o país vizinho)". 

E completou: “Nos treze anos de desgoverno lulopetista os militantes e líderes do PT e coligados tentaram, por todos os meios, desmoralizar a memória dos nossos militares e do governo por eles instaurado em 64 (...) Felizmente a opinião pública, incluindo as Forças Armadas, reagiu em tempo e os petralhas não conseguiram implantar esse embuste marxista, que tinha como única finalidade fortalecer o PT de forma a que se tornasse o "novo príncipe" hegemônico apregoado por Gramsci, a fim de garantir a definitiva instalação de Lula e a sua caterva no poder. Sabemos hoje que a "revolução" pretendida pelo PT consistia em roubar sem nenhuma oposição". (Com informações do portal Gauchazh).

Representatividade negra na literatura é instrumento de afirmação política


É a partir de escrevivências que Conceição Evaristo demarca o lugar da cultura afro no Brasil, projetando sentimentos do povo com foco no feminismo / Foto: Reprodução - Diário do Nordeste.

Há um termo simultaneamente poético e forte para designar a escrita gestada a partir do cotidiano, das lembranças e da experiência de vida pessoal e de todo um povo: escrevivências. Quem o trouxe à vista foi a escritora mineira Conceição Evaristo - um dos nomes mais importantes e necessários da literatura brasileira contemporânea - exatamente para dar destaque aos sentimentos de toda ordem que atravessam a condição de ser afrodescendente no País que dividimos morada.

Ao singrar pelas páginas a costurar alegrias, emoções, gritos e sussurros de uma camada da sociedade ainda tão fortemente marginalizada, excluída e silenciada, a autora faz da arte um poderoso instrumento de luta contra o racismo e o machismo instalados no alicerce da população.

Um triste panorama a se considerar num território em que negras e negros são a maioria, conforme pesquisa divulgada em novembro do ano passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nela, se constatou que o número de brasileiros que se autodeclararam pretos aumentou 14,9% entre os períodos de 2012 e 2016, resultando em uma nação de maior parte afro. Neste Dia da Consciência Negra, conferir relevo a iniciativas que prezam pelo respeito e afirmação da identidade de matriz africana neste solo, se faz, portanto, bastante imperativo.

De Cruz e Sousa (1861-1898) a Joel Rufino dos Santos, passando por Maria Firmina dos Reis (1825-1917) e Elisa Lucinda, a literatura que contempla o segmento é ampla e bebe de diferentes matrizes para alavancar significativas reflexões. Em comum entre elas: um cuidadoso trabalho com as palavras de modo a fazer com que o que foi escrito possa gerar engajamento. Configure-se, enfim, como afirmação política.

Inspirado por essa realidade, o Verso traz um apanhado de algumas das principais vozes no âmbito das letras nacionais e internacionais que fazem valer esse intento e injetam alta voltagem crítica nos textos que assinam. Carolina Maria de Jesus (1914-1977) integra esse time. Moradora da antiga favela do Canindé, em São Paulo, é conhecida pelos relatos em seu diário, reveladores de uma rotina miserável, de total degradação da mulher negra, pobre, mãe, escritora e favelada que era.

Descoberta pelo jornalista Audálio Dantas - que, encarregado de fazer uma matéria na favela onde ela morava, acabou a conhecendo e percebeu o quanto Carolina tinha a dizer - é autora do livro "Quarto de despejo", obra-referência para compreensão do Brasil indigesto em que vivemos, além de várias outras de semelhante amplitude e importância.

Militância

Outras potentes vozes se somam a Carolina Maria de Jesus e a inicialmente citada Conceição Evaristo para bradar força e ativismo afro. Figura que tem ganhado cada vez mais repercussão no País devido à publicação do livro "Quem tem medo do feminismo negro?", Djamila Ribeiro é mestre em Filosofia Política pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordena a coleção Feminismos Plurais, da Editora Letramento, pela qual lançou "O que é lugar de fala" (2017).

Feminista, filósofa e acadêmica paulistana, Djamila Ribeiro é referência no estudo sobre o ativismo negro. FOTO: ALEX BATISTA / REVISTA GOL

Na principal obra sob sua assinatura, ela se utiliza de nomes do porte de Sueli Carneiro, Alice Walker, Chaimamanda Ngozi Adichie e Bell Hooks para abordar temáticas como os limites da mobilização nas redes sociais, as políticas de cotas raciais e as origens do feminismo negro no Brasil e nos Estados Unidos. Um recorte bastante amplo do que acomete os tempos atuais, feito destacado pela pesquisadora Simone Ricco em artigo escrito por Vagner Amaro, fundador da Editora Malê - voltada para publicação de autores e autoras negros.

Segundo a estudiosa, "a gente quer falar de literatura brasileira, mas de um recorte dela, o que está sendo produzido na literatura nacional contemporânea e destacando a produção negra. E muitos não sabem o que está acontecendo, não conhecem os autores, não têm ideia de como é o texto e ficam presos, muitas vezes, associando a literatura negra a um texto mais panfletário e muitas vezes não é o que acontece. A militância ocorre de uma forma bem mais literária".

Em voga

Já em outro âmbito, dos escritores estrangeiros outrora ofuscados que ganharam maior destaque no Brasil com a recente publicação de obras, James Baldwin (1924-1987) é um dos que merecem maior atenção. Personagem de renome da literatura americana do século XX, nasceu em Nova York e é autor de uma vasta e relevante obra de ficção e não-ficção.

Entre os assuntos abarcados pelo seu guarda-chuva, estão a luta racial e questões de sexualidade e identidade. "O quarto de Giovanni" e "Terra estranha" são as obras editadas recentemente em solo nacional, pela Companhia das Letras.

Já Toni Morrison nunca perde o pique de ser bem-vinda e comentada ao redor do globo por deixar como legado a vivência das negras norte-americanas ao longo dos séculos XIX e XX. Ela já venceu o Pulitzer e foi a primeira escritora negra a receber o Prêmio Nobel de Literatura, em 1993, atestando o quão longe pode ir um tratamento esmerado sobre o genuinamente ser negro. (Com informações do Diário do Nordeste).

22 de novembro de 2018

Professores Nicolau Neto e Maria Telvira debatem Lei 10.639/2003 durante semana de filosofia da UFCA


Mesa debate avanços e desafios da Lei 10.639/2003 durante IX Semana de Filosofia da UFCA. (Foto: Wellia Felipe).


A Universidade Federal do Cariri, campus Juazeiro do Norte – CE, vem promovendo desde o dia 19 a Semana de Filosofia. O evento anual é organizado pelo Centro Acadêmico de Filosofia tendo em 2018 como tema “O Lado Negro da Filosofia: Africanidades, Educação e Resistência”, visando proporcionar o compartilhamento de experiências e conhecimentos entre estudantes, pesquisadores, docentes e demais membros da comunidade.

Segundo informações da coordenação do evento, as ações deste ano contará com mesas redondas, rodas de conversa, oficinas, minicursos, vivências e apresentação de produções acadêmicas e não-acadêmicas e a escolha da temática partiu da necessidade de “fazer afrontamento à ausência de estudos e pesquisas sobre africanidades e filosofia africana na UFCA e na academia de modo geral”, além de pretender “afrontar a problemática da construção e perpetuação de um espaço hegemonicamente branco, assim como a importância de reafirmar a necessidade da política de cotas raciais e sua efetivação na prática”. “Outro aspecto fundamental é pensar a permanência das pessoas negras nas instituições de ensino superior que são estruturalmente racistas”, argumentou-se.

A Semana está sendo norteada a partir de três eixos centrais inter-relacionados - africanidades, educação e resistência -, objetivando, dentre outros, refletir e fazer enfrentamento aos longos anos de injustiça e invisibilização epistemológica para com as produções de autores e correntes filosóficas de pensamento não-eurocêntricas, nesse caso específico, as de origem africana e afrodescendente. Para tanto, vem desenvolvendo uma ampla e diversificada programação.

Professora Maria Telvira fala sobre os projetos antirracistas no Brasil e o papel da escola. (Foto: Wellia Felipe).

Na quarta-feira, 21, a professora doutora do Departamento de História da URCA, Maria Telvira e o professor especialista e ativista do GRUNEC, Nicolau Neto, participaram de uma mesa redonda que tinha como proposta discutir "Os Avanços e Desafios da Lei 10.638/2003: História e Cultura Afro-brasileira na Educação Básica”.

Telvira versou sobre a trajetória da educação e a luta do povo negro pela libertação com enfoque sobre “os projetos antirracista no Brasil e o papel da escola”. Ela trouxe a luz diversas iniciativas, coletivas e individual, de pessoas negras em educar crianças e jovens de pela negra. Ela citou como exemplo a iniciativa do professor “preto” Pretextato dos Passos e Silva que, no século XIX (ainda no período escravocrata) criou uma escola específica para esta parcela da população.

A professora relata que no Brasil as elites Brancas sempre fizeram de tudo para não se “misturar” com o povo negro, se valendo do próprio caso de Pretextato para referendar sua posição. Segundo ela, o próprio professor relatou na época que “em algumas escolas os pais dos estudantes de pele branca não queriam que seus filhos e filhas “ombreiassem” com os de pele negra. Ele discorreu ainda que o pais carrega traços de um sistema escravista implementado em mais de três séculos e que a falsa ideia de igualdade é o principal obstáculo para a construção de um projeto de escola antirracista. E concluiu afirmando que antes de 2003 nada de concreto se tinha nas escolas sobre a história e cultura afro-brasileira, africana e indígena e ressaltou que o que se vem discutindo é sobre desigualdades raciais que gera uma desigualdade de oportunidades. O que acaba confrontando a igualdade formal expressa na Constituição de 1988 e a igualdade real inexistente na sociedade brasileira.

Já Nicolau falou especificamente dos avanços e dos desafios da lei. Ele destacou que ali estava de discutindo sobre uma lei federal que completou 15 anos e que ela é importante porque “já deu uma grande contribuição para nós, enquanto país, uma vez que que trata-se de um documento a nível federal e que com peso legal”. “Por ela e a partir dela”, disse, “construiu-se ferramentas pedagógicas legalizada que pode garantir, de bem utilizada, que todos nós tenhamos acessos a conteúdos antes silenciados que corroborem para a formação humana/cidadã baseado na nacionalidade, na identidade e na diversidade do povo negro e indígena”.

Professor Nicolau Neto versou sobre os avanços e desafios da lei 10.639/200 durante a IX Semana de Filosofia da UFCA. (Foto: Wellia Felipe).

Ao se debruçar nos 15 anos da lei que tornou obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana na educação básica, Nicolau arguiu que a própria obrigatoriedade permite que ela (lei) se torne uma realidade, pois de alguma maneira se aborda nas salas de aula. O que, segundo ele, faz com que “fiquemos vigilantes para a forma com que se aborda”. “Muitas vezes são discussões fora de propósito e que podem levar a perpetuação do racismo e das desigualdades”.

Para Nicolau há em algumas escolas um histórico de professores e professoras que decidem trabalhar os conteúdos – muitas vezes com fortes ligações com os movimentos sociais negros -, e que ainda colaboram e incentivam os demais companheiros de jornada de outras disciplinas a trabalharem nesse sentido. “Isso é um desafio que foi colocado a partir da lei e vem se tornado um forte e bom desafio pedagógico”, ressaltou.

Por isso a lei já e uma realidade nas escolas, embora ainda não tenha sido efetivada plenamente. É uma realidade quando vemos que atinge alguns profissionais. É uma realidade quando ela nos impõe a enfrentar cotidianamente as adversidades, muitas vezes impostas no próprio ambiente de trabalho”.

Na parte final, o professor destacou os principais desafios no que pese a aplicabilidade da lei. Para Nicolau, a maior dificuldade em implementar essa discussão vem dos próprios ambientes de ensino. Seja pela ausência de formação na área, seja por tendo, se recusam a efetivá-la. “Por que isso ocorre? ”, indagou. “Ocorre”, em virtude do imaginário do povo brasileiro que desvaloriza as nossas raízes; que não reconhece a história do povo negro no que pese as vivências e as identidades. É um imaginário que se arvora em dizer que todos somos iguais e que não há racismo no pais e que por isso abordar essas questões leva a um “racismo reverso”, o que segundo o professor, “é descabido”.  Tudo isso acaba por contribuir ainda mais na resistência nas escolas em aplicar a lei.

Universitários e professores fizerem intervenções após as falas de Telvira e de Nicolau. (Foto: Rodrigo Manfredine).
Para Nicolau, outro grande desafio é fazer com que as pessoas envolvidas diretamente no processo de ensino-aprendizagem nos estabelecimentos oficias entendam “que nós precisamos educar para as relações étnico-raciais”.  

Por fim, disse:

"se há resistência em aplicar a lei haverá também por nossa parte resistência, pois essa é a nossa marca. A nossa história nos credencia a ter esperança de que as futuras gerações possam ter um ensino sem a necessidade de leis para destacar o óbvio. Que essas futuras gerações possam ter acesso a esses conteúdos a serem estudados”.

Após as falas, universitários/as e professores/as fizeram intervenções. O evento segue hoje e amanhã com minicursos, rodas de conversas. A Mesa de encerramento debaterá o tema “A carne mais barata do mercado...: a racialidade em tempos de fascismo” com os professores Me. Maria Yasmim (UECE) e Edson Xavier (URCA).