Hoje
tive uma experiência muito significativa. Fui conhecer de perto a Escola
Pública Municipal de Educação Infantil (EMEI) Nelson Mandela.
A
riqueza dos momentos vivenciados na Emei Nelson Mandela contribuíram de forma
muito bonita, significativa e intensa na minha formação enquanto pedagoga, mas
também me fez sentir representada como parte da humanidade no processo de
escolarização. Digo isso pois sinto-me representada como parte da humanidade
quando vejo a escola ensinando as nossas histórias, sobre os nossos povos,
sobre as nossas culturas, proporcionando uma educação significativa que
renuncia ao padrão eurocêntrico de ensino.
Por
Sheila Perina de Souza*, no Geledes
Durante
a visita aconteceu algo que me marcou muito. Enquanto as crianças brincavam,
uma música tocava embalando suas brincadeiras no parque. A princípio, custei a
acreditar, mas parei e prestei atenção. E a letra dizia assim:
“Foi um grito que ecoou, Axé Nkenda!
A luz dentro de você… Acenda!
Nada é maior que o amor, entenda.
A voz do vento vem pra nos contar
Que na mãe Africa nasceu a vida Pura
magia, baobá abençoado (…)
Mandela! Mandela! Num ritual de
liberdade
Lá vem a Imperatriz, eu vou com ela
Eu sou “Madiba”! Sou a voz da
igualdade”
Era
o samba enredo da Imperatriz Leopoldinense! Fiquei emocionada, elas brincavam e
o samba enredo homenageava a luta de Mandela.
Nesse momento eu ouvi! Eu vi! a nossa história, a nossa cultura no cotidiano das crianças. Eu compreendi que naquela escola o 20 de novembro acontecia durante o ano todo, e a lei 10.639 não estava apenas atrelada ao discurso, ela era vivenciada!
Durante
a visita, por meio das paredes que revelam muito sobre a escola, percebi que
naquele espaço as crianças pequenas aprendem sobre a cultura do negro
brasileiro, sobre a história do continente africano, sobre os diversos povos
indígenas e sobre as questões de gênero. Elas aprendem sobre si mesmas,
aprendem sua história. E assim como eu, elas entenderão a importância de sua
cultura para a humanidade.
Anos atrás, a antiga EMEI Guia Lopes, atual EMEI Nelson Mandela, sofreu perseguições racistas por meio de pichações feitas no muro da escola, em decorrência do trabalho que vinha desenvolvendo sobre a questão racial. Desde então, a equipe pedagógica da escola segue firme desenvolvendo cotidianamente as questões culturais, de gênero e de raça com crianças pequenas. Um dos frutos desse trabalho é a mudança de nome da escola para Nelson Mandela. Mas, os maiores frutos produzidos nessa escola quem receberá somos nós, a sociedade. Pois conviveremos hoje com crianças, e futuramente com adultos mais humanos, conhecedores de sua cultura, conscientes de sua história e que depreendem as contribuições dos diversos povos na história da humanidade. E serão elas e eles que ajudarão a desmitificar aquela “história única” que durante tantos anos nos contaram dentro do ambiente escolar.
*Estudante
de pedagogia da Faculdade de Educação da USP. Realizou parte de sua graduação
em Angola, na Universidade Lueji A’nkonde. Atualmente desenvolve pesquisas na
área de alfabetização em contextos multilíngues, e é estagiaria do Centro de
Referencia de Promoção da Igualdade Racial-CRPIR.