CNTE lança campanha para tirar das escolas nome dos ditadores


De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), 976 escolas públicas têm nomes de presidentes daquele período que envergonha a história brasileira. A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) quer celebrar a resistência da sociedade contra o estado de exceção e mudar esse número.

Em Salvador, a escola que tinha o nome do ex-ditador
Garrastazu Medici mudou para Carlos Marighela
E criou um site colaborativo para destacar o retrocesso na educação brasileira e lembrar os trabalhadores perseguidos por um regime que cassou direitos individuais, coletivos e políticos, abusou da integridade física e psíquica de milhares de pessoas, impôs ideologias conservadoras à sociedade, perseguiu, prendeu, torturou, exilou e matou cidadãos e cidadãs, cujos crimes (muitos deles) ainda carecem de elucidação e/ou reconhecimento por parte do Estado.

A campanha inclui um amplo movimento de mudança de nomes de escolas que homenageiam agentes patrocinadores do golpe militar e os ditadores de plantão. A ideia é propor projetos de iniciativa popular às Assembleias Legislativas e Câmaras de Vereadores, após a realização de amplo debate com a comunidade escolar, a fim de legitimar o pleito.

O site explica como propor a mudança, incentivando a sociedade a rever as homenagens prestadas aos algozes do povo brasileiro que dão nomes, ainda, a praças, ruas, avenidas, estádios e ginásios esportivos Brasil afora.

Em Salvador, o Colégio Estadual Presidente Emílio Garrastazu Médici a, fundado em 11 de abril de 1972 com o nome do ditador, agora leva o nome do herói baiano morto pela ditadura, passando a chamar-se Colégio Estadual do Stiep Carlos Marighella. Em 14 de fevereiro deste ano, a instituição de ensino passou por uma mudança de nome, através de uma eleição direta reivindicada pela comunidade escolar.

Via CNTE/Portal Vermelho

Segundo Coluna, SBT afasta Rachel Sheherazade


Pressionado por parlamentares e pela ameaça de perder mais de R$ 150 milhões em verbas publicitárias do governo federal, o SBT decidiu retirar – ao menos temporariamente – a âncora e comentarista Rachel Sheherazade do ar, segundo a coluna Ooops!, do UOL.

Rachel disse que era compreensível a ação de
"justiceiros" no Rio por causa da omissão do poder
público.
A versão oficial da emissora é de que a jornalista está em férias, mas, de acordo com a coluna, isso não é verdade. Rachel já havia tirado suas férias em janeiro, quando viajou para a França.

Em edição do telejornal “SBT Brasil” em fevereiro último, Rachel disse que era “compreensível” a ação dos chamados “justiceiros” que acorrentaram um suposto infrator a um poste, no Rio de Janeiro (RJ). Por conta disso, ela e a emissora viraram alvos de representações protocoladas pela deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e por cidadãos comuns no Ministério Público.

Oficialmente, segundo a coluna, o SBT informou que ela voltará ao trabalho no próximo dia 14 de abril. No entanto, no final de março, a própria jornalista comentou que seus dias na TV “estão contados”, segundo o colunista Ricardo Feltrin.

Pedidos

Jandira Feghali pediu a abertura de inquérito contra Rachel Sheherazade e o SBT, por apologia e incitação ao crime, à tortura e ao linchamento, e a suspensão da verba publicitária oficial da TV durante as investigações.

Na última semana, o Congresso em Foco informou que o Ministério Público Federal (MPF) mandou as representações para o Ministério Público do Estado de São Paulo para condução do caso na esfera criminal.

Já o pedido referente à suspensão de verba publicitária do governo federal para o SBT está sob análise na divisão cível do MPF-SP, segundo a assessoria do órgão.

Entenda mais sobre o caso:





Via Congresso em Foco

Cid Gomes fica no governo


O governador do Estado do Ceará Cid Gomes (Pros) vai permanecer à frente da chefia da administração. Segundo o blog do Eliomar a decisão saiu, nesta sexta-feira, 04/04, após reunião que envolveu ainda o seu irmão, Ciro Gomes, da mesma agremiação e um grupo fechado.

Ainda de acordo com a publicação do blog, uma fonte do Palácio da Abolição adiantou que não virá coletiva nem anúncio oficial.

Note-se que um dos motivos para a permanência no cargo  está relacionado ao fato do vice-governador Domingos Filho, com mandato também pelo Pros não ter desistido do desejo de assumir o cargo.

Cid permanecerá como forma de trabalhar, sem maiores pressões, o nome que o Pros indicará para sua sucessão. Izolda Cela que deixa a Secretaria da Educação dentro do prazo legal de desincompatibilização é um dos nomes cotados.

Em nota publicada no site da Seduc consta o pedido de exoneração da secretária Izolda da função de titular da pasta a partir desta sexta-feira, 04. O secretário executivo do órgão, Idilvan Alencar, foi designado para assumir esta função até o próximo dia 13 de abril.


Seduc de Altaneira discute elaboração do Plano Municipal de Educação


A secretaria da educação de Altaneira reuniu nesta última quarta-feira, 02, gestores e coordenadores das escolas da rede municipal, a gerente e os formadores do Programa de Alfabetização na Idade Certa em encontro visando discutir e definir estratégias para a elaboração do Plano Municipal de Educação e a socialização das escolas quanto às intervenções para o Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará deste ano.

O evento foi aberto pelo secretário da pasta, Deza Soares. Para ele reunir os gestores e coordenadores escolares e os profissionais responsáveis pela gerência e formação dos alunos na idade certa é um passo muito importante para que os projetos e ações em execução nas escolas possam continuar sendo desenvolvidas, além de se configurar um momento mais que oportuno para que os profissionais do ensino-aprendizagem possam interagir, conhecer realidades diferente, além, claro, partilharem experiências.

Deza frisou ainda sobre a necessidade do envolvimento de todo o corpo educacional na definição e elaboração do Plano Municipal de Educação – PME. Segundo ele, em encontro realizado na capital cearense ficou acordado que os municípios que pertencem as credes 11, 16, 17, 18, 19 e 20 estarão reunidas nos dias 14, 15 e 16 de maio, em Juazeiro do Norte. Nessa ocasião cada municipalidade deverão enviar equipes técnicas das secretarias para participarem de formações. Cada município terá direito a disponibilizar 04 (quatro) participantes, sendo dois da comissão e dois da equipe técnica.

Reginaldo, Arlina, Regigleide e Micirlândia, da direita
para a esquerda. Foto: Seduc.
Os professores Reginaldo Venâncio e Micirlândia Soares, formador e gerente do PAIC, respectivamente, expuseram os resultados comparativos do SPAECE 2013 entre os anos 2011 e 2013 referentes às turmas dos 2º e 5º anos das Escolas Joaquim Rufino de Oliveira e Joaquim de Morais. Para eles, o município conseguiu elevar a proficiência em língua portuguesa e matemática. “Tivemos um decréscimo em 2012 se comparado ao ano anterior. No entanto, logramos êxito ao nos deparamos com estes resultados de 2013. Elevamos a proficiência muito maior, inclusive do que 2011, a grande maioria dos alunos estão no nível desejável, o que nos deixa satisfeito e conscientes que estamos contribuindo para uma educação de qualidade”, ressaltou Reginaldo. “Queremos continuar nesse caminho estamos com grandes expectativas de que os resultados dos 9º anos sejam tão bons quanto este”, frisou Micirlândia.

Foi abordado ainda pelo consultor da educação, o professor Elias Pereira Dantas, temas como a importância da atuação dos conselhos das escolas e afins, como o do FUNDEB, CAE e CME, além da montagem de um calendário para os futuros encontros de gestores e a definição de pauta para estudo.

Ficou acordado que a secretária, tão logo os resultados do SPAECE do 9º ano venham a ser publicado, realizará um seminário de apresentação e socialização destes.Deza frisou ainda sobre a necessidade do envolvimento de todo o corpo educacional na definição e elaboração do Plano Municipal de Educação – PME. Segundo ele, em encontro realizado na capital cearense ficou acordado que os municípios que pertencem as credes 11, 16, 17, 18, 19 e 20 estarão reunidas nos dias 14, 15 e 16 de maio, em Juazeiro do Norte. Nessa ocasião cada municipalidade deverão enviar equipes técnicas das secretarias para participarem de formações. Cada município terá direito a disponibilizar 04 (quatro) participantes, sendo dois da comissão e dois da equipe técnica.

Via Seduc de Altaneira

Janot dá pistas de que castigo por incitar ao crime, se sair, sairá daqui a mil e uma noites


A gente registrou aqui o fato de o Procurador-Geral da República ter dado curso à representação da deputada Jandira Feghali contra o SBT e a apresentadora Rachel Sheherazade.

Parecia bom, parece bom até demais para ser verdade.

Porque Janot escapa pela tangente em declarações ao Congresso em Foco, afirmando ter mandado a representação para São Paulo – embora Sheherazade tenha aplaudido em rede nacional o acorrentamento, pelo pescoço, de um jovem a um poste no Rio de Janeiro e, ainda mais incrível, dizendo que não ia dar opinião por “não ter assistido o vídeo”, o que é inacreditável nestes tempos de Youtube.
Aliás, o pedido de suspensão da publicidade da União no SBT, um dos pedidos da ação, é obviamente da esfera federal.

Segundo o Congresso em Foco, a procuradora federal em São Paulo já disse que não é com ela. E mandou para o MP estadual paulista que, como se sabe, é valente com as obras do Itaquerão, mas não com o “trensalão”.

Leia a matéria e fique, como eu, mais “orgulhoso” no nosso MP, com a coragem e a independência que a  PEC 37 não lhe tirou.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, diz ver com “muita preocupação” a denúncia de que a apresentadora Rachel Sheherazade, do SBT, fez comentários que incitam à violência ao exaltar a ação dos chamados “justiceiros” no Rio de Janeiro contra um adolescente acusado de furto. Em entrevista ao Congresso em Foco, Janot diz que só poderia falar em tese, pois ainda não viu as imagens das declarações da jornalista e, por isso, não emitiria opinião especificamente sobre o caso. Para ele, é preciso tomar cuidado para não incorrer em censura aos veículos de comunicação, mas também é necessário deixar claro que incitação à violência é crime e, como tal, não se insere na liberdade de imprensa.

O procurador-geral despachou para São Paulo, na semana passada, uma representação movida pela liderança do PCdoB na Câmara contra a jornalista e a emissora. O documento, assinado pela líder da bancada, deputada Jandira Feghali (RJ), pede a abertura de inquérito contra Rachel Sheherazade e o SBT, por apologia e incitação ao crime, à tortura e ao linchamento, e a suspensão da verba publicitária oficial da TV durante as investigações.

A Procuradoria-Geral da República encaminhou a representação contra Rachel e o SBT para o Ministério Público Federal (MPF) em São Paulo. A procuradora da República Ryanna Veras, do MPF-SP, já declinou da competência para apreciar o pedido de investigação criminal sobre o caso e o mandou para o Ministério Público Estadual. A procuradora também mandou para o MPE-SP outras representações protocoladas por cidadãos comuns que consideraram ofensivo o comentário da apresentadora.

O pedido de suspensão da verba publicitária do governo federal para o SBT, feito pela líder do PCdoB, foi encaminhado à divisão cível do MPF-SP para análise, segundo a assessoria do órgão. A deputada ainda aguarda manifestação da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República a respeito de pedido semelhante. Só em 2012, o SBT recebeu R$ 153 milhões do governo federal para veicular campanhas publicitárias do governo federal.

Procurados pela reportagem, o SBT e a apresentadora não comentam o caso. A Secom também não retornou os contatos feitos pela reportagem.

Saiba mais no Congresso em Foco

Via Tijolaço

Herdeira do Itaú coordena programa de Campos e Marina


Considerada a “fada madrinha” de Marina Silva, Neca Setúbal, herdeira do Itaú, vai assumir a coordenação do programa de governo de Eduardo Campos (PSB) pela Rede.


Segundo Vera Magalhães, do Painel, ela foi convidada pela ex-senadora no sábado, em sua festa de aniversário em Itu. O PSB indicará um nome para atuar em parceria com a socióloga.

Filha do falecido dono do Banco Itaú, Olavo Setúbal, ela é a segunda de seis filhos homens – parte de uma família que tem fortuna avaliada em R$ 5 bilhões. Além de amiga de Marina Silva, Neca é responsável pela captação de recursos da Rede.

"A Marina (Silva) fala que nós duas viramos amigas porque fomos contra os nossos destinos. Porque era para a Marina ser uma moça pobre do seringal do Acre e eu, uma moça rica da alta sociedade paulistana. Temos uma amizade muito bonita", diz.

As duas se conheceram em 2007, e a amizade cresceu às vésperas da campanha presidencial de 2010, quando o cineasta Fernando Meirelles convidou a empresária para participar de um vídeo em apoio a Marina.

Ela acompanhou a então candidata do Partido Verde (PV) em viagens pelo Brasil, fez doações para a campanha, elaborou um plano de governo na área de Educação e disse ter ficado cada vez mais "impressionada com o carisma e o carinho que Marina desperta".

Via Brasil 247

Sem conseguir conter protestos, Câmara encerra sessão sobre o golpe de 64


O encerramento precoce da sessão solene promovida pela Câmara dos Deputados para homenagear os civis e militares que resistiram à ditadura militar deixou claro que, 50 anos após o golpe e quase 30 após o início do processo de redemocratização, membros de um dos principais poderes da república ainda não sabem lidar com os limites entre o que é liberdade de expressão e direito à memória, entre o que é democracia e autoritarismo.

A medida conseguiu calar a voz do principal defensor dos militares no parlamento, o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), mas também calou a de outros parlamentares reconhecidos pela luta em prol da democracia, além da de convidados ilustres que muito teriam a contribuir com o debate, como Gilney Viana, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, e Iara Xavier, que representava as associações dos familiares de mortos e desaparecidos do período.

O presidente da Casa, Henrique Alves (PMDB-RN), abriu a sessão prometendo que não iria tolerar, na sua gestão, nenhuma medida que fizesse apologia ao golpe 64. “Em meu mandato como presidente da Câmara, não será admitida nenhuma iniciativa institucional que possa ser interpretada como um gesto de legitimação do período autoritário iniciado com o golpe de Estado de 1964”, afirmou. Na semana anterior, inclusive, ele havia indeferido o pedido de Bolsonaro para fazer uma homenagem aos militares na data.

Exaltando o papel da Câmara como articuladora do debate social, Alves novamente pelo otimismo. “A Câmara é a instituição brasileira que mais representa o ideal de uma sociedade apta a definir seus rumos, com base em debates democráticos entre os representantes de todos os setores sociais relevantes, dentro do marco do Estado de direito”, destacou o presidente antes de saber o que estava por vir. E antes de retirar do plenário para prestigiar a posse do novo ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, no Palácio do Planalto, assinou ato que proclama 2014 o Ano da Democracia, da Memória e da Verdade.

Substituindo Alves na condução da cerimônia, o deputado Amir Lando (PMDB-RO) chamou à tribuna a deputada Luíza Erundina (PSB-SP), autora do requerimento para realização da sessão. Ela fez uma reconstituição das forças que atuaram para a deflagração do golpe, ressaltando o apoio decisivo do empresariado e dos Estados Unidos. Também falou sobre os efeitos da repressão para o país e para a própria Câmara, que teve 173 dos seus deputados cassados. Reiterou sua crítica histórica à Lei da Anistia de 1979, classificada por ela de “aberração jurídica”, por absolver tanto as vítimas quanto seus algozes.

A deputada incitou os colegas a aprovarem o projeto de lei 573/11, de sua autoria, apresentado ao parlamento já pela segunda vez, que reinterpreta a Lei da Anistia de modo a possibilitar a punição dos culpados por torturas, assassinatos e desaparecimentos forçados. "Sem isso, não haverá justiça de transição e o processo de redemocratização permanecerá inacabado", afirmou. Não conseguiu terminar seu discurso.

A abertura de uma faixa pró-militares, nas galerias da Câmara, provocou tumulto e Lando suspendeu a sessão por 5 minutos. Portada por assessores de Bolsonaro nas galerias, a faixa de 20 metros saudava os responsáveis pelo golpe: “Graças a vocês, o Brasil não é Cuba”. No plenário, a presidenta da União Nacional das Esposas de Militares das Forças Armadas, Ivone Luzardo, convidada do mesmo Bolsonaro, entrou em confronto com militantes que tentaram lhe tomar um cartaz em que acusava os defensores da democracia de revanchistas.

A sessão só foi retomada após muito esforço da mesa diretora, que ainda conseguiu garantir a 
palavra aos deputados Mauro Benevides (PMDB-CE), Assis do Couto (PT-PR) e Nilson Leitão (PSDB-MT), que explicitaram os diferentes conceitos que seus partidos fazem do que é democracia e de como se deve lutar por ela.

Couto, presidente recém-empossado da Comissão dos Direitos Humanos, relatou os esforços realizados para que o coletivo, que passou 2013 sob a condução do pastor Marcos Feliciano (PSC-SP), retomasse suas bandeiras históricas. Já Leitão condenou a luta armada e criticou, por exemplo, a desintrusão de duas terras indígenas conduzidas pelo governo Dilma, no Mato Grosso e no Maranhão, do ano passado para cá.

O clima voltou a esquentar quando Lando concedeu a palavra a Bolsonaro. Em protesto, todos os deputados e convidados que acompanhavam a sessão deram as costas a ele e empunharam cartazes com fotos de vítimas da ditadura. O presidente em exercício suspendeu a sessão por mais cinco minutos. Tentou, sem êxito, convencer os colegas a encerrarem o protesto. “Há entendimento firmado que ficar de costas para o orador e para a mesa é desrespeito ao regimento”, argumentou ele, orientado pela mesa diretora.

Impassíveis, os manifestantes cantaram o hino nacional e gritaram palavras de ordem como “abaixo a ditadura”. Bolsonaro tentou convencer a mesa diretora a deixá-lo falar mesmo com o plenário de costas. "Vocês vão ser torturados com algumas verdades aqui. Deixe-os de costas, presidente, por favor", provocou. Lando manteve-se na posição inicial. “Ninguém vai me ensinar o que é democracia. Eu tenho convicções”, afirmou ele, antes de dar a sessão por encerrada. Os convidados, que ainda sequer haviam feito seus pronunciamentos, deixaram a Câmara. Outros seis deputados, além de Bolsonaro, também não puderam usar a palavra.

Via Carta Maior

A verdade enjaulada


A mais brutal de todas as violências é, sem dúvida, a violência da inexistência. Esta é uma forma muito pior de extermínio, pois não se trata apenas da eliminação física. Ela é uma eliminação simbólica, desta que afirma que nada existiu, que a violência não deixou traços e indignação. Neste exato momento, o Brasil é vítima, mais uma vez, dessa forma mais brutal de violência.

Imagem puramente ilustrativa.
Talvez ninguém esperasse que, em 2014, 50 anos após o golpe militar, estaríamos em um embate para saber se, no fim das contas, existiu ou não uma ditadura no País, com todas as suas letras. Era de se esperar que neste momento histórico estivéssemos a ler cartas abertas das Forças Armadas com pedidos de perdão por terem protagonizado um dos momentos mais infames da história brasileira, cartas de desculpas de grupos empresariais que financiaram fartamente casas de torturas e operações de crimes contra a humanidade. Todos esses atores não se veem, no entanto, obrigados a um mínimo mea-culpa.

Há de se perguntar como chegamos a esse ponto. Uma resposta-padrão consiste em dizer que os setores progressistas da sociedade brasileira não tiveram força suficiente para impor aos governos exigências de dever de memória e justiça de transição. A história brasileira recente é, em larga medida, uma história de transformações abortadas.

Já a luta pela anistia foi abortada quando o regime militar conseguiu impor sua própria lei da anistia, que livrava os funcionários de Estado responsáveis por crimes contra a humanidade, isso enquanto ainda deixava na cadeia integrantes da luta armada que participaram de assaltos a bancos e ações com mortes. Àqueles que têm o despudor de afirmar que a lei da anistia foi fruto de acordo nacional, devemos lembrar que a votação que aprovou a referida legislação no Congresso Nacional foi de 206 votos a favor e 201 contrários, sendo os votos favoráveis saídos todos das fileiras do então partido governista (a Arena). Faz parte das ditaduras a criação de uma novilíngua, na qual os termos ganham sentidos contrários. No Brasil, a imposição da sua vontade por meio da coerção é chamada de “acordo”.

Depois, a luta por eleições diretas para presidente da República foi abortada em famosa votação no Congresso, o afastamento de líderes ligados ao regime militar foi abortado com a elevação de José Sarney à Presidência do Brasil, seguido de Fernando Collor. Em todos esses processos não foi a sociedade brasileira que se mostrou fraca, mas o poder que se demonstrou suficientemente astuto para se perpetuar sob o manto da transformação. Falamos de uma ditadura que conseguiu permanecer no governo mesmo depois de seu fim, graças a uma manobra transformista que alçou o então PFL a fiador da República.

Da mesma forma, as Forças Armadas conseguiram criar a ilusão de ser um ator que deveria ser deixado em paz, sob o risco de maiores instabilidades institucionais. Essa lógica levou os primeiros governos realmente pós-ditadura (Fernando Henrique Cardoso e Lula) a nunca adotar uma política efetiva de criminalização da ditadura. Assim, chegamos em 2014 sem um torturador punido, sem um general obrigado a reconhecer a experiência terrível dos anos de chumbo.

Dentro desse quadro desolador, o governo Dilma Rousseff resolveu criar uma Comissão da Verdade, que deve entregar o relatório de suas atividades ainda neste ano. Composta de alguns nomes de inquestionável valor e dedicação, indivíduos com largo histórico de defesa dos direitos humanos e intervenções na mídia em favor de uma política efetiva de memória, a comissão teve condições mínimas de trabalho.

Dos sete integrantes iniciais, ela agora funciona com cinco. Mesmo ao levantar novos dados, principalmente a respeito da repressão no campo e contra indígenas, ela não conseguiu mobilizar a opinião pública, talvez por ter preferido não divulgar parcialmente resultados ou encaminhá-los diretamente às cortes internacionais de Justiça (pois as cortes brasileiras estão açodadas devido à decisão canalha do Supremo Tribunal Federal a respeito da perpetuação das leituras correntes a respeito da lei da anistia). Caso tivesse optado pela ampla divulgação e enviado os resultados às cortes internacionais, uma situação jurídica nova teria sido criada e obrigaria o governo a sair de sua política de minimização de conflitos. Foi graças a uma intervenção exterior, lembremos, que o Chile conseguiu, enfim, começar a enfrentar a brutalidade de seu passado. Se Augusto Pinochet não tivesse sido preso na Inglaterra por causa de um pedido do juiz espanhol Baltasar Garzón, há de se imaginar que o Chile estaria em situação muito diferente.

A Comissão da Verdade brasileira deveria assumir experiências de outras comissões e, ao menos, desenvolver um procedimento parecido àquele aplicado na África do Sul. Nesse caso, antigos funcionários do apartheid tiveram seus crimes perdoados se os confessassem abertamente diante das vítimas ou familiares das vítimas, pedindo publicamente perdão. Certamente, no Brasil, algo dessa natureza teria, neste momento, grande força, certamente muito maior do que aquela que o procedimento demonstrou na própria África do Sul. Pois, entre nós, o verdadeiro problema é interromper, de uma vez por todas, a violência produzida pela tentativa de jogar o sofrimento social do período militar à condição de inexistência.

Creio ser útil partilhar um fato pessoal. Depois de escrever um artigo a respeito da tendência de negação predominante em parte de nossa historiografia recente, com seu desejo de apagar os traços da ditadura, recebi uma mensagem singela de alguém que dizia que a ditadura não existiu para ele, cidadão ordeiro e trabalhador. Ela existiu apenas para os indivíduos que queriam transformar este país em uma nova União Soviética. Eu diria que ele tem razão. De fato, a ditadura não existiu para ele, pois esse senhor, como vários outros, fez parte da ditadura. Não haveria ditadura sem cidadãos como este, que hoje não temem em demonstrar claramente suas escolhas.

Não há ditadura sem um conjunto de “carrascos voluntários”, que, mesmo não trabalhando diretamente nos aparatos repressivos, atua indiretamente no suporte e na reprodução das justificativas de suas ações. Há de se apontar para os carrascos voluntários da ditadura brasileira. Por isso, o País nunca conseguirá encerrar o legado ditatorial sem um processo de culpabilização coletiva. Quem votou na Arena foi um carrasco voluntário da ditadura e há de se tratar tais indivíduos dessa forma. Muito mais gente deveria estar no banco dos réus. Pois devemos lembrar, mais uma vez: só há perdão quando há, do outro lado, reconhecimento do crime. Você não pode perdoar o que não existiu. Então, se para certas parcelas da população, a ditadura não existiu, não há razão alguma para perdoá-los. O Brasil segue e seguirá em conflito, como quem vive uma história em suspenso.


A análise é de Vladimir Safatle, professor de Filosofia da USP e colunista da Carta Capital