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Prefeitura de Altaneira e Fundação Casa Grande fecham pacto para realização de Pesquisa Arqueológica

 

Prefeito de Altaneira, Dariomar Rodrigues, e a arqueólga Heloisa Bitu. (FOTO/ Reprodução Redes Sociais).

Por Nicolau Neto, editor

O município de Altaneira, por meio do poder executivo, firmou parceria com a Fundação Casa Grande Memorial do Homem Kariri, com sede na vizinha cidade de Nova Olinda, visando a realização de Pesquisa Arqueológica. O estudo será uma continuidade dos já realizados pela Dra. Rosiane Limaverde na entrada da vertente oeste da Chapada do Araripe, que fora interrompida em meados do ano 2015.

De acordo com dados colhidos junto a página oficial da prefeitura de Altaneira, o documento que assegura a parceria entre as instituições publicas, foi encaminhado à Câmara através de um Projeto de LEI, que depois de aprovado no plenário da casa, foi sancionado pelo prefeito Dariomar Rodrigues sob a Lei Nº: 867/2022 e circulou no Diário Oficial da APRECE no último dia 19 de outubro.

Todas as ações referentes a pesquisa terá o apoio do Instituto de Arqueologia do Cariri Dra. Rosiane Limaverde, que é administrado pelo Fundação Casa Grande em cooperação com a Universidade Regional do Cariri (URCA), além de professores da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e alunos colaboradores do Curso de Especialização Lato Sensu em Arqueologia Social Inclusiva – PROEX/URCA. A execução do projeto se dará no Sítio Arqueológico Alto da Lagoa de Santa Teresa, em Altaneira, e deverá ter início tão logo ocorra a emissão da portaria autorizativa pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-IPHAN.

Esta ação reflete a intenção da Fundação Casa Grande – Memorial do Homem Kariri na Gestão Social do Patrimônio Cultural do Território a partir do diálogo entre gestores culturais, poder público, universidades, pesquisadores colaboradores e sociedade civil visando promover a proteção do patrimônio da Chapada do Araripe. É importante destacar, outrossim, que o Sítio Alto da Lagoa de Sta. Teresa “apresentou concentrações cerâmicas e materiais líticos lascados, com características de ocupação de grupos de matriz tupiconfirmando a presença pré-colonial na região do Cariri”, conforme destaque da página oficial da prefeitura.

Segundo Heloisa Bitu, mestre em Arqueologia, pesquisadora e colaboradora do Instituto de Arqueologia do Cariri e que durante a pesquisa atuará dando apoio logístico por ser proprietária-articuladora do imóvel, “o projeto de prospecção intensiva no sítio arqueólogico Alto da Lagoa de Santa Tereza prevê a execução de um programa integrado de educação patrimonial na comunidade que contará com o apoio logístico das Secretarias de: Educação, Cultura e Meio Ambiente do município”.

A equipe de pesquisadores e coordenadores conta com o Me. Igor Linhares de Araújo, na coordenação geral, João Paulo Marôpo (Georreferenciamento de Dados de Campo), Dra. Mônica Virna Pinheiro (Geoprocessamento de Dados e Cartografia), Dr. Angêlo Alves Corrêa (Coordenação de Curadoria e Análises Laboratoriais) e Dra. Cristiane Eugênia Amarante (Coordenação de Educação Patrimonial), além de ter integrantes de Assistentes de Laboratório e de Assistentes de Campo (formados por Alunos do Curso de Especialização Lato Sensu em Arqueologia Social Inclusiva FCG/IAC/URCA). O Historiador altaneirense Demir Ribeiro também fará parte nos dados da Arqueologia Histórica.

O Blog recebeu um texto da professora e poeta Fátima Teles, de Brejo Santo, sobre Heloisa e seu ofício e que elucida um achado arqueológico por uma arqueóloga em sua propriedade (herdada) e que denota seu esforço na realização de pesquisa.

Vamos a ele:

A arqueologia por trás da arqueologia por Fátima Teles.

Este relato é uma descrição densa e profunda...

É o relato de uma Arqueologia dentro da Arqueologia!

Uma espécie de ode à “arqueologia do sujeito” de LIBERA, (2013).

É uma arqueologia do eu, a serviço de uma arqueologia da afetividade, promovendo uma Arqueologia Social Inclusiva para se conhecer a Arqueologia Pré-colonial do Cariri Cearense.

Parafraseando Clifford Geertz (2012 p. 138), é aquele típico processo investigativo enveredado pelas almas curiosas, que buscam desesperadamente um propósito para sua existência, onde  “tudo é uma questão de uma coisa levar à outra, essa a uma terceira, e essa última a uma outra que mal se sabe o que é”. No sentido literal significa procurar os fatos, o que a protagonista deste relato, naturalmente, “de fato”, têm feito desde a infância às margens da Lagoa de Santa Teresa, palco dos estudos arqueológicos que ora se pretende no município de Altaneira-CE.

Também poderia ser uma história análoga à incessante busca real de Edith Pretty, que contratou Basil Brown ao final da década de 30, para escavar a misteriosa topografia de sua propriedade em Sutton Hoo, com vista para o rio Deben, em Suffolk, no Reino Unido no filme A Escavação (2021), filme de Simon Stone baseado no livro homônimo de John Preston (2007). A compulsão irresistível por fatos, os levou a encontrar um navio de carvalho de 27 m, preparado para servir de tumba a um governante anglo-saxão, enterrado há cerca de 1.300 anos junto com seus pertences e com função de hospedar um banquete na vida após a morte de seu dono.

Naquela época, as descobertas revelaram extensas ligações comerciais pela rede hidrográfica com a Escandinávia, o Império Bizantino (centrado em Constantinopla (Istambul dos dias modernos) e o Egito. A descoberta revolucionou a compreensão dos historiadores do século 7, anteriormente visto como um tempo retrógrado, quando a Inglaterra foi dividida em reinos anglo-saxões.

Distante no tempo e no espaço das descobertas de Pretty e Brown,  às margens “do Lago que fascina”, uma garotinha teceu os fatos em seu imaginário de uma prática profissional futura, que se concretizou por meio de uma Arqueologia que lhe permitiu ampliar os horizontes do saber na profundidade da vivência de uma Ciência Cidadã, onde o método co-existe exatamente à altura do fogo das fantasias buscólicas da infância! Esta protagonista é a arqueóloga Heloísa Bitú, e a Casa que lhe possibilitou o sonho de exercer a profissão, é a Fundação Casa Grande – Memorial do Homem Kariri, espécie de portal atemporal para um Cariri Ancestral e profundo criada há 30 anos pelo casal pioneiro no resgate das Coleções Arqueológicas do Cariri: Alemberg Quindis e Rosiane Limaverde.

Acolhida pelo casal de músicos na cidade Nova Olinda, tempos depois de se tornar mestre em arqueologia e quando se fazia imperativo recuperar a sua criança adormecida, nossa protagonista altaneirense, regressa às origens de sua infância, ao receber de sua avó, como herdeira, parte da propriedade da família na cidade de Altaneira!

No andar contemplativo, curioso e atento pela gleba, a jovem mulher, arqueóloga, encontra vestígios a 100m da casa  onde nasceu, brincou e cresceu! O Universo estava materializando aquilo que ela viveu no mundo das ideias pueris, solitariamente no quintal da casa da avó! Nesta surpreendente descoberta se compromete como cidadã, em conjunto com as autoridades locais, a mão amiga de profissionais da área e membros da comunidade, trazer à tona uma outra narrativa para as terras da Vó Zenilda. O momento é oportuno para contar a história dos primeiros povos que habitaram a cidade de Altaneira.

Esta arqueóloga altaneirense, traz a convicção que contribuirá não apenas no resgate da sua memória e história familiar, mas que seja, também memória coletiva para a gente de Altaneira. Por isso, no início de nossa escrita dissemos que os esforços são de uma arqueologia do eu, a serviço de uma arqueologia da afetividade, promovendo uma Arqueologia Social Inclusiva para se conhecer a Arqueologia Pré-colonial na Travessia das Lagoas de Altitude entre o Vale Oeste da Bacia Sedimentar do Araripe e o Sertão dos Inhamuns.

O propósito é que a escavação seja para todos ato afetivo, fundamentada nos princípios da educação patrimonial e ambiental, como necessárias a preservação do lugar onde em cada momento, fase ou etapa da escavação se torne o resgate das histórias individuais, familiares e coletivas ressignificando os afetos, em particular de todos que estarão envolvidos.

Conheci Heloísa Bitú, quando da sua primeira coordenação de equipe de pesquisa arqueológica no Cariri, no município de Brejo Santo-CE. Acompanhei o trabalho por ela desenvolvido nas Escavações do Sítio Serrote da Nascença, onde identificou uma fogueira e obteve a datação radiocarbônica de 1.220 +/- 40 AP (Antes do Presente) para um sítio do tipo acampamento iserido num contexto de ocupações funcionais nas diferentes compartimentações topográficas no centro da cidade. Para mim, ficou notável a paixão e entrega com que esta mulher se dedica à arqueologia do Cariri. Não mediu esforços para a extroversão do conhecimento junto à comunidade por meio de ações de educacão patrimonial nas escolas municipais! Levou crianças e adultos a serem protagonistas na produção do conhecimento! Foi à todas as redes de comunicação local compartilhar o que esteve descobrindo durante os trabalhos de sua equipe. Ofertou à Secretaria de Educação do Município uma formação para educadores patrimoniais, trazendo contribuições importantes para professores das áreas das Ciências da Natureza e Humanas da rede de ensino local. É indiscutível a presença no seu fazer científico, das abordagens da observação participante, incorporadas quando da sua assistência aos estudos desenvolvidos pela sua mestra a Dra. Rosiane Limaverde.

Para mim não foi uma grande surpresa, que ela encontrasse um sitio arqueológico no lugar onde nasceu! Ela possui o “feeling” dos grandes pesquisadores! E é por isso que essa é a história de uma garotinha que fantasiou muitas aventuras arqueológicas no quintal da casa de sua avó... cresceu, se tornou arqueóloga e de fato encontrou o que estava destinada a descobrir!”