A
internet tem sido um meio bastante usado por esses jovens para se reunirem,
trocarem afinidades e expressarem sua opinião a respeito dos temas citados
acima – e muitos outros. Rafael de Carvalho é um deles: em 2013, o
administrador de sistemas de 25 anos criou o Canal da Direita, presente como
canal no Youtube e página no Facebook (esta última com 77.454 curtidas).
Segundo ele, “nossa missão é, antes de
tudo, ajudar a formar uma oposição pró-Brasil ao invés de partidária como vemos
por aí”.

Rafael
avalia que o Brasil, especialmente a juventude, é vítima de uma doutrinação do
pensamento de esquerda, presente em universidades e no meio cultural. “Apesar de ter a hegemonia política e
cultural nas mãos, a esquerda não tem toda a juventude aos seus pés. Se
tivéssemos no Brasil uma educação aliada à formação política sem doutrinação,
certos políticos que chegaram ao planalto não seriam eleitos nem para vereador”.
Esta percepção é compartilhada por Weverlim Cavalcante, estudante de direito em
Maceió, 18 anos, criador da página UJC (União Juventude Conservadora, 3.473
curtidas no Facebook): “Quando o PT
entrou no poder começou a haver uma doutrinação pesada do marxismo, leninismo,
gramscismo, entre outras teorias comunistas, que foi moldando os modos de
pensar da nossa juventude”.
O
professor e pesquisador da FESPSP, Rodrigo Estramanho de Almeida, 31 anos,
discorda da ideia de que as universidades sejam pólos esquerdistas: “professor não é a única classe que forma
opinião política, e não há dados para provar que eles pensam assim. Não existe
relação de causa e efeito, o perfil tem a ver com passado, história, construção
da realidade, instituições”. Todavia, ele aponta para um perfil
progressista da juventude paulistana, como notado na pesquisa O jovem e o
futuro na cidade de São Paulo, coordenada por ele e produzida pelo Núcleo de
Pesquisa em Ciências Sociais da FESPSP. Quase metade dos 409 entrevistados
concordou totalmente com a afirmação “As
recentes manifestações políticas são positivas para a cidade de São Paulo”.
Este desejo por mudança, expressado nas ruas em junho de 2013, é, para Rodrigo,
uma mostra da insatisfação do jovem brasileiro com a ordem política e social
atual, o que nos impede de classificá-lo como conservador (no sentido de querer
conservar a ordem vigente ou voltar a alguma anterior).
Apesar
desse desejo por mudanças, Renato Essenfelder, professor do curso de jornalismo
na ESPM e no Mackenzie, 33 anos, observa tendências conservadoras em alguns
jovens. “Embora o discurso público seja
um, em privado vejo o conservadorismo arraigado: a menina que faz sexo é
depravada, o homossexual que demonstra afeto em público é sem vergonha, o
usuário de droga é marginal ou ‘lesado’”. Além de professor, Renato escreve
crônicas no blog Males Crônicos, do Estadão, e recebeu muitas críticas em seu
texto, explicitamente irônico, Ai, que
Saudades da ditadura.
“Foram mais de 500 comentários, e pelo
menos 70% eram pró-ditadura. Não sei dizer quantos dos internautas eram jovens,
o público era muito heterogêneo”.
A
adoção desse papel de minoria mal-representada é um ponto-chave para entender o
motivo de alguns jovens – a até ex-rebeldes como o músico Lobão – assumirem
posições conservadoras. Essa postura é resumida claramente por Rafael de
Carvalho: “numa sociedade coletivista
como a nossa, que crê que os interesses das abstrações sociais (classe, raça,
gênero etc.) são mais importantes que o indivíduo, o jovem conservador é o
verdadeiro revolucionário”. Rodrigo Estramanho, por sua vez, percebe uma
contradição neste posicionamento e acredita que “isso é uma confusão semântica enorme, que deriva de uma confusão em
relação à realidade. Quem é conservador quer manter ou voltar a uma situação.
Isso é um ponto de vista, não vejo que esteja assim”.
No
campo político, Rodrigo nota a presença de “questões
religiosas e institucionais, que orientam certo tipo de comportamento” e
acabam por influenciar candidatos progressistas, impedindo-os de assumir
opiniões como a defesa do aborto. “Precisamos
avançar muito no debate dessas questões”, completa. Em relação a esses
temas, Weverlim é taxativo ao declarar sua oposição ao “aborto, pedofilia, prostituição, redução da maioridade sexual,
casamento homo afetivo e a legalização das drogas”, colocando a discussão
de direitos, como o casamento entre homossexuais, no mesmo grupo de crimes como
a pedofilia.
Como
referências do pensamento conservador atual, Weverlim cita “a família Bolsonaro, Rachel Sheherazade e
Paulo Eduardo Martins”, acrescentando que na UJC Margareth Thatcher e
Ronald Reagan também assumem esse papel. Renato Essenfelder lamenta a
influência de Bolsonaro e Sheherazade por seu discurso raso: “Um país que teve Roberto Campos, para citar
um político, e Paulo Francis, para ficar em um jornalista, não pode se
contentar com eles”.
Apesar
de usar um tom aparentemente radical na defesa de suas ideias, o discurso
desses jovens alia-se ao pluralismo para o desenvolvimento da sociedade, pois “sendo assim, haverá um equilíbrio ideológico
e social”, nas palavras de Weverlim. E como todos os opostos e rivais na
história, esquerda e direita, liberalismo e conservadorismo nos costumes,
parecem não sobreviver sem o outro. “Precisamos
incentivar a diversidade, as vocações”, diz Rodrigo. Para ele, o
conservadorismo de uma parcela dos jovens, assim como a popularidade de figuras
conservadoras, os protestos de junho de 2013 e a Comissão da Verdade, “são sintomas de democracia”. “Precisamos
definir o Brasil que queremos, e é a juventude que vai fazer isso”,
conclui.
A
análise é do Jornalista Luiz Vendramin Andreassa e foi publicado originalmente
no Diário do Centro do Mundo