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'O mundo precisa saber que Lula é um preso politico', diz Guilherme Boulos em Lisboa


"A luta democrática não tem fronteiras", disse pré-candidato do Psol na capital portuguesa. (Foto: Reprodução).


Em discurso realizado em Lisboa, o pré-candidato pelo Psol à Presidência da República Guilherme Boulos afirmou que é preciso urgentemente construir uma campanha internacional para “quebrar o silêncio da mídia brasileira” sobre  a escalada de violência e graves retrocessos democráticos no Brasil. “O mundo precisa saber que Lula é um preso politico. Tamo junto, porque a luta democrática não tem fronteiras”, disse Boulos no debate O Futuro das Lutas Democráticas: Em defesa da democracia brasileira, organizado pela Fundação Saramago e o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Segundo ele, o primeiro desafio a se enfrentar na crise é “construirmos uma ampla frente democrática brasileira e internacional pra resguardar a democracia”.

Um dos coordenadores do debate, o sociólogo Boaventura de Sousa Santos falou do desmantelamento da democracia brasileira. “Estamos a viver tempos que Antonio Gramsci caracterizou como tempos monstruosos. Quem podia imaginar que a vibrante democracia brasileira estaria a ser desmantelada da forma violenta como está. Que o presidente mais brilhante da história do Brasil, que deixou a Presidência com mais elevada taxa de aceitação, estivesse hoje preso em uma masmorra e ainda por cima ilegalmente?”

Ele lembrou o a violência “da lei e da rua” que vitimou a vereadora Marielle Franco, do Psol, assassinada no dia 14 de março no Rio de Janeiro. “Marielle presente!”, bradou Boaventura.

Em fala emocionante, a deputada Catarina Martins, coordenadora nacional do Bloco de Esquerda, afirmou: “O que está a acontecer no Brasil (é a escolha entre) justiça e democracia ou fascismo. Quem pensa que não tem a ver conosco, está muito enganado. A prisão de Lula é mais um passo neste golpe terrível, grotesco, e é por isso tão importante dizer: Lula livre!”.

Segundo Catarina, “quem ficar calado é cumplice do fascismo”. “Solidariedade, democracia, liberdades democráticas, é desta matéria que somos feitos”, concluiu.

O ex-governador do Rio Grande do Sul e ex-ministro Tarso Genro também reforçou o caráter do encarceramento do ex-presidente dizendo que ele “é um preso politico”. Sua prisão foi “engendrada para tirar da disputa eleitoral aquele que é o maior líder da história recente do Brasil”. Segundo Tarso, esse “é um costume da elite oligárquica, atrasada, reacionária do Brasil”. Ele citou os exemplos dos ex-presidentes Getúlio Vargas, João Goulart e Juscelino Kubitschek como vítimas dessa mesma oligarquia no passado.

Tiros e ódio

Boulos disse que o Brasil passa pela crise democrática mais grave desde o período da ditadura (1964-1985) no país. “Ela se expressa com uma escalada de violência política, com tiros, intolerância, ódio sendo destilado no lugar do debate político, que teve como principal expressão o assassinato brutal e covarde da Marielle.”

À plateia que lotou o Teatro Capitólio, na capital portuguesa, Boulos falou sobre a judicialização da politica que hoje toma conta do Brasil, com perseguições a Lula e lideranças de esquerda por parte de juízes e tribunais. “A maior expressão dessa judicialização é a prisão do ex-presidente Lula, que ocorre sem qualquer prova”, acrescentou.

Segundo o ativista, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), o sistema se caracteriza pelo “antagonismo”, que encarcera Lula sem provas, mas ignora o presidente Michel Temer, “com provas, malas e gravações”, e o senador Aécio Neves (PSDB-MG), “que ameaçou até de morte um suposto delator” e continua no Senado. “Se (Sérgio) Moro quisesse fazer politica, que fosse ser candidato à presidência da República e encarasse um debate democrático com o povo brasileiro.”

Boulos contou ainda ao público sobre momentos que passou com Lula no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo. “O que Moro e os juízes que encenaram essa farsa queriam era destruí-lo psicológica e politicamente. E Lula, poucas horas antes de ser preso, mostrou que estava em plena forma.”

"A única coisa que reclamo é o Moro não esperar um dia a mais para eu ver o jogo do Corinthians", disse Lula, segundo Boulos. “O que ele queria era uma foto, indo pelo mundo afora, com Lula preso ao lado de policiais. Mas o que conseguiu foi uma foto do Lula carregado por milhares de pessoas saindo do Sindicato dos Metalúrgicos.”

Nesta quinta-feira, o egípcio Mohamed El-Baradei, Prêmio Nobel da Paz em 2005, em nome da Agência Internacional de Agência Atômica, aderiu à campanha para que Lula receba o Prêmio Nobel da Paz em 2018. A campanha foi iniciada pelo argentino Adolfo Perez Esquivel, Nobel da Paz em 1980. Até o início da noite de hoje, havia mais de 215 mil adesões. (Com informações da RBA).



A ambiguidade política de Ciro Gomes. Por Luis Felipe Miguel


Ciro no Fórum da Liberdade, onde foi acusado de dar uma "pescotapa" em um membro do MBL, o youtuber Mamãefalei. (Foto: Reprodução/ DCM).


Ciro Gomes tem, sim, algum prestígio eleitoral. Tem uma retórica explosiva que projeta a imagem de “cabra corajoso” e ganha adeptos.

Mas o que quer Ciro Gomes? Sua ambiguidade em relação à perseguição contra o presidente Lula o coloca objetivamente do lado de lá da linha divisória que separa quem defende a democracia e quem compactua com o arbítrio no Brasil.

Ciro é um político experiente e atilado. Sabia perfeitamente o que estava fazendo quando deixou de prestar solidariedade pública a Lula em São Bernardo. “Ah, mas ele estava em Harvard com Anitta”. Pois é. Ele sabia perfeitamente o que estava fazendo.

Depois ele dá declarações chochas contra a seletividade da Lava Jato e as manobras do STF, mas faz questão de defender a prisão antes do trânsito em julgado e de declarar que não acredita que Lula seja um prisioneiro político. Fica claro que ele não quer fechar as portas para o eleitorado antipetista. Cálculo eleitoral esperto? Talvez. Mas tentar acessar este eleitorado sem enfrentar seus preconceitos é dar curso livre à criminalização da esquerda, que é o ponto de chegada do antipetismo.

Ciro não pôde ir a São Bernardo, mas foi a Porto Alegre. Esteve ontem no Fórum da Liberdade, que é o evento central do esforço de propaganda do ultraliberalismo (em sua versão neofeudal, “libertariana”) no Brasil. A edição deste ano, além de uma sessão especial contra o governo da Bolívia, conta com estrelas do quilate de Leandro Narloch, Rodrigo Constantino, Lya Luft (esqueçam a escritora sentimentaloide, ela é há décadas uma feroz defensora do latifúndio) e ninguém menos que Sérgio Moro. Ciro participou de uma mesa com os candidatos presidenciais da direita – João Amoedo (Novo), Henrique Meirelles (PMDB?), Flávio Rocha (MBL), Marina Silva e Geraldo Alckmin. Jair Bolsonaro, convidado, não foi. O que um candidato que quer ocupar o campo da esquerda foi fazer num evento desses, legitimando-o?

Acho muito improvável que Ciro se disponha a uma conversa séria com a esquerda. Para mim, sua estratégia é apostar nessa ambiguidade e com ela chegar no segundo turno contra alguém como Alckmin ou Bolsonaro, quando o apoio da esquerda virá de graça. Vai dar certo? Não sei. Os planos infalíveis de Ciro Gomes costumam ter o mesmo destino daqueles do Cebolinha.

Torço para que não dê certo porque, francamente, é cilada, Bino. (Com informações do DCM).

'Não vamos descansar um só momento até que Lula esteja solto', diz presidenciável Guilherme Boulos


Guilherme Boulos disse ser preciso colocar limites, pois os fascistas não farão isso por conta própria.  (Foto: Mídia Ninja).

Na véspera de ir a Curitiba e depois a Portugal, denunciar no exterior as ilegalidades da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) Guilherme Boulos voltou a defender a liberdade do petista e destacar as arbitrariedades de sua detenção.

Não podemos ter receio de dizer que Lula é um preso político”, afirmou, durante ato em homenagem a Nadir Kfouri e Marielle Franco, realizado nesta terça-feira (10), em São Paulo. Para ele, é evidente o objetivo político de excluir o ex-presidente do pleito eleitoral de outubro.

Nesta quinta-feira, o pré-candidato do Psol à presidência estará em Lisboa, ao lado do ex-governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, e da deputada Manuela D’Ávila (PCdoB), também pré-candidata à presidência. A Fundação José Saramago (FJS) e o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES) promovem, no Teatro Capitólio, um encontro para debater o futuro das lutas democráticas e em defesa da democracia brasileira.

Além dos convidados brasileiros, participarão do encontro Cristina Narbona (PSOE-Espanha), Pablo Iglesias (Podemos/Espanha), Catarina Martins (Bloco de Esquerda/Portugal) e Ana Catarina Mendes (PS/Portugal). A coordenação do debate ficará a cargo de Boaventura de Sousa Santos (CES) e Pilar Del Rio (FJS). O encontro será aberto ao público.

Sem limites

Quem serão os próximos? Se não botarmos limites, eles não se limitam por si próprios”, alertou Boulos. As divergências entre os partidos políticos do campo progressista, segundo ele, são uma “virtude e não problema”. Porém, afirmou que a gravidade do momento não pode impedir as forças de esquerda de estarem lado a lado para barrar a escalada fascista em curso no Brasil. “Temos que ter grandeza de apresentar um projeto de futuro, junto com o desafio de enfrentar os retrocessos.”

Enfático, Boulos disse que o momento não pode ser de acomodação. “Não vamos descansar um só momento sem honrar a consciência democrática de Nadir Kfouri. Não vamos descansar um só momento sem cobrar a justiça por Marielle. E não vamos descansar um só momento até que Lula esteja solto.”

O ato realizado no Tucarena, anfiteatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), teve como objetivo entregar o título de cidadã paulistana pós mortem para Nadir Kfouri, ex-reitora da universidade reconhecida por sua luta contra a ditadura. Planejado em 2017 pelo mandato da vereadora-suplente Isa Penna, e do vereador Toninho Vespoli, ambos do Psol, a homenagem a Nadir Kfouri transformou-se também num ato em memória da vereadora carioca Marielle Franco, assassinada no último dia 14 de março.

Boulos disse imaginar se a geração da ex-reitora da PUC, que lutou contra a ditadura civil-militar e pela redemocratização, um dia pensou se 30 anos depois ainda haveria assassinato e prisão política no Brasil. “É como se fosse um passado que não passou. O passado precisa de memória e justiça, porque sem isso, os fantasmas sempre voltam.” Para o líder do MTST, é justamente a falta de memória e de justiça no país a licença que permite a Jair Bolsonaro (PSL-RJ) frequentemente elogiar torturadores como Carlos Alberto Brilhante Ulstra.

Olhando para Marinete da Silva, mãe de Marielle Franco, Boulos disse que não permitirá “a segunda morte” da vereadora carioca, se referindo às detrações e notícias falsas que tentam manchar e diminuir sua imagem. “As ideias de Marielle são à prova de bala. Vamos ter que estar à altura dessa responsabilidade histórica.” (Com informações da RBA).

“O que guia minhas iniciativas é a obrigação com o Brasil”, disse o presidenciável Ciro Gomes


Ciro sobre Lula: "Deus sabe o quanto eu gostaria de não ter de testemunhar esse momento".
(Foto: Reprodução/ Wikimedia).


Com Lula preso em Curitiba, grupos “protofascistas” passaram a canalizar seu ódio em direção ao presidenciável Ciro Gomes, do PDT. Um dessas organizações ofereceu mil reais a quem dirigisse impropérios ao ex-ministro em um restaurante em São Paulo.

Um youtuber reacionário, responsável por um programa de gosto duvidoso chamado “Mamãe, falei!”, famoso por supostamente confrontar seus entrevistados, espalhou a falsa notícia de que teria sido agredido pelo pedetista, boato rapidamente desmentido pelas cenas do encontro. 

Considero isso tudo um sinal dos tempos”, minimiza o presidenciável.

Sobre as críticas a sua ausência nos atos contrários à prisão de Lula, Ciro Gomes pede “refúgio na história”.  Nos 16 anos em que Lula exerceu o poder, diretamente ou por meio de aliados, afirma, “eu o apoiei”. A detenção do ex-presidente, diz, lhe causa “angústia e aflição”.

Segundo o ex-ministro, engana-se quem espera dele um alinhamento automático e acrítico por afinidade ideológica ou simpatia. “Tenho obrigação com o País. Isso guia minhas iniciativas e meu comportamento”.

CartaCapital: Após a prisão do Lula, o senhor parece ter se tornado o novo alvo de movimentos como o MBL e quejandos...

Ciro Gomes: Isso não começou após a prisão do Lula. Está anunciado faz tempo que a tática desses grupos protofascistas é me provocar e tentar insuflar o pessoal contra mim. Vou ser obrigado a tornar mais cuidado daqui para frente. Eu viajava displicentemente, sem segurança, e gostaria de continuar assim, mas percebo que, de agora em diante, até por conta da minha crescente responsabilidade para com o País, terei de me proteger. Continuarei a viajar de avião de carreira, mas tomarei maiores cuidados. Considero isso tudo um sinal dos tempos.

CC: O senhor também foi cobrado, desta vez pelo chamado campo progressista, por supostamente não sair em defesa do ex-presidente de Lula de forma mais contundente. Como responde a essas críticas?

CG:  Tem de ter muita paciência para entender o que o PT e o ex-presidente Lula passam neste momento. Isso tudo me causa muita angústia e aflição. Deus sabe o quanto eu gostaria de não ter de testemunhar esse momento, mas sou candidato à presidência da República, caso, no tempo certo, o PDT aceitar essa candidatura, e tenho obrigação com o País. Isso guia minhas iniciativas e meu comportamento. Sobre a minha relação com o Lula, peço refúgio na história. Por 16 anos, Lula, diretamente ou por meio de aliados, exerceu o poder. E neste período, sem faltar nenhum dia, eu o apoiei.

CC: O senhor teme que as eleições não aconteçam?

CG: Não. Acho que elas vão acontecer. Não há força organizada no Brasil para estabelecer uma ruptura da Constituição a ponto de suspender o calendário eleitoral. Por mais que haja impertinências e manifestações de comandantes militares, não vejo senão um profundo profissionalismo nas Forças Armadas. Elas sabem que não é seu papel romper com a Constituição.

CC: O que o senhor espera do Supremo Tribunal Federal em relação às prisões em segunda instância?

CG: O Brasil trava um debate mal sistematizado, mal esclarecido, a respeito da escola do direito em vigor na nossa tradição. No nosso caso, que herdamos a tradição lusitana, vale o que está escrito. E o que está escrito é de uma clareza meridiana: é presumida a inocência de qualquer paciente cujo transito em julgado de sentença condenatória não tenha se consumado. E ainda está escrito que sentença transitado em julgado é aquela contra a qual não se pode mais levantar nenhum recurso. Portanto, se for a escola tradicional, é flagrante que a prisão em segunda instância é um violação.

No direito moderno, consuetudinário, principalmente amparado pelo pensamento anglo-saxão e que parece influenciar uma ala dos ministros do STF, diz que em nenhum país moderno existem quatro graus de jurisdição a um julgamento por crime comum. Todos exaurem a condenação em segunda instância. Só chegam à terceira temas de indagação constitucional ou principiológica, o que não é o caso em questão.

CC: Qual discurso será capaz de alcançar os eleitores em um país tão conflagrado como o nosso?

CG: Escolhi o caminho do equilíbrio e desconsidero toda e qualquer conveniência oportunista, mesmo aquelas que tão somente me beneficiem. Em momentos de insegurança jurídica e política, é preciso apostar na inteligência do povo. A franqueza e a sinceridade são fundamentais. Dizer sem medo se A é A ou B é B, mesmo se isso desagradar os amigos ou favorecer os inimigos. (Com informações de CartaCapital).


Por que a comentarista da Globo chama de burro quem não acredita nela


Manifestantes de mãos dadas esperam pela saída de Lula do sindicato na tarde desta sábado (7).
Mundo fora do alcance da Globo. (Foto: Reprodução/ RBA).


Nos últimos dias a imprensa brasileira tem mostrado sem freios nem sutileza todo seu ímpeto despótico. São atitudes que vão desde surrupiar a transmissão de uma emissora, como feito contra a TVT, e ter ainda a desfaçatez de pedir para "tirar a tarja", até um aumento descomunal no nível de agressividade contra uma figura política e, principalmente, contra seus apoiadores.

Não basta usar apenas o adjetivo e classificar como mau jornalismo. É preciso encontrar os substantivos certos. Um deles é agressão. Em um canal pretensamente noticioso, que passa horas e horas de transmissão sem entrevistar uma única fonte, um especialista ou pesquisador acadêmico, profissionais apelam a fontes anônimas para dizer que o fato de o ex-presidente Lula ter sido impedido por manifestantes de sair do sindicato tratava-se de "manobra" para que não se apresentasse à Polícia Federal no sábado. Obviamente o fato foi desmentido pelo próprio desenrolar dos acontecimentos. Não houve um "erramos" no ar, embora a acusação estivesse consumada.

TVT bate maiores canais e estuda ação por uso não autorizado de imagens 

A TVT (Televisão dos Trabalhadores), que transmite pelo canal digital 44.1 e por seu canal no YouTube, bateu recordes de audiência nos últimos quatro dias na resistência à prisão política de Lula. A TVT acionou seu departamento jurídico para avaliar processar os canais comerciais que utilizaram seu sinal sem autorização, como Globo, GloboNews, Band e Record. "Faltou ética e respeito por parte desses veículos", diz Paulo Salvador, um dos coordenadores da TVT. "Claro que temos direitos autorais. Mas estamos felizes por batermos todos os canais da velha televisão. E provamos que em tempos de internet podemos e vamos nos estabelecer como uma emissora popular"

Se a mídia tradicional estivesse realmente preocupada em apurar, talvez soubesse que, em meio à manifestação em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, muitos já falavam, antes do discurso de Lula, em não deixar o ex-presidente sair dali. Sentimento, aliás, que pouco mudou depois do discurso do ex-presidente. Eram pessoas, majoritariamente jovens, não ligadas a qualquer grupo organizado, mas também integrantes de movimentos populares e legendas partidárias que não apenas o PT, como insistiam em dizer os jornalistas convertidos em narradores.

O que em outros tempos seria uma propaganda eleitoral involuntária – afinal, dizer que todos ali eram petistas poderia demonstrar um grande poder aglutinador do partido – era na prática uma forma de simplificar e identificar o "inimigo": todos aqueles que eram contrários à prisão eram petistas obedientes ao comando de participar de uma farsa. Essa simplificação é nada mais que uma tática fascista, adotada com gosto pela mídia comercial.

A defesa enfática de dois presidentes do PT, Gleisi Hoffmann (nacional), e Luiz Marinho (em São Paulo), de que os manifestantes respeitassem a decisão de Lula, foi igualmente desprezada. Até mesmo a "loucura" (termo usado por um dirigente sindical) de Marinho, de submeter a uma "assembleia" a liberação ou não dos portões, foi ignorada.

Mas não interessava a apuração. Interessava, e sempre interessou, a tal da narrativa. E esta era a de sempre, a da criminalização. Assim, Lula era a figura que elaborava uma "estratégia" para não cumprir o mandado de prisão (diferente da decisão judicial que "recomendava" sua apresentação até 17h de sexta, dia 6).

Uma comentarista política – seja lá o que isso for – dizia: "só sendo muito ingênuo para achar que o povo está impedindo a saída de Lula do sindicato".

Só mesmo em meio a uma cultura de ódio, fomentada à exaustão por parte da imprensa, seria possível alguém chamar parte de seus telespectadores, sem rodeios, de "burros". E assim são tratados todos aqueles que pensam diferente dos desígnios dos grandes grupos. Quase todos os dias, mas de forma ainda menos sutil nas últimas horas.

Em uma coluna de jornal, outra pessoa escreve que falar de Lula como um preso político é repetir uma "estultice" e que o ex-presidente "engana" cada vez menos gente. Percebe-se, mais uma vez, o vício de tais profissionais chamarem os que pensam de forma distinta de seus empregadores de burros. Mas ela vai além e diz que Lula se comportou como "chefe de bando".

Como é que uma pessoa que apoia Lula, foi ao sindicato acompanhá-lo ou mesmo viu tudo à distância, deve se sentir quando alguém lhe diz que faz parte de um "bando"?

Ilustrar esse comportamento midiático seria tornar esse texto interminável, mas é preciso registrar ainda o incentivo explícito à violência. Atribuir a apoiadores de Lula a pecha de "vagabundos", lugar comum dos agressores de microfone ou de redes sociais, e pedir intervenção policial ou clamar por repressão desmedida é mais um sintoma do ódio de classes travestido de jornalismo.

E é outro tipo de conduta adotada todos os dias nas centenas de programas policiais em todo o país, priorizando a humilhação de pobres e pretos, e tendo como alvo com esse mesmo tratamento, às vezes, inimigos políticos.

Se o cachimbo entorta a boca, talvez tais profissionais nem sequer percebam o quanto seu trabalho cotidiano cumpre um papel anticivilizatório. A violência verbal naturalizada, decorrente da estrutura social brasileira amalgamada pelo ódio classista, adquire agora conotações políticas (e até partidárias) mais evidentes, dialogando de perto com práticas fascistas que buscam a eliminação dos contrários.

E é igualmente triste que as autoridades públicas, essas que buscam se mostrar tão ciosas aos olhos da opinião pública, fechem os olhos diante de flagrantes desrespeitos à legislação praticados em rádios e televisões em vez de destinar o mesmo tratamento rigoroso destinado a agentes públicos – afinal, seus donos e acionistas não passam de empresários detentores de concessões públicas. Essas violações, aliás, são denunciadas publicamente há décadas.

Não existe meia volta: quem estiver interessado de fato em restaurar ou construir um Estado democrático no Brasil precisa voltar seus olhos para os meios de comunicação. Eles são detentores de um oligopólio sem paralelo em qualquer país razoavelmente desenvolvido – e talvez aqui esteja a verdadeira "jabuticaba" brasileira de que tanto se fala.

Eles detonam, no dia a dia, qualquer noção de civilidade, estimulam o ódio e fazem da Constituição e das leis brasileiras letras mortas, submetidas ao seu próprio arbítrio e vontade. Não há democracia possível diante de um poder desses. (Com informações da RBA).

Lula já é maior que Getúlio. Diferente de Getúlio, Lula entrou pra história sem precisar sair da vida



Lula em discurso para cerca de 60 mil metalúrgicos do ABC em 13 de maio de 1979.
(Foto: Reprodução/Brasil Escola).
"Que Lula há muito tempo deixou de ser homem e se tornou uma instituição é consenso à direita e à esquerda. O que está em jogo, em disputa, é o significado da instituição, o que ela representa.

Lula é o maior corrupto da história do Brasil ou a principal liderança popular que esse país já teve?

A disputa está ai. No atual estado da situação não sobrou muito espaço para meio termo. Ou é uma coisa ou é a outra. Cada um que escolha seu lado.

Na condição de instituição, todo gesto de Lula tem dimensão simbólica, é lido e interpretado por todos, por detratores e admiradores. Lula pega o microfone e o país paralisa em frente à TV. Os admiradores choram. Os jornalistas a serviço da mídia hegemônica silenciam. Ninguém fica indiferente a uma instituição desse tamanho.

Lula sabe perfeitamente que está sendo observado, conhece muito bem o tamanho que tem e explora com extrema habilidade sua capacidade de fabricar símbolos.

Aqui neste ensaio, trato de uma parte muito pequena da biografia de Lula, mas que talvez seja, na perspectiva simbólica, a mais importante. Talvez seja até mais importante que os oito anos de seu governo.

Falo das 34 horas em que Lula esteve no sindicato dos metalúrgicos, sob os olhares do mundo, construindo a narrativa de seu próprio martírio.

Não falo em “resistência”, pois desde a condenação no Tribunal da Quarta Região, em 24 de janeiro, que o destino de Lula já estava selado. Os advogados cumpriram sua função, recorrendo a todos as instâncias e tentando um habeas corpus, mas todos já sabiam que Lula seria preso.

Por isso, seria ingênuo dizer que o que aconteceu em São Bernardo do Campo foi um ato de resistência. Lula é um político experiente demais para resistir em causa perdida.

Alguns companheiros e companheiras, no auge da emoção, tentaram usar a força. Lula fugiu da custódia dos trabalhadores e se entregou à Polícia Federal, pois sabe que contra o braço armado do Estado ninguém pode. Lula sabe que aqueles que ali estavam eram trabalhadores e trabalhadoras, pais e mães de família. Não eram soldados. Não eram guerrilheiros. A resistência não era possível.

Lula sabe que seria impossível sustentar aquela mobilização durante muito tempo e por isso não resistiu. Mas daí a se entregar resignado como boi manso para o abate a distância é grande, muito grande.

Penso mesmo que Lula fez mais que resistir, já que a resistência seria quixotesca, irresponsável. Lula pautou a própria prisão, saiu da posição de simples condenado pela justiça para se tornar o dono da narrativa. Lula foi sujeito do próprio encarceramento, deu um nó nas forças do golpe neoliberal.

Muitos achavam que Lula deveria ter fugido para uma embaixada amiga e de lá partido para o exílio no exterior. Confesso que também pensei assim. Mas Lula é muito mais inteligente que todos nós juntos.

Lula sabe que já viveu muito, sabe que não lhe sobra muito tempo de vida. O que resta agora é a consolidação da biografia, o retorno às origens, seu renascimento como ícone da esquerda brasileira, imagem que ficou um tanto maculada pelos oito anos em que governou o Brasil.

É que no capitalismo não existem governos de esquerda. Governo de esquerda só com revolução e Lula nunca foi revolucionário, nunca prometeu uma revolução.

Todo governo legitimado pelas instituições burguesas será sempre burguês. No máximo, no melhor dos cenários, será um governo de centro sensível às demandas populares. O lulismo foi exatamente isso: uma prática de governo de centro sensível às necessidades dos mais pobres. O lulismo transformou o Brasil pra melhor, com todos os seus limites, com todas as suas contradições.

Mas para encerrar a vida em grande estilo carece de algo mais. Era necessária a canonização política. E só a esquerda canoniza líderes políticos. A direita é dura, cinza, sem poesia.

O golpe neoliberal conseguiu reconciliar Lula com as esquerdas, o que há poucos anos parecia algo impossível de acontecer.

É que pra ser canonizado pelas esquerdas nada melhor que ser perseguido pelo poder judiciário, habitat histórico das elites da terra. Basta lançar no google os sobrenomes da maioria dos nossos juízes, procuradores e desembargadores e veremos os berços de jacarandá que embalaram os primeiros sonhos dos nossos magistrados.

É claro que Lula não planejou a perseguição. É óbvio que ele não queria ser perseguido. Se pudesse escolher, estaria tendo um final de vida mais tranquilo, talvez afastado da política doméstica e atuando nas Nações Unidas. Mas já que a vida deu o limão, por que não espremer, misturar com açúcar, cachaça, mexer bem e mandar pra dentro?

Lula fez exatamente isso: uma caipirinha com os limões azedos que seus adversários togados lhe deram.

Primeiro, ele fez questão de esgotar todos os mecanismos legais. A sentença de Moro, os votos dos desembargadores, os votos dos Ministros da Suprema Corte não são palavras ao vento. São “peças”, para falar em bom juridiquês, que ficarão arquivadas e disponíveis para a consulta, para análise.

Imaginem só, leitor e leitora, os historiadores que no futuro, afastados da histeria e das disputas que hoje turvam nossos sentidos, examinarão a sentença de Sérgio Moro, verão que o juiz não foi capaz de determinar em quais “atos de ofício” Lula teria beneficiado a OS para fazer por merecer o tal Triplex do Guarujá.

É como se Moro estivesse falando: "não sei como fez, mas que fez, ah fez".

E o voto dos desembargadores do TRF 4, atravessados de juízos de valor, quase sem relar no mérito da sentença?

E o voto de Rosa Weber? Por Deus, o que foi aquele voto de Rosa Weber?

“Sei que estou votando errado, mas vou continuar votando errado só porque a maioria votou errado. Uma maioria que só vai votar porque eu vou votar errado também.”

Lula, ao se negar a fugir, obrigou cada um desses togados a deixar impressos na história os rastros da própria infâmia.

Uma vez decretada a prisão, o que fez Lula?

Deu um tiro no peito? Se entregou em São Paulo? Foi pra Curitiba? Fugiu?

Não!

Lula se aquartelou no sindicado mais simbólico da redemocratização brasileira, o sindicado que representa as expectativas que nos 1980 apontavam para um Brasil mais justo, mais solidário.

No apogeu da crise que significa o colapso do regime político fundado na redemocratização, Lula decidiu encenar o seu martírio onde tudo começou.

Naquele que talvez seja o último grande ato de sua vida pública, Lula voltou às origens.

Protegido pela massa de trabalhadores, Lula não cumpriu o cronograma estipulado por Sérgio Moro. Cercado por uma multidão, o Presidente operário transformou o sindicato dos metalúrgicos numa embaixada trabalhista.

A Polícia Federal, o braço armado do governo golpista, disse que não usaria a força. A Polícia Federal sabia que o povo resistiria, que sem negociação não tiraria Lula do sindicado sem deixar uma trilha de sangue.

Lula negociou e, nos limites dados por sua posição de condenado pela justiça, venceu e humilhou a instituições ocupadas pelo golpe neoliberal.

Lula não estava foragido. O mundo inteiro sabia onde ele estava e mesmo assim o Estado brasileiro não foi capaz de prendê-lo no prazo determinado pela justiça golpista. Durante um pouco mais de 30 horas, Lula foi um exilado dentro do Brasil, como se São Bernardo do Campo fosse um República independente, a "República Popular dos Trabalhadores".

Lula fez de uma missa em homenagem a Dona Marisa Letícia um ato político e aqui temos mais um lance simbólico do Presidente operário: restabeleceu as pontes entre a esquerda brasileira e a Igreja Católica, aliança que tão importante nos anos 1970, quando sob as bênçãos da Teologia da Libertação foi fundado o Partido dos Trabalhadores.

No palanque, junto com o Padre, estavam Lula e as futuras lideranças da esquerda brasileira. Lula dividiu seu epólio em vida, tomou pra si esse ato mórbido ao abençoar Boulos, Manuela e Fernando Haddad.

Lula unificou em vida a esquerda brasileira. Não só unificou, mas pautou, apresentou o programa, cantou o caminho das pedras.

Lula deixou claro que o povo mais pobre precisa comer melhor, precisa consumir, viajar de avião, estudar na universidade. Lula, o operário que durante a vida inteira foi humilhado por não ter diploma de ensino superior, foi o professor de milhões de brasileiros que sonham com um país melhor.

É como se Lula estivesse dizendo: “num país como o Brasil, a obrigação mais urgente da esquerda é transformar o Estado burguês em agente provedor de direitos sociais”.

Lula discursou durante uma hora em rede nacional, se defendeu das acusações. Não foi uma defesa para a justiça, mas sim para o tribunal moral da nação. Não foi um discurso para o presente. Foi um discurso para a história.

Não, meus amigos, acuado pelas forças do atraso, Lula não deu um tiro no próprio peito.

Lula mandou trazer cerveja e carne e fez um churrasco com seus companheiros e companheiras. Foi carregado pelos seus iguais, foi tocado, beijado. Saliva, suor, pele.

Lula não deu um tiro no próprio peito.

Getúlio é gigante, sem dúvida, mas também era herdeiro das oligarquias. Lula é o único trabalhador que, vindo da base da sociedade, conseguiu governar e transformar o Brasil. Lula já é maior que Getúlio.

Diferente de Getúlio, Lula entrou pra história sem precisar sair da vida”. (Por Rodrigo Perez Oliveira, em sua conta no Facebook).

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1 - Rodrigo Perez Oliveira é bacharel e licenciado em história pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, mestre e doutor em história social por essa mesma instituição e professor adjunto de Teoria da História e Historiografia Brasileira da Universidade Federal da Bahia. (Informações colhidas junto ao Lattes e ao Escavador).

2 - Título dado por este professor e blogueiro baseado nas informações do texto.

Ao agir como “xerife de faroeste”, Moro faz de Lula um mártir


Ato contra a prisão de Lula no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. (Foto: Leonardo Sakamoto).


O juiz federal Sérgio Moro surpreendeu não apenas a defesa do ex-presidente Lula, ao expedir a ordem de prisão menos de um dia após o Supremo Tribunal Federal negar-lhe um habeas corpus, mas a própria Polícia Federal. E, com isso, não teve sua demanda realizada exatamente como desejava.

Temendo que o ex-presidente Lula conseguisse uma decisão liminar favorável no processo que discute o fim da execução provisória de pena após condenação em segunda instância, a ser analisada pelo Supremo Tribunal Federal na semana que vem, o juiz expediu a ordem de prisão de Lula, nesta quinta (5).

Ou seja, menos de um dia após o Supremo Tribunal Federal ter negado o habeas corpus a Lula, em uma sessão tensa, decidida por 6 a 5. E menos de 20 minutos após o Tribunal Regional Federal da 4a Região publicar que não cabiam mais recursos à decisão contra o ex-presidente.

Moro, no melhor estilo de filme de Faroeste, demandou que Lula se apresentasse espontaneamente no condado do xerife até o cair do sol do dia seguinte. Ou seja, na sede da PF, em Curitiba, até às 17h de hoje.

O juiz federal poderia ter expedido o mandado sem detalhamento de como, onde ou quando seria feita a apresentação de Lula e deixar a Polícia Federal resolver o resto – que consideraria todas as variáveis de um caso complicado e combinaria om a defesa do ex-presidente. Moro sabia que não havia risco de fuga. Preferiu garantir que Lula fosse preso antes da análise da liminar sobre a Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADCs), que pode garantir sua soltura. Mas criou um problema para a PF.

Lula havia indicado, várias vezes, que iria para o meio de seus simpatizantes, sua militância e seus correligionários ao ter a prisão decretada. Qualquer operação que viesse tentar retirar o ex-presidente do prédio do Sindicato do Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, onde se instalou logo após a decisão de Moro, rodeado por milhares de pessoas, poderia ter consequências desastrosas. Lula disse que se entregaria, mas queria ser preso pela PF no sindicato.

A Polícia Federal se esforçou para convencer que tudo estava pronto para receber o hóspede ilustre em sua sede em Curitiba. Mas não havia um plano de contingência do que fazer no caso óbvio de que Lula não aceitasse o ''convite'' de Moro para ir espontaneamente à capital do Paraná a fim de dar início ao cumprimento de sua pena.

E, ao longo do dia, apareceram comentaristas na imprensa afirmando que uma ''falta de colaboração'' de Lula poderia significar problemas futuros às suas reivindicações a cortes superiores. Ou mesmo um pedido de prisão preventiva por qualquer uma das outras acusações a ele imputadas pelo fato dele não ter se apresentado.

Ao mesmo tempo, abundaram notícias mostrando que Lula teria acesso a um quarto com banheiro privativo, como deferência por ser um ex-presidente preso. E que poderia perder a ''regalia'' caso se negasse a comparecer, nesta sexta, às 17h, na PF.

Depois de consultar seus advogados (que eram a favor dele se entregar hoje) e lideranças partidárias, sindicais e de movimentos sociais (que estavam divididas a respeito disso), Lula resolveu ficar. E coube a essas lideranças informarem nos alto-falantes dos carros de som e nas entrevistas aos colegas jornalistas que ele não estaria descumprindo ordem judicial, uma vez que apenas recusou a demanda por apresentação de maneira voluntária.

Em outras palavras, disse a Moro: venha me pegar.

Lula queria que o registro de imagem que ficasse para a posteridade fosse a de um líder de massas, protegido pelo povo, retirado à força de dentro do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (local considerado um dos símbolos da luta pela redemocratização do país), pelas mãos da polícia. E não as imagens de um Lula cabisbaixo, entrando e saindo de aviões e carros da Polícia Federal, minuciosamente gravadas por câmeras que receberiam, com antecedência, o roteiro por onde passaria. Portanto, queria ter controle da narrativa de sua prisão, mesmo que isso seja negativo do ponto de vista jurídico.

Por curiosidade mórbida: ''homens e mulheres de bem'' pipocaram pedidos para que o Batalhão de Choque entrasse, matasse Lula e quantos manifestantes pudesse. Há também quem pediu a presença de atiradores de elite do Exército a fim de acabar com tudo em um único tiro.)

A Polícia Federal ficou no meio do impasse. E, muito conscientemente, afirmou que não iria entrar na sede para buscar Lula. Ou seja, não será o que Lula quer, mas tampouco o que Moro desejava, como explicaram líderes do PT no sindicato. A instituição e os advogados do ex-presidente negociaram como será a apresentação – que pode vir após uma missa em homenagem à Marisa Letícia, esposa de Lula, que faria aniversário neste sábado, no próprio sindicato. Ou na segunda (9).

De um lado, o PT quer passar a imagem que a Lava Jato foi desafiada. De outro, os advogados de Lula tentam obter qualquer coisa no Superior Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal Federal que beneficie seu cliente.

Lula foi condenado a cumprir uma pena de mais de 12 anos por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Sua defesa segue afirmando que ele é inocente e que o juiz não conseguiu apontar qual o ato de ofício, ou seja, qual ação corrupta teria praticado envolvendo a Petrobras e a OAS que teria levado a ele ''ganhar'' o apartamento triplex do Guarujá.

Considerando que Lula poderia ter garantido sua liberdade provisória se o plenário do Supremo tivesse analisado o caso de repercussão geral e não o seu pedido de habeas corpus (o que teria acontecido não fosse a estratégia adotada pela presidente do tribunal, Cármen Lúcia), teria sido mais sábio ao juiz Sérgio Moro evitar decisões apressadas.

Elas podem alimentar a desconfiança de que a Lava Jato, no que pese os ganhos trazidos por ela no combate à corrupção do país, é um seletivo jogo de cartas marcadas e segue uma agenda – que não é necessariamente a da Justiça e do bem público. (Por Leonardo Sakamoto, em seu Blog).

Lula, prisão, asilo político e desobediência civil


Lula discursa para 60 mil operários em São Bernardo na época em que era presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC Paulista. (Foto: Divulgação).

Já ouviu falar em Desobediência Civil? Em Asilo Político?

Se ainda não, saiba que são instrumentos perfeitamente plausíveis e legalmente aceitos contra atos imorais e injustos.

Os que o acusam não conseguiram até o momento provar sua responsabilidade. A condenação de Lula não é para acabar com a corrupção. Não há nenhuma intenção em eliminar essa prática imoral, antiética e ilegal que corrói nosso sistema político partidário. Se assim fosse, Aécio Neves já estaria preso; Temer fora do poder que ele junto com outros/as usurpou; Romero Jucá perderia suas funções e consequentemente preso e tantos e tantos outros/as que ajudaram a construir o golpe jurídico-parlamentar-midiático que arrancaram a presidente Dilma do cargo.

A condenação e, por conseguinte a prisão do Lula é uma condenação e uma prisão política.

E um ato condenatório que levou a uma prisão sem provas de responsabilidade, e baseado apenas em convicção não merece ser cumprido, mas desobedecido. É legal, é constitucional. Resta saber se é mediante asilo político em qualquer outro país que respeite as leis maiores e o regime democrático de direito, ou simplesmente com uma desobediência civil. Ou talvez as duas alternativas.