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Arqueólogos encontram urna funerária indígena



Mais um conjunto funerário indígena foi encontrado no Bairro da Chácara dos Euclides, em Conceição dos Ouros, no sul de Minas. Um conjunto, que parece ainda intacto é considerado uma espécie de “tesouro” para arqueólogos que estudam o modo de vida destes nossos ancestrais. Pelos estudos já feitos até agora, aquela região abrigou índios desde pelo menos 700 anos atrás, o que para a vasta dimensão histórica é algo até que recente. Assim como mostraram outros artefatos e urnas funerárias já encontradas na região, esse novo conjunto funerário parece estar enterrado a pouco mais de um metro do chão e foi localizado quando funcionários da prefeitura faziam uma escavação para a ligação de uma rede de esgotos.

A localização desse conjunto funerário, no entanto, não indica que o local seria usado como uma espécie de cemitério dos índios. De acordo com o arqueólogo Paulo Araújo de Almeida, que vem pesquisando os vestígios dos índios que habitavam naquela região, “cemitério” é uma coisa da civilização ocidental. “Os índios tinham a maneira deles de lidar com a morte, rituais muito diferentes dos nossos e também outros costumes. Estudos arqueológicos e relatos históricos evidenciam que eles sepultavam seus mortos, primeiro em algum lugar que poderia ser embaixo de uma árvore ou até mesmo dentro das suas próprias habitações. Só depois de algum tempo retiravam os ossos para fazer um sepultamento ritual chamado pelos arqueólogos de secundário”. O tamanho, formato e material ósseo encontrado nas urnas que já foram resgatadas na cidade, evidencia que o achado se trata de um novo sepultamento no mesmo padrão.

No momento a cidade aguarda a visita de arqueólogos da Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha, já designados pelo IPHAN para o resgate desse novo achado pré-histórico de grande valor para a pesquisa. A responsável pelo Departamento de Cultura da cidade de Conceição dos Ouros, Elaine Carvalho, garante que o local onde a urna foi encontrada está isolado e preservado à espera dos arqueólogos. Após pesquisa na universidade, os componentes desse novo conjunto funerário passarão a integrar o acervo já existente no museu local, que inclusive possui materiais líticos (de pedra), como machadinhas e virotes encontrados por moradores e doados ao museu.

IMPORTÂNCIA

A cidade já possui o Museu Arqueológico, Histórico, Cultural e Ambiental, MAHCA. “O plano da atual gestão municipal é ampliar e melhor organizar o Museu, para proteger seu rico acervo e prestar informações adequadas ao público visitante”, diz Paulo. Ele ressalta a importância do Museu, não só para o município, mas para todo o Estado e o país. “A história insiste em nos identificar como descendentes de europeus, mas na verdade temos um legado indígena muito grande que está presente nas nossas tradições, como na língua, na culinária e nos costumes”. É importante que a população da cidade, se perceba e se reconheça como descendente dos índios. Esta é uma forma de se respeitar o valor deste legado e um caminho para construirmos a nossa própria identidade”, diz…

A cidade de Conceição dos Ouros ostentou durante todo o século passado a fama de “capital nacional do polvilho”, cuja matéria-prima é a mandioca, a partir da qual se faz o famoso pão de queijo, sendo que até hoje grandes áreas no município são cultivadas com mandioca. Para o arqueólogo, o uso da mandioca é um traço nítido da herança cultural indígena que antecedeu a ocupação pelo homem branco. Os materiais arqueológicos encontrados, segundo Araújo, revelam uma identidade ao que se denominou “Tradição Tupi-guarani”, mas não há como saber exatamente qual grupo indígena ocupou a região, pela falta de documentos escritos.

No período em que nasceu a cidade de Conceição dos Ouros (século XIX), a política do Império era: “interiorizar a civilização e civilizar as populações indígenas”, o que era justamente uma forma de acabar com a presença marcante dos costumes indígenas. “Eles queriam se livrar de vez com a resistência dos que teimavam em não seguir os novos padrões de trabalho impostos pelas fazendas cafeeiras que precisavam ser produtivas”. Os índios se opunham ao trabalho escravo exaustivo como queriam os senhores das fazendas.

A CIDADE

A localização privilegiada entre dois rios, com fartura de peixes e boa terra para plantio, teria sido o atrativo para que os índios se estabelecessem na área. Mais tarde o local receberia várias denominações, em razão do ouro de aluvião encontrado por ali, como: Barra de Ouros, Nossa Senhora da Conceição das Cachoeiras, Nossa Senhora da Conceição dos Ouros e Conceição dos Ouros, como hoje é conhecido o município. Próximo ao Ribeirão de Ouros e ao Rio Sapucaí-mirim, seria fundado o povoado em 1854. Hoje, a simpática cidadezinha de dez mil habitantes, a 450 quilômetros de Belo Horizonte, mantém os ares calmos em meio à paisagem bucólica e o orgulho de ter sítios arqueológicos em seu mapa geográfico.