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(FOTO | Times of Gaza). |
Por
Fábio José Queiroz, no Esquerda online
Em artigo anterior, tratamos um pouco da história e dos acontecimentos mais recentes no Oriente Médio, envolvendo o Estado sionista de Israel e o povo palestino. Neste texto, especificamente, adentro outro ponto: o programa que nutre a histórica questão palestina e sua importância nesse contexto. Não se trata de esgotar o tema, mas simplesmente de trazê-lo à baila.
Autópsia do conflito e programa
histórico
Já
não há dúvida: Israel atua no Oriente Médio como um Estado teocrático-militar,
um Estado de ocupação, que coloniza os territórios palestinos a um preço
altíssimo de vidas humanas e de destruição econômica.
Israel
atua no Oriente Médio como um Estado teocrático-militar, um Estado de ocupação,
que coloniza os territórios palestinos a um preço altíssimo de vidas humanas e
de destruição econômica.
Se
havia algum grau de dúvida, os atuais acontecimentos testemunham uma triste
realidade em que Israel não só atua como um Estado a serviço dos interesses
imperialistas, ou seja, como um enclave ocidental na região do Levante, mas
também um Estado-Gendarme, isto é, um Estado policial com métodos permanentes
de guerra declarada contra a população civil.
A
faixa de Gaza se aproxima de 10 mil mortos, majoritariamente crianças, idosos e
mulheres (75%). Para reposicionar tudo no quadro geral da história, no caso da
denúncia da política genocida do Estado sionista, não se trata mais de uma
evidência retórica, mas de uma prova de vida e de morte.
Mas
a maré está mudando aos poucos. Israel é hoje minoria em todos os fóruns e
espaços internacionais (da ONU aos campos de futebol), e, principalmente, é
minoria nas ruas, onde multidões se multiplicam em torno de bandeiras como
“Parem o genocídio em Gaza”, “Chega de bombardeios!” e “Palestina Livre!”. Os
protestos contra o genocídio do povo palestino incorporam inclusive milhares de
judeus pelo mundo, deixando nítido que o Estado de Israel é uma máquina do
sionismo e não o reduto sagrado de todo povo judeu.
Por
sua vez, as consignas que movem trabalhadores e jovens, mulheres e
intelectuais, ocidentais e orientais, enfim, a maioria da humanidade, traz para
o centro do tablado o debate mais programático que, de plano, divide águas não
só entre os grupos políticos palestinos, mas inclusive a esquerda mundial.
Os
entusiastas da solução dos “dois Estados”, que se fortaleceram na esteira dos
acordos de Oslo, hoje, passados 30 anos – nos quais os palestinos sofreram as
piores atrocidades por parte do aparelho estatal sionista -, encontram enormes
dificuldades para fazer valer seus argumentos pacificadores.
Oslo
tinha aberto o caminho do discurso dos “dois Estados”. O Estado
teocrático-militar de Israel fechou o caminho. E agora?
Se dermos
crédito aos céticos, não há nada a fazer, senão deixar as coisas seguirem seu
“curso natural”. Mas não há curso natural na história. É a luta de classes, não
apenas em escala local, mas internacionalmente, que pode oferecer esse ou
aquele tipo de solução. O domínio de Israel não perecerá naturalmente. Ele
precisará ser vencido.
Acontece
que um programa para encontrar um sentido e uma materialidade, ele precisa
arrancar da realidade. Consequentemente, deve partir de consignas simples e
concretas e, nesse momento, a primeira das palavras de ordem é a que exige o
fim dos bombardeios a Gaza e, portanto, um imediato cessar-fogo. Arrancando
daí, será preciso reivindicar o fim da limpeza étnica, exigindo um basta à
ocupação e que, portanto, Israel se retire dos territórios palestinos.
Na
medida em que as mobilizações avançam, a bandeira da suspensão de todos os
acordos comerciais com Israel e a ruptura das relações diplomáticas com o
Estado sionista podem adquirir peso de massa e pressionar vários governos, inclusive
fora do Oriente Médio. Aliás, a Turquia, a Colômbia e a Bolívia avançam em uma
ou outra dessas direções. Evidentemente, Israel seguirá sendo alimentado pelas
mãos do imperialismo ocidental. Mas à proporção que crescem as mobilizações na
Inglaterra, na França, na Alemanha e nos Estados Unidos, os seus governos terão
mais dificuldades em fazer o que sempre fizeram: defender o indefensável. Basta
que lembremos da “Guerra do Vietnam”. Os norte-americanos começaram a perder a
guerra em casa.
Nessa
perspectiva, a exigência de reencontrar o programa perdido da luta palestina
segue como uma tarefa. Para setores da esquerda o programa que tem como alvo
estratégico a defesa de um Estado laico, democrático e não-racista está morto e
sepultado. É uma abstração, uma idealização, já que a força desproporcional de
Israel é um obstáculo absoluto a esse propósito.
De
acordo com seu costume, os defensores da realpolitik tomam o inimigo poderoso
como uma força invencível e a correlação de forças como um jogo de forças
estáticas. Quanto à história, nem se lembram do que sofreu Mandela e o CNA
antes de derrubar o castelo fortificado do apartheid sul-africano, defendido
por ingleses (Thatcher e a rainha) e norte-americanos (Reagan à frente). Via de
regra, os regimes de apartheid sobrevivem apoiados em forças poderosas, mas não
são eternos. O israelense não é um exemplo sui generis.
É
exatamente nesse ponto que a propaganda em torno da proposta estratégica e
programática de uma Palestina Laica, democrática e antirracista assume uma
virtual necessidade. Salvo isso, é supor que um regime colonial, amparado no
imperialismo ocidental, adquiriu ares de eternidade. Nem o imperialismo é eterno.
O que dizer de seu enclave?
Uma última questão
O
Estado sionista, como um enclave imperialista colonizador e racista, precisa
ser vencido, sob pena da humanidade seguir assistindo o triunfo inapelável da
barbárie
A noção programática de um Estado palestino laico, democrático e não racista não implica ignorar um lugar especial aos judeus, seja dentro ou fora dele. Não confundimos o judeu como povo com o Estado sionista. O primeiro deve ser sujeito de pleno direito. Já o segundo, o Estado sionista, como um enclave imperialista colonizador e racista, precisa ser vencido, sob pena da humanidade seguir assistindo o triunfo inapelável da barbárie. Essa é a essência de um programa marxista, que, antes de tudo, parte de necessidades objetivas.
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