Racismo gastronômico como política de estado

 

Alexandre Lucas. (FOTO | Acervo pessoal).

Por Alexandre Lucas, Colunista

O acesso a comida numa sociedade economicamente  antagônica inevitavelmente tem a sua circulação desigual. Se alguns comem,  outros passam fome. Numa sociedade de consumo, a comida garantia da vida é mercadoria, antes de ser um direito. Essa questão tem uma íntima ligação com o conceito de racismo gastronômico.

A luta antiracista deve ser compreendida como parte da luta anticapitalista. A superação do racismo passa pela combater das relações de exploração e opressão como fator de afirmação de identidade um novo tipo de sociedade,  baseada em valores humanos emancipatórios,  na  socialização  das riquezas e na democratização da produção  historicamente produzida pela humanidade.

A cultura, comida e o  capitalismo são partes que se entrelaçam em lutas distintas e conflitantes pela manutenção e ruptura dos estruturas de poder.

Na era da industrialização e gormetização dos alimentos precisamos  aprofundar o debate sobre cultura e racismo gastronômico. Principalmente, quando essa prática se torna modo operante do estado.

O racismo gastronômico pode ser caracterizado  desde o descontrole do uso dos conservantes e agrotóxicos nos alimentos para consumo de massa, em contraposição alimentos saudáveis e a cultura dos enlatados. Em ambos os casos, a defesa do mercado se sobressai em contraposição a proteção das vidas. Para as massas,  negras e pobres do país, resta o alimento propício a doença e ao lucro do capitalismo. Existe uma cultura para o consumo do alimento desprovido de promoção à saúde.

Mas é racismo gastronômico também quando o estado constrói estruturas para fruição estética, o lazer e a prática do esporte e  desconsidera a identidade,  pluralidade, territorialidade, espacialidade e o valor econômicos dos alimentos que  serão consumidos nestes espaços. O racismo gastronômico também assume a feição de higienização social.    Quando o estado  faz a escolha de quem  deve ocupar esses espaços para comercialização de comidas  e elege a linha "gormetizada" e de valores  que a maioria da população não pode/consegue consumir está praticando racismo gastronômico. Como é o caso  da instalação fixa ou temporária de franquias e similares nestes equipamentos públicos, como fator de trazer a comida como vitrine para classe trabalhadora. Essa é a ideia da elite do atraso.

O estado brasileiro deve fomentar uma outra cultura alimentar, alinhada a redução dos impactos ambientais, a  alimentação e práticas  saudáveis, afirmação das identidades e pluralidade gastronômicas regionais,  desenvolvimento econômico e social dos territórios e lugares. Essa talvez, seja, uma forma  paliativa de combater o racismo gastronômico que só poderá ser eliminado  com a substituição do estado das desigualdade econômicas.

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