Lideranças indígenas: Ailton Krenak

 

Ailton Krenak. (FOTO | Reprodução | Revista Digital).


Por Nicolau Neto, editor

Em 2014 o blog Negro Nicolau iniciou a primeira fase da série “Personalidades Negras que Mudaram o Mundo”. Foi dito que neste espaço, você encontrará informações sobre algumas das personalidades negras que marcaram a história do Brasil e do mundo. Naquela oportunidade foi destacado que o espaço que estava se constituindo era inacabado e que estaria em contínua construção, porque a luta em favor da cultura negra e contra o racismo produziu e irá produzir, por tempo indeterminado, um grande número de lideranças que precisarão ser resgatadas.

Partindo desse princípio, o blog desenvolveu em 04 de junho de 2015 a segunda fase da série discorrendo sobre Albert Luthuli, primeiro negro a ostentar o Prêmio Nobel da Paz e oito anos depois, este mesmo espaço proverá a série intitulada “Lideranças Indígenas”.

A primeira liderança a figurar aqui é Ailton Krenak, que ontem completou 70 anos. Krenak é um dos intelectuais mais conhecidos e respeitados no campo da literatura brasielira, sobretudo a indígenas, além de ser uma importante liderança indígena, tendo sido defensor da inserção dos direitos desses povos na Constituição Federal de 1988. Além de poeta, escritor e filósofo, ele tem no currículo o título de doutor honoris causa pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

Dentre seus livros mais conhecidos, estão “Futuro Ancestral (2022)”, “A Vida não é útil (2020)”, “O amanhã não está à venda (2020)” e “Ideias para adiar o fim do mundo (2019)”.

Um pouco da história de Krenak

Ailton Alves Lacerda Krenak nasceu na década de 50, na região do Médio Rio Doce (MG), onde fica localizada a Terra Indígena Krenak. Mudou-se aos 17 anos para o Paraná com sua família e lá foi alfabetizado e tornou-se produtor gráfico e jornalista.

Nos anos 80, passou a dedicar-se exclusivamente ao movimento indígena. Em 1985 fundou a ONG Núcleo de Cultura Indígena. Dois anos depois, durante a Assembléia Constituinte, protagonizou uma das cenas mais marcantes da redemocratização.

Como forma de protesto ao retrocesso na luta pelos direitos indígenas, Krenak pintou sua face com tinta preta do jenipapo durante seu discurso na tribuna. Para o seu povo, o produto é usado em situações de luto.

Em 88, participou da fundação da União dos Povos Indígenas. A organização buscava representar os interesses dos povos no cenário nacional. No ano seguinte, participou da Aliança dos Povos da Floresta, movimento que desejava a demarcação de reservadas naturais da Amazônia onde fosse possível a subsistência econômica através do extrativismo.

Em 2005, co-escreveu a proposta da Unesco que criou a Reserva da Biofera da Serra do Espinhaço, que até hoje é membro do comitê gestor. Em 2017, sua tragetória foi tema do documentário “Ailton Krenak e o sonho de pedra”, do diretor Marco Altberg.

Significado de Krenak

O nome Krenak significa, em sua etimologia, cabeça (kre) da terra (nak). Os Krenak ou Borun são os útimos “Botocudos do Leste”, nome atribuído pelos portugueses no fim do século 18 aos grupos que usavam botoques auriculares ou labiais. São conhecidos também por Aimorés, para os Tupí e se auto-denominam Grén ou Krén.

Esse povo indígena, que da origem ao sobrenome de Krenak, possui hoje significativa parte de sua população localizada em Minas Gerais, na região do Vale do Rio Doce. Lá, onde o filósofo cresceu, a comunidade e ecologia encontram-se profundamente afetadas pela extração de minérios.

Em 2015, a catástrofe de Mariana (MG), devastou toda a fauna e vegetação do Rio Doce, atingindo a principal fonte de subsistência dos Krenak. O rompimento da barragem foi apenas mais um dos desafios enfrentados pela comunidade que resiste desde a chegada dos portugueses nas terras brasileiras.

Os Krenak hoje são representados por pouco mais de 600 sobreviventes que ainda ocupam a região.

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Texto construído em colaboração com o Politize.

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