Sangue novo ou mais do mesmo? Simone Tebet é ligada ao agro e contrária a direitos indígenas

 

A senadora Simone Tebet é autora do projeto de lei que pretende impedir a demarcação de terras indígenas em áreas de conflito - Marcos Oliveira/Agência Senado.

Alçada à disputa para a Presidência da República após a desistência do ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB-SP), a senadora Simone Tebet (MDB-MS) teve sua teve a performance no primeiro debate entre candidatos e candidatas ao Planalto elogiada por comentaristas e analistas. 

Nas redes sociais, além dos memes sobre a promessa de dar R$ 5 mil reais para estudantes que concluírem o ensino médio, ela foi vista como uma espécie de novidade no jogo político.

A ideia de que Tebet é uma cara nova na política é enganosa: a senadora, que já foi deputada federal, prefeita de Três Lagoas (MS) e vice-governadora do Mato Grosso do Sul, faz parte de umas das famílias mais poderosas da política do estado.

"É uma mulher forte, sem dúvida, teve uma boa atuação no debate, uma boa atuação na CPI da pandemia, mas isso é o mínimo. Nós estamos tão acostumados com esses políticos que querem declaradamente e falam o tempo todo de nos matar, que quando a gente vê uma política tradicional, chama a atenção", diz Kelli Mafort, integrante da Coordenação Nacional do MST.

Ela repete uma trajetória comum à elite econômica brasileira, totalmente conectada ao agronegócio. O pai da senadora, Ramez Tebet, foi governador do estado, se elegeu deputado estadual e senador, ocupou a liderança do Ministério da Integração no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e também esteve à frente da prefeitura do município de Três Lagoas, em 1975. O mesmo cargo foi ocupado pela filha em 2004.

A família Tebet é citada no estudo Poder oligárquico, questão agrária e função legislativa no território sul-mato-grossense como uma das três oligarquias mais poderosas do estado. 

Esses grupos, além de deter grandes porções de terra, atuam também na política com intuito de "garantir o fortalecimento do processo de apropriação capitalista da terra engendrado por seus antecessores desde o século retrasado".

Mafort lembra que o processo de ascensão ao poder das oligarquias no MS se iniciou durante a ditadura. "Nós temos uma memória da criação do MS, que se deu no contexto da ditadura civil militar em 1977. De lá para cá, existe uma total interligação entre as oligarquias rurais, a política e o agronegócio", afirma.  

Uma breve análise da atuação de Tebet no Congresso Natural confirma sua vocação. Ela é citada pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) em uma lista de 50 parlamentares com atuação consistente na violação de direitos dos povos tradicionais. 

Autora do Projeto de Lei 494/15, que pretende impedir a demarcação de terras indígenas em áreas de conflito e altera o Estatuto do Índio, ela também apoia a PEC 45/13, que altera o artigo 231 da Constituição para impedir a demarcação de terras indígenas em áreas tradicionais.

"A atuação dela no parlamento foi completamente violadora dos direitos humanos. É dela o projeto de lei para suspender estudos sobre áreas para demarcação indígena, quando há conflito. E obviamente que há conflito, porque essa á única forma de os indígenas poderem lutar pela demarcação", diz Mafort. "A Simone Tebet está com suas mãos manchadas de sangue, e esse sangue é sangue indígena".

Simone Tebet foi, ainda, apoiadora do impeachment de Dilma Roussef. Em seu voto, ela afirmou que pensava no futuro da população brasileira.

"Pelos crimes de responsabilidade fiscal cometidos pela senhora presidente da República no ano de 2015, mas principalmente pelas consequências nefastas a esta e às futuras gerações que pagarão essa conta, fruto dessa irresponsabilidade fiscal, por todo o mal que causou e está causando à população brasileira, eu voto a favor do impeachment da senhora presidente da República, mas mais do que tudo, voto na esperança, na esperança de melhores dias."

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Com informações do Brasil de Fato.

Conhecer nossa história é essencial na luta contra o racismo

 

(FOTO | Carl de Souza/AFP).

As relações sociais no Brasil são atravessadas pelo racismo e pela discriminação racial contra negros e indígenas, e é esta realidade responsável pela perpetuação do racismo. A persistência desta realidade se deve a um ideário extremamente articulado, que dá suporte ao racismo que estrutura esta sociedade. Este ideário tem muitos pontos, mas um dos mais importantes é o apagamento, encobrimento, distorção da história, da contribuição negra para o processo civilizatório da humanidade e do Brasil.

Este fator colabora em diversas frentes: na baixa auto-estima da população negra, por desconhecer as lutas de resistência à escravização, por desconhecer a elaboração intelectual de negros, por desconhecer ícones negros nas diversas áreas de produção de conhecimento.

A população negra em geral compra pra si a idéia de que é menos, de que não é capaz, de que não merece outro lugar a não ser o que a branquitude lhe destinou. Também colabora para o que costumamos chamar de racismo por ignorância, que é a pessoa que é racista sem ser beneficiário direto do racismo, simplesmente por ter introjetado em si esteriótipos racistas por desconhecimento desta construção imensa de negras e negros na história da humanidade, além de empobrecer as relações sociais roubando-lhe uma enriquecedora diversidade.

Já passamos na militância por episódios que demonstram que conhecer nossa história muda tanto o comportamento de negras e negros, quanto de operadores de saúde, do direito, da educação, gestores públicos em geral. Ter o conhecimento da história negra implica em ter sensibilidade, empatia com as mazelas que o racismo coloca cotidianamente nas relações sociais que foram estabelecidas secularmente. Por isso tarefa que se impõe ao movimento negro neste momento é imprimir um ritmo de informação que leve letramento racial a toda sociedade brasileira, negros e não negros.

Temos certeza que faz muita diferença às crianças o acesso a contos e histórias da literatura negra africana ou brasileira. Que estudantes do ensino médio teriam outra visão sobre a estética negra se tivessem informação nas aulas de biologia sobre a existência de poros que fazem serem diferentes cabelos lisos e crespos ou porque do nariz largo em países quentes. Estudantes de psiquiatria ou psicologia se beneficiariam imensamente conhecendo Juliano Moreira, Frantz Fanon, Virgínia Bicudo ou mesmo a contribuição de Dona Ivone Lara, isso mesmo, a sambista, para as terapias alternativas no tratamento de doenças mentais. Para estudantes de direito também seria um ganho imenso conhecer a produção de Luiz Gama ou de outros tantos nas diversas áreas de produção cultural.

Enfim é imensa a contribuição, a produção negra que pode ser trazida para o conhecimento geral que poderiam provocar mudanças substantivas nas relações sociais estabelecidas.

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Texto de Regina Lúcia dos Santos, coordenadora estadual do MNU-SP e Milton Barbosa, um dos fundadores e coordenador nacional de honra do MNU, originalmente no Alma Preta.

Bolsonaro: Inimigo da Cultura

Bolsonaro. (FOTO |Reprodução).

Por Alexandre Lucas, Colunista

O último ataque do governo Bolsonaro ao setor cultural representou um golpe contra a Lei Paulo Gustavo e Aldir Blanc 2. As duas leis são resultado de uma ampla discussão nacional que envolveu trabalhadores e trabalhadoras da cultura, gestores públicos e parlamentares de diversas siglas partidárias.

Com características distintas, tendo em vista que a Lei Paulo Gustavo, tem caráter emergencial e já deveria ser executado esse ano e a Lei Aldir Blanc 2 tem uma dimensão permanente, a qual deve ser executada a partir de 2023.

Com a canetada golpe de Bolsonaro, através de Medida Provisória (MP) 1.135/2022, o repasse de recursos das duas leis foi adiado para 2023 e 2024, mudando inclusive o teor da lei.  A luta é para que a MP seja devolvida a Bolsonaro, o que exige uma ampla e imediata articulação dos movimentos culturais junto aos senadores e deputados.  Essa medida desrespeita uma conquista importante para a economia dos estados e municípios por meio do fomento cultural.

A Lei Paulo Gustavo sendo executada esse ano como estava previsto pode injetar ao setor cultural 3.862 bilhões através do repasse aos estados e municípios. Já a Lei Aldir Blanc prevê um repasse de 3 bilhões anuais durante cinco anos. Esses valores podem impulsionar em todo o país a economia da cultura e possibilitar que o Sistema Nacional de Cultura comece a se estruturar.  

No governo de Bolsonaro tivemos um processo contínuo de destruição das políticas públicas para a cultura no País. A extinção do Ministério da Cultura, desmonte e o desvio de função dos órgãos vinculados a Secretaria Especial da Cultura,  enterramento do Cultura Viva, semi-extinção das políticas de editais, negligência ao Sistema Nacional de Cultura e o  revezamento da incompetência do secretariado é o legado devastador desse governo que ostenta a marca da exclusão e do extermínio.

Esse é o momento propício para intensificar a luta contra esse governo declaradamente inimigo da cultura e da democracia.   A luta ultrapassa a derrubada da Medida Provisória que no momento já representa duas leis importantíssimas para o setor cultural do país.  

Reconquistar novamente a Lei Paulo Gustavo e Aldir Blanc 2 faz parte da mesma agenda de reconstrução do projeto nacional de desenvolvimento econômico e social do país e ao mesmo tempo de condução da cultura para centralidade e a transversalidade da política de Estado. O que exige derrotar Bolsonaro e os partidos de sua base de sustentação.

Análise sobre o primeiro Debate presidencial 2022

 

(FOTO | Reuters | Carla Carniel)

Por Nicolau Neto, editor

Ontem assistimos ao primeiro debate presidencial realizado pelo Consórcio de Veículos de Imprensa liderado pela Rede Bandeirantes. Sobre ele faço algumas considerações:

1 - O Felipe D’Avila, do Partido Novo, é um típico representante da elite econômica do país e, como tal, fez o que tinha que fazer. Foi lá pra defender os interesses do seu grupo, da sua classe: a dos ricos. Ele argumentou que deseja privatizar. Fugiu de algumas perguntas, como por exemplo, a de contribuir para retirar as pessoas do endividamento. Ademais, era perceptível ser um grande defensor do agronegócio. Só faltou dizer "agro é tec, agro é pop, agro é tudo".

2 - A Soraya Thronicke (União Brasil) tem alguns momentos de pé no chão, principalmente quando fez coro para se solidarizar com a jornalista Vera Magalhães, da TV Cultura, que foi atacada pelo atual mandatário. Mas foi só. Durante todo o debate demonstrou nao dominar assuntos cruciais. E por último, ainda se mostrou favorável a política armamentista. Não podia ser diferente, afinal não podíamos esperar muito de quem elegeu-se senadora em 2018 pelo partido do Bolsonaro, o PSL á época.

3 - Já que tocamos nele, é sobre o mesmo que iremos nos referir. Nada, absolutamente nada de novo a acrescentar sobre. Notícias falsas, números que não correspondem a realidade e ataques infundados levantados, principalmente em que pese as políticas públicas para as mulheres e os ministérios. Sobre esse último, repetiu algumas vezes que eram técnicos e que eram isentos de atos de corrupção. Rápida pesquisa no Google comprova a inveracidade das informações. Por fim, agiu como sempre: com autoritarismo pra cima das mulheres.

4 - A Simone Tebet (MDB) é também uma liberal. Fez diversas declarações de que é professora e mãe. Só isso não basta para tirar o país do marasmo. Fez um bom trabalho na CPI da Covid-19, mas não basta. Não se faz política educacional de qualidade com os maiores representantes da política neoliberalista do país. Mas reconheçamos que teve um desempenho razoável se comparado com o da Soraya e o do Felipe. O Bolsonaro não conta.

5- O Ciro (PDT) tem um conhecimento muito apurado do Brasil. Isso é inegável. Mas insisto: escolheu o caminho errado. A metodologia política errada. Tem que atacar o alvo certo. Já imaginou um segundo turno entre ele o Lula? Eleitores/as iam às urnas mais despreocupados com o andamento dos rumos da democracia. Mas o formato que escolheu não o levará para o segundo turno. Ao contrário, caminhará para uma derrota acachapante. Sairá muito mais pequeno politicamente do que em 2018. O Ciro daria um excelente Ministro do Lula: da Economia, talvez.

6- Por último, o Lula. Mostrou com muita propriedade que o Brasil teve avanços significativos em seus governos. Fez questão de demonstrar lealdade a Dilma Rousseff, principalmente destacando que foi vítima de um golpe em 2016 e que hoje, alguns não mencionam mais. Foi contundente quando elucidou que a Soraya Thronicke não viu as ações desenvolvidas na gestão dele, mas que porteiro, empregada doméstica e jardineiro viram e sentiram. Trouxe também pro debate a importância da educação e os investimentos realizados no setor, principalmente a criação das políticas públicas como o prouni que permitiu a entrada de diversos jovens nas universidades.

7 - Reitero que essas eleições são as mais importantes desde a redemocratização e não podemos nos dá o luxo de correr o risco de voltar aos tempos passados, onde a ausência de liberdade era uma constante. Por isso, vamos de Lula logo no primeiro turno.

8 - O debate não teve jornalista negros e negras para perguntarem aos candidatos e candidatas. A band e os outros veículos não têm negros/as em suas grades? Tendo, o que explica a ausência? As duas candidaturas negras não participaram do debate: Léo Péricles (UP) é Vera Lúcia (PSTU). A pauta racial também não foi tratada.

Artefatos da Cultura Negra chega a sua 13ª edição em 2022

 

(FOTO/Reprodução/Instagram).

Por Nicolau Neto, editor

O Congresso Internacional Artefatos da Cultura Negra chega a sua décima terceira edição. Construído em permanente diálogo com instituições de ensino superior do Estado do Ceará, movimentos negros, estudantes, professores e professoras da educação básica e pesquisadodores/as de temáticas ligadas às questões da população negra no Brasil e em outros países, esse ano de 2022 o evento apresenta como proposta temática “O Futuro é Ancestral: Tecnologias, Juventude e Territórios Negros”.

A primeira versão do evento foi em 2009, e desde então vem se formatando como um importante espaço de formação de professores e professoras, estudantes de graduação e pós-graduação e de ativistas dos movimentos sociais, o que acabou se tornando um celeiro de produção acadêmica na temática voltada para as relações étnico-racial.

Em 2009 a Artefatos foi realizado em uma semana com bancas de mestrados e doutoramentos e surgiu dentro do Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira da Universidade Federal do Ceará (UFC), em Fortaleza Naquela oportunidade, o nome era apenas “Artefatos da Cultura Negra do Ceará”, tendo o objetivo de socializar os estudos e pesquisa com a temática das relações raciais.

Quando completou uma década de Artefatos, o Blog dialogou com uma das mentoras do congresso, a professora do Departamento de Pedagogia da Universidade Regional do Cariri, Cícera Nunes. Segundo ela, em 2010 o município de Juazeiro do Norte, no cariri cearense, recebeu uma edição como parte da atividade do programa de pós-graduação, sendo defendidas a sua tese de doutorado (Os Congos de Milagres e Africanidades na Educação do Cariri Cearense) e a dissertação de Kássia Mota (Entre a Escola e a Religião: Desafios para Crianças de Candomblé em Juazeiro do Norte), hoje professora da Universidade Federal de Capina Grande (UFCG), campus Cajazeiras (PB).

Quem também falou sobre o congresso foi Henrique Cunha Jr, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC). Em 2019 ele apontou o Artefatos “o maior evento de pesquisa sobre população negra do Brasil” ao lembrar das várias atividades que o constitui, citando por exemplo, “as economias solidarias, com feira de artesões e vendedores de produtos da nossa cultura”.

Conforme informações divulgadas nas redes sociais do Congresso, este ano “com programação ampla envolvendo mesas redondas, rodas de conversa, feiras culturais, terreiradas culturais, exposições artísticas, mostra de cinema, lançamento de livros e comunicações científicas, o evento terá lugar no Cariri cearense e estabelecerá diálogo com pesquisador@s e ativistas de vários estados brasileiros e outros países” e ocorrerá entre os dias 19 e 24 de setembro.

Submissão de Trabalho

Para aqueles que desejam ter ser trabalhos de pesquisas apresentados e publicado, o prazo para as submissões terão início nesta segunda-feira, 29 de agosto, e se estenderá até 05 de setembro.

Para maiores detalhes sobre as regras de submissão é só acessar o site de eventos da URCA.

Ciro lança canal on-line para driblar o pouco espaço na TV e rádio

 

Ciro Gomes. (FOTO | Reprodução |Jovem Pam).

O candidato à Presidência Ciro Gomes (PDT) lança, neste sábado (27), uma programação diária de vídeos on-line para tentar compensar o fato de ter apenas 52 segundos disponíveis para propaganda na televisão e rádio. A Ciro TV deve ter a grade disponibilizada na internet e vai apostar em debates, atividades da campanha e apresentações musicais.

O canal estreará às 21h e a previsão da campanha é que ele fique no ar 24 horas por dia. Ciro aposta em um programa comandado por ele junto a mulher, Gisele, que será exibido ao fim da propaganda do presidente. De acordo com a agenda do candidato, outro destaque deve ser o quadro Drible de Mestre, que a cada dia deve ser veiculado de um diferente estado do país.

A Ciro TV também terá um momento em que o pedetista comenta propaganda de adversários que foram ao ar minutos antes da transmissão. Outo quadro, Ciro de Verdade deve trazer as propostas do candidato.

A primeira transmissão deve ocorrer diretamente de um centro comunitário da periferia de São Paulo. A previsão inicial é que 30% dos quadros sejam ao vivo, percentual que deve subir para 50% quando a eleição se aproximar. A expectativa é que o canal continue após a votação.

Estacionado no terceiro lugar, Ciro Gomes busca crescer nas pesquisas. De acordo com a última pesquisa Datafolha, divulgada em 18 de agosto, o pedetista tinha 7% das intenções de voto, contra 47% de Lula e 32% de Jair Bolsonaro.

Lula deve ter 3 minutos e 39 segundos de propaganda em cada bloco, e Bolsonaro acumula 2 minutos e 38 segundos. Com apenas 52 segundos, Ciro tem tempo inferior ao de Simone Tebet (MDB), com 2 minutos e 20 segundos, e Soraya Thronicke (União Brasil), que tem 2 minutos e 10 segundos.

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Com informações do portal IG.

Manual gratuito orienta escolas para práticas antirracistas

 

(FOTO | Reprodução | Porvir).

Existe muita coisa que não te disseram na escola/Cota não é esmola”, diz um trecho da canção de Bia Ferreira que tomou as caixas de som do Centro Cultural São Paulo nesta quinta-feira (25). Outras músicas, de Elza Soares a Gilberto Gil, com suas letras de resistência, também recepcionaram os convidados para o evento de lançamento do “Manual para escolas antirracistas”. Produzido pela comissão de professoras e professores de referência em relações raciais da Camino School, escola particular e trilíngue em São Paulo, o livro de 97 páginas, disponível gratuitamente para download, compartilha orientações pedagógicas para a construção de uma educação contra o racismo.

Hoje, muito mais do que falar, é essencial promover o antirracismo em todas as esferas, especialmente na esfera educacional. Queremos abrir o diálogo para a educação antirracista e somos ambiciosos: pretendemos levar o debate para o Brasil inteiro”, afirma Leticia Lyle, cofundadora da Camino Education, da plataforma digital de aprendizagem Cloe e diretora da Camino School, escola que conta com um programa de bolsas de estudos para estudantes negros, pardos e indígenas de baixa renda. “O material foi feito com pais, com leitores críticos, para que possamos fazer uma educação que tenha todas as vozes, a fim de gerar e promover consciência de toda a comunidade.”

No glossário, são apresentados conceitos para o letramento racial. O capítulo “Antirracismo na prática escolar” sugere ações voltadas a gestores, docentes, famílias e estudantes. Uma lista com sugestões de livros e um mapa sobre ações antirracistas no Brasil e no mundo também compõem a publicação. “O manual não se encerra em si. Temos um trabalho de casa para fazer, de formação continuada, de trazer pessoas para dialogar constantemente. Um trabalho árduo: sabemos que não vamos acabar com o racismo de uma hora para outra. Mas esperamos que possamos melhorar nossas práticas internas e servir de espelho para que outras escolas pensem em ações antirracistas dentro de seus ambientes”, acredita o professor Leonardo Bento, coordenador do projeto. “Precisamos todos entender que a sociedade é racista e o racismo dá as caras a todo momento”, reforça.

Protagonismo negro

A roda de conversa contou com representantes da Camino: as integrantes do comitê de diversidade racial da escola, Fernanda Cimino (servidora do Tribunal Regional do Trabalho e especialista em direitos humanos) e Adriana Arcebispo (assistente social e digital influencer da página @familiaquilombo), além do professor Rodrigo Bueno.

O manual é capaz de garantir para as pessoas brancas o nível básico de letramento racial, capacidade de transformá-lo em práticas e ações antirracistas, promovendo direitos humanos. Nessa construção coletiva, o papel das pessoas responsáveis por crianças e adolescentes é fundamental”, opina Fernanda. “Pensando no contexto de uma escola particular, majoritariamente branca, uma andorinha só não faz verão. Quanto mais atuação, mais chance de as ações serem efetivas. As pessoas brancas devem tomar frente da luta por uma educação antirracista, respeitando o protagonismo negro”, complementa.

Para o professor Rodrigo, o manual é algo muito necessário, tanto externa quanto internamente. “A questão do lugar de fala apareceu em uma aula minha, no nono ano. Os alunos fizeram uma batalha de SLAM, movimento bastante comum da periferia paulistana, e, no começo do debate, os estudantes brancos disseram que não tinham lugar de fala. Discutimos isso o tempo todo. Achamos a resposta em um discurso da [filósofa e feminista] Djamila Ribeiro: o lugar de fala do branco é o lugar de fala da raça branca, raça minoritária no nosso país que posa de majoritária, mas não é. Isso precisa ser exposto na escola”, comenta. “Fizemos um evento muito legal, que parou a escola toda, com poemas impactantes e conversas sobre política e feminismo”, diz. Nenhuma criança nasce racista, mas a sociedade a transforma, afirma o educador.

Precisamos ver qual é o alimento do racismo e cortá-lo. Um é a ignorância, e falo isso como historiador branco que aprendeu nas universidades. Eu não conhecia nada da história brasileira até fazer uma especialização em relações raciais”, diz Rodrigo. “O Brasil misturou duas coisas cruéis: a sociedade escravista e a sociedade de consumo. Esse racismo vai empurrando o tema para longe dos brancos. E espero que os brancos se incomodem com a minha fala”, complementa o educador, que finalizou a participação com uma frase do ativista afro-americano Malcolm X (1925-1965): “Não confunda a reação do oprimido com a violência do opressor”. O professor aponta que a branquitude está do lado do opressor e isso precisa ser desconstruído.

Práticas antirracistas

Mãe dos alunos Akins (10) e Dandara (6), matriculados na Camino School desde 2018, Adriana usa as redes sociais para falar sobre sua experiência de existência e resistência. Na escola, apoia a promoção de encontros e rodas de conversas entre as famílias. “Ganhamos com a Camino por estarmos nesse espaço, mas a escola também ganha com a nossa presença nesse movimento antirracista. Uma escola diversa ganha com essa valorização”, pontua.

Akins sofreu racismo na escola e Adriana não hesitou em conversar com a direção da Camino para, juntos, pensarem como resolver a situação. Para ela, é fundamental que a escola seja diversa em todas suas esferas, inclusive na coordenação. “Quando chego em um espaço todo tocado por pessoas brancas, esse espaço é opressor para pessoas pretas. Precisamos garantir que dentro da escola as estratégias sejam colocadas em prática, que as crianças e as famílias sejam ouvidas e acolhidas. É preciso contratar pessoas pretas e ter compromisso com isso, para construir o antirracismo.”

Entre as sugestões levantadas pela digital influencer, uma é urgente: implementar e fiscalizar o cumprimento das leis 10.639, que institui a obrigatoriedade do ensino de história e cultura africana e afro-brasileira, e 11.645, com a cultura e história indígena em todo o sistema educacional. “Com esse manual, a Camino School fecha um compromisso público com a questão antirracista e suas concretudes”, diz. 

Para Caio Garcez, vice-diretor da Camino School, a proposta é fazer o “Manual para escolas antirracistas” ganhar vida Brasil afora. “Esse é o primeiro, segundo, terceiro passo de uma maratona. Precisamos ganhar fôlego para correr atrás desse movimento. É uma iniciativa que deve ser espalhada”.

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Com informações do Porvir.

Lula segue próximo de vitória no 1º turno, Bolsonaro não cresce: leia as pesquisas da semana

 

Ex-presidente segue com larga vantagem em relação a Bolsonaro - Ricardo Stuckert e Agência Brasil.

A semana da campanha eleitoral pela Presidência da República foi marcada pela divulgação de duas novas pesquisas eleitorais de âmbito nacional. A primeira delas foi na segunda-feira (22), do Instituto FSB, sob encomenda do banco BTG Pactual. A outra na quinta (25), pelo Atlas Intel, sob encomenda da Arko Advice.

FSB/BTG: distância oscila na margem de erro

A pesquisa do Instituto FSB apontou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na liderança da corrida eleitoral pela Presidência da República, com 45% das intenções de voto.

Na sequência, apareceu o atual chefe do Executivo e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), com 36%, que oscilou positivamente em dois pontos percentuais. Com relação à pesquisa anterior, publicada há sete dias, em 15 de agosto, Lula se manteve estável. Na ocasião, ele havia subido quatro pontos percentuais (41% para 45%).

A queda na diferença entre os dois principais candidatos ao Planalto ocorre dentro da margem de erro, que é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos. A oscilação ocorre após o início das campanhas eleitorais e a posse de Alexandre de Moraes como novo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O estudo mostra que Ciro Gomes tem 6%, dois pontos a menos do que os 8% da pesquisa da semana passada. E Simone Tebet (MDB) registrou 3%, oscilação positiva de um ponto percentual. Vera Lúcia (PSTU) e Pablo Marçal (Pros), cuja candidatura foi retirada pelo seu partido, somaram 1%.

Os demais candidatos não pontuaram. Brancos e nulos somaram 2%, não sabem ou não responderam foram 3%.

Na simulação de segundo turno, Lula venceria Bolsonaro por 52% a 39%, ante 53% a 38% na pesquisa de 15 de agosto. Lula venceria Ciro por 49% a 30% e Simone por 53% a 25%. Ciro bateria Bolsonaro por 47% a 40%. Em um eventual segundo turno entre Bolsonaro e Simone haveria empate: 42% a 42%.

A pesquisa foi feita entre sexta-feira (19) e domingo (21) com 2 mil eleitores, intervalo de confiança de 95%, margem de erro de 2 pontos percentuais e está registrada no TSE sob o número BR-00244/2022.

Atlas: vantagem está em oito pontos

Uma pesquisa Atlas Intel/Arko Advice, divulgada na quinta-feira 25, indicou a liderança de Lula na corrida à Presidência da República com aproximadamente 8 pontos de vantagem sobre Bolsonaro.

O levantamento seguiu uma metodologia intitulada Atlas Random Digital Recruitment, ou RDR, segundo a qual os entrevistados são recrutados organicamente durante a navegação de rotina na web em territórios geolocalizados em qualquer dispositivo.

Foram entrevistadas 7.475 pessoas em 2.013 municípios entre 20 e 25 de agosto. A margem de erro é de um ponto percentual, considerando o nível de confiança de 95%. A pesquisa está registrada no TSE sob o código BR-00848/2022.

Primeiro turno:

Lula (PT): 46,7%

Jair Bolsonaro (PL): 38,3%

Ciro Gomes (PDT): 6,4%

Simone Tebet (MDB): 3,6%

Pablo Marçal (PROS): 1,5%

Felipe D’Ávila (Novo): 0,7%

Vera Lúcia (PSTU): 0,4%

Sofia Manzano (PCB): 0,2%

Constituinte Eymael (DC): 0,1%

Léo Péricles (UP): 0,1%.

Cenários de segundo turno:

Lula 51,8% x 40,8% Bolsonaro

Lula 46,5% x 22,7% Ciro

Ciro 41,5% x 39,8% Bolsonaro

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Com informações do Brasil de Fato.