Caetano Veloso visita Lula para declarar apoio. ‘Segundo turno é agora’, diz Aloysio Nunes

 

Segundo colunista, Caetano deve manifestar apoio a Lula. Ex-chanceler tucano defende "salvar o Brasil da tragédia Bolsonaro". Uns Produções (Divulgação)/Marcelo Camargo (ABr)



O segundo turno já começou e eu não só voto no Lula como vou fazer campanha para ele no primeiro turno.” A declaração é do ex-chanceler Aloysio Nunes Ferreira, um dos mais enraizados tucanos do estado de São Paulo, berço do PSDB. “Não existe essa terceira via; só existem duas: a da democracia e do fascismo. Se quisermos salvar o Brasil da tragédia de Bolsonaro, teremos de discutir o que vamos fazer juntos”, continuou o ex-ministro do governo Michel Temer à jornalista Vera Rosa, do jornal O Estado de S. Paulo, nesta sexta-feira (13). A fala do tucano ocorre no mesmo dia em que o compositor Caetano Veloso, eleitor de Ciro Gomes em 2018, visita Lula para declarar apoio ao ex-presidente este ano.

Em fevereiro, ao mesmo jornal, Nunes já havia sinalizado para esse desfecho, ao afirmar que a aproximação do ex-governador Geraldo Alckmin de Lula “é um movimento correto do ponto de vista político, tanto da parte do Alckmin quanto do Lula”.

Em outra frente, a da cultura, a adesão de Caetano, que também já havia sido sinalizada em outras manifestações do artista, será celebrada em São Paulo, no apartamento de Lula. A informação é do jornalista da GloboNews Gerson Camarotti. Segundo ele, o encontro foi articulado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que abandonou a disputa pelo governo do Amapá para ser um dos coordenadores da campanha do petista.

Chico Buarque, Martinho da Vila, Zélia Duncan, Chico César, Marieta Severo, Bruna Gonçalves, Paulinho da Viola, Antonio Pitanga e muitos outros estão no barco de Lula, a quem o apoio do setor cultural é virtualmente unânime.

Símbolo do samba, Zeca Pagodinho já se reuniu com Lula no Rio de Janeiro, junto de outros artistas. No final de abril, ele afirmou, inclusive, que pode deixar o país. “Eu não quero ir embora daqui, mas, do jeito que está, eu penso em ir embora”, declarou ao portal UOL.

Na cultura, repulsa a Bolsonaro

Jair Bolsonaro provoca repulsa no meio cultural. Sua perseguição a artistas, produtores e entidades é permanente e revela não apenas ódio, mas perversidade. Seu último gesto, por exemplo, em relação ao setor, foi vetar as leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc, que permitiriam o repasse de R$ 3,8 bilhões e R$ 3 bilhões, respectivamente, para fomentar uma das atividades mais devastadas pela pandemia de covid-19.

Antes mesmo de assumir mandato, o atual chefe de governo já anunciava a extinção do Ministério da Cultura, medida que defendera ainda como pré-candidato à Presidência em 2018. Em evento em março daquele ano prometeu acabar com o Minc e defendeu uma de suas bandeiras da morte: “A arma, mais que a defesa da vida, é a garantia da nossa liberdade”.

“Visão de mundo”

Na área política, outro nome de peso a declarar apoio a ao ex-presidente nesta sexta foi o vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marcelo Ramos (PSD-AM), em artigo na Folha de S. Paulo nesta sexta. Depois de elencar alguns projetos em relação aos quais discorda da visão de Lula e do PT (reforma trabalhista, independência do Banco Central e capitalização da Eletrobras), o deputado esclareceu.

A visão de mundo do ex-presidente Lula e a minha são diferentes, sobretudo em relação à economia. Muitas de nossas posições são antagônicas nesse campo tão essencial. Mas concordamos em algo ainda maior: a democracia. E é por isso que estarei com Lula nesta eleição”, escreveu o parlamentar, que deixou o PL quando Bolsonaro entrou para a legenda.

Da seara tucana, os ex-senadores José Aníbal e Arthur Virgílio também podem apoiar Lula, até por discordar dos rumos seguidos pelo PSDB a partir da ascensão de João Doria, cuja campanha à Presidência da República é um fracasso.

_________

Com informações da RBA.

Altaneira pode perder territórios de acordo com novo mapeamento geográfico

 

Sítio Taboquinha em Altaneira. (FOTO/ Orlando Vieira).

Por José Nicolau, editor

Um novo mapeamento geográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) faz com que o município de Altaneira, no cariri cearense, tenha sua área territorial reduzida.

A informação foi externada pelo prefeito Dariomar Rodrigues (PT) durante sessão da Câmara realizada no último dia 04 de maio e divulgada tanto no site da casa como também no Blog de Altaneira. Ao apresentar imagens, o gestor destacou que os sítios Poças, Córrego, Taboquinha e Tabuleiro já não fariam mais parte do município. Ele frisou que as comunidades mencionadas já são assistidas por Altaneira e que pretende lutar por elas, já que “integram nossa história e cultura altaneirense.

Altaneira faz divisa com os municípios de Assaré, Nova Olinda, Santana do Cariri e Farias Brito que podem ser beneficiados com esse novo limite territorial. 

A população de Altaneira de acordo com a estimativa do IBGE em 2021 é de 7.712 habitantes.

A nível de Estado, o Ceará também corre risco de ficar despossuído de algumas cidades para o Piauí. Ao todo, são 13 que fica na Serra da Ibiapaba.

Sobre a possibilidade de Altaneira perder territórios:

1 - Os limites realmente precisam ser rediscutidos e redefinidos sim, haja vista estarem defasado e não corresponderem de fato a realidade da população que ocupa esses espaços;

2 - Por consequência do primeiro item, as populações dos territórios em análise se deslocam para a cidade de Altaneira para as tarefas básicas, como por exemplo, compras de alimentos e vestimentas; serviços de saúde e acesso à educação.

3 - Por tudo isso e por terem construído um sentimento de pertencimento ao lugar, é crucial realizar encontros por setor e mobilizar as pessoas desses espaços para que cientes da situação, lutem. Algumas estratégias podem ser usadas, como por exemplo, a realização de abaixo-assinado para entregar aos órgãos competentes e manifestações de ruas.

4 - Altaneira precisa ganhar territórios e não perder.

Lula segue líder, Bolsonaro estaciona e disputa muda pouco: o que dizem as pesquisas da semana?

 

Ex-presidente tem larga vantagem em relação a Bolsonaro; na foto, Lula em evento com sindicalistas, em São Paulo - Ricardo Stuckert.

A divulgação de novas pesquisas eleitorais não trouxe novas tendências para a disputa presidencial de outubro. Foram publicados quatro levantamentos de terça-feira (10) até a última sexta-feira (13). Os estudos apontam estabilidade, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com larga vantagem na liderança, seguido pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).

CNT/MDA: ecos da desistência de Sergio Moro

A primeira delas, divulgada na terça-feira (10), encomendada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) ao Instituto MDA, mostrou que Lula obteve 40,6% das intenções voto na corrida presidencial das eleições de outubro. Bolsonaro apareceu com 32%. O levantamento foi o primeiro feito pela CNT/MDA depois que o ex-juiz Sergio Moro (União Brasil) desistiu da pré-candidatura à Presidência da República. O anterior foi divulgado em fevereiro.

Os números confirmam que Bolsonaro herdou um percentual de intenções de voto que estavam direcionados a seu ex-ministro da Justiça. O crescimento de Bolsonaro de dois a quatro pontos percentuais já havia sido captado por outras empresas de pesquisa a partir do final de março, quando Moro abriu mão de concorrer ao pleito e saiu do Podemos.

Desde o final de abril, porém, outros levantamentos mostraram que o fôlego de Bolsonaro com a saída do ex-juiz da Lava Jato não durou muito. Estudos que são mais frequentes, divulgados a cada 15 dias, como PoderData e Ipespe, apontaram estabilidade de Lula e a interrupção do crescimento do atual presidente.

Quaest: vitória em primeiro turno é possível

O segundo estudo da semana foi feito pela Quaest, encomendado pela corretora Genial Investimentos, e divulgado na quarta-feira (11). O levantamento mostrou Lula com grandes chances de vitória no primeiro turno das eleições presidenciais.

Com 46% das intenções de voto, Lula teve mais votos que todos os outros candidatos somados (44%), o que garantiria a vitória no pleito ainda no primeiro turno. No entanto, considerando a margem de erro de 2 pontos para mais ou para menos, o cenário ainda está longe de uma definição. A pontuação em votos totais garantiria a Lula um patamar de 51,1% dos votos válidos.

O petista oscilou positivamente em 1 ponto percentual. Seu principal oponente, Bolsonaro, não teve alterações na pontuação e se manteve como segundo colocado, com 29%. Nas duas pesquisas anteriores (março e abril), o atual presidente havia ganhado 3 e 5 pontos percentuais, respectivamente.

PoderData: distância entre Lula e Bolsonaro volta a crescer

A pesquisa PoderData, divulgada também na quarta-feira (11), mostrou que Jair Bolsonaro parou de evoluir e que a distância que o separa de Lula ficou estável nos últimos 15 dias. Lula seguiu na liderança com 42% das intenções de voto na simulação de 1º turno que inclui uma lista de todos os pré-candidatos já anunciados. Bolsonaro apareceu com 35%.

A distância entre os pré-candidatos oscilou para 7 pontos percentuais. Nas rodadas de 24 a 26 de abril e de 10 a 12 de abril, essa diferença se manteve em 5 pontos.

XP/Ipespe: estabilidade é a tônica da semana

Uma nova pesquisa da Ipespe, encomendada pela corretora XP Investimentos, divulgada nesta sexta-feira (13), mostrou Lula na liderança da corrida pelo Palácio do Planalto. Clique aqui para fazer o download da íntegra.

Com 44% das intenções de voto, Lula teve dois pontos percentuais a menos do que todos os outros candidatos somados (46%). Considerando a margem de erro de 3,2 pontos para mais ou para menos, o petista segue com chance de vitória no primeiro turno. Para isso, precisa superar numericamente os votos de todos os oponentes.

Lula manteve o mesmo percentual da pesquisa anterior, publicada há 15 dias. Enquanto isso, Bolsonaro oscilou positivamente em 1 ponto percentual e chegou a 32%. O levantamento confirma pesquisas divulgadas por outras empresas nos últimos dias, apontando que a redução de vantagem entre os dois, motivada pela saída de Sergio Moro (União Brasil) da disputa, foi interrompida.

Análises

No Twitter, o cientista político Antônio Lavareda fez uma análise sobre a nova edição da pesquisa. Segundo ele, o cenário da corrida pelo Palácio do Planalto é de "engessamento", já que o percentual de eleitores que já definiram os seus votos é muito superior ao que costuma ocorrer nas eleições anteriores.

O responsável técnico pela pesquisa Quaest, Felipe Nunes, também publicou uma análise, em sua conta no Twitter, explorando o detalhamento do levantamento para explicar as motivações na baixa variação da pontuação dos candidatos presidenciais.

__________

Com informações do Brasil de Fato.

Helio Santos: “O dia 14 de maio de 1888 é o dia mais longo da nossa história”

População preta é a maior vítima da violência e da desigualdade no Brasil - ©Nelson Almeida/AFP

Às vésperas da uma eleição com potência para definir o futuro do país, inclusive em longo prazo, o professor e ativista contra o racismo, Helio Santos, é enfático: “A desigualdade no Brasil é uma decisão política e perpassa todos os governos.

Santos tem propriedade para a defesa dessa percepção. Militante desde a década de 1970, é pioneiro na participação em ações, políticas e movimentos para correção histórica das consequências do preconceito. Hoje, preside o Conselho Deliberativo da Oxfam Brasil.

Em entrevista ao Brasil de Fato, ele falou sobre o processo de desmistificação e ressignificação do 13 de maio, Dia da Abolição da Escravatura. O debate não é novo, mas ganha contornos urgentes no governo conservador de Jair Bolsonaro (PL), afeito a celebrações que reforçam os tentáculos do colonialismo.

O dia 14 de maio de 1888 é o dia mais longo da nossa história, porque nos atinge hoje nas ruas, nas esquinas, nas cadeias e nas 6,5 mil favelas que se tem no Brasil”, ressalta o professor.

Na conversa, ele também foi veemente ao afirmar que a pauta racial precisa alcançar a esfera política de maneira definitiva, principalmente na representatividade. Para Helio Santos, as eleições deste ano serão permeadas por esse debate de uma maneira ainda inédita no Brasil.

A entrevista foi realizada no mesmo dia em que a Coalizão Negra por Direitos, por meio de partidos políticos, protocolou uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo o reconhecimento pelo Estado do genocídio da população negra no país.

Assinada por PT Psol, PSB, PCdoB e Rede, a arguição de descumprimento de preceito fundamental defende que direitos constitucionais não foram cumpridos. Ela pede que sejam reconhecidas e sanadas as graves lesões praticadas pelo Estado brasileiro ao povo preto

Confira abaixo os principais pontos da entrevista e ouça a íntegra no tocador de áudio abaixo do título desta matéria.

Olhar crítico sobre a abolição

Até 1930, o 13 de maio era um feriado. A partir de 1930 deixou de ser, porque não há o que comemorar. Nós tivemos aqui no Brasil a escravidão mais longa do mundo, 354 anos. Dois lacônicos artigos dão por terminado esse período, sem nenhuma iniciativa que buscasse incluir e valorizar aquelas pessoas.

O 13 de maio foi um grande golpe. Um ano e meio depois, o Brasil edita um decreto a favor da imigração europeia. Um ano e meio depois, foi editada a lei da vadiagem. Vadio era quem não tinha emprego e desempregado crônico é o negro.

Eu gosto de falar muito do dia seguinte. O dia 14 de maio de 1888 é o dia mais longo da nossa história, porque nos atinge, hoje, nas ruas, nas esquinas, nas cadeias e nas 6,5 mil favelas que se tem no Brasil. O Brasil não é um país desigual, é o país mais desigual do mundo.

Durante muito tempo, nós estivemos entre os 10 mais ricos pelo PIB e entre os 10 mais desiguais. Veja que assimetria bizarra. O resultado do que o país se tornou tem a ver com a questão racial. Portanto, a questão racial do Brasil é estratégica, e mais, ela nunca foi tratada por ninguém na sua justa dimensão.”

Avanço ainda é insuficiente

É importante reconhecer que políticas foram conquistadas pelo movimento social negro. É inegável que a roda do racismo girou, não no ritmo e na velocidade que nós gostaríamos, mas é inegável que aconteceram mudanças. Hoje, é possível discutir uma política antirracista.

Em 1984 foi criado o Conselho Negro de São Paulo. Nós estávamos redemocratizando o país. Ou seja, houve todo um silêncio de 96 anos. Uma iniciativa tímida foi a primeira iniciativa do Estado brasileiro após a abolição. Depois criamos ações afirmativas, aqui apelidadas de cotas, que mudaram as universidades.

Hoje, temos inclusive o mundo corporativo, que foi o último a ceder, procurando avançar nessa área. A mídia também mudou muito. Mas o Brasil é um país de maioria feminina e de maioria negra governado por homens brancos.

Esse descompasso é uma das causas de o Brasil ser o que é. Quem tem dúvida de que a nossa democracia ainda é muito tímida, é só verificar que não há essa correspondência.”

Eleições antirracistas

Eu sou um otimista e acho que, este ano, nós vamos discutir o voto antirracista. O voto antirracista não é só o voto do negro. Quem é antirracista e não é negro deve votar sim em candidatos negros. Nós temos um elenco de candidatas e candidatos negros extraordinariamente habilitados. Pessoas que já estão fazendo coisas sem ter um mandato.

Nós temos também que discutir com as candidaturas majoritárias. São 27 governadores, que comandam a polícia e o ensino fundamental. Educação e segurança são dois setores fundamentais para a população negra.

Nós temos que discutir com os candidatos à presidência da República esses temas. Quem postula esse emprego tem que entender que o Brasil é, precisamente, esse país inconcluso.”

A desigualdade como política

Antes de falar de representatividade, não podemos esquecer de algo que a pandemia escancarou, 40 milhões de trabalhadores informais. Esse é o resultado do 14 de maio.

Por isso, quando alguém oferece emprego com salários baixíssimos, você tem uma fila interminável de pessoas dispostas a oferecer seu trabalho. É resultado do dia seguinte.

Essa falta de planejamento não é, na minha opinião, neutra. Na minha opinião, a desigualdade no Brasil é uma decisão política e, algo mais grave, perpassa todos os governos.

Evidentemente que tivemos governos mais sensíveis e reconheceram essas dificuldades. Mas quero reiterar aqui, nenhum desses governos deu à questão racial a sua justa dimensão.”

Subcidadania

As famílias vulneráveis são, majoritariamente, dirigidas por mulheres negras. A subcidadania tem cor e tem sexo. Portanto, qualquer política que queira pensar em uma democratização substantiva do Brasil tem que ter esse foco.

É uma questão de foco e de decisão política. Nós vivemos um momento único. O país, na minha avaliação, não resiste mais a quatro anos de um governo como o que temos agora.

Temos uma parcela significativa da população vivendo em insegurança alimentar e 10% passando fome. Evidentemente que a esmagadora maioria dessa população é negra.”

Desperdício de talentos

Os biólogos ensinam que, quando você não respeita a diversidade, uma floresta pode perecer, uma lagoa pode apodrecer. Quando você translada esse conceito para a sociedade humana, acontece o mesmo.

Aqui no Brasil, a antropologia oficial tece louros à imigração europeia. A maior migração asiática veio para o Brasil com os japoneses. Tínhamos aqui 1,5 mil etnias indígenas e raptamos da África vários grupos. Esse grupo formidável, essa diversidade consta da antropologia oficial, mas esses talentos não são aproveitados.

No entanto, eu, como professor ainda tenho que ouvir o discurso da meritocracia. É evidente que não se pode falar em mérito.

Não pode acontecer o que temos hoje, 11 milhões de nem nem, os jovens que não estudam e nem trabalham. Na verdade são os sem sem, sem oportunidades. Esse país gigante precisa de estadistas que possam pensar no tamanho dos nossos problemas.”

Para onde e como ir

Não me falem que essa pauta é identitária. É uma questão de metodologia. É preciso identificar os grupos vulnerabilizados para pensar em políticas públicas.

Quando eu falo em 11 milhões de jovens que não estudam e nem trabalham, isso não é uma identidade. É uma metodologia geracional em que se identifica para onde a política tem que ser encaminhada.”

______________

Com informações do Brasil de Fato.

Grupo de Estudos Preta Simoa compartilhará experiências antirracistas em sala de aula

 

( 📷 Reprodução | Redes Sociais).

Por Valéria Rodrigues, Colunista

O professor José Nicolau criou o Grupo de Estudos Preta Simoa (GEPS). Segundo ele, a iniciativa visa compartilhar experiências antirracistas desenvolvidas por professoras, professores e estudantes da educação básica.

Nicolau destaca ainda que o grupo terá momentos de aprofundamento teórico a partir da leitura de artigos científicos e de livros de profissionais de diversas áreas do conhecimento que tenham como foco a educação antirracista.

A primeira reunião do GEPS será em Agosto. Pensando em atender as pessoas que residem em outros municípios, os encontros ocorrerão quisenalmente aos sábados, sempre a partir das 14h , via Meet.

"Quer se juntar a nós? Entre em contato por meio de nossas redes sociais ou por e-mail. Venha fortalecer a nossa causa", asseverou Nicolau.

Quem foi Simoa

A Preta “Tia Simoa” foi uma negra liberta que, ao lado de seu marido (José Luís Napoleão) liderou os acontecimentos de 27, 30 e 31 de janeiro de 1881 em Fortaleza – Ce , episódio que ficou conhecido como a “Greve dos Jangadeiros”, onde se decretou o fim do embarque de escravizados naquele porto, definindo os rumos para a abolição da escravidão na então Província do Ceará, que se efetivaria três anos mais tarde. No entanto, apesar de sua importante participação para a mobilização popular que impulsionou os acontecimentos, esta mulher negra teve sua participação invisibilizada na história deste Estado onde, ainda hoje, persiste a falsa premissa da ausência de negros, conforme pontuou a historiadora Karla Alves.

Saiba mais sobre ela aqui.

Como ressignificar o 13 de maio?

 

I Semana Afro-Cultural da Frente Negra Altaneirense realizada em 2014 dentro do Projeto ARCA, em Altaneira. (FOTO/ Acervo do Blog).

 O 13 de maio é uma data para reflexão crítica. Isso porque é muito transparente o fato de o fim do trabalho escravo não ter significado cidadania aos ex-escravizados e às pessoas negras. Nos primeiros anos e décadas pós 1888, reconhecia-se essa data, especialmente na comunidade negra, como sendo uma data relevante, mas a realidade se impôs de forma absoluta: liberdade sem dignidade, liberdade com racismo”. É o que aponta a historiadora Wania Sant'Anna, consultora de Diversidade e Inclusão da Daniel Advogados.

Apesar do 13 de maio ser marcado pela assinatura da Lei n.º 3.353, conhecida como Lei Áurea, fato que coloca a Princesa Isabel como a pretensa salvadora dos negros escravizados, a data não é comemorada pelo movimento negro brasileiro, por diversos motivos, que incluem o contexto histórico em que a assinatura da lei estava inserida.

A socióloga e professora Najara Costa, ativista e ex-candidata à Prefeitura Municipal de Taboão da Serra pelo PSOL, explica que a abolição de 1888 foi inconclusiva, pois não atendia às necessidades do povo preto. Questões como educação, moradia, trabalho e saúde não foram debatidas de forma que os negros e ex-escravizados pudessem conquistar os acessos, segundo ela.

É importante destacar que mesmo com o 13 de maio de 1888, não houve políticas para que a população negra ocupasse os espaços institucionais, pelo contrário, se consolidou no Brasil um projeto de embranquecimento da nação, inclusive com a vinda de imigrantes europeus para trabalhar nas indústrias”, aponta a socióloga.

Segundo a História, a abolição não foi uma ação benevolente da princesa e do Senado, derivada do modelo econômico baseado no trabalho escravo, que precisava ser substituído pelo trabalho livre. O fim da escravidão no Brasil foi impulsionado por diversos fatores, entre eles, uma importante participação popular. Cada vez mais escravizados, negros livres e brancos se juntaram aos ideais abolicionistas, sobretudo, na década de 1880.

Pré e pós-abolição

As principais táticas que antecederam o 13 de maio eram reuniões em diferentes associações abolicionistas, bem como a realização de eventos artísticos para angariar apoio ao movimento negro. Segundo o doutor em História, Willian Lucindo, é necessário também destacar as rebeliões e fugas de pessoas escravizadas e a atuação dos abolicionistas negros para que o caminho até a data de abolição pudesse ser trilhado. As organizações quilombolas, de acordo com o especialista, também foram marcos de suma importância para o decreto que botava fim na escravidão.

Ainda, podemos olhar para a legislação abolicionista, mas não como meros marcos legais do processo. É preciso observar as ações e reações das populações negras. Lucimar Felisberto dos Santos apontou que, após a promulgação da conhecida ‘Lei do Ventre Livre’, em 28 de setembro de 1871, aumentou o número de casos de mulheres escravizadas participando de fugas com suas crianças porque elas entendiam que podiam perdê-las quando completassem oito anos de idade”, pondera o doutor.

Willian Lucindo ainda destaca que é necessário ponderar o que aconteceu a partir de 13 de maio. De acordo com o doutor em História, os dias subsequentes tiveram verdadeiras ondas de comoção bastante complexas.

De um lado, muitos abolicionistas negros e brancos buscaram criar instituições voltadas para a integração de ‘libertos’ – como acabaram denominando todas as pessoas negras na época, na sociedade pautada pelo trabalho livre – por meio de escolas, associações de ajuda mútua”, explica.

De outro lado, alguns antigos escravocratas pediam que o governo obrigasse os ‘libertos’ a ocupar algum ofício, outros pediam que se reforçasse a política de imigração. As pessoas negras, de um modo geral, deram demonstração de que entendiam a liberdade como igualdade às pessoas brancas, era mais do que o direito a trabalhar em troca de salário”, avalia William.

Ele destaca ainda que, de um modo geral, as instituições governamentais buscaram controlar as populações negras e garantir que se mantivessem nos postos de trabalho do período do escravismo, enquanto as populações negras procuraram se distanciar ao máximo das situações e lugares que lembravam o cativeiro.

Também foram nos dias subsequentes que se tornou mais forte a ideia de que as pessoas negras eram mais propensas a vadiagem, ao crime e, no caso específico das mulheres negras, à prostituição”, pontua.

A historiadora Wania Sant’Anna complementa e afirma que muito importante compreender o papel do Estado na implementação de políticas a partir de 14 de maio de 1888 e como isso, efetivamente, beneficiou pessoas brancas e funcionou como um dos alicerces na efetivação das teorias racistas contra a população negra e recém liberta.

Os negros, homens e mulheres, foram descartados e interditados pós-13 de maio e o que nós temos de desigualdade étnico-racial no Brasil de hoje tem raízes em decisões como essas da política de imigração europeia. E, nesse caso, ainda orientada com o objetivo de embranquecer o país”, ressalta.

Para além do 13 de maio

Historicamente, outros momentos foram marcantes para o fortalecimento do povo negro e, diferentemente do 13 de maio – em que até hoje uma mulher branca é a protagonista – houve representatividade preta e brasileira. Para Amailton Magno Azevedo, professor do Departamento de História da PUC-SP, o movimento negro não reconhece o 13 de maio por que elegeu outras datas que melhor expressam a luta contra o racismo e valorização da negritude.

Temos o 20 de novembro em 1971, data conquistada pelo movimento negro gaúcho. O 20 de novembro relembra a importância e relevância do papel de Zumbi dos Palmares, líder do quilombo dos Palmares e morto pelo sistema escravocrata, exatamente no dia  20 de novembro de 1694. Essa data alterou o marco histórico da consciência e libertação negra, até então centrado no dia 13 de maio de 1888”, avalia o pesquisador.

Em 1798, por exemplo, aconteceu a Conjuração Baiana, revolta negra e popular. Também conhecida como Revolta dos Alfaiates ou Revolta dos Búzios, o levante tomou ruas de Salvador (BA) e foi uma das maiores manifestações do tempo em que o país vivia uma monarquia. A luta era por uma sociedade mais democrática, republicana e com condições que permitissem a equidade racial no Brasil. A independência do Haiti, primeira república negra do mundo, e a Revolução Francesa influenciaram a organização da revolta.

Já em 1835, ocorreu no Brasil a Revolta dos Malês. Contra a escravidão e pela liberdade religiosa, negros oriundos de vários países, mas em sua maioria muçulmanos, protagonizaram um importante levante pela liberdade. A revolta teve uma liderança feminina importante para o país: Luísa Mahin, que lutou pela liberdade de seu povo até ser presa. Seu filho, Luís Gama, seguiu os passos da mãe e é considerado um dos maiores abolicionistas do Brasil.

A Revolta dos Malês, em 1835, segue sendo um marco histórico na luta por liberdade, porque nos oferece a oportunidade da complexidade da comunidade negra escravizada, como o papel das Irmandades Negras na compra das alforrias”, salienta Wania Sant’Anna.

Entre 1838 e 1841 acontece a Balaiada, levante em que o povo negro se uniu aos vaqueiros e camponeses no Maranhão contra as péssimas condições de vida que levavam. O movimento, também conhecido como Guerra dos Bem-te-vis, visava o combate à pobreza e à miséria que tomavam conta da província. Foi a mais longa e numerosa revolta popular ocorrida na região.

No pós-abolição, em 1910, aconteceu a Revolta da Chibata. Liderada por João Cândido, também conhecido como “Almirante Negro”, o levante foi organizado por marujos negros contra os castigos físicos, baixos salários e as péssimas condições de trabalho da época. Mesmo com a escravidão abolida em 1888, práticas escravagistas continuavam violentando os negros como punições com chicote.

A Greve dos Queixadas, que aconteceu entre 1962 e 1969 também teve protagonismo negro. Contra as péssimas condições de trabalho, o movimento, também conhecido como a Greve dos Perus, foi a primeira grande greve sindical brasileira. O levante começou numa fábrica de cimentos no bairro de Perus, na cidade de São Paulo. A greve durou sete anos, em plena ditadura militar.

Temos muitos atos individuais e coletivos que merecem ser lembrados, reconstituídos, informados à sociedade brasileira como sendo a história das pessoas negras, africanas e seus descendentes no Brasil”, pontua a historiadora Wania Sant’Anna”.

Como ressignificar o 13 de maio?

Para Amailton Magno, é possível ressignificar o 13 de maio, considerando as novas pesquisas históricas sobre o tema. Ele explica que a historiografia realça que a abolição não deve ser compreendia apenas por um ato pessoal de uma representante da monarquia, mas da participação ativa de abolicionistas negros, como André Rebouças e José do Patrocínio, bem como das pessoas escravizadas que organizaram suas revoltas contra o sistema escravocrata.

Ainda que conservadores, como José de Alencar, defendessem a continuidade escravidão, a pauta abolicionista e negra saiu vitoriosa. Sob esse prisma, o 13 de maio foi também uma obra e conquista negra”, salienta o professor.

A professora e socióloga Najara Costa reforça que é imprescindível lembrar do 13 de maio como uma data de luta, voltada a pautar o Estado e a política. Ela pondera que observar a questão racial para analisar os espaços sociais é necessário, bem como problematizar esses assuntos, a fim de trazer políticas para que as instituições assumam o compromisso contra a desigualdade.

Portanto, o 13 de maio serve como data para trazer à memória o que foi a violência da escravização, mas também essa violência moderna, que permite que as desigualdades ainda persistam”, finaliza.

____________

Com informações do Alma Preta.

Expocrato: Não é sobre os ingressos

 

Expocrato:  Não é sobre os ingressos. (FOTO |UP Movies). 
 

Por Alexandre Lucas, Colunista 

 

Surgida em 1944, como Exposição Agropecuária do Crato, atualmente Exposição Centro-Nordestina de Animais e Produtos Derivados, se caracteriza como um dos maiores eventos agropecuários do Norte-Nordeste, dentro do seu complexo de atividades se destaca o festival de shows musicais (Expocrato). Esse evento precisa ser rediscutido do ponto de vista de gestão e de função socioeconômica, por ser uma concessão pública.     

A “Exposição do Crato”, como ficou conhecida ao longos dos anos, tem uma forte ligação com a cidade e a economia local, possui um fervor afetivo com a região e suas identidades culturais, local de reencontros de gerações, mas desde o seu nascedouro mostra a cara perversa da desigualdade social e da estratificação socioespacial. A “exposição” é um espaço de mistura segregado.

A festa popular, vai dando lugar a festa de quem pode pagar.  É preciso estudar a movimentação econômica da Expocrato para compreender o seu fluxo, os investimentos públicos e o retorno para as cadeias produtivas regionais. É possível esse evento gerar desenvolvimento econômico para a região numa escala de ampliação para os setores mais populares da região metropolitana do Cariri? Possivelmente essa questão merece estudo e tomada de posição política.   A sensação que temos é que somos um Brasil de Portugal dentro desta festa. Somos tratados como colônia e daqui retiram as nossas economias.

Essa festa não pode ser só visitada pela sua população, mas deve ser também consumida de forma acessível, não podemos permitir que a Expocrato tenha tabela de aeroporto, preços exorbitantes.    

A Exprocrato não pode ser tratada como espaço público de interesse privado.  Se faz necessário estabelecer critérios que orientem para princípios de desenvolvimento econômico regional, que reduzam impactos ambientais e que promovam a diversidade e a pluralidade estética, artística e cultural da região num parâmetro de equidade, sem ser gueto e sem ser colônia.

As universidades públicas da região metropolitana do Cariri devem ser incluídas no processo de gestão da Expocrato, pelo papel político que cabem em contribuir com o desenvolvimento regional, como é o caso da URCA e da UFCA. A Agricultura Familiar e os movimentos agroecológicos devem também compor essa arquitetura gestacional.

As empresas devem se submeter a lógica do Estado e não o contrário, na parte dos shows por exemplo, o norte  deve ser o Sistema Estadual de Cultura (SEC), principal marco legal das políticas públicas para Cultura no Ceará. Vale lembrar que SEC não é uma política da Secretaria de Cultura, mas antes de tudo uma política de estado para cultura.   

A Expocrato não é uma festa apenas, ela alimenta várias cadeias produtivas, tem uma dimensão empreendedora imensa, conecta o Cariri a várias partes do país, essa capacidade de negócios é estratégica para a região. É primordial defender a descentralização de recursos gerados pela Expocrato e que esses recursos sirvam de aterro econômico para o Cariri.    

Território Criativo do Gesso realiza atividades com fotografia neste sábado

 

Território Criativo do Gesso realiza atividades com fotografia neste sábado. (FOTO/ Reprodução/ WhatsApp).

Por Naju Sampaio

Neste sábado vai ocorrer mais uma vez o Passeio Fotográfico, às 8:30 da manhã, com local de encontro na sede do Coletivo Camaradas, que é responsável pela atividade.  A ação é realizada no Território Criativo do Gesso sempre no segundo sábado do mês e possui como objetivo observar o território e trazer um debate sobre o espaço urbano e o direito à cidade.

Nesse encontro será debatido sobre a existência de uma "Cidade Desplanejada" e contará com a participação das arquitetas e urbanistas, Ráyra Fêlix e Flávia Alves, que são integrantes do Núcleo de Direito à Cidade. Para além do debate sobre a cidade, o Passeio Fotográfico possibilita também a partilha de conhecimentos sobre a linguagem fotográfica.

De acordo com Cristóvão Teixeira, professor do curso de direito da Universidade Federal do Cariri (URCA), os passeios fotográficos permitem que as pessoas tenham contato com a realidade social e produzam fotografias que  servem à divulgação da situação da ocupação da cidade e dos espaços urbanos. A atividade permite a formação de um senso de pertencimento ao território, estimulando o olhar para o entorno e criando novas perspectivas de criação da imagem urbana.

Ainda no sábado, o professor Cristóvão, juntamente com Fabiana Cruz, membro do GEDHUF e estudante do curso de direito da UNILEÃO, ministrarão uma Oficina Fotográfica sobre a Construção da Imagem. A oficina ocorrerá na URCA, Campus São Miguel, às 14:30. A atividade foi idealizada para fomentar o debate sobre o patrimônio cultural e ambiental da região do Cariri, juntando o poder da imagem, com o compartilhamento de técnicas fotográficas, e também a partilha de imagens já produzidas por excelentes fotógrafas e fotógrafos que  construíram e constroem a imagem territorial da região.