Lula é oficializado como pré-candidato pelo PT à presidência

 

Ex-presidente defendeu legado petista para o Brasil e conclamou população a reconstruir o país durante lançamento do Movimento Vamos Juntos Pelo Brasil em São Paulo - Ricardo Stuckert.

O Partido dos Trabalhadores (PT) oficializou, neste sábado(07), a pré-candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência da república. Esta será a sexta vez que o ex-metalúrgico disputará o cargo. Lula terá como candidato a vice-presidente o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSB), uma aliança inédita que ganhou um título bem-humorado no encontro: "Lula com Chuchu". 

Adversários em outros momentos da história política do país, tanto Lula como Alckmin citaram o educador Paulo Freire, que dizia que "é preciso unir os divergentes, para melhor enfrentar os antagônicos".

"Queremos unir os democratas de todas as origens e matizes, das mais variadas trajetórias políticas, de todas as classes sociais e de todos os credos religiosos. O grave momento que o país atravessa, um dos mais graves da nossa história, nos obriga a superar eventuais divergências para construirmos juntos uma via alternativa à incompetência e ao autoritarismo que nos governam", afirmou o ex-presidente.

A pré-candidatura foi oficializada durante o ato Vamos Juntos pelo Brasil, no Expo Center Norte, na Zona Oeste de São Paulo. Apenas Lula, Alckmin e Rosângela da Silva (Janja) discursaram. Mas contou com a presença de diferentes lideranças dos movimentos populares, personalidades, parlamentares e partidos políticos apoiadores da chapa do pré-candidato, incluindo PCdoB, PSB, Solidariedade, PSOL, PV e Rede.

Lula desponta como favorito nas pesquisas de intenção de voto e pode retornar ao Palácio do Planalto vinte anos depois da primeira vez em que foi eleito.

A fala, concentrada no tema da defesa da soberania nacional e da reconstrução da democracia do país, costurou um comparativo entre as conquistas dos anos em que o PT esteve no governo com o que tem sido "desconstruído", como definiu Lula, sob o governo de Jair Bolsonaro (PL). Também falou em sonhos e esperança de mudar o país.

"Nós temos um sonho. E não há força maior que a esperança de um povo que sabe que pode voltar a ser feliz. Que pode voltar a comer bem, ter um bom emprego, salário digno e direitos. Que pode melhorar de vida e ver os filhos crescendo com saúde."

Tópicos como defesa das estatais, articulação com a América Latina e defesa dos bancos públicos tiveram destaque ao lado de assuntos como o apoio a resistência dos povos indígenas, a denúncia do extermínio da juventude negra, a defesa do meio ambiente, da cultura e das leis trabalhistas.

Ao defender o legado de sua passagem pela presidência, Lula lançou uma questão para um auditório lotado de militantes vindos de diversas regiões do país: "o Brasil terá a oportunidade de decidir que país vai ser pelos próximos anos, e próximas gerações. O Brasil da democracia ou do autoritarismo? Do conhecimento e tolerância ou do obscurantismo e da violência? Da educação e cultura ou dos revólveres e fuzis?".

Em outro momento, Lula criticou a postura do atual presidente da república com as mais de 600 mil vítimas fatais da pandemia e com as instituições. "Chega de ameaças, chega de suspeições absurdas, de chantagens verbais, tensões artificiais. O país precisa de calma e tranquilidade para trabalhar e vencer as dificuldades atuais. E decidirá livremente, no momento que a lei determina, quem deve governá-lo".

O discurso também teve espaço para críticas à condução da pandemia e a situação do Ministério da Saúde pontuando, sobretudo, o "falso cristianismo" de Bolsonaro que, para o ex-presidente, "não ama o próximo". Além disso, Lula criticou os rumos do Ministério da Educação, que esteve no foco de denúncias de corrupção nos últimos meses.

"Nos nossos governos, triplicamos os investimentos em educação. Saltaram de R$ 49 bilhões em 2002 para R$ 151 bilhões em 2015. Mas o atual governo vem reduzindo a cada ano. O resultado é que o orçamento do MEC para 2022 é o menor dos últimos dez anos."

Lula também fez referência aos episódios de violência e ataques bolsonaristas. "Não vamos ter medo de provocação, ter medo de fake news. Nós vamos vencer essa disputa pela democracia distribuindo sorrisos, amor e carinho", afirmou o ex-presidente, que teve o carro cercado por meliantes bolsonaristas e manifestantes de extrema direita, ao sair de um condomínio em Campinas (SP) na última quinta-feira (5).

O agora oficial pré-candidato a presidente da república pelo PT concluiu o discurso relembrando que os governos petistas fizeram uma revolução pacífica no país e conclamou a população a reencontrar este caminho.

"Mais do que um ato político, essa é uma conclamação. Aos homens e mulheres de todas as gerações, todas as classes, religiões, raças e regiões do país. Para reconquistar a democracia e recuperar a soberania."

Aliança com Alckmin

O ato também formalizou a indicação do ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSB), para compor a chapa como candidato a vice-presidente. Com covid-19, Alckmin não participou presencialmente do evento e entrou ao vivo, por vídeo-chamada. No seu discurso, classificou esta aliança como "um chamado à razão".

O ex-governador definiu o atual momento como uma grande oportunidade do Brasil reencontrar o caminho do desenvolvimento econômico, da preservação do meio ambiente e da justiça social. Por fim, respondeu às críticas que recebeu por esta aliança com bom-humor: "o prato da moda agora será Lula com Chuchu".

Por sua vez, Lula também ressaltou que esta eleição exigirá uma aliança muito ampla com diversos espectros políticos. "Alckmin foi governador quando eu era presidente. Fomos adversários, mas também trabalhamos juntos e mantivemos o diálogo institucional e o respeito pela democracia".

Chapa ampliada

No palco estavam presentes os dirigentes partidários, governadores, ex-governadores e parlamentares das siglas que fecharam apoio à candidatura de Lula, como PSB, PCdoB, Rede, PV, Solidariedade e PSOL. A ex-presidenta Dilma Rousseff também esteve no ato, a quem Lula se dirigiu fazendo um agradecimento e enaltecendo a grandeza política da aliada.

Lideranças das Centrais Sindicais, movimentos populares, intelectuais e artistas também manifestaram apoio ao projeto Vamos juntos pelo Brasil. Pelos estados, os Comitês Populares de Luta, sedes dos partidos e dos movimentos populares organizaram atividades para acompanhar a transmissão do ato de lançamento da pré-candidatura.

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Com informações do Brasil de Fato.

Oratório de Santa Luzia proporciona organização dos moradores no Gesso

 

Oráculo de Santa Luzia. (FOTO | Reprodução | WhatsApp).

*Por Naju Sampaio

Na comunidade do Gesso, há um espaço de oratório que anteriormente era utilizado para despejar o lixo das residências das proximidades e após um investimento de uma moradora, foi transformado em um lugar de encontro dos moradores católicos para celebração da fé. A construção ocorreu no ano de 2019, quando a moradora, Gisélia Tertulino, decidiu fazer uma campanha de arrecadação entre os moradores para modificação do espaço.

Segundo Gisélia, quando foi realizar a arrecadação, uma das vizinhas disse que não auxiliaria a campanha porque Santa Luzia não comia dinheiro, então a moradora fez uma promessa para a santa: Não pediria dinheiro algum aos vizinhos caso conseguisse de outra forma o valor da obra. No mesmo dia, comprou um Cariri da Sorte e acabou ganhando uma parte do prêmio, que foi utilizado para construção do altar.

Durante todo o mês, o espaço é utilizado para missas e terços. As missas são realizadas nos dias 4, 13, 19, 20 e 30, correspondendo respectivamente aos dias de São Francisco, Santa Luzia e Nossa Senhora de Fátima, Santo Expedito, Padre Cícero e Santas Chagas. De acordo com a moradora, o oratório é utilizado por muitos moradores para pedidos de graças, realização de missas de sétimo dia e também tem o terço que é realizado semanalmente.

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* Naju Sampaio é estudante de jornalismo e bolsista/integrante do Coletivo Camaradas.

Nova Olinda e Santana do Cariri receberão polos de Educação a Distância da UFCA

 

Deputado Idilvan Alencar. (FOTO | Reprodução |WhatsApp).

A Universidade Federal do Cariri (UFCA) vai expandir suas atividades para 12 novos municípios cearenses. A ação é fruto da destinação de R$ 1,6 milhão de emenda parlamentar do deputado federal Idilvan Alencar para a universidade, que irá ofertar 600 novas vagas de acesso a cursos superiores tecnológicos e de pós-graduação.

Com a expansão, Icó sediará o Centro de Educação a Distância da UFCA, e os municípios de Assaré, Caucaia, Iguatu, Itapipoca, Maracanaú, Maranguape, Milagres, Missão Velha, Nova Olinda, Santana do Cariri e Senador Pompeu receberão um Polo de Educação a Distância da instituição.

Serão oferecidos os cursos de graduação tecnológica de Análise e Desenvolvimento de Sistemas e de Design de Mídias Digitais, com dois anos de formação, e os cursos de especialização em Administração Pública e em Tecnologias Educacionais, com duração de 12 a 15 meses. Todos os cursos são da modalidade EaD (Educação a Distância), com encontros semestrais nos polos para avaliações.

Como deputado federal, essa é uma das ações que me deixa mais feliz: levar a universidade federal para 12 municípios do Ceará'', comemora o deputado Idilvan Alencar, que tem um mandato voltado para a educação. “Essa é uma ação muito importante que contribuirá com o desenvolvimento dos municípios onde a UFCA está chegando e levará mais oportunidades para os jovens da região”, finaliza.

Nesta sexta-feira (06), acontece o lançamento do Centro de Educação a Distância da UFCA em Icó e, no sábado (07), será inaugurado o Polo Ead de Nova Olinda. As demais unidades serão lançadas até o final do mês de maio.

Formas de ingresso

O ingresso para os cursos tecnológicos de Análise e Desenvolvimento de Sistemas e de Design de Mídias Digitais será realizado através do Sistema de Seleção Unificada (SISU), com nota do Enem 2021.

Já para os cursos de especialização em Administração Pública e em Tecnologias Educacionais e Design Instrutivo, o acesso se dará através de edital divulgado pela UFCA para a seleção dos candidatos, com um percentual de vagas previsto para professores da rede municipal onde o polo está situado

As aulas, tanto para os cursos de tecnólogos quanto para as especializações, têm início previsto para agosto deste ano.

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Texto encaminhado a redação do Blog por Aglecio Dias, Assessor de Idilvan.

No Roda Viva, Cida Bento fala sobre como construir uma educação antirracista

 

Cida Bento em entrevista no Roda Viva. (FOTO | Reprodução |Canal do Roda Viva).

Por José Nicolau, editor

A escritora, psicóloga e consultora do CEERT Cida Bento foi a entrevistada na última segunda-feira (2) do Roda Viva, da TV Cultura.

Cida Bento, uma das intelectuais e ativista mais importantes do país falou sobre diversas temáticas relacionadas a negritude, como cotas raciais no ensino superior, o assassinato de Marielle Franco, ideias para punir casos de racismo e injúria racial, a luta dos movimentos negros e, também, fez comentários a respeito da relevância do seu último livro "O Pacto da Branquitude" para o debate sobre a igualdade racial no Brasil.

Outra temática levantada por ela foi sobre como contruir uma educação antirracista no Brasil, principalmente na educação básica. "É fundamental assegurar acolhimento das crianças indígenas e negras, na medida em que a gente possa mexer com professores, gestores e pais", disse.

Clique aqui e confira a íntegra da entrevista.

Sou o torneiro mecânico sem diploma que mais fez universidades, diz Lula a alunos da Unicamp

 

Lula em aula Magna para estudantes da Unicamp (SP). (FOTO  | Ricardo Stuckert).

Por José Nicolau, editor

O ex-presidente Lula esteve participando de uma aula magna com estudantes da Universidade de Campinas  (Unicamp), de São Paulo, acompanhado do ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad.

Durante o evento, Lula destacou que durante seu governo a primeira decisão acertada foi não tratar a educação como gasto, mas como investimento. "Foi a primeira decisão sábia da minha vida, perceber que educação não é gasto, é investimento. No início do meu governo falei ‘está proibido, daqui pra frente qualquer pessoa do governo falar em gasto quando se trata de educação".

Segundo ele, não há exemplos na história de países que tenham se desenvolvido sem investimentos na educação da população e frisou "custa menos gastar com educação do que emprestar para grandes empresas".

Ao postar as imagens do evento em sua página no Facebook, Lula asseverou a importância de Haddad no Ministério da Educação (MEC) e d gestão de sua sucessora Dilma Rousseff. "Tive a sorte de convidar o companheiro (Fernando) Haddad, começamos a pensar como ia fazer as coisas neste país". Já com relação à Dilma, ele destacou o projeto do ciência sem fronteiras que  levou 100 mil estudantes pro exterior.

"Hoje eu tenho orgulho de olhar na cara de vocês e falar que um torneiro mecânico sem diploma universitário, é o presidente que mais fez universidade do país, orgulho de dizer que com a companheira Dilma Rousseff fizemos o maior número de escolas técnicas, orgulho de dizer que ela fez o ciência sem fronteiras pra levar 100 mil estudantes pro exterior", finalizou.

204 anos do nascimento de Karl Marx

 

(FOTO |Divulgação).

O Dinheiro não é apenas um objeto da mania do enriquecimento, mas sim O seu objeto. A mania de enriquecimento é por essência auri sacra fames*” (Grundrisse, Marx)

Hoje é o aniversário de Karl Marx, 204 anos de seu nascimento. Marx é o mais influente pensador da humanidade desde a metade do século XIX. É impossível ser indiferente ao pensamento original de Marx, seus estudos que incluem Filosofia, Economia, Política, Sociologia, Direito e Literatura, entre tantos assuntos que ele abordou em sua produtiva elaboração intelectual

Marx continua extremamente atual, o seu livro maior, o Capital, é a mais completa obra de análise sobre o Capitalismo, a formação do Valor, a dinâmica e desenvolvimento daquele que é o mais importante sistema econômico que a humanidade experimenta, sua complexidade, capacidade de adaptação e sobrevida.

É dessa profunda análise que Marx rompe com todas as teorias econômicas e políticas até então que enfrentaram, a seu modo, o capitalismo. O estudos de Marx deram as bases teóricas a um novo sistema, o Comunismo, a ser perseguido pelo despossuídos, o proletariado, da época, das revoluções do século XX e dos novos enfrentamentos do novo milênio.

A liberdade plena da humanidade se dará quando o mundo do trabalho e das necessidades forem suplantados. Com o fim da apropriação privada dos meios de produção, com homens e mulheres, donos de tudo o que for produzido, sem mais exploradores e explorados.

Lenin, no Estado e a Revolução, escrito pouco depois de 30 anos da morte Marx, coloca de forma clara a importância central de sua portentosa obra:

“Dá-se com a doutrina de Marx, neste momento, aquilo que, muitas vezes, através da História, tem acontecido com as doutrinas dos pensadores revolucionários e dos dirigentes do movimento libertador das classes oprimidas. Os grandes revolucionários foram sempre perseguidos durante a vida; a sua doutrina foi sempre alvo do ódio mais feroz, das mais furiosas campanhas de mentiras e difamação por parte das classes dominantes. Mas, depois da sua morte, tenta-se convertê-los em ídolos inofensivos, canonizá-los por assim dizer, cercar o seu nome de uma auréola de glória, para consolo” das classes oprimidas e para o seu ludíbrio, enquanto se castra a substância do seu ensinamento revolucionário, embotando-lhe o gume, aviltando-o. A burguesia e os oportunistas do movimento operário se unem presentemente para infligir ao marxismo um tal “tratamento”. Esquece-se, esbate-se, desvirtua-se o lado revolucionário, a essência revolucionária da doutrina, a sua alma revolucionária. Exalta-se e coloca-se em primeiro plano o que é ou parece aceitável para a burguesia”.  (W .I. Lênin, “O Estado e a Revolução”)

Esse resgate que Lênin faz do pensamento de Marx, no início do livro “O Estado e a Revolução”, isto dito há quase 100 anos, imagine-se o que lemos e ouvimos hoje sobre a obra e o pensamento de Marx.

Em todos esses mais de 150 anos do Capital, procura-se negar Marx, tanto à Esquerda quanto à Direita, as mudanças do Capitalismo são usadas como veio desse processo, agora mesmo, busca-se um “Novo” sujeito, ou a sua não existência. São as formas de lutar contra Marx, mesmo sem o ler ou compreender a profundidade dos fenômenos, que ele trouxe luz à escuridão teórica.

Nessa época do ultraliberalismo, parte do do movimento social de esquerda (ou da Esquerda da Esquerda) acredita piamente na mudança de paradigma parecida com a mudança da” sociedade agrícola para a sociedade industrial”. Agora, tal mudança, seria da Sociedade Industrial para “Informacional”, seja lá o que diabo signifique isto.

Ora, a sofisticação produtiva, não substituiu o modo de produção capitalista, nem há uma transição dele para qualquer outro modo de produção, a não ser que o tal “Capitalismo Cognitivo” seja um modo de produção “Novo”, mas falta categoria econômica e filosófica que justifique tal tese.

Marx é tão profundo e original que desafia a modernidade atual, assusta e desafia.

Pensar Marx hoje é ter capacidade de compreender as contradições do Kapital e apontar saídas, entender que o velho proletariado fabril, pode não está num mesmo espaço físico, mas sua exploração e sua mais-valia continua vital para a produção de Valor.

O infoproletariado, o uberizado, o precarizado, o sem terra, o sem teto, as classe médias urbanas, constituem a imensa maioria da sociedade e o Kapital não apresenta mais políticas compensatórias que amorteçam as imensas contradições. É claro que falta o amálgama, a política que os unam e possam derrotar o Kapital, o elemento subjetivo está adormecido, ainda sofre o peso da derrota recente, 30 anos é muito pouco tempo na história.

Vida longa, Marx.

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Por Arnobio Rocha, em seu Blog.

As ilhas da sala.    

 

Alexandre Lucas. (FOTO  | Acervo pessoal).


Por Alexandre Lucas, Colunista 

As fitas de cetim dançam lentamente, até parecem corpos se seduzindo, um blues de pé de ouvido entoa o enredo. O trabalho segue entre batidas de teclados e silêncios agitados. Os olhos vasculham cada canto da sala, tentando encontrar recheio para a escrita, tudo pode fazer parte do texto.

A sala parece ser um território, em que cada lugar é uma ilha desconhecida. As fitas continuam lentamente dançando. As luzes acesas apenas clareiam os rostos, as ideias estão embaçadas. O espaço é partilhado com os gatos que passeiam pelas calçadas, os sentimentos se pintam de mudos. Os desejos   ficam no fundo de um baú profundo.

Nós seguimos calados, o sol parece desapontado, desde cedo seu brilho e calor estão distantes. Enquanto isso tento escrever uma história que me caiba por completo, mas todas as histórias são incompletas. Os livros estão cheios de partes de um todo que não se completam, as fitas continuam dançando.      

As folhas voam, nada disso, são empurradas pelo vento. Aproveito para colocar palavras nas folhas em branco, tentando tecer mais um conjunto de frases. Os livros estão nas estantes preenchidos de gente, mas nunca achei que os livros tinham palavras.

Indefinida a narrativa, enquanto passavam as coisas e os pensamentos, as frases foram se fragmentando, como as histórias, que se recontam do olho para boca no terreiro da vida, das incontáveis vidas. A sala parece cheia, o silêncio permanece, enquanto, fico olhando as fitas dançando como se estivessem se seduzindo.

 

Saiba quem é Vera Lúcia Santana, que pode ser a primeira juíza negra do TSE

Neta de lavadeira e filha de professora, Vera Lúcia, de 62 anos, luta por mais espaço para juristas negros e negras (FOTO |Acervo pessoal).

O plenário do STF (Supremo Tribunal Federal) indicou a lista tríplice que será enviada ao presidente Jair Bolsonaro (PL) para uma vaga de ministro substituto do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) nesta quarta-feira (4). Entre os nomes está o da advogada Vera Lúcia Santana de Araújo, primeira mulher negra a constar nesta lista.

Os outros nomes indicados pela Corte para ocupar a vaga deixada por Carlos Velloso Filho, que renunciou ao cargo no mês passado, são os advogados André Ramos Tavares, que obteve 9 votos, e Fabrício Medeiros, com 8. Araújo está em terceiro lugar na lista tríplice, com 7 votos.

Bolsonaro é obrigado a seguir a lista tríplice, mas pode escolher qualquer um dos três candidatos. Não há prazo para a decisão, que pode sair, inclusive, depois das eleições, ou até mesmo ser tomada por um possível novo presidente.

Neta de lavadeira e ativista contra racismo

Vera Lúcia tem 62 anos e nasceu em Livramento de Nossa Senhora, na Bahia. Neta de lavadeira e filha de professora, ela foi para Brasília, aos 18 anos, para estudar.

Em entrevista ao “Correio Braziliense” em novembro de 2019, Vera contou que o trabalho da avó garantiu a possibilidade de seguir com os estudos. “Como ela foi lavadeira de famílias importantes, conseguiu espaço para que minha mãe estudasse e, depois, nós também. Naquele tempo e em uma cidade pequena, a escola era só para os brancos.”

Em Brasília, decidiu prestar vestibular para Direito e foi aprovada no UniCeub. Na faculdade, Vera se aproximou do movimento estudantil durante a ditadura militar e fez estágio na Defensoria Pública.

Entre as funções públicas que ela já exerceu está a de secretária-adjunta de Igualdade Racial do Distrito Federal e diretora-executiva da Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso (Funap), também no Distrito Federal, na gestão de Rodrigo Rollemberg (PSB).

Hoje, ela se dedica à advocacia com foco nas questões de racismo. É ativista da Frente de Mulheres Negras do DF e Entorno e integrante da Executiva Nacional da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD).

Apoio de Joaquim Barbosa

Foi a atuação na entidade que garantiu à Vera o apoio ao cargo no TSE do ex-ministro Joaquim Barbosa, que presidiu o Supremo entre 2012 e 2014. Atualmente, o tribunal tem sete ministros e todos são homens. Se Vera Lúcia for escolhida, ela será a única mulher ocupando lugar na instância jurídica máxima da Justiça Eleitoral brasileira.

A advogada afirma ter consciência de que sua trajetória é uma exceção no mundo jurídico. “Dentro do direito, não há uma pesquisa que mostre quantos advogados negros existem no Brasil. Mas é nítido que eles não estão nas grandes bancas, nos tribunais, nos cargos mais importantes”, disse em entrevista ao “Correio Braziliense”.

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Com informações do Geledés.

Historiadora disponibiliza oficina sobre uso de fontes primárias da ditadura militar em sala de aula

 

Prontuário 1545, de Edmur Pericles de Camargo. Fonte: Arquivo Público do Estado de São Paulo.

A historiadora Caroline Silveira Bauer, professora do Departamento de História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, disponibilizou gratuitamente em seu blog, “Falando da Ditadura”, o material completo da oficina “Trabalhando com fontes primárias sobre a ditadura civil-militar brasileira em sala de aula”. A atividade foi desenvolvida pela professora há alguns anos e desde o último dia 29 de março está disponível para download. Além do roteiro, estão disponíveis também documentos sobre militância, dados sobre desaparecidos, listas bibliográficas, indicações de sites, entre outros arquivos necessários para a reprodução da oficina.

A proposta de Bauer pode ser aplicada nos nonos anos do Ensino Fundamental ou no Ensino Médio. Segundo explica a historiadora, o objetivo da oficina é problematizar conceitos históricos e o manuseio de fontes primárias. Para isso, a atividade foca no caso do desaparecimento de Edmur Péricles Camargo, militante da organização M3-G (Mao, Marx, Marighella, Guevara). Clique aqui para conferir o material.

O “Falando da Ditadura” é Blog de divulgação histórica e disponibilização de recursos didáticos para o ensino da história da ditadura civil-militar brasileira e está vinculada ao Laboratório de Estudos sobre os Usos Políticos do Passado (LUPPA).
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Com informações do Café História.

Ameaças, silenciamento e omissão: por que morte de adolescente Yanomami segue sem solução?

 

Comunidade palco de crime brutal foi encontrada queimada e abandonada - Divulgação/Júnior Yanomami.

Um dos capítulos mais cruéis do ataque de garimpeiros ao povo Yanomami, em Roraima, segue sem solução. Depois da denúncia da morte de uma adolescente de 12 anos, vítima de estupro cometido por garimpeiros, 24 indígenas da comunidade Aracaçá permanecem desaparecidos e suas casas foram encontradas queimadas. 

A elucidação do caso esbarra no clima de tensão e medo imposto por garimpeiros, que teriam comprado o silêncio das vítimas com ouro. Sem uma base de proteção permanente da Funai, o garimpo se mantém como o principal indutor da violência na região. 

A denúncia do estupro seguido de morte foi feita pelo presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kwana (Condisi-YY), Júnior Hekurari Yanomami. Segundo ele, outra mulher havia sido sequestrada e teve o filho de três anos jogado em um rio. 

Corpo carbonizado e "falta de indícios" 

O Condisi-YY encaminhou um pedido de investigação a Polícia Federal, ao Ministério Público Federal (MPF), à Funai e ao Ministério da Saúde. Junto com Hekurari, uma força tarefa composta por esses órgãos foi até a comunidade Aracaçá e encontrou os restos das casas incendiadas. 

As autoridades logo concluíram que “não foram encontrados indícios da prática dos crimes de homicídio e estupro ou de óbito por afogamento”, conforme nota da Funai e Polícia Federal. Mesmo assim, afirmaram que vão continuar as investigações.  

O Ministério Público Federal (MPF) também comunicou que a apuração segue em andamento. “Mais informações apenas serão divulgadas quando da conclusão dos trabalhos. A partir do término da investigação, o MPF analisará as medidas cabíveis”, escreveu o órgão.

Júnior Yanomami afirma que a explicação para a falta de "indícios" pode estar na prática de rituais de cremação pelos Yanomami. "No segundo dia [de investigação], retornamos às comunidades e percebemos que existe a marcação de queimação de um corpo, possivelmente adolescente”, disse. 

Ele atesta que o incêndio às casas também faz parte dos rituais. Disse ainda ter mostrado imagens da comunidade incendiada a lideranças Yanomami. Eles “relataram, conforme costume e tradições, que após morte de um ente querido a comunidade em que residia é queimada e todos evacuam para outro local”, escreveu Júnior.  

Ouro em troca do silêncio

Segundo o presidente do Condisi-YY, o clima de terror imposto pelos garimpeiros também dificulta as investigações. “Percebi que as comunidades estavam com muito medo. Percebemos que os Yanomami foram bem orientados pelos garimpeiros para não relatar essa morte da adolescente”, declarou em vídeo enviado ao Brasil de Fato. 
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